Capítulo 5

2174 Words
O coração de Beatriz estava enlouquecido. Ela precisava contar para Arthur, mas morria de medo. E se ele a rejeitasse? Aquele era um motivo legítimo para cancelar o casamento e ela não suportaria isso. Eles andaram em silêncio por um tempo. Poderia ser um silêncio confortável se ela não estivesse tão nervosa. Beatriz não tentou explicar sobre a propriedade para o noivo, ele crescera ali. Embora o duque tenha sugerido, nada estava diferente. Os criados pareciam surpresos ao ver o primogênito dos Lewis de volta e se atrapalhavam entre cumprimentos e conversas tímidas. O senhor Smith, responsável pelos estábulos, veio sorrindo até eles. Beatriz teve pena do homem quando deu uma espiada no olhar afiado de Arthur. - O menino Lewis está mesmo de volta! Achei que fosse fofoca desse bando de desocupado. Como vai, meu senhor? - Bem. E Como vai você, Henry? - Cada dia mais velho. E sou um avô agora. - Ele arrancou um sorriso de Beatriz. O senhor smith sempre dava um jeito de mencionar o neto em qualquer conversa. Era um avô muito babão. - É um menino muito saudável e forte. Será um grande cavalheiro. - Jake mencionou isso em alguma carta, sim. Parabéns, Henry. - Ah, o menino Jake é sempre muito gentil com meu garoto quando o vê. E a senhorita Beatriz também. Como está você, meu doce? - Estou bem, senhor Smith. Obrigada por perguntar. Como vai o pequeno Filipe? Como Beatriz esperava, bastou aquela pergunta para que ele danasse em falar do rapaizinho. Talvez ela estivesse enrolando, mas, pelo menos Smith ficaria feliz. Arthur acompanhou a conversa dos dois silenciosamente. Não lhe passou despercebido que seu criado havia chamado a noiva de "meu doce", certamente era inapropriado, já que em breve ela se tornaria sua senhora. Ele deixaria a indelicadeza passar embora, Smith fora uma presença constante desde a sua infância e Arthur o tinha em alta consideração. Mas o futuro duque não seria tão caridoso com os demais, a i********e entre Beatriz e todos os criados era evidente. Não só Henry, mas cada um deles, sorriram calorosamente para a noiva desde que o passeio deles havia começado. Muita atenção masculina sobre ela, de fato. Arthur não pôde deixar de reparar e pensar que a noiva passou oito anos criando amizade com os cavalheiros que trabalhavam na propriedade. Novamente, ele se perguntou quando ela deixou de ser tão tímida. Ele se lembra de pensar antes que os sorrisos de Beatriz eram tão raros quanto pedras preciosas e se sentir muito especial quando conseguia algum. Agora, ela parecia sorrir sempre. Para todos. - Desculpe interromper a conversa. Mas há algo que eu gostaria que fosse esclarescido, Henry. - Claro, meu senhor. O que é? - Trovão. Foi tudo o que disse. O senhor Smith, nada bobo, entendeu do que se tratava e empalidesceu. - Hã... bem... nenhum de nós o chama de Chocolate, realmente. Apenas a senhorita e acho que não faz mal... - E quanto a todos os outros animais que receberam nome de comida? - Hum... bem, isso. Veja bem... - Ora, Arthur - Beatriz entrometeu-se. - Pensei que já estivesse de acordo com isso. - Eu nunca disse isso. - Sim, você disse. - Não. Eu fiquei quieto. - O que é o mesmo que concordar. - Desde quando? - Desde que eu disse. Ela ergueu o queixo petulante e percebeu o olhar do noivo ir direto para a sua boca. O coração dela deu um salto. O futuro duque engoliu e abandonou a discussão. Virando levemente de costas para a noiva, ele voltou a olhar para o criado que assistia a cena com clara diversão. - Falaremos disso depois, Henry. Passarei mais tarde para visitar meu cavalo. - Eu me lembro de quando eu discutia desta forma com a minha Celestina.. - Henry riu e recebeu um olhar frio de Arthur. - Esperarei por você, meu senhor. Mostrando-se o homem esperto que sempre foi, Henry tratou logo de sair de perto. - Eu não acredito que você ia brigar com ele por isso. Arthur suspirou e ordenou mentalmente que sua ereção regredisse. Foi inútil, é claro. Beatriz ainda estava ali, pequena e tentadora, pronta para começar uma briga. Ele torceu para que a inocência da dama a impedisse de entender o que o