1- As faces do amor

3616 Words
Quatro letras. Apenas quatro letras. A M O R Deveria ser simples, certo? São apenas quatro letras que formam essa palavra pequenininha. Mas estamos falando do amor! Como quatro letras resumem um sentimento tão grande? Quero dizer, pensa comigo, eu amo minha mãe. Eu amo meu gato. Eu amo chocolate branco com aqueles pedacinhos de biscoito nele. Três coisas que eu amo e...não faz sentido comparar minha mãe a uma barra de chocolate. Mesmo que seja a melhor barra de chocolate do mundo. Mas é isso, eu amo! Foi quando eu descobri que o amor tem várias faces. Não existe apenas um tipo de amor. O amor pode ser um sentimento avassalador, que naquele momento, precisa ser sentido, não importa o que esteja acontecendo, ele vem selvagem e excitante. Mas o amor também pode ser um sentimento de que tudo está bem. Que deixa coração quentinho, confortável e é extremamente familiar. Pode ser um amor incondicional de que mesmo que seu gato te arranhe, morda e pareça estar explorando você, mesmo assim, você o ama mais que tudo. O fato é: O amor é aquilo que te tira um sorriso depois de um dia tempestuoso. E isso se aplica a minha mãe, ao meu gato e ao chocolate branco com pedacinhos de biscoito. Eu acordei pensando nisso nesta manhã. Eu estou com dúvidas do que eu sinto. Se eu realmente amo ele. Com certeza eu amo mais minha mãe do que ele. Entre ele e meu gato...o Kakashi está comigo desde que nasceu, é o meu filhinho rebelde, eu com certeza não amo ele mais que meu gato. E chocolate...ah, aquela textura crocante e o gosto de leite em pó com biscoito, Deus! Eu não viveria sem chocolate, mas estou vivendo sem ele. Então eu amo mais chocolate do que ele. Céus! Que confusão! Ele deveria vir atrás de mim, não é? É isso que uma pessoa normal faz quando uma pessoa que julgou importante, simplesmente some da sua vida sem dar explicações. Estávamos juntos há mais de um ano! Ok. Não estávamos juntos. Mas nos beijávamos. E conversávamos, e ele me chamava de melhor amiga. Então uma semana atrás, quando havia decido que não nasci pra sofrer, eu bloqueei ele dá minha vida. Eu literalmente bloqueei. Em todas as minhas redes sociais, apaguei seu número, falta apenas mudar de endereço. Mas isso está quase providenciado. Eu erradiquei ele da minha vida e ele não me deu um telefonema. Eu fico pensando, é nisso que resumiu minha vida até agora? Nenhum namoro, algumas boas amizades, um coração partido e uma vida tediosa? Eu nunca vou viver um grande momento? Nunca vou viver nada parecido com o que assisto em filmes? Afinal, eu sou completamente louca por filmes, seja lá qual for o gênero, eu  amo assistir histórias que prendem, que me fazem querer viver isso. Nem que seja um romance água com açúcar, como "Amor a toda prova", ou "Simplesmente Amor". Ou viver um filme de ação, nem precisa ser algo como "Missão impossível", basta eu ser uma protagonista feminina forte que bate no vilão e supera uma adversidade. Ou quem sabe um bom drama como...quer saber, ninguém quer viver um bom drama, ninguém quer ser injustamente executado na cadeia, ou passar por um divorcio turbulento ou simplesmente ter seu amor perdido para o cancer...Talves, se eu fosse escolher, o filme de ação com a protagonista forte seria minha opção, o amor é uma causa perdida para mim. Eu estou olhando pro meu ventilador de teto enquanto penso nisso nessa manhã de sábado deitada na minha cama esperando meus amigos, e acabei me distraindo dos pensamentos, mas os murmúrios cada vez mais altos do outro lado da minha porta, me trazem de volta. E então vem as batidas. Em todos nossos anos de amizade, meus amigos nunca bateram na minha porta. --Ta aberta.-Falo ainda olhando pro meu ventilador girando. Por muito tempo, eu imaginava ele caindo em cima de mim e me deixando em pedacinhos numa sopa de sangue enquanto eu dormia, mas foi apenas uma fase de uma criança que assistiu o filme "Premonição" sem a permissão dos pais. --Você tá vestida?-- É a voz do Will. Não levanto para abrir, mas consigo imaginar nesse momento, Dani dando um tapa em cheio na cabeça dele. --Abre isso ou sai da frente, Will.