Enquanto eu rapidamente me visto, lembro da cara dos meus amigos quando sugeri ir a festa.
Dani me olhava totalmente desacreditada e dizia:
--Que ideia é essa, garota?
Aí Will atropelou sua namorada indo correndo para sua casa gritando:
--Uhull! Festa!
Lipe logo se levantou e foi atrás dele levantando os dois braços em comemoração. Caliope estava pensativa e de repente abriu um sorriso e disse:
--Eu vou finalmente poder usar o glitter que comprei no final do ano passado! Vai combinar perfeitamente com meu cabelo.
E Dani ainda me encarava como se eu dissesse que gostava de comer cocô.
Mas com a aprovação de Caliope e seu namorado suspeitosamente animado, ela não teve muita escolha.
Que tipo de gente eu poderia encontrar numa festa universitária? Eu mudei de curso nesse ano, vou começar em uma turma completamente nova, seria bom conhecer alguém. No ano anterior foi um desastre, escolhi m*l o curso e não fiz amizade com ninguém da sala. Era horrível fazer os trabalhos em grupo sozinha.
Eu fazia biologia. Não era meu sonho mas eu não havia conseguido nota para fazer o curso que eu queria e então acabei escolhendo biologia. Mas nesse ano eu consegui. Finalmente estou no curso que queria.
Me olheo no espelho após me arrumar. Coloquei uma calça jeans preta que eu usava raramente, uma blusinha com mangas fofas cor de vinho e meus sapatos pardos estilo all star. Lembro que está frio e adiciono um casaco de couro no look. Meu longo cabelo de cor indefinida cai como cascata sobre meu b***o. Eu tinha o cabelo castanho mas meses antes decidi que queria ser ruiva. Bom, eu acho que fiquei ruiva, mas não o ruivo habitual que vemos por aí.
Misturei duas cores de tinta no meu cabelo e ficou cor de cobre.
Eu gostei do resultado então não mudei.
--Me ajuda a colocar esses cilios?--Caliope pergunta para mim.
Ela está linda. O cabelo castanho e ondulado está preso num r**o de cavalo com as mechas cor de lavanda se destacando, ela veste uma blusa florida e justa combinando com um short jeans de cintura alta. Nos pés, uma rasteirinha bege e a blusa de frio que ela usa sempre. É quadriculada em tons de roxo e geralmente ela usa amarrada na cintura.
E Dani está como sempre. O cabelo amarrado, o rosto bonito sem necessidade de maquiagem, uma calça vermelha que vai até abaixo do joelho e uma blusa preta por dentro. E nós pés, suas lindas botas de couro preta. A melhor parte de ser amiga das duas é que todas calçamos 35 e elas tem um ótimo gosto para sapatos.
Dani dá uma voltinha entrando no quarto para mostrar o look. Callie e eu rimos dela e antes que pudéssemos falar algo, o celular de Dani começa a vibrar sem parar na cômoda, assustando meu gato que estava sentado ali observando a gente.
Dani apanha o celular e espanta Kakashi sem querer. Meu gato dá a Dani seu olhar de assassino e vai se esfregar nas pernas de Callie, que acolhe ele com todo amor.
Eu dou comida, dou carinho, p**o veterinário, compro sachê caro, compro brinquedo pra ele não ficar ansioso e mesmo assim esse gato não pode ver a Callie que age igual um gato de rua carente.
--Os meninos já estão lá embaixo- Olho para Dani e ela tem a cara de brava olhando pro celular como se imaginasse mil coisas sobre algo e eu chuto ser sobre a animação de Will para a festa.--Será que se eu matar meu namorado e enterrar ele ali no nosso quintal novo, eu estrago a noite?
Callie olha para ela horrorizada. Eu já estava rindo de Dani e depois de ver Callie, ri mais ainda. Callie se junta a mim pouco depois.
--Você não vai fazer isso, você ama seu namorado.--Eu falo sorrindo docemente após me recuperar do ataque de risos.
Dani reprime um sorriso e suspira. Ela é durona. Eu já vi Dani enfrentar homens com o dobro do seu tamanho e antes de ela e Will namorarem, os garotos tinham medo dela. Mas eu sabia que Dani era uma pessoa extremamente adorável, e Will também. Ele quebrou todos os muros dela. Cenas como Dani sorrindo docemente para alguém ou suspirando de felicidade ficaram mais frequentes desde então.
E sempre foi assim. Dani amava Will e Will amava Dani.
