Acordo com batidas na porta.
Quem diabos bate na porta de alguém as 7:30 num domingo? E por que eu havia comemorado em ficar com o quarto mais próximo a porta? Os quartos de Dani e Callie são no andar de cima.
Suspiro e levanto. Eu estou com meu pijama de patinhos e uma regata amarela de tecido fininho. Não é como se eu estivesse nua, então vou atender a porta. A casa inteira está silenciosa. Chuto que todos iam dormir até as 10:00 pelo menos. Fomos ao mercado 24hrs para comprar coisas pra fazer strogonoff e os meninos adicionaram uma caixa de cerveja nas compras. Eu não bebo mas é sempre divertido vê-los bêbados. Cozinhei enquanto todos apostavam quem bebia mais e depois me juntei a eles para conversar e rir. Nisso fomos dormir bem tarde.
Abro a porta ainda sonolenta e quase me engasgo com minha própria saliva. Eu não sei como as pessoas conseguem acordar normalmente e falar e fazer coisas sem antes escovar os dentes. Eu morro de nojo da minha saliva e para mim, escovar os dentes é a primeira coisa que se faz ao acordar.
--Pijama legal.--Cristian fala me analisando com um olhar engraçado.
Pisco e passo a mão no olho para ter certeza de que é ele mesmo. O que diabos ele está fazendo aqui? Como ele sabe onde eu moro?
--O que esta fazendo aqui?--Pergunto franzindo a testa.
Cristian não espera um convite meu. Ele simplesmente entra em casa segurando um saco de papel e olhando ao redor.
--Café da manhã.--Ele diz levantando o saco e indo pra cozinha.--Eu perguntei se nós veríamos depois, e você disse sim. Aqui estou eu.
Pisco ainda olhando pro lado de fora. Olho bem para ver se não tem mais ninguém, a procura de algo que explicasse Cristian estar aqui. Mas não vejo nada. Então fecho a porta e me volto ao moreno alto que está me olhando apoiado no balcão.
Vou até ele, confusa.
--Voce não está me confundindo?--Pergunto. Eu preciso de uma explicação plausível.
--Você é a Michelle.--Ele não pergunta, apenas afirma e mesmo assim eu concordo com a cabeça. --Eu estou na casa certa. E eu estou virado também, você faz um café?
Pisco. Que merda é essa? Ele não está bêbado, parece bem sóbrio e consciente.
Então volto minha atenção para o saco de papel.
--O que tem aí?--Pergunto com minha barriga roncando.
Ele abre o saco me olhando com as sobrancelhas arqueadas.
--Pão de queijo.
Paraliso. Com certeza deve ser uma coincidência ele trazer justo o que eu mais gosto de comer. Mas embora eu queira muito me atirar nesse saco de papel, a presença dele me deixa curiosa.
--Isso é legal... E estranho. Mas pode me explicar o que esta fazendo aqui?--Pergunto com as mãos na cintura. Eu estou já impaciente.
Cristian vira a cabeça de lado, como um cachorrinho.
--Olha, você faz o Café, escova esses lindos dentinhos, se quiser pode trocar esse pijama e então sentamos e comemos enquanto eu te explico tudo. --Ele fala como se fosse um segredo.
Por que eu tenho que ser tão curiosa? Me pergunto isso enquanto ligo a cafeteira e corro pro banheiro. Eu imagino a reação dos meus amigos ao acordarem e verem Cristian sentado no sofá comendo pão de queijo enquanto assiste algum programa matinal de domingo na televisão.
Will havia dormido no quarto de Dani e Lipe no quarto de Calíope. Pensar nos quatro olhando confusos para Cristian me faz sorrir. Iria ser engraçado.
Após escovar meus dentes, troco o meu pijama por uma bermuda jeans de cintura alta e uma blusa de mangas com estampa de ursinhos.
