Capítulo 10

1543 Words
“Mas então”, pensou Alice, “eu não vou nunca ficar mais velha do que sou agora? Isso é um conforto, de qualquer maneira... nunca ficar velha...e então...ter sempre que estudar. Oh” eu não gostaria disso!” – Alice no país das maravilhas Capítulo 4, O coelho manda Bill O Lagarto ●●● O corpo parecia doer com cada movimento que fazia. Por mais que rolasse na cama e encontrasse a posição perfeita para descansar mais alguns minutos, logo algum lugar começava a latejar. Irritado consigo mesmo, sentou-se na cama com certa dificuldade, pegando um dos frascos que havia em sua cômoda e tomando um dos comprimidos junto com um copo de água. Encostando-se na cabeceira da cama, esperou que o efeito começasse e que pudesse, pelo menos, dormir mais alguns minutos. Enquanto esperava, ficou a olhar para o seu quarto. Não haveria muitos moveis, apenas um armário em frente a cama e a porta que dava para o banheiro, além da cômoda ao lado da cama. Checando a hora em seu rádio relógio, que marcava a hora próxima das oito da manhã, o senhor Bailey ponderou se voltaria a dormir ou iria preparar o café da manhã. Olhando para a cômoda encontrara os frascos de remédios. O relógio que marcava o horário correto de tomar o medicamento, não demorou para que se xingasse por ter esquecido de fazê-lo. Virando o frasco sobre a palma da mão, tomou mais um comprimido. Logo os filhos se levantariam, assim como as crianças. Iriam sentir fome e não teria nada para que pudessem comer. Isso poderia ser considerado um descaso. Havia se esquecido completamente que Oliver tinha feito compras. Soltando um suspiro prolongado, senhor Bailey resolvera levantar da cama. Precisava ir no mercado levar sua lista de compras, que fizera quando Lucius e Oliver chegaram. Tomando todo o cuidado para que o peso de seu corpo não se concentrasse em um único ponto de sua coluna, fora até o andador e seguiu para o banheiro. Com dificuldades, que pareciam maiores naquele dia, se despiu e entrou debaixo da ducha. Ao sentir a água morna bater em sua pele, soltou um gemido baixo de dor nas costas. Estava se arrepiando com a temperatura da água. Olhando para a vareta que ligava ao chuveiro, o idoso conseguira segurá―la para mudar a temperatura para mais quente. Deixando a janela aberta, para evitar que sua pressão caísse com a água quente e o banheiro cheio de seu vapor, senhor Bailey se segurava na barra de inox enquanto tentava ensaboar suas pernas. O corpo estava enrijecido, os músculos pareciam doer com o menor movimento que fazia. Mesmo tomando o cuidado, o sabão que ainda ficara em seu pé o fez deslizar dentro do box e bater as costas na barra de inox. O grito que soltou com a queda, além do barulho de seu corpo batendo contra o box, foi o suficiente para acordar os três filhos. Talvez estivessem prestes a despertar, por isso o sono estaria mais leve, mas ao ouvir aquele barulho se levantaram de imediato para saírem de seus respectivos quartos. Entreolhando-se, os irmãos ficaram confusos com o que teriam ouvido. ― Também escutaram alguém gritar? ― Héctor coçava a cabeça olhando a casa ainda escura, sinal de que ninguém teria levantado. ― Eu escutei alguma coisa. ― Benjamin assentia. ― Papai! Lucius fora o primeiro a ir correndo para o quarto do pai, sendo seguido pelos dois irmãos. Ao abrirem a porta viram a cama vazia, assim como a porta do banheiro fechada e o som do chuveiro ligado. Não perderam tempo em bater na porta pedindo licença. Abrindo uma fresta encontraram o senhor Bailey caído no chão se segurando na barra de inox. Héctor e Benjamin eram os mais fortes, seguraram o pai e o ajudaram-no a levantar com extremo cuidado. Enquanto isso Lucius conseguira entrar para fechar o registro e pegar a toalha para secar o corpo do pai. O filho mais velho percebia que as mãos do pai estavam trêmulas pelo susto, a pele branca também seria sinal de que precisaria de um tempo para processar o ocorrido. Héctor por outro lado, percebera uma marca arroxeada nas costas do pai, provocada pelo baque com a barra. Os três ajudaram o pai a sair do box, Lucius tratou de secar o corpo do pai com cuidado, ouvido os gemidos doloridos do mesmo quando apertava a região de sua cintura. Enquanto Benjamin e Lucius ajudavam o pai a se vestir, Héctor fora atrás do andador. Imaginando a dor que ele iria sentir após a queda, o andador não seria ideal. Olhando