Eliza
— Como assim, senhor Antônio? Isso é impossível!
Conversando com o advogado conhecido de Dante, fui entender o tamanho do meu problema.
Quando chegamos no centro de São Paulo, na famosa cidade grande, fiquei impressionada com tanto movimento de pessoas nas ruas e a quantidade de veículos passando.
Preferia a minha cidade do interior, o ar era bem mais puro, as pessoas mais sorridentes, alegres. Aqui elas aparentam estar sempre ligadas ao aparelho celular, usando fones, ouvindo música e caminhado mecanicamente como robôs apressados.
— Senhorita, não têm erro pela foto que tirou do testamento dos seus pais, está bem claro. Seu irmão Abelardo Monteios herdou 51% e Eliza Monteios 49%. E o nomearam o dono majoritario de mais de 300 mil hectares de terra, a fazenda de uvas, toda a colheita, o casarão e a importação e exportação de vinhos... resumindo ele quem manda e desmanda. O patrimônio pertence a um só senhor e tem mais, seu dinheiro no banco é controlado por ele, a qualquer momento pode cancelar os seus cartões de crédito.
— E se eu vender a minha parte?!
Perguntei cheia de esperanças. Olhei de relance para Dante, estava sentado do meu lado, sério e pensativo.
— Impossível. — Disse o senhor seriamente.
— Então não têm saída, viverei presa a esse infeliz!?
Um m*l estar me abateu ao imaginar a minha vida do seu lado.
— Entenda. Na crásula explica que ambos não podem vende-la, a fazenda precisa ser repassada de geração a geração... porém...
— Porém... Diga-me!
— A uma brecha... Ao se casar esse 1% a mais dele, passará para a senhorita automaticamente. E assim poderá mandar na sua parte livremente, terá o mesmo direito.
Respirei bem fundo diante da solução do meu problema, mas onde eu arrumaria um marido?
Sem querer meus olhos buscaram o de Dante, e os encontrei. Ele olhou-me com um olhar penetrante...tinha tanta coisa naquele olhar... Entendimento, sagacidade, apoio.
Segurou nas minhas mãos com ternura e os levou a sua boca, beijando-a.
Senti uma grande emoção, a minha conexão com esse homem, esse príncipe, só aumentava. Dante chegou na hora certa da minha vida, realmente era o meu salvador.
— Senhorita.
O advogado interrompeu o clima. Dante abaixou minha mão, mas não soltou, fazendo carinho no dorso com o polegar.
Miramos para ele com curiosidade.
— Passou uma coisa pela minha cabeça agora, se o seu irmão está atrás de você, já parou para pensar se ele não colocou um rastreador no seu celular?
Ele me fez lembrar na hora, peguei o meu celular no bolso da frente da calça jeans, desligado rapidamente. Há muito tempo atrás, Abe tinha instalado esse dispositivo no meu celular, mas só funcionava se estivesse ligado. Meu coração quase saiu no peito pela possibilidade dele me encontrar aqui.
— Muito obrigado doutor Antônio Gouveia, mandarei os seus honorários a noite. Tudo bem para o senhor?
Dante estendeu a mão, e o senhor um pouco exitante aceitou o comprimento.
— Está tudo bem, será como o senhor quiser. — Foi a sua resposta taciturna.
Saímos do seu escritório, ele me levou a um hotel requintado.
Ao fazer o check in, subimos para o quarto, ele não queria me deixar sozinha.
Entramos no quarto, mas dei graças a Deus em pensamento porque ele tinha pedido camas separadas. Soltei o ar preso nos pulmões, pensando nessa i********e de dividir uma cama. Era muito radical, mesmo pensando nele para marido.
Dante carregava a minha mala, depositou ela no colchão e depois veio na minha direção com os braços estendidos, por impulso meus pés se arrastaram para trás, fazendo um barulho no piso de madeira por causa do meu tênis.
Parou no meio do caminho, analisando o meu rosto.
— Está segura comigo, nunca te faria mau, tem a minha palavra, Eliza. Não existe lugar mais seguro do que ao meu lado... princesa.
Pouco a pouco foi se aproximando até tocar nos meus ombros. Seus olhos não haviam o mesmo desejo que vi dentro dos outros de Abelardo. Isso foi reconfortante.
Segurei nos seus braços.
— Dante, você quer se casar comigo?
Perguntei sem graça, morrendo de vergonha. Parecia que eu perguntava se ele queria trans.ar!
— Farei de tudo para você ficar bem.
Encontrei um companheiro a quem podia contar.
O abraçei fortemente. Ele com os braços ainda abertos, devagar foi me enlaçando entre os seus braços fortes e acoledores. Me senti amada de um jeito que jamais realmente eu fui, poderia ser uma ilusão minha, mas poderia jurar que ele também me amava de alguma forma.
— Eliza, nosso casamento será de conveniência, disso você não precisa se preocupar... Não á vejo com outros olhos, mas lhe ofereço minha amizade, fidelidade e lealdade.
— Dante, não sei nem o que dizer... você é um lorde.
— Bom. Onde quer se casar?
— Na minha cidade, não irei me esconder do meu irmão. Você enfrentaria ele por mim?!
Me afastei dele.
— Com certeza.
Sorri satisfeita, indo onde minha mala estava, retirei o violino e umas peças de roupas, queria tomar um banho relaxante.
— Belo instrumento musical. — Apontou ele. — Posso?
Tinha ciúmes dos meus violinos, principalmente desse em especial, mas assenti.
Ele pegou com cuidado como se fosse uma obra de arte caríssima, admirando cada detalhe dela.
— Desde quando você toca?
Estreitou os olhos me observando com enorme interesse. E me entregando o violino.
— Quando completei dez anos minha mãe Valentina me deu de presente.
Pensei nela com tristeza.
— Perdão! Não queria te magoar.
Lamentou ele.
— Não precisa pedir perdão, pensar na minha mãe também me alegra, tivermos momentos incríveis, na verdade, os dois foram incríveis como pais. Sabe, aprendi a tocar perfeitamente depois de um ano, a dança me ajudou a me concentrar mais nas notas.
Adorava sentir o que o violino e a dança faziam dentro do meu ser... Me sentia leve como uma pluma.
— Vendo esse largo sorriso no seu lindo rostinho, te peço, não, lhe rogo. Toque e dance para mim. Por favor, Eliza.
Ele era tão irresistível que não podia negar, ainda mais a um pedido desse.
Dante se sentou na beirada da cama de braços cruzados, esperando ansioso. Andei uns passos para trás, ganhando espaço. Coloquei o violino no ombro esquerdo e com a mão direita encostei a vareta, toquei uma música que no começo era suave, lenta, se arrastando e de repente o ritmo ganhava vida, calor e desenvoltura.
Desde o início meu corpo acompanhava a melodia. As pernas afastadas e as vezes dobradas, mexendo os pés de um lado para o outro. As pernas mexiam em uma dança envolvente e charmosa. Jogando os meus cabelos para os lados, o corpo ia pra trás e voltava, rebolando os quadris de leve. O corpo em total movimento, sintonizados pelo violino. Um sorriso no rosto, tocando e dançando para o meu futuro marido. Seus olhos não se desgrudavam de mim, olhando-me sempre nos olhos.
Rodopie, sentindo uma alegria no coração. Um conjunto de coisas e sensações. A música era Despacito. O poder da melodia me dominava, não parava de me requebrar toda. Essa sou eu por inteira. Esse momento era somente meu e ninguém poderia tirá-lo de mim.