corpo de Arthur queria e se virou de volta para ela. - Eu não ia brigar com ele. - Ia o que então? - Bom... eu iria questioná-lo severamente. - Isso é brigar. - Não é. - É sim. - Não é. Ela bufou. - Você está sendo irritante. - Você está sendo teimosa. - Ora, eu? Você é que continua com essa coisa dos animais. - Você chamou Trovão de Chocolate! Ela sorriu. Ora, homens tinham uma masculinidade perigosamente frágil. É claro que Arthur detestaria a ideia de cavalgar em um cavalo chamado Chocolate. - Bom, posso concordar com o nome Trovão. - Você pode concordar? O nome dele é Trovão. E o cavalo é meu. Ou a senhorita esqueceu? - Estamos de volta ao senhorita, então? - Parece que sim. Beatriz revirou os olhos. Se Arthur achava que ela iria recuar estava muito enganado. Ela, melhor do que ninguém, sabia lidar com pessoas sendo desagradáveis. - Eu estou tentando um acordo. Você poderia ajudar? Sejamos maturos aqui. Ele cruzou os braços e não disse nada. Beatriz considerou aquilo como uma oferta de que a ouviria. - Podemos manter o nome do Trovão. Mas os outros animais, os que nasceram, não terão os nomes trocados. - Ele abriu a boca para rebater, mas Beatriz ergueu a mão. - E prometo que escolherei nomes mais...aceitáveis daqui para frente. Por um momento, ele parecia impassível. Beatriz achou que não iria concordar, mas o noivo assentiu. Ele não queria mesmo concordar. Nomes mais aceitáveis? Ele não acreditava nisso. Mas também não queria começar outra discussão. Na verdade, ele estava ansioso para terminar o passeio e trancar-se em seu quarto para buscar alívio daquele latejar irritante em seu m****o. - Acho que já andamos por toda a propriedade agora. Podemos voltar? Estou querendo descansar. - É claro... É só... podemos ir até o bosque? Arthur a olhou como se uma nova cabeça houvesse brotado na jovem. - Beatriz, você sabe que não podemos ir sozinhos até o bosque. - Por que não? Ninguém verá. - Você não sabe. - Ora, você costumava achar as regras sociais uma tolice. Você me disse uma vez. - Ainda acho. O que não significa que não seria um escândalo. Nao sobre mim, sobre você. - E o que aconteceria? Você seria obrigado a casar comigo? Nós já vamos casar, Arthur. Bom, eu vou. Espero que me acompanhe. Ela caminhou para longe. Arthur levou um segundo para decidir segui-la. Mas ele não poderia deixá-la sozinha. - Você tem certeza sobre isso? - Pare de se preocupar tanto. Arthur não tinha outra alternativa. Eles seguiram lado a lado até o riacho. Ali era o destino da noiva o tempo todo, ele percebera. Ela sentou-se na grama verde. O olhar preso na água corrente. Com um suspiro, ele se sentou ao lado dela. - O que você quer conversar? - Estou com medo de dizer. Isso despertou o interesse dele. Arthur estudou a noiva. As mãos dela tremiam e por instinto, ele cobriu as dela com as suas. O olhar de Beatriz econtrou o seu. - Não precisa ter medo. Vamos casar em breve, afinal. Devemos ter o mínimo de confiança um no outro. O que houve?. - Certo. Bom... É que... eu vou falar de uma vez. Por favor, não julgue. - Fale, Beatriz. Sua voz era firme e suave. Foi aquela voz, o toque gentil e o olhar atento que fizeram Beatriz despejar a verdade. - Eu já... eu não... sou virgem. Não sou. Arthur não esperava por aquilo. Realmente, não. Ele não teve uma reação imediata. Na verdade, não sabia como reagir. Certamente, nunca foi o tipo de homem que acreditou na ideia de que mulheres não poderiam divertir-se antes do casamento. Ora, ele mesmo deitou-se com muitas damas, respeitáveis ou não. Aquilo não deveria incomodá-lo. Mas... Arthur percebeu que tinha um peculiar sentimento de posse sobre a noiva. Ela era sua noiva. Eles estavam comprometidos, ora essa. Novamente, ele estava se perguntando quando Beatriz deixou de ser tão tímida. Não conseguia imaginar a jovem que se escondia nos cantos dos salões se envolvendo com alguém. - Você se deitou com outro homem? Beatriz desviou o olhar e puxou as mãos antes de concordar com a cabeça. Arthur sempre imaginou que seria o primeiro dela. Era o natural, não era? Damas respeitáveis sequer sabiam o que acontecia entre quatro