--Dani diz e após meio segundo, ouço a porta sendo aberta. Continuo com meus olhos fixos no ventilador. Meus amigos são totalmente sem limites. São um bando de gente louca e problemática, mas a gente se entende como ninguém. Sempre fomos verdadeiros um com os outros, então pra que fingir que estou bem? --Acho que uma semana o corpo já entra em estado de decomposição, é melhor enterrarmos.--E esse é o Lipe. --Não sei não, ela parece bem.--Calíope diz. A boa Calíope. Ela sempre vê o lado bom das coisas. É irritante e ao mesmo tempo encorajador. --Ela tá pessima! Vocês estão sentindo esse cheiro? Vem dela.--Dani diz. Ela é o contrário de Calíope. --Eu acho que ela está desejando que o ventilador caia em cima dela.--Will tem q voz pensativa. Todos concordam murmurando um "uhum". Finalmente olho para eles. Lá estão meus quatro amigos sem limites. Will magrelo, pele n***a clara, alto, mas com as mãos mais lindas que já vi na vida. Dani com a ruga de sempre na testa, o cabelo num r**o de cavalo habitual e a pele quase tão escura quanto meu segundo tipo de chocolate favorito: diamante n***o. E claro, a boa e velha melanina também deixa a pele dela brilhante e uniforme, tudo que meus cremes de pele prometem fazer e não cumprem. Eles são um casal completamente diferente. Dani é essa pessoa cheia de opinião. Sincera em tudo, desbocada em qualquer situação e totalmente sem senso de humor. Ela é engraçada mas sem nem perceber. E Will é um palhaço bobo. E eles são loucos um pelo outro. Suspiro. Eu quero um amor assim. Esse tipo de amor, sim, merece ser vivido. A lado dos dois, Caliope me olha cheia de preocupação. Oh Deus, ela era tão fofa! Seu rosto é tão angelical, e ela tem esses cachos castanhos com algumas mechas cor de lavanda. Sua maçãs do rosto são tão aparentes e rosadas, é como se ela estivesse o tempo todo envergonhada. As vezes até acredito que ela esteja. Ela percebeu o quanto eu a olhava, e me lançou um sorriso quente. E ao seu lado estava Lipe. Ele e Will eram a dupla dinâmica, mas Lipe era o Robin e Will o Batman. Will que sempre arrastava Lipe paras as encrencas e brincadeiras. E Will quem sempre se ferrava, afinal, quem olhava para o rosto de bom moço de Lipe e dizia que ele colou mochilas e cadernos no teto da sala inteira com super-bond no último dia de aula? Assim como sua irmã, Lipe tinha um rosto angelical, mas ele não tinha nada de anjo. Kakashi miou ao meu lado. Ah, claro. O traidor percebeu que Caliope está aqui. E assim, meu gatinho cinza de r**o felpudo saiu rebolando até ela. -- Ah, fofinho! --Caliope exclama e pega Kakashi no colo. --Traidor.--Murmuro. --Ah, você ta fedendo, não culpa o coitado do gato.--Dani revira os olhos. Olho para meus amigos esperando que alguém me defenda, mas todos simplesmente me olham como se concordassem com Dani. --Eu não estou fedendo!--Exclamo e levanto o braço para dar uma pequena conferida no desodorante, e como eu suspeitava, ainda está na validade. Tudo certo por aqui. Will solta uma risada com minha reação. -- Michelle, parece que um bixo morreu aqui!--Will prende o nariz com os dedos. Dramático. Dani dá um passo a frente com uma cara de "espera um pouco." Ela faz essa cara quando está tentando lembrar de algo. E então parece que ela lembrou, pois estala os dedos e aponta pra mim de forma acusatória. --Esse cheiro não vem dela! Pelo amor de Deus, Michelle! Isso é cheiro de sushi estragado!--Dani exclama e seguie até debaixo da minha cama, onde de lá ela puxa uma bandeja enorme com alguns Makis e Sashimis de salmão com uma cara nada boa. Dani tem o dom de saber o que é uma comida apenas pelo cheiro, mas eu não sabia que isso se aplicava a comida estragada também. -- Ah não, Michelle, quem pede sushi e estraga? Isso é caro sabia?--Will fala pegando a bandeja da mão de Dani e jogando bem longe. --E é a coisa mais gostosa do mundo!--Dani diz, mas ela deve ter pensando sobre o que disse, pois acrescenta.-Depois de strogonoff, cheesecake de morango e frango frito. Sushi é maravilhoso, mas não supera uma boa comida calórica. --Que tal um balde de frango frito quando sairmos daqui?