Quando volto a cozinha, sirvo duas xícaras de café e levo os pães de queijo comigo até o sofá Cristian está deitado com a cabeça apoiada nas mãos e olhos fechados. Será que dormiu?. Desse jeito, eu posso analisa-lo melhor. Suas roupas são as mesmas da noite anterior, o cabelo ainda está bonito e naquela posição seus braços parecem maiores. Pude ver seu leão. É bonito e másculo. Assim como ele.
E então Cristian abre os olhos e me pega observando ele. Sinto minhas bochechas esquentarem na hora e vou me apressando para entregar seu café. Ele dá espaço para eu sentar e fica me olhando com um sorriso presunçoso sem mostrar os dentes.
--E Então?--Pergunto.
Cristian levanta a mão para mim, como se quisesse que eu esperasse, então toma um gole do café. Aproveito para atacar os pães de queijo.
--Então o que?--Ele pergunta.
--O que faz aqui?--Pergunto lembrando ele da nossa conversa de 5 minutos atrás.
-- Ah, sim. --Ele boceja e olha para detrás de mim.--Eu vim dizer que seu gato é muito bonito.
Cristian pega um pão de queijo e leva até a boca enquanto eu o olho perplexa. Percebo que Kakashi estava atras de mim e ele veio assim que sentiu o cheiro do pão de queijo.
--Espera, o que? Você nem conhecia meu gato até agora, como pode ter vindo aqui falar apenas isso?
--Bom, eu sei que você gosta de pão de queijo, é curiosa como ninguém e tem um gato cinza. Foi a melhor desculpa que consegui inventar.--Ele encosta no sofá e me olha com um sorrisinho e olhar divertido. Como se estivesse se divertindo com tudo isso.
Não sob minhas custas.
--Como você sabe tudo isso sobre mim? E por que estava atrás de uma desculpa para vir aqui?--Pergunto já me levantando. Eu estou furiosa. Não acredito que cai numa brincadeira i****a dessa.
--Eu tenho informações. Voce já viu como eu sou bonito? Foi fácil descobrir coisas sobre você para poder te ver. --Ele fala relaxado. --Um rostinho lindo assim não se pode deixar passar.--Ele falav como se estivesse acostumado a cantar mulheres assim.
Isso já passou dos limites.
--Levanta.--Falo autoritária.
Cristian fica surpreso.
--Espera, o que?
--Levanta e vai embora.--Falo puxando ele pelo braço e levando em direção a porta.--Voce só pode ser louco. Acha que pode invadir a casa dos outros contando mentiras assim? Se você chegar perto de mim outra vez eu vou te denunciar para a policia.
Paro apenas quando ele já está no lado de fora segurando uma xícara de café e metade de um pão de queijo com o olhar mais surpreso do mundo. E mesmo assim ele continua lindo.
--Voce não faria isso --Ele tenta outra vez jogar seu charme para cima de mim.
--Pague pra ver.--Falo e bato forte a porta na cara dele.
--Mas que gritaria é essa?--Dani aparece na sala bocejando e se escorando pelas paredes.
--Cristian estava aqui.--Explico bufando. Eu ainda estou processando o que acabou de acontecer.
Dani fica imóvel me olhando com os olhos semicerrados com a maior cara de nojo.
--Quem é Cristian?--Ela pergunta e abre os olhos de repente. --Voce fez café?
Dani não me espera responder e vai se servir uma xícara de café.
--O cara que Callie e eu te falamos. O anfitrião da festa.--Vou até o sofá . Os pães de queijo ainda estão aqui e estão tão quentes e prefeitos. Crocante por fora e o queijo macio e elástico por dentro.
--O que ele queira?--Dani já está com a xícara de café na mão vindo na minha direção.
--Ele trouxe pão de queijo e começou a dizer que foi atrás de informações minhas para poder me ver. --Falo levando um pão de queijo até a boca.
--Voce adora pão de queijo. E eu estou morrendo de fome.--Dani arranca o pão de queijo da minha mão e quase engole ele inteiro.
--Droga, Dani.--Pego outro pão de queijo no saco.--Foi estranho. Então eu expulsei ele e ameacei chamar a polícia, acho que ele nunca mais vai falar comigo.