Descemos as escadas e nos separamos com Lipe e Will sentados no sofá conversando animados. Eu adoro o fato das casas serem de dois andares, algumas são maiores que outras mas a nossa tem um tamanho bom e um preço bom.
Will percebe que estamos aqui e seu olhar vai direto para Dani. Ele sempre se encantou com Dani arrumada, apesar de ela não estar usando maquiagem, o que não descredibiliza em nada a beleza dela. Dani não tem paciência de se maquiar, ela m*l sabe passar um batom vermelho sozinha, então quando Callie ou eu não a ajudamos, ela fica bem satisfeita com seu rosto como veio ao mundo.
--Bem na hora, já é quase meia noite.-Lipe diz. Ele está usando uma bermuda jeans, uma blusa escura e uma jaqueta de tecido marrom. Combina bem com o cabelo claro dele.
Will está usando preto. É sua cor favorita e fica bonito na sua pele. Will gosta de se arrumar, ele realmente liga pra aparência dele, o que justifica bastante ele gastar muito dinheiro com tênis caros. O que ele usa hoje é lindo.
Fomos andando dois quarteirões a frente para a grande primeira festa.
--Agora que não tem como voltar atrás, pode nos dizer porque sugeriu ir a uma festa se odeia festas?--Lipe pergunta quando já estamos de frente com a casa movimentada.
--Eu nunca fui a uma festa para saber se realmente odeio.--Respondo e para minha surpresa, todos aceitaram a resposta.
A casa é linda e enorme. Sem dúvidas a maior do condomínio. É de dois andar como todas as outras, mas tem bem mais terreno. A medida que nos aproximamos, consigo ver uma piscina nos fundos. Toda a estrutura, a palheta de cores e os móveis caros mostram que um bom arquiteto projetou esse local, e mais, os moradores com certeza fazem parte da tríplice elitista da faculdade.
Não importa o que dizem, faculdade pública não é como as particulares. Nem de perto. Não é a mesma dinâmica, não é o mesmo ensino e principalmente, não são as mesmas pessoas. Na faculdade pública temos uma enorme junção de pessoas diferentes. Temos os cursos de humanas, onde está a galera que faz o curso por amor. Ninguém faz Licenciatura em história por dinheiro. Então temos ali um grupo de pessoas que quer estar ali, e isso se intensifica mais nos períodos finais, onde uma grande maioria desistiu e sobra a nata que tem somente amor ao conhecimento do seu curso.
Temos os cursos que as pessoas fazem para ter um curso superior somente. Não que todos que façam esses cursos sejam assim, alguém realmente devem gostar de ciências sociais, letras ou pedagogia. Mas muita gente está nesse curso apenas em busca de um diploma.
Tem uma galera da "meiuca", como é meu caso. São cursos bons, que dá pra fazer pro amor e ainda assim ganhar um dinheirinho, mas são meio que esquecidos.
E aí temos a tríplice elitista. Em primeiro lugar, é claro, medicina. Seguido das engenharias e o curso de direito. Ou você ama ou você odeia alguém desses cursos. Enquanto seu curso está há anos sem um banheiro no bloco ou salas sem ar condicionado, a infraestrutura desses cursos está perfeita e melhorando. E claro, não demora muito para as pessoas dos cursos elitistas sentirem o favoritismo e ficarem insuportáveis. Pode ser a inveja dentro de mim cultivando esses pensamentos, e claro, as pessoas devem se orgulhar de passar numa boa faculdade e entrar num bom curso, mas eu juro que se eu ver mais um cara vestindo da cabeça aos pés roupas escrito "#meiomedico", ou "Futuro Dr. advogado", eu me interno.
Entramos numa pequena fila, apresentamos nosso cartão de estudante e pagamos apenas cinco reais pela entrada. Essa coisa de estudante pagar menos pode não funcionar muito bem em shows ou viagens, afinal a diferença era sempre de 10,00 reais, mas com certeza funciona nas festas do condomínio.
A primeira coisa que noto quando entramos na festa, é a música. Nesse momento, bem mais clara, um tipo de música que eu não ouço muito. Talvez eu tenha ouvido umas duas sem nem saber que era esse tipo de musica. E com certeza é um tipo de festa diferente também. Música eletrônica. As festas que meu amigos iam e postavam storys eram sempre com algum funk ou música sertaneja.
E eu gostei da música. Gostei muito. Me faz querer pular. Tem muitas luzes coloridas e um DJ bem no fundo. As pessoas dançam pulando com as mãos pra cima e muitas de olhos fechados. Sentindo a música. Isso parece o grau de sentimento que eu gosto para aproveitar as coisas.
