Capítulo 2

1905 Words
Arthur olhou para a enorme propriedade onde passou bons anos em sua infância. Ele amava a sua casa. Fora feliz ali. Era uma criança arteira e saudável. Correra por cada local que podia encontrar, subiu em árvores e banhou-se no rio. Arthur ouvira que algumas famílias nobres não permitiam que suas crianças fizessem tais coisas, mas os Lewis nunca foram bons em seguir regras. Eles eram bons, no entanto, em fingir. Oh, era como brincar de teatro. Seus pais vestiam Arthur e seu irmão mais novo, Jake, com roupas pomposas e diziam como os dois deveriam agir. A família frequentava compromissos importantes e era um exemplo de bom comportamento. Quando estavam indo embora, já seguros em sua carruagem, eles riam daquela sociedade regrada. Arthur fora criado como uma criança amada e feliz e tão livre quanto podia ser. Aquela liberdade, porém, nada mais era do que uma ilusão. Ainda que seus pais se desagradassem das regras sociais, eles a respeitavam. Arthur não percebera isso quando criança. Ele achava que as roupas e a educação polida eram apenas parte de uma brincadeira, mas, na verdade, eram o indício de que eles também deveriam seguir as normas. Foi quando Arthur começou a receber orientações para assumir o ducado e as terras de sua família que percebeu que seu destino estava selado desde o momento em que nasceu. Ele se ressentiu disso. Então, tinha Beatriz. Durante muito tempo ele não deu importância ao noivado prematuro. Seus pais lhe diziam que ele casaria com a dama, mas como a criança que era, casamento não parecia uma grande coisa. Arthur entendia que ela iria viver em sua casa e estava bem com isso. Beatriz era agradável e ele divertia-se em tentar arrancar sorrisos dela. Mas quando entendeu o que o casamento significava, que aquilo era mais uma forma de estar preso a vida que ele não sabia se queria viver, Arthur ressentiu-se dela também. Não era justo, mas era a verdade. E o ressentimento pela noiva cresceu ao longo dos anos. Quando conheceu Eva e soube que seu relacionamento estava condenado desde o princípio, ele culpou a jovem dama de sorriso bonito que deixara para trás, mas para quem deveria voltar. A distância e o tempo ajudaram a apagar a imagem de Beatriz. Ele sabia, lá no fundo, que a presença dela costuma lhe agradar. Mas não sentia mais que poderia ser assim. Não quando seu coração ansiava pela presença de Eva. Arthur sacudiu a cabeça para afastar os pensamentos indevidos. Ele sabia que deveria engolir todo aquele ressentimento. Ele seria um bom marido para Beatriz. Afinal, racionalmente Arthur entendia que ela teve tanto direito de escolha como ele próprio. Ele caminhou até a larga entrada e bateu à porta, mas não esperou que alguém lhe atendesse antes de entrar. A sala estava silenciosa. Arthur foi atingido por uma repentina dor que o fez cambalear com a mão no peito. Deus, ele podia quase ver a ausência de sua mãe. Ela deveria estar ali. Arthur deveria poder correr para seus braços amorosos. Ela deveria poder ouvir ansiosa todas as histórias que ele tinha para contar. Mas ela não ouviria. Ela nunca mais estaria lá ou em qualquer lugar. Tomado por uma intensa melancolia, ele ocupou-se em gritar os nomes de seu pai e irmão. - Ora, onde esses bastardos estão? Onde estão todos, afinal? James! - Ele gritou pelo mordomo da família. - será possível! Arthur deu um passo, decidindo que iria procurar por eles lá fora, quando uma coisa passou correndo entre suas pernas. - Que diabos é isso? Ele encarou o rastro de lama no chão e encontrou um grande cão de pelos dourados o encarando com desconfiança. O bicho estava escondido entre as cortinas e parecia que poderia atacar Arthur caso fizesse o movimento