--Will oferece a Dani, que rapidamente muda seu humor. Obrigada, Will! Dani brava é um caos. E até certo ponto, é controlável. Callie e Will conseguem lidar bem com esse processo, já eu, às vezes acabo entrando na onde de Dani. --Podemos todos comer frango frito após a mudança. --Caliope diz gentilmente animada com Kakashi aninhado ao seu colo. Mudança? Oh meu Deus! Eu havia esquecido da mudança. É claro que explicaria meu quarto está nessa situação, com todas aquelas caixas e o gato dormindo na minha cama pois sua cama já tinha sido encaixotada. Eu vou morar com Dani e Caliope. Deus, essa coisa toda com Ícaro está me deixando louca. --Certo. Eu vou tomar um banho, já que há boatos que estou fedendo, e então vocês me ajudam a descer com minhas coisas.--Eu digo me levantando e expulsando meus amigos do quarto. --Seja rápida.--Dani diz um pouco antes de eu fechar a porta. Suspiro de cansaço. Não cansaço físico, e sim emocional. Eu acabei de passar pela maior decepção da minha vida. Tiro minhas roupas e jogo em cima das caixas que continham roupas sujas e entro no meu banheiro. Eu não preciso ir lá fora para saber que está frio, no momento que me livrei das minhas roupas, todos os pelos do meu corpo se arrepiaram, e então eu corro para ligar a água quente antes de ligar o chuveiro. Deixo a água cair sobre meu corpo, quente e relaxante. Decido lavar o cabelo, quem sabe Dani para de pegar no meu pé. Mesmo com esse momento relaxante, não consigo parar de pensar em Ícaro. Meu ex melhor amigo. A forma como tudo aconteceu foi devastadora. Tudo começou no colégio. Ele era da minha sala, um dia tivemos que fazer um trabalho juntos e ficamos amigos. Ele era minha alma gêmea. Tínhamos tanto em comum e ele era tão lindo! O cabelo castanho em um topete prefeito, os olhos cativantes eram como folhas secas, um monte de folhas secas caindo das árvores e fazendo o chão ficar coberto por inteiro. Ele cheirava a amaciante e carvalho. Eu não sei como é o cheiro de um carvalho, mas com certeza deveria ser aquele cheiro. Éramos incríveis juntos. Apesar de nunca estarmos realmente juntos. Ele era meu melhor amigo. Me dizia ser a mulher mais importante da vida dele depois de sua família e isso parecia muita coisa. Ele dizia que éramos muito ligados. E isso durou mais de um ano. Eu achava que ele sentia o mesmo, ele era sempre tão emocional quando se tratava de mim. Era ciumento e protetor. Eu realmente achava que ele se importava comigo. Então eu declarei meu amor com palavras que nunca achei que poderia dizer. Cada palavra que saia da minha boca, Eu ficava surpresa. Me perguntava se era realmente verdade, mas é claro que era. Ele era minha alma gêmea. Eu realmente estava otimista. Não esperava receber apenas um "nossa". Aquele foi o momento mais humilhante da minha vida. E aqui estou eu. Gastando toda a água da caixa d'água, com alguém batendo freneticamente na porta. E Ícaro? Bloqueado. Em todas as redes sociais, nas ligações e mensagens de texto, e tudo mais. --Vamos Michelle!--Dani grita da porta. Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha. Eu adoro esse tipo de toalha fina. As grossas e felpudas absorvem muita água e ficam fedendo se não pendurar. Coisa que eu raramente faço. Não que eu seja porca, eu geralmente sou muito organizada com coisas relacionadas a estudo e trabalho, mas aqui, no meu canto, onde eu posso finalmente relaxar, eu me deixo ser a bagunceira que habita no canto mais escuro do meu ser. Abro a porta e encontro Dani e Sandy, sua ruga saltada nesse momento super aparente. Quem deu a ideia de nomear a ruga foi Will. --Olha só! Sandy está acenando pra mim.--Falo passando por ela e indo até a caixa de roupas que deixei aberta. --Se apresse, sua mãe está mostrando o álbum de fotos do casamento dela de novo. --Ela diz revirando os olhos. Dani já viu aqueles álbuns mais vezes que eu. --Qual dos casamentos?--Pergunto selecionando uma calcinha e sutiã para vestir. --O com aquele rapaz que tinha aquela pinta no rosto.