Capítulo 3

1006 Words
Arthur encontrou o pai examinando algum livro na biblioteca. O futuro duque estranhou, Anthony nunca foi de ler. Não, o duque preferia as terras à leitura. Ele pigarreou para chamar atenção e o velho pai levantou os olhos do livro. Um sorriso surgiu ao ver o filho mais velho na porta. - Arthur! Eu não acredito no que meus olhos estão mostrando. Será possível? Após todos esses anos. - Você está sendo dramático e tentando me fazer sentir culpa. - Deu certo? Você está culpado? - Um pouco, talvez. - Isso é muito bem feito. Onde já se viu passar oito anos sem visitar o velho pai. Um ultraje. Arthur revirou os olhos e caminhou até Anthony para lhe dar um abraço. Sem formalidade, o duque puxou o filho para perto e o pressionou contra si. - Senti saudades, menino. - Também senti, pai. Era a verdade. Arthur amava a sua família. Ausência de saudade não foi o que o manteve longe. Ele pensara em voltar muitas vezes, mas, então, lembrava-se que um dia voltaria por obrigação e não poderia mais partir. Por isso havia decidido ficar fora o máximo de tempo que pudesse antes de ser arrastado de volta para casa. - Como foi a viagem? - Tudo ocorreu bem, mas estou faminto. - Sim, sim. É claro que está, você sempre comeu como um cavalo. Vou até Madalena e pedirei que ela ponha a mesa. - Você não precisa. Beatriz já está cuidando disso. Os olhos de Anthony se arregalaram e brilharam com algo que Arthur não reconheceu. - Você já a encontrou? - Sim. O que me leva a perguntar por que diabos ela estava andando pela casa como se fosse uma moradora. - Bom, ela será a senhora da casa muito em breve. Não vejo por que não. É bom para se acostumar. - Isso não é apropriado, pai. - Ora! Não seja antiquado. - O que as pessoas vão dizer? Eu não vi a sua dama de companhia em lugar algum. - Ela não tem uma. Anthony parecia completamente despreocupado e até um pouco divertido com o espanto do filho. Arthur não podia entender. - Isso está certo? - Arthur, você estava viajando. Não há escândalo nenhum. Beatriz sempre esteve livre para nos visitar. - Eu não estou mais viajando. - Certamente. Bom, cuidarmos para que ninguém perceba suas visitas clandestinas. - O certo seria cancelar essas visitas até o casamento. O duque lançou um olhar cortante para o filho. - Não fale tolices! Duk sentiria saudades dela. - Duk? Quer dizer aquele cão? Ele é nosso? - Não. Ele é de sua noiva, mas mora aqui. - Eu não entendo. - A senhora Tereza é alérgica ao animal. Achei que era certo deixar que ele vivesse aqui já que em breve seria a sua casa de qualquer forma. Para se acostumar. Ah! Então, agora além de um título e uma noiva, Arthur ganhara também um cão. Que maravilha! - Quem deu esse animal para ela, afinal? Você ja reparou no tamanho daquela coisa? - Duk a encontrou. Sim. É uma coisinha grande. - Ele a encontrou? Uma coisinha grande? Ele é do tamanho dela! Isso não pode ser seguro. O sorriso de Anthony ocupou todo o seu rosto e alcançou os olhos. Arthur franziu a testa, sem entender. - Está preocupado com ela! - Não estou preocupado com ela. É uma dama. Eu me preocuparia de qualquer forma, e Beatriz é pequena demais. - Esplêndido! É um excelente começo. - Começo de que? - O que? - Do que diabos você está falando? - Hum, acho que está na hora de irmos comer. Vamos, vamos! Anthony levantou e para um velho de bengala, correu bem rápido para fora. Aquilo foi estranho. Na verdade, tudo o que acontecera desde que Arthur chegou foi estranho. Ele achou que era melhor seguir o pai. - Onde está Jake? - Ele precisou fazer uma curta viagem. Vocês, meus filhos, estão sempre me deixando. - Está sendo dramático de novo. - É a verdade. Se não fosse a minha querida Beatriz, eu... Ó, olhe ela ai! Beatriz estava na ponta da escada, como se estivesse esperando que eles decessem esse tempo todo. - A mesa está servida, pai. Pai? O duque estreitou os olhos. Anthony olhou para o filho. - Ela será como minha filha quando casar com você, decidimos que ela deveria me chamar de pai, para poder... - Sim. Se acostumar. Eu já entendi. Só que Arthur não tinha realmente entendido. Pelo que ele podia perceber, Beatriz parecia pertencer àquela casa mais do que ele próprio. - Isso o chateia? - A dama perguntou enquanto acompanhava com os olhos o noivo descer as escadas. - Eu posso evitar. - Não, senhorita. Não me importo. - Beatriz. Gostaria que me chamasse por meu nome. - Claro. - Sim, sim. Isso é importante - Anthony divagou. - O nome traz i********e. Os dois jovens franziram a testa. - Escute, após o almoço, Beatriz deveria levar Anthony para conhecer as terras. - Eu conheço as terras, pai. - Após oito anos? Eu duvido muito. - Seria um prazer. Arthur ainda queria rebater o absurdo daquilo. Seu pai estava sugerindo que os dois deveriam se embrenhar pelos matos da propriedade juntos. Os criados veriam e o que diriam sobre Beatriz? Parecia um escândalo à vista, honestamente. Mas ele olhou para o sorriso animado dela e se calou. - Acho que um passeio vai ser muito agradável. O sorriso dela aumentou e Arthur sentiu uma pontada no peito. Se fosse honesto consigo mesmo, ele poderia admitir que há muitos anos atrás aquele sorriso havia sido um ponto fraco para ele. Ora, não foi a razão de ter se esforçado tanto para fazê-la sorrir quando eram mais jovens? Aquilo era tolice agora, é claro. Mas ainda assim, o futuro duque se calou e seguiu o pai e Beatriz para a mesa de jantar, sem fazer mais nenhum comentário sobre como tudo naquela situação era impróprio aos olhos da sociedade.
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