errado. - De onde diabos você veio? - Duk! Não! Uma voz afobada e feminina se aproximava. - Onde você está, seu cão dos infernos? Eu juro, Duk, você não pode se esconder para sempre. A dona da voz finalmente os alcançou. Ela parecia exasperada, como se tivesse corrido por toda a propriedade. Seu cabelo estava com vários fios soltos do penteado. O vestido azul claro estava salpicado com lama e... aquilo era um graveto? Sim. Havia um graveto saindo de seu decote. É claro, constatar isso atraiu os olhos de Arthur diretamente para lá. A moça tinha s***s generosos. Ela ainda não o vira, com olhos fixados no chão. - Duk, ande logo! Você sabe que eu preciso lhe dar banho e... Ela parou. Seus olhos certamente encontraram os sapatos de Arthur. Lentamente, ele viu a dama levantar a cabeça e prender seu olhar arregalado nele. Uau. Ela era... estonteante. Ele nunca vira olhos mais verdes antes. A boca dela se abriu em formato de um O mudo e sem aviso, a doida atirou-se nos braços de Arthur. Mas o que...? - Você chegou! Eu estava te esperando. Ela estava o esperando? Mas quem era ela? - Eu estava tentando dar banho no Duk para que vocês pudessem se conhecer. Mas acho que ele não é muito fã de água. O que é uma pena porque ele gosta de lama e fica tão fedido. Ah! Minha nossa, estou sujando a sua roupa, não é? Acho que foi ele quem me deu um banho. Me desculpe, Arthur. Ela se afastou e ele ainda tentava assimilar todas as palavras ditas pela dama. Ele nunca escutou tantas de uma vez. Minha nossa! Ela ainda estava falando? Ele estreitou os olhos e tentou concentrar-se nela. - ... achei que só chegaria ao anoitecer. Ela parou de falar. Finalmente. Mas, agora, parecia esperar que Arthur dissesse alguma coisa. Ele pigarreou. - Hum, é... hã... senhorita - Ela franziu a testa - a viagem foi mais breve do que eu esperava. - Isso é maravilhoso! Dei uma passada na cozinha mais cedo e parece que Madalena está preparando um verdadeiro banquete. Você está com fome? Eu posso apressá-la. Ela poderia ser uma criada da cozinha, então? Certamente não. Nenhuma criada se atreveria a tal i********e como o abraço que ela lhe dera mais cedo. - Estou com fome, de fato. Ela alegrou-se. - Ah! Esplêndido. Nós podemos ter uma refeição agradável. Meus pais só virão amanhã. Imagino que você deva querer descansar antes de discutirmos o casamento. Oh! Oh, minha nossa! Aquela era Beatriz? Não era mesmo possível, era? Quando a sua noiva ganhou tantas curvas? E, especialmente, quando tornou-se tão tagarela? Ele estreitou os olhos e olhou para a jovem com mais atenção. Sim, ela mudou bastante, mas havia algumas semelhanças. Arthur focou em seu sorriso e de repente era óbvio, o mesmo belo sorriso. É claro que aquela era Beatriz. Que estupidez! Quem mais se atreveria a toda aquela i********e? Bom, na verdade, certamente aquela i********e não era permitida entre eles também e nunca ocorrera antes. Por que diabos ela correu para seus braços como uma amante apaixonada? - Me perdoe, senhorita, mas confesso que estou um tanto confuso com sua... hum, recepção acalorada. Beatriz corou. - Ah! Me perdoe. Isso foi indelicado, não foi? É que eu pensei que... ora, foi besteira. - Ela ergueu o corpo, assumindo uma postura séria e formal. Depois inclinou-se em uma mensura cortez. - Que bom que voltou, senhor Lewis. Fez boa viajem? Arthur franziu a testa. Talvez ele preferisse a saudação anterior. - Não é necessário se curvar, senhorita. E pode me chamar de Arthur. Ela sorriu. Os sorrisos dela vinham com mais facilidade, percebera Arthur. E eram tão bonitos quanto conseguia se lembrar. - Pode me chamar de Beatriz. - Certo, Beatriz. Você saberia dizer onde... O futuro duque foi interrompido por