--Que foi?--Dani pergunta olhando pro meu rosto, provavelmente estou com uma expressão admirada. Então ela olha pra onde estou olhando. --Ah, pelo que te conheço você tá achando esse pessoal bem introspectivo com a música e tudo mais...amiga, é uma rave, tá todo mundo drogado, isso não é introspecção, isso é "bala".
Ok. Agora as pessoas não parecem mais tão interessantes.
--Onde será que estão servindo as bebidas?-Will pergunta. Ele parece relaxado. Will se encaixa direitinho no ambiente, não é como eu.
Dani dá de ombros.
--Provavelmente na cozinha.--Ela diz puxando o namorado em direção a cozinha. Will, após entender pra onde Dani o está levando, agarra na blusa de Lipe, levando ele consigo.
Uma coisa engraçada que Dani costumava fazer, era quando ela nos apresentava a alguém novo. Ela dizia "essas são minhas amigas, esse é meu namorado e esse é o namorado do meu namorado". Eu e Callie caímos na risada enquanto Lipe e Will colocavam o braço em volta um do outro e deixavam a pessoa para quem estávamos sendo apresentados, constrangida.
--Então assim que é uma festa?-Pergunto pra Caliope. Ela costuma sair bastante com Dani, Lipe, Will e os amigos de festa deles
--Sim, o que eu mais gosto é a música.--Ela fala fitando o DJ. É difícil ouvir ela, sua voz é baixa e doce. Caliope não parece tipicamente uma mulher de festas e noitadas, mas ela sempre adorou dançar qualquer tipo de musica. --Vamos nos misturar.
Sigo ela até a parte detrás da casa. Tem uma piscina enorme e várias pessoas ao redor, porém ninguém dentro. Acho um absurdo aquela água tão clara ali e ninguém se importar em pular dentro. Eu adoro nadar desde pequena, é muito gostoso nadar de olhos fechados no fundo de uma piscina ou lago.
A noite está bonita, aqui onde estamos, a música está baixa o bastante para conversar e vai ver é o por isso que as pessoas estão aqui.
Enquanto estamos paradas olhando as pessoas, percebo que alguém vem na nossa direção e eu dou dois suspiros quando vejo melhor a pessoa.
A primeira coisa que noto é a tatuagem. Um leão no braço musculoso. Pelo menos acho que é isso pois a camisa cobre boa parte. Ele tem parte de uma tatuagem saindo do pescoço e eu fico curiosa para saber como ela é. Depois noto seus olhos castanho-escuro, a boca perfeitamente rosada, as sobrancelhas da cor do cabelo castanho e curto, a barba por fazer...e até seu porte...ele é um homem! Uns 20 centímetros mais alto que eu e lindo de morrer. Deus, que homem lindo!
E então eu perco completamente o interesse por ele quando ele tira uma carteira de cigarro do bolso, coloca um na boca guardando a carteira e acende com um isqueiro. Ele dá uma tragada e solta a fumaça já perto de nós. Eu odeio cigarros. É um hábito nojento que eu desaprovo veemente.
--Olá, vocês são novas no condomínio?--Ele pergunta e sinto Caliope se remexer ao meu lado. Se eu odeio cigarro, Callie odeia 30x mais. A voz dele é grave e sonora. Eu não sei explicar, mas sua voz é como uma música bem lenta.
--Nos mudamos hoje.--Falo hipnotizada com seus olhos castanhos me fitando. Mas só um pouco.
Ele estende a mão para mim.
-- Meu nome é Cristian, eu sou um dos anfitriões da festa, sejam bem-vindas, se precisarem de algo, podem falar comigo, eu estou a disposição. --Ele fala tudo com um sorriso desleixado e incrivelmente sexy.
--Eu sou a Michelle e essa é a minha amiga Callie.--Eu digo apertando sua mão quente. Ele é incrivelmente quente...em todos os sentidos.
Ele e Callie trocam um aperto de mão rápido, mas Cristian não tira o olho de mim, me olhando com curiosidade.
-- Michelle.-Ele repete. Abro um pequeno sorriso para ele por educação. Cristian me olha de cima até embaixo e abre um pequeno sorriso surpreso.-- É um prazer conhecê-las, bebida na cozinha, cigarros comigo e drogas com o nosso traficante preferido. Nos vemos depois?
Eu assinto por educação. Ver ele depois? Acho pouco provavelmente que nos encontremos ainda nesse ano, quem dirá depois.
