Capítulo 11

1538 Words
INTERIOR DO INGLATERRA, 26 DE MARÇO DE 1965 Franchesco sabia que estava em uma rodovia de mão dupla. Ao mesmo tempo que parecia seguir em frente, fazendo amizade com Henry além dos muros do jardim, estava regressando com as cenas de bullying que presenciava, com aquele garoto lhe empurrando para longe. Saberia o motivo de terem tal implicância com Henry, mas não se importava com aquilo. Na verdade, sentia-se curioso querendo enchê-lo de perguntas para entender o que poderia ser. Após terem feito a apresentação da atividade de história, Franchesco continuava a conversar com Henry na sala de aula. Sua aproximação tornou suspeita diante dos demais alunos. Algumas garotas que nutriam sentimentos pelo rapaz alto tentavam se aproximar para tentar a sorte de serem correspondidas, antes que algum boato da sexualidade de Franchesco surgisse. Ouvir os rumores deixava Henry temeroso, saberia que aquela aproximação não traria um retorno legal para Franchesco. Por isso ignorava suas conversas em público, enquanto no privado pedia para que fosse cauteloso para evitar que ficasse como si próprio. Todavia não conseguia evitá-lo por completo. Franchesco era um rapaz brilhante, quando se esforçava sempre se dava bem nas matérias, além de seu visual rebelde ser atraente. Não teria como negar que receber aquela atenção do rapaz alto, não iria mexer com seus sentimentos. Só não saberia como que o próprio Franchesco se sentiria sobre isso. Após ter recebido uma carta de seus pais, avisando que naquele final de semana não seria possível receber o filho, Franchesco se encontrava animado naquela sexta-feira. Seguindo para o jardim no horário de almoço, saberia que encontraria Henry cuidando de alguma flor. E de fato estava na ponta dos pés tentando alcançar algumas maçãs maduras. Sorrindo com a oportunidade, se aproximou silenciosamente ficando atrás do garoto. Esticou a mão e alcançou a maçã. Henry virou-se para Franchesco tendo seu rosto avermelhando-se de imediato com a proximidade dos corpos. Ainda assim sorria quando a maçã fora entregue. Colocando-a no cesto, permitiu que Franchesco continuasse a colher a fruta em seu lugar. ― Parece animado hoje. Franchesco ajeitava as maçãs na cesta, subia em alguns galhos da árvore tentando alcançar outras frutas que estavam mais ao alto. Henry observava o maior com atenção, se divertindo com aquela pequena tarefa. ― É sexta feira, não irei para casa dos meus pais. E você? ― Sempre passo o final de semana aqui. Franchesco olhara para o garoto e lhe jogara a maçã, pega com perfeição antes de atingir a cabeça do garoto. Os dois rapazes riram enquanto iniciavam uma conversa calma. O mais alto subia os galhos acabando por se esconder entre as folhagens. Aproveitando estar camuflado, e apenas os dois naquele ambiente, resolvera arriscar. ― Como foi que os rumores começaram? ― Esticando um pouco para ver o rapaz, percebia que não parecia animado com a pergunta. ― Se quiser contar fique à vontade, só me bateu a curiosidade. ― Foi uma brincadeira de m*l gosto de alguns veteranos ― Respondia Henry, enquanto segurava outra maçã jogada pelo mais alto. ― Quando entrei na escola resolveram fazer uma brincadeira, e um deles tinha o desafio de dormir com um gay da escola. ― E como ele saberia que você é? ― Por que em uma apresentação eu disse que não tinha nada contra o relacionamento gay ― O rapaz olhava para Franchesco sob os galhos, rindo da forma desengonçada de subir para o galho acima ― Então um dos veteranos se aproximou de mim e começou a fazer amizade. Quando ele me beijou e eu o correspondi, fomos flagrados por seus amigos. Franchesco ficava a imaginar a cena, o que lhe repudiava alguém ter a mente tão pequena. Bufando e arrancando com mais força as maçãs, tentava controlar a raiva que sentia de alguém que teria magoado aquele novo amigo. Ao entregar as últimas maçãs e descer da macieira, ajeitou as roupas ficando de frente a Henry. ― E você gostava dele? Henry encarava o rapaz alto à sua frente, parecia sério enquanto sustentava seu olhar. Como deveria desvendar aquele rapaz, que parecia ser a pessoa mais querida pelos alunos, e que de repente estava passando todas as horas vagas consigo naquele jardim tão discreto? Fazendo uma comparação de fatos, Henry percebia a semelhança entre a aproximação daquele rapaz com a de Franchesco. Algo que iniciou do nada e parecia progredir com o passar do tempo. Já se sentia nervoso diante de si, e ansiava por vê-lo no jardim. Parecia que a história estava se repetindo. ― É, eu gostava