paredes até que a noite de núpcias chegasse. - Foi... apenas uma vez. Uma vez era o bastante para irritar Arthur, pelo jeito. Deus, ele estava tão irritado. - Onde o sujeito está agora? - Não o verei nunca mais. Eu já não o vejo... eu juro, Arthur. Você vai cancelar o casamento? Cancelar o casamento... ele quisera isso, não é? Aquela era a oportunidade perfeita. Ninguém o culparia e ele estaria livre para casar com quem quisesse. Exceto que Eva nunca seria uma opção, uma relação entre eles seria um escândalo. E também... Beatriz seria desmoralizada. Ninguém iria querer casar-se com ela. É claro, Arthur não poderia fazer isso. - Não vou. Mas... eu nunca mais quero vê-la perto do tal homem. Seja quem for. - Eu juro. - Ótimo. - Tudo bem, então? - Sim. - Não estava, realmente. Arthur estava fervilhando de raiva com o pensamento. Sua noiva. Sua noiva desde o nascimento já esteve com um homem. Ele não seria o primeiro. - Eu também não sou virgem. Então creio que é justo. Beatriz olhou para ele com olhos arregalados. - Você se deitou com outra mulher? - É claro. -ora... seu... seu... como ousa? Arthur ergueu uma sobrancelha. Ela o estava julgando? - Você se deitou com outro homem também. - Sim. Mas... mas... isso é errado! - Certamente, senhorita. É muito errado que outro homem tenha tocado o que é meu. - Está dizendo que eu sou sua? Ela perguntou, petulante e muito bonita. Arthur estava sentindo irritação e t***o em ondas igualmente perturbadoras. - Você é. Está prometida a mim desde o nosso nascimento. - E você estava prometido a mim. - Ela chegou perto e cutucou o peito de Artur. - Mas ficou fora por oito anos e se engraçou para outra mulher. Ou foram outras? - O olhar dele respondeu. - No plural? Com quantas mulheres você ousou dormir? A cada palavra, ela cutucava Arthur com mais força. - Com quantas mulheres eu dormi? Que ingenuidade, querida. Parece que o homem com quem você deitou não lhe ensinou nada. Eu não dormi. Eu f0di. Beatriz arregalou os olhos. A expressão feroz em seu rosto mesclava-se com outra vulnerável. A ferocidade fazia Arthur querer continuar a discussão, mas foi a vulnerabilidade que o fez recuar. - Isso foi rude da minha parte, peço perdão. - você deveria pedir mesmo. - Acredito que o melhor seja deixar tais assuntos de lado. - Você se envolveu de forma sentimental com alguma delas? Arthur travou o maxilar e encarou o chão. Ele tentava descobrir qual resposta lhe causaria menos problemas, mas a demora em encontrar as palavras foi a maior prova que Beatriz poderia precisar. - Seu p****e! - o que disse? Senhorita, eu serei o seu futuro marido, creio que não deve falar assim comi... - p****e e arrogante! E um tremendo cafajeste. O primogênito dos Lewis estava absolutamente sem palavras. Nenhuma dama jamais o insultou de tal maneira. - Eu acho que a senhorita precisa se acalmar - Acho que o senhor precisa me deixar sozinha. - Não vou deixá-la sozinha no meio do nada. Por mais desagradável que esteja sendo. - Desagradável, eu? Hunf! Bem, eu deixarei o senhor sozinho então. Arthur esperou que ela desse meia volta e caminhasse para a propriedade, mas o surpreendendo, ela agarrou a barra do vestido na mão e começou a atravessar o riacho, equilibrando-se nas pedras. - O que pensa que está fazendo? - Perguntou alarmado - volte para cá. - estou indo para minha casa. - Pelo riacho? Saia ja daí. - estou cortando caminho. E o senhor não manda em mim. - Eu sou o seu noivo! - mas ainda não é meu marido. Agora calado, você está me desconcentrando. Ela o havia mandado calar a boca? Arthur estava verdadeiramente abismado. Ele respirou aliviado ao vê-la chegar a salvo do outro lado. Beatriz iniciou a sua caminhada em terra firme e Arthur estava prestes a segui-la porque não poderia deixar uma dama sozinha a essa hora. - E não se atreva a vir atrás de mim. Ela ordenou por cima do ombro. Arthur parou o que estava prestes a fazer a balançou a cabeça. Ele observou Beatriz até que a perdeu de vista. E só quando se preparava para retornar para sua própria casa, percebeu que estava sorrindo.
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