Dani me olha com cara feia.
--Por que fez isso? Ele te trouxe pão de queijo! Quando foi a última vez que alguém fez algo assim por você?
Penso sobre isso. Eu nunca tive namorados. Uma vez Ícaro levou um brigadeiro para mim da festa de aniversário da irmãzinha dele, mas não era a mesma coisa. Eu passei horas pedindo aquilo.
Me viro furiosa para Dani.
--E vocês? Se dizem meus amigos mas nunca me deram nada.--Falo emburrada. O que a Dani falou me deixou intrigada e talvez até arrependida por ter ameaçado Cristian daquela maneira. Mas foi divertido ver a cara dele.
De repente sou atingida por um pão de queijo no meio da cara. Olho para Dani e ela parece a ponto de me bater.
--E aquela vez que você ficou doente e nos revezamos para ficar com você no hospital? E as milhares de vezes que o Ícaro te magoou e levamos você para se divertir e esquecer daquele embuste? E todas as vezes...
--Ta, Já entendi. Vocês são amigos maravilhosos.--Falo interrompendo Dani e jogando o pão de queijo nela de volta.
Ela pega e volta a come-lo.
--Mas somos seus amigos. A gente não conta. Eu não sei quem é esse Cristian e nem seu por que ele veio atrás de você, mas você deveria seguir minha dica de ontem. Ele é gostosão?
Suspiro. Cristian é mais que gostosão.
--Ele parece aqueles caras lindos e maus de filmes. Tatuagens pelo corpo, fumante e com um charme incrível.--Fapo tudo sem nenhum pouco de vergonha. Eu conheço bem Dani e sei o que ela falará.
Ela me olha surpresa e posso perceber ela tentando imaginar Cristian.
--Ele não parece um cara pra você. Ícaro era todo estudioso e comportado. Não imagino você na garupa de uma moto agarrada a um cara de jaqueta de couro.
--Como sabe que ele tem moto?--Pergunto. Nem eu mesma sei disso.
--É um chute. Se ele for exatamente como você descreve, deve ter uma daquelas motos enormes que fazem todo aquele barulho.
Imagino Cristian em cima de uma moto enorme, acelerando e queimando pneu. Parando do meu lado e levantando a viseira do capacete revelando um lindo e sexy sorriso. E também imagino um grupo enorme de garotas desejando ele.
Eu não gosto disso. Desde o ensino médio, quando eu via aqueles garotos populares e obviamente bonitos e todas as garotas morriam por eles, eu me mantinha bem longe. Eu gosto da beleza exótica. De conhecer a pessoa por inteiro e me apaixonar por isso. Caras que tem toda essa beleza óbvia, usam isso como máscara e acabam se misturando com o que tem por dentro, e assim, sobra apenas uma personalidade crua.
--Eu não sei o que deu nele para vir aqui, mas não me arrependo de ter feito o que fiz.--Falo por fim.
Dani resolve não discutir e talvez passar tanto tempo pensando sobre Cristian foi um erro enorme, pois Dani havia devorado todos os pães de queijo nesse intervalo de tempo.
*********
Após Will, Lipe e Callie acordarem, Dani tocou no assunto de Cristian e eu tive que contar para eles o que havia acontecido. Eles ficaram confusos. Will disse não entender o que Cristian queria comigo e Lipe disse que ele se apaixonou perdidamente. Já Callie, falou que ele pode estar me usando para alguma coisa.
Eram tantas opiniões mas todas com a mesma finalidade. Eu não devia me aproximar de Cristian.
Estamos todos indo a sorveteria nessa tarde. Está mais calor que o normal e quando Dani sugeriu tomar um milk shake, ninguém protestou. Entramos no carro de Will, um HB20 prata 2015. Will é o único de nós que tem algum meio de transporte então geralmente ele é nosso motorista.
--E o Carnaval? Vocês tem planos?--Callie pergunta assim que Will sai do condomínio.