--Ela responde indicando onde era a pinta. Algumas pessoas colecionam moedas, outras colecionam pedras. Minha mãe colecionava álbuns de casamento. Ou casamentos, não sei ao certo. Já foram 4. Meu pai foi o primeiro, eles se casaram quando ela tinha 19 anos. Minha idade. Minha mãe já havia achado o amor da vida dela na minha idade. Vou para a próxima caixa e escolho um suéter da cor da espuma do mar, uma calça jeans de cós baixo e minhas sapatilhas de inverno. Eu as chamava assim pois elas são de couro, então se chover não vai molhar completamente, mas também não fica gelada com o tempo, afinal chuva é a única coisa que vemos no inverno dessa cidade. Visto tudo com Dani reclamando de minha mãe não ter convidado ela para o último casamento. Foi há 7 meses. Mais uma vez tentei explicar que era um casamento pequeno e ela veio com o argumento de sempre. "Se era pequeno, por que contratou um buffet para 100 pessoas". Após me vestir, Dani e eu vamos para o andar de baixo, onde encontro o enorme álbum do terceiro casamento da minha mãe com o r**o de cavalo dela detrás e todos meus amigos ao redor. Minha mãe percebe minha presença e baixa o álbum abrindo um pequeno sorriso. --Chelle, você saiu do quarto!--Ela diz feliz. Minha mãe é uma pessoa feliz. Ela está prestes a fazer seus 40 anos, mas parece bem mais jovem. Ela sempre foi muito bonita, talvez se eu fosse tão bonita quanto minha mãe, eu também me apaixonaria e me casaria milhares de vezes. --É o jeito. Vamos logo arrumar tudo, gente.--Falo batendo palmas para todos saírem do sofá. --Ta certo. Will e Lipe podem começar com os móveis, a Michelle vai terminar de encaixotar suas coisas e a Dani vai levar as coisas menores. Eu vou organizar tudo dentro do caminhão para caber. --Caliope diz. Ela sempre foi tão organizada. Deixavamos a parte da organização sempre com ela, e ela adorava. Após toda a arrumação, Caliope conseguiu colocar todas minhas coisas com as coisas dela e de Dani dentro do caminhão e partimos para a casa nova. Eu estou realizando o sonho de muitos jovens. Morar com seus melhores amigos num apartamento bonito e que dá pra pagar. Terminado o ensino médio há um ano, e desde então temos todos planejado esse momento. Éramos todos vizinhos quando crianças. Quanto eu tinha 14, Caliope e Lipe se mudaram para outro bairro, mas conseguimos manter a amizade. Will e Lipe realizaram esse sonho antes de nós. Eles moram juntos há alguns meses em uma espécie de República, só que em um condomínio barato. É um condomínio em um bairro r**m, porém próximo a faculdade, então estudantes começaram a morar lá e desde então é só o que se vê la. Uma casa em frente da casa de Will e Lipe ficou vaga há uma semana e não perdemos tempo. E então nós três fomos morar perto dos nossos amigos. Quando chegamos no condomínio, recebemos instruções sobre como eram as coisas ali e fomos liberados para fazer a mudança. Nossa nova casa tem apenas dois quartos, uma cozinha, uma sala grande, uma área de serviço, dois banheiros e um escritório. Transformamos o escritório em um pequeno terceiro quarto e antes de tudo, escolhemos. Quem pegasse o palito menor ficaria com o quarto pequeno e quem pegasse o maior, ficaria com o quarto com banheiro. Eu tive a sorte de ficar com o quarto grande sem banheiro. Dani puxou o palito menor e xingou durante o dia todo, Caliope estava feliz, mas triste por Dani. Acredito que até mesmo uma pessoa boa como Caliope não trocaria o melhor quarto apenas pelo temperamento de Dani. E no final do dia, estávamos eu, Dani, Caliope, Will e Lipe espremidos no nosso sofá comendo frango frito, fazendo tranças e apostas enquanto assistimos o clássico clube dos cinco com kakashi deitado no tapete. Enquanto Dani joga frango em Will e acidentalmente acerta Caliope fazendo todos rirem, eu vi ali mais uma face do amor. E eu estou muito feliz com esse pensamento até que uma música eletrônica começar a tocar tão alto que não consego ouvir o filme no volume máximo. --Mas que droga é essa?--Dani pergunta já sem paciência. --Estamos de férias! A primeira festa da República começa no primeiro dia de férias. Temos que dar a nossa se quisermos sermos respeitados por aqui.