um latido alto que o fez dar um pequeno salto para trás. Felizmente, Beatriz não percebeu o susto. Ela estava ocupada encarando o cão com uma carranca nada assustadora. - Ora, você está aí! Sua peste, não vai conseguir fugir, Duk. Vou lhe dar banho agora mesmo. Aparentemente esquecendo a presença de Arthur, a jovem caminhou decidida até Duk e começou a tentar arrastá-lo para longe das cortinas. Arthur franziu a testa. Ora, ela era pequena demais para aquela tarefa. O cão poderia comê-la viva, pelo amor de Deus! Quem deixou que uma dama tão pequena ficasse responsável por aquele pônei? - Senhorita Beatriz, talvez devesse deixar que algum criado cuide do animal. Ela olhou para ele por cima do ombro. - Não é necessário. Duk é meu, minha responsabilidade. O animal decidiu que era um bom momento para se aproveitar da distração da dona. Como Beatriz estava olhando para Arthur, não percebeu as intenções de Duk que passou correndo por entre suas pernas. O animal gostava de fazer isso aparentemente. Mas certamente o futuro duque estava certo. Beatriz era pequena demais para aquela brincadeira. A jovem dama voou por três segundos antes de se estabacar no chão duro. Arthur olhou a cena horrorizado. - Senhorita! - Chamou alarmado - eu lamento. Os ombros de Beatriz tremeram e Arthur apressou em se abaixar ao lado da noiva para verificar se estava machucada. Ela estava chorando? Ele pousou a mão sobre seu ombro e Beatriz ergueu o rosto para ele, que, em choque, percebeu que ela não chorava, mas ria. Ria calorosamente. Por um momento, ele ficou aturdido. Sua respiração pareceu difícil. Ele nunca a vira gargalhar antes. E se ele costumava gostar dos sorrisos da moça, poderia apaixonar-se por sua risada. Apaixonar? Arthur balançou a cabeça. Isso era besteira. - Você está bem? - Ah, eu estou. A minha dignidade nem tanto, eu diria. Minha nossa! Eu estou fazendo tudo errado, não é? Bom... era verdade. Se nós consideramos os protocolos tudo aquilo era inadequado. Ela não deveria estar na presença dele por tanto tempo sem uma dama de companhia, certamente não deveria abraçá-lo como se fossem casados há anos. E o que dizer sobre o cão? Mas, felizmente, Arthur nunca gostou do que era aceitável socialmente. - Está sendo uma recepção bastante...divertida, eu diria. - Certo. Você pode rir da minha cara. - Eu jamais seria tão rude a ponto de rir da minha noiva. - Que sorte a minha você ser um cavalheiro então. - Certamente. A risada dos dois misturou-se e preencheu a sala. - Vamos,senhorita, levante-se do chão. Arthur a ajudou a ficar de pé. Depois, ele procurou o cachorro com os olhos, mas não o encontrou. Era provável que tivesse fugido da casa. - d***a! Vou ter que caçar aquele pestinha pela propriedade de novo. - Beatriz suspirou. - É melhor eu começar. - Espere. - Arthur pegou seu braço, mas soltou e deu um passo para trás rapidamente. Ele não deveria tocá-la com tanta i********e. - Acredito que algum criado possa fazer isso. - Não é necessário. É minha responsabilidade, já disse. - Sim. Eu me lembro. Foi um pouco antes dele derrubá-la no chão. Mas, de qualquer forma, acredito que a sua principal responsabilidade agora seja receber o seu noivo. Estou faminto, pode ir até a cozinha e agilizar as coisas? - ah, minha nossa! Que distraída eu sou. É claro. Irei cuidar do jantar. Nos encontramos logo. Ela partiu sem outra palavra. Arthur suspirou aliviado por ter conseguido garantir a integridade física da futura esposa. Agora, ele precisava encontrar um criado para banhar o cão antes que ela decidisse que pode controlar um animal do seu tamanho de novo. Mas antes ele precisava encontrar a sua família.
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