Cristian sume na multidão sem me dizer se ele estava brincando sobre essa coisa de traficante.
--Que cara sem noção.--Callie comenta me dando um susto. Fiquei tão distraída pensando no que Cristian disse que esqueci que ela está aqui.
--É, completamente sem noção.--Eu digo ironicamente para mim mesma. Esse é o cara mais bonito que já vi na vida mas ele não me despertou o mínimo de interesse. A verdade é que ele não faz meu tipo. Eu não sei exatamente qual é meu tipo, mas com certeza não é ele.
--Achamos vocês!-Dani aparece de repente com um copo de plástico vermelho não mão. Atrás dela, estão Will e Lipe com os mesmos copos. --Que festa animada, parabéns aos envolvidos.
--Acabamos de conhecer um deles.-Eu digo me lembrando de Cristian.
--Sim, um completo idiota.--Caliope completa.
Balanço a cabeça concordando com ela. Não pude evitar procurar por ele entre toda aquela gente. Passei meus olhos por todo o jardim e vi ele de perfil. Ele estava conversando com alguns garotos. Deu um trago no cigarro e soltou a fumaça sorrindo. Uau. Eu sempre abominei cigarro, mas aquele cara consegue ficar sexy com um.
E então eu resolvo desviar o olhar dele antes que ele me note e percebo ter sido um grande erro, pois próximo a ele, me fitando com seus lindos olhos, está Ícaro, meu ex melhor amigo.
Oh deus! Como encara-lo depois de tudo?
E tudo fica pior quando ele começa a dar passos largos em minha direção. Um desespero cresce dentro de mim e eu só quero sumir daqui. Não acredito que ele tem essa coragem de vir falar comigo depois de ter me ignorado por dias! Depois de eu ter me declarado explicitamente para ele, entregado todo meu coração naquelas palavras e ele vir com um "nossa". E mais nada!
Ah, não! Eu não aceito passar por aquela humilhação. De novo.
--Bom, eu odeio festas, até logo.--Eu digo para meus amigos e saio apressada. Antes que eu pudesse chegar na metade do caminho alguém segura minha mão e eu torço para ser o d***o em pessoa em vez de Ícaro. Então eu me viro.--Me solte.
Falo estremessendo. Talvez eu não devesse ter desejado que o d***o em pessoa estivesse ali, pois a imagem se assemelha a Ícaro nesse momento.
-- Michelle, podemos conversar sobre aquilo?--Ele pergunta com aqueles olhos enormes que eu não conseguia negar nada.
--Nao. --Falo sem perceber a irritação na minha voz. Vai ver eu conseguia negar algumas coisas a esses olhos.
--Olha, somos bons amigos, eu me importo com você de verdade, faria qualquer coisa para não ver você sofrer.--Ele diz ignorando meu "não". Ícaro sempre teve um problema com limites.
Eu estava com medo disso. Desse discurso de rejeição. Eu não quero ouvir isso. Eu já havia entendido bem o que ele queria me dizer antes de falar comigo.
--Não se dê o trabalho. Eu não quero ouvir isso.--Digo me soltando e finalmente saindo desses lugar. Mas não por muito tempo pelo visto, pois quando eu estou quase chegando a porta da frente, outra pessoa agarra meu braço. --Dani, eu não quero mais ficar aqui, me deixa ir.
--E essa Dani é bonita? Pois só assim para eu perdoar você por me confundir com ela.--Uma voz masculina diz por cima da música.Me viro e dou de cara com Cristian. --Você chegou tem uns 20 minutos e já vai embora? Isso me ofende, é a melhor festa do ano.
O que ele está fazendo aqui? Estamos próximos para podermos nos ouvir com toda a música e eu consego sentir seu cheiro. É cheiro de perfume amadeirado com cigarro. Não é um cheiro tão r**m quanto parece. Na verdade, eu até gostei.
--Desculpe, mas eu não gosto de festas.--Falo para ele e me desvensilho do seu braço. Antes de me virar, vejo Ícaro chegando atrás de Cristian, e eu não paro para vê-lo chegar mais perto. Dou as costas e saio desse lugar o mais rápido possível, com o coração despedaçado dentro de mim. Uma sensação r**m, como se tivesse um visto um fantasma de uma outra vida.
Enquanto eu volto dando passos tão pesados que parei um pouco, respirei fundo, e voltei andar, percebo que eu não sei exatamente o caminho de casa. Na ida para a festa, eu apenas segui Will e Lipe, não prestei muita atenção nos detalhes.