--Will explica. Bom, eu não sou muito chegada a festas. Eu prefiro ler um bom livro, ou cozinhar, ou assistir um filme, ou passar a noite jogando jogos no meu celular. Assim eram meus fins de semanas quando não saia para comer com meus amigos. Eu  só bebo, então colocar uma roupa desconfortável para ir a um lugar lotado de gente bêbada com música alta e empurrões não era minha ideia de noite perfeita. Eu gostava mais quando íamos a um bar ou um lanche mais badalado, sentavamos, comiamos e falávamos besteira, e até quem sabe, jogávamos um jogo de cartas. --Tem muita coisa que não contamos pra vocês sobre esse lugar.--Lipe solta e logo Will olha para ele com dois olhos arregalados. Ele fecha os olhos de repente como se esperasse um tapa na cabeça, mas nada acontece então ele olha com um olhar interrogativo para Dani. --Que tipo de coisas?--Dani pergunta curiosa. --Bom...durante as férias, Temos festas de quinta á domingo.--Lipe diz. --E a polícia vem aqui pelo menos uma vez por semana por causa das drogas.--Will acrescenta --E temos a grande oração também. Todos nos reunimos na pracinha antes das provas finais e fazemos uma grande roda de oração. --Lipe continua. Isso eu acho interessante. --Tem a fogueira. Apenas botamos fogo nas provas e trabalhos que fazem a gente querer se matar.-- É a vez de Will. --Isso é r**m. Afeta o meio ambiente.--Caliope, a nossa estudante de engenharia ambiental, diz. Will dá de ombros. Olhamos todos para Lipe, é sua vez de falar. -- Ah, temos também o PT solidário.--Felipe acrescenta. Will estala os dedos animado. --Sim! Como deixamos por último?--Will pergunta colocando as mãos na cabeça. --O que é o pt solidário?--Pergunto como se só eu estivesse curiosa sobre isso. --Toda vez que alguém da Pt em alguma festa, ou seja, bebe tanto que desmaia ou faz coisas embaraçosas, Tem que colocar 20 reais no pote do Pt e no final do ano usamos o dinheiro pra fazer cestas básicas para doar, comprar alguns presentes de Natal para as crianças pobres, pagar refeições para sem tetos...a lista é longa. Enfim, o pote fica lá na portaria, é um galão de água de 20 litros e ano passado enchemos ele.--Lipe explica. --Quanto arrecadam por ano?--Caliope pergunta para o irmão. --Muito dinheiro. --Lipe garante a ela. Aquele lugar parece tão interessante. Tudo bem que nunca fui chegada a festas, mas de alguma forma, isso parece instigante. Parece um novo lugar inexplorado que eu estou doida para explorar. Will nos explica que todas as casas fazem festas. Nosso quintal é enorme! Passa pela minha cabeça que talvez tenha até sido feito pra isso, mas descarto. A república não foi um condomínio pensado e construido para estudantes, a situação precária do país que faz o jovem demorar muito mais pra sair de casa com o preço exorbitante e a falta de trabalho pra universitário que fez um condomínio meio boca ser colonizado e virado quase que um culto estudantil. As casas são de vários tamanhos, preços diferentes. A nossa é mais cara que a de Will, pois é maior. Soube que esse lugar foi vendido por uma pechincha pois as pessoas odeiam morar do lado de universitários e a procura estava cada vez menor, então o atual dono seguiu a ideia e hoje é o lugar mais disputado da cidade. O preço barato e a fama vendem bem. Claro que o pessoal dos cursos elitistas colonizaram uma parte dessa lugar, mas pelo que soube, são as casas no final do condomínio e são enormes. Caliope pergunta como os estudantes tem dinheiro para bancar uma festa, afinal todos sabemos que estudantes de universidade pública estão bem longe da classe mais rica. Will diz que para quem tinha a identidade estudantil da rede pública, paga apenas 5,00 reais para entrar e quem não tinha, paga 30,00. E é assim que eles pagam a festa. Explorando a classe de estudantes privilegiados de faculdades particulares. Logo após ouvirmos tudo, Dani começa a gritar com Will por ele nunca ter contado das festas e fica bem brava quando liga os pontos e descobre que ele ia para festas sem dizer a ela. E eu subitamente me viro para eles e digo: --Devemos ir a essa festa!
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