É fevereiro. Falta seis dias para o começo do carnaval. Eu comecei a comemorar realmente no ano anterior, quando eu descobri que amava me fantasiar. Me vestia de algo que eu gostava, ia para algum carnaval de rua com meus amigos e pulava e dançava até as 23:00. O resto dos meus amigos amanhecia o dia pulando carnaval em algum lugar, mas minha mãe era um pouco rigorosa com horários, mesmo depois que fiz 18 anos.
--Vai ter o Carnaval da República. --Will comenta.
--Como assim?--Callie perguntou curiosa. Bom, Não só ela. Dani e eu fomos interrompidas por ela.
--As ruas, a praça e qualquer território do condomínio vai virar um carnaval de rua. Vai ser divertido.--Will fala atiçando a nossa curiosidade.
--Fantasias, marchinhas e tudo que o Carnaval tem direito?--Pergunto.
--Voces não leem o cronograma?--Lipe pergunta do banco da frente.
Ah Sim! O condomínio tem um site. Pego meu celular e abro rapidamente o site. Procuro o cronograma e comecei a ler.
24 de Fevereiro- Festa eletrônica na casa 09
01 de Março- Preparativos para o Carnaval da República.
02 de Março- 1° dia de carnaval com tema: Fantasia
03 de Março- 2° dia de carnaval com tema: Adão e Eva
04 de Março- 3° dia de carnaval com tema: Troca de sexos.
05 de Março- 4° dia de carnaval com tema: Fantasia
06 de Março- Quarta feira de cinzas. Missa na Catedral do condomínio.
Parece divertido.
--Qual é dessa coisa de temas?--Pergunto.
--Eu não sei, quando viemos morar aqui já haviam essas regras. Mas sem dúvidas parece divertido.--Lipe comenta.
--O que é o tema Adão e Eva?--Callie pergunta.
Lipe e Will se olham com um sorriso de lado.
--Bom, Adão e Eva viveram nus no jardim do Eden, certo?-Balançamos a cabeça concordando com Will.--Então o tema é sobre ir com menos roupa você puder.--Ele completa.
--Que coisa machista!--Dani protesta.
--Nao é, não! Todos aceitam de boa, ninguém nunca foi pelado, as garotas não são tão idiotas...mas os garotos são. Ano passado não teve um garoto se quer que apareceu usando mais de duas peças de roupa. Contando com sapatos.
--Por acaso você foi nesse dias?--Dani pergunta. Vejo os pelos do pescoço de Will arrepiarem. Will tem razão em ter medo de Dani.--Ah, você dormiu comigo na terceira noite.
Vi Will relaxar as mãos no volante.
--Enfim, eu fui. Garotos quase nus e garotas com pouca roupa. Parecia um paraíso para todas as sexualidades.--Lipe fala pensativo.
Eu queria sair de dentro do meu quarto. Passei a vida toda nele enquanto pessoas da minha idade faziam coisas de pessoas da minha idade. Eu m*l fui a minha formatura. Minha mãe é uma boa pessoa, mas eu não gostava da maioria dos meus padrastos. Acho que ela era rígida comigo para mostrar pulso firme a eles. Eu era filha única, ela geralmente namorava caras solteiros sem filhos, acho que ela queria mostrar que eu não seria um problema para eles.
Foi esse o grande motivo para eu sair de casa sem nenhum emprego aos 19 anos. Meu pai que está me ajudando, ele se mudou pra outro estado quando se separou da minha mãe e quando se formou e conseguiu um emprego que pagava bem, começou a me ajudar e depois de eu explicar a situação a ele, ele pediu que eu arrumasse um bom lugar para morar.
Eu não quis deixar tudo nas suas costas, então dividir o aluguel em 3 foi a melhor opção. Ele pagava 250,00 do aluguel e me mandava 600,00 reais para passar o mês. Ele falou que daria até eu arrumar um emprego para inteirar nas despesas.
Eu não o vejo desde pequena. Não tenho afeto por ele mas sou muito grata pela ajuda. Ele me ajudou a sair da gaiola. E por isso, decido aproveitar todas as noites de carnaval nesse lugar.