dele. Como se o ritmo cardíaco tivesse aumentado, os dois rapazes permaneceram na troca de olhares. Franchesco queria descobrir como era ficar com alguém do mesmo s**o, queria experimentar. Não se enganaria quanto a isso. Gostar de estar ao lado de Henry e admirar seu sorriso já eram sinais de que se sentia atraído. Mas estava com receio de que não fosse como imaginava. Henry fora o primeiro a se afastar do contato visual, carregando a cesta de frutas para fora do jardim. O rosto avermelhado e a mente que parecia confusa com diversos pensamentos, já trazia um sinal de alerta para o rapaz mais baixo. Não deveria se deixar levar, sendo que conhecia tão bem aquela história. O sinal que findava o horário de almoço finalmente tocara. Franchesco apenas suspirava bagunçando seus cabelos brancos, regressando para a sala de aula. Estava confuso quanto a Henry. Mesmo que quisesse tentar algo saberia que deveria ser daquela maneira. O que lhe perturbava era o sentimento tão repentino como aquele surgir do nada. Cada segundo que passava ao lado do garoto, era um segundo que fazia ter certeza de seus desejos. Enquanto caminhava no corredor, fora parado por uma garota. Observando quem teria se colocado à sua frente, revirou os olhos em ver que Camille arreganhava os dentes para ele. ― O que acha de sairmos nesse final de semana? ― Não quero sair com você ― A garota franzira a testa com a frieza de Franchesco. O rapaz percebendo que talvez tivesse descontado um pouco de sua raiva na garota, tratara de dar uma desculpa. ― Já tenho compromisso com outra pessoa. ― Com quem? Seus amigos não estarão aqui, então com quem sairia a não ser comigo? Franchesco olhava em volta na procura de um rosto conhecido. A sua sorte fora de Henry estar voltando naquele exato momento. Segurando o pulso do garoto e o erguendo, Franchesco sorria. Henry se assustara em ser puxado enquanto caminhava. Olhando a sua frente via uma garota bonita de braços cruzados e rosto azedo enquanto lhe encarava. Desejando saber quem estaria lhe puxando, olhara para trás vendo Franchesco sorrir belamente. ― Tenho compromisso com ele, então tchau! Puxando Henry para dentro da sala de aula, os dois rapazes se entreolharam. Franchesco soltou o pulso do garoto sussurrando um pedido de desculpas, então cada um seguiu para sua respectiva carteira. Antes que a aula se iniciasse Henry olhou por cima dos ombros, encarando o rapaz alto sentado no fundo da sala. O mesmo estava debruçado na carteira lhe olhando, deixando uma piscadela para o garoto menor. Sentindo as bochechas se avermelharem, apenas virou-se para frente desejando não sentir aquelas emoções, com aquele garoto. ●●● Com o fim das aulas e o início do final de semana, Franchesco se banhava no tédio naquele final de tarde. Enquanto reunia seu material, enxergou Camille o esper na porta da sala. Jogando a bolsa no ombro e saindo da sala parando ao lado da garota, já imaginara o que seria dito. ― Franchesco ― A garota se virou de imediato quando ele passara ― O que acha de sairmos agora? ― Eu já tinha dito que tenho compromisso com Henry. ― Você é gay? Franchesco olhara irritado para a garota. Saberia que dependendo de sua resposta, poderia arranjar problemas iguais aos de Henry. Mesmo assim não se sentia confortável sendo abordado por uma garota tão direta. Talvez no início do ano teria aceitado saído com ela. Entretanto houve uma mudança em seu comportamento que parecia repudiar aquele olhar interesseiro. Uma garota que parecia popular e queria tirar proveito disso consigo. ― Não passe dos limite garota. Não te conheço para que acredite ter i********e comigo a esse nível. ― Mas eu... ― Ah que saco. Saindo da frente da sala de aula, e deixando uma garota envergonhada para trás, Franchesco seguia o trajeto para o jardim secreto. Em meio do caminho encontrara Henry seguindo o mesmo percurso, em passos lentos e olhar focado em seus pés. Inclinando a cabeça aumentou o ritmo de seus passos para acompanhar o garoto, que lhe olhava repentinamente. ― Franchesco, onde pensa ir? ― No jardim, por quê? Quer me acompanhar? Henry olhava em volta mordendo o lábio com certa força. Apenas apressou os passos para andar mais à frente que Franchesco, e chegar o mais depressa possível no jardim. O rapaz alto, vendo o nervosismo do menor, soltara uma risada abafada o seguindo calmamente para jardim. Ao chegarem não deixaram nenhum assunto constrangedor atrapalha-los. Henry continuava a mexer com as plantas, as regando e podando quando necessário, enquanto Franchesco se deitava no banco assistindo