em volta do quarto não encontrara nada que pudesse ser de grande ajuda naquele momento. ― Não tem nenhuma cadeira de rodas aqui? Benjamin esticava o pescoço negando com a cabeça, sabia que o pai detestava aquele tipo de coisa. Quer dizer, para o senhor Bailey era perda de sua autonomia e independência. Após terminarem de agasalhar o idoso, os dois irmãos ajudaram-no a se deitar na cama. ― Vou chamar alguém para te examinar, então fique aqui com Lucius ― Benjamin ordenava pegando o celular do bolso ― E nada de se mexer demais nessa cama. Senhor Bailey dizia nada, estava envergonhado por ter sido pego pelos filhos em uma cena como aquela. Por mais que a queda não tenha sido proposital, ou algo realmente vergonhoso, se sentia daquela forma. Lucius cobria o pai com os cobertores, e voltava para ajeitar os seus cabelos. Enquanto isso, Héctor ia para cozinha preparar algum chá que pudesse acalmar a dor, isso a pedido do irmão mais velho que se recusaria a ver o pai a tomar mais algum remédio. Benjamin andava de um lado para outro enquanto procurava pelo número do médico que o pai frequentava, ao encontrar chamou-o com certa urgência. Aos poucos os demais iam despertando ao ouvirem a movimentação na casa. Millena fora direto ao marido, que desligava o telefone já aparentando algum estresse ao massagear as têmporas. ― O que houve? ― O Pai caiu no banheiro ― Respondia o rapaz passando a mão na testa. A esposa lhe envolveu em seus braços depositando um selar sutil em sua testa. ― O médico vai chegar daqui a pouco, preciso que... ― Vai ficar tudo bem, seu pai é forte. ― Sabe o que mais irrita? ― Benjamin olhava para a esposa, que negava com a cabeça ― Já parou para pensar quantas vezes isso deve ter acontecido, enquanto ele morou sozinho? Somente dessa vez é que estávamos aqui para ajudar, mas e as outras? ― Isso mostra que seu pai é um homem forte e independente. Além de não querer preocupar os filhos com os seus problemas. Era possível ver que Benjamin estava deixando cair a barreira entre ele seu pai. Com o ouvir da história percebia que senhor Bailey também teria vivido uma vida diferente e cheia de complicações. Só desejava saber até onde essas complicações estavam fazendo seu pai viver amargamente na solidão. Assim que todos tivessem acordados e sidos avisados do ocorrido, não demorou para que a cama de Senhor Bailey fosse dominada pelos cinco netos. Lucius ainda fazia um pouco de birra para tentar um espaço para si, queria ficar perto do pai para evitar outro acidente. A situação que parecia urgente passou a ser cômica para Senhor Bailey, que se divertia com a briga entre o tio e os sobrinhos. ― Vovô olha o tio Lucius! Emma jogava a manta sobre o tio e esfregava sua cabeça com as mãos. Mesmo que tivessem rindo naquele momento, todos estavam preocupados com a saúde de Senhor Bailey. O filho caçula retirava a manta lançando um olhar fumegante para a sobrinha. ― Você tá morta! Quando menos se esperava os dois tinham se levantado da cama e saindo correndo pela casa aos gritos. ― Meninos sem correr, por favor! Benjamin ajudava Héctor a preparar o café da manhã. Estava sentindo a responsabilidade de cuidar da família, mais uma vez, pesar em seus ombros. Millena pegava a bandeja com o chá e um pedaço de bolo, levando para o quarto do sogro. Percebia que a bagunça não se seguia somente na sala, mas dentro daquele cômodo haviam quatro crianças que brincavam de médico, tendo o avô como paciente. ― Meninos vamos deixar o vovô comer um pouco. Mesmo com o pedido da nora, não houve negociações. Cristal tentava controlar os pequeninos, mas os mesmos estavam animados com as férias e não se deixariam abalar com broncas e pedidos. No final das contas, todos estavam em volta de senhor Bailey, o observando beber do chá e comer o bolo enquanto afirmava estar bem. ― Já que está todo mundo aqui ― Emma abraçava um travesseiro, enquanto olhava o avô ― e esperamos o médico, que tal o vovô continuar com a história? Senhor Bailey passou os olhos sobre os filhos e noras, sendo alvo do interesse em saber a continuação. Além do mais, não teriam muito o que fazer até a chegada do médico, que estaria vindo da cidade vizinha. ― Bom depois que vi a primeira provocação com o Henry, senti mais vontade ainda de manter ele por perto de mim, talvez um instinto protetor...
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