Então eu saio andando por aí parecendo uma louca. Não tem uma alma viva se quer na rua e eu nem lembro o número da minha casa nova. Então eu me lembro do número da casa de Will e Lipe. Casa 15. Eles são meus vizinhos da frente. Procuro a numeração da casa mais próxima a minha.
Casa 01.
Será possível que eu voltei ao começo do condomínio e não percebi? Eu posso até ter passado em frente da minha casa.
Dou meia volta e saio contando as casas. Quando chego a casa 08, vou para a rua detrás. E então, no final dessa rua, acho a casa de Will e minha casa.
Casa 16.
Aqui é um condomínio extremamente seguro, o proprietário disse que nunca houve denúncias de furtos ou invasão, então os moradores costumam deixar as portas destrancadas. Will e Lipe perderam a chave deles na metade do ano passado e nunca fizeram outra cópia.
Entro na minha nova casa. Por incrível que pareça, eu já estava acostumada a chamar esse lugar de casa. Os baldes de frango frito vazios em cima do sofá e uma nova mancha de molho me faz sentir em casa.
Ouço um miado. Kakashi deve ter acordado quando abri a porta. Logo ele aparece graciosamente rebolando com o r**o peludo para cima. Ele mia novamente olhando para mim é começa a se esfregar nas minhas pernas.
Junto ele do chão e vou para meu quarto. Enquanto eu tiro a maquiagem, kakashi me olha com um olhar julgador.
--O que foi?--Pergunto e ele mia em resposta. Mudo de roupa rapidamente e vou para sala com ele me acompanhando. Afasto os baldes vazios de frango e me sento. Kakashi mia de novo e me olha como se fosse me matar. E eu até acredito, a cicatriz que deu origem ao seu nome, no olho direito, é ameaçadora.
Adotei kakashi quando ele era filhotinho. Dentre ele e os lindos irmãos dele, eu escolhi o gatinho cinza com a cicatriz no olho. Ele foi rejeitado pela mãe e ela arranhou feio ele. Eu gostei dele assim que o vi e até achei legal dar a ele o nome de um personagem de cabelo cinza e cicatriz no olho.
Meu gato dá as costas para mim e empurrou os baldes vazios para fora do sofá. Então eu entendo.
-- Ah não, não me culpe por não ter dado frango pra você, olha seu tamanho! Você está gordo, cara. Precisamos seguir a dieta rigorosamente.
Kakashi apenas me olha com desprezo e aconchega a cabeça no braço no sofá.
Ouço barulhos vindo do lado de fora que me fazem acreditar que meus amigos chegaram, e logo a porta se abre concretizando minha crença.
--Viu? Eu falei que ela estaria aqui.--Dani fala alto escancarando a porta. Logo o resto dos meus amigos entram e me olham
--Ela poderia ter ido pra casa, era o que eu faria.--Lipe diz para Dani.
--Mas essa é a casa dela. --Callie fala e todos balançam a cabeça concordando. Eles começam a tirar os sapatos para entrar.
--Aquele Ícaro é um babaca, né? Onde já se viu ir falar com ela depois de ela ter deixado claro que não queria mais ver ele.--Dani diz e sai andando para a cozinha. Ela abre a geladeira e se abaixa provavelmente atrás de comida.
--Ela reagiu bem, já pensou se ela ficasse sendo trouxa para ele de novo?--Will diz indo em direção a namorada.
--Eu acho que ela tem que deixar essa coisa de garotos de lado e se dedicar ao estudos.--Callie diz pegando kakashi no colo. Dela ele não está com raiva. Traidor.
--Só porque você segue essa filosofia i****a, não significa que ela deva seguir também, maninha.--Lipe fala e se joga no sofá ao meu lado, ligando a televisão.
--Verdade, Callie. O que ela deve fazer é arranjar um gostosão pra ficar se esfregando de vez em quando.--Dani fala se levantando e fechando a geladeira.--Será que ela já está recuperada o bastante pra fazer uma janta?
E então todos olham para mim.
-- Ah! Vocês agora notaram que eu estava aqui!-Cenas como essa são frequentes com meus amigos.
--O que você acha de strogonoff de frango?--Dani pergunta e todos balançam a cabeça. Até mesmo a Callie que é vegetariana, pois sabe que eu prepararia um Strogonoff de legumes que ela adorava, como sempre.
Ícaro me decepcionou profundamente e foi um completo i****a, mas esses meus amigos imbecis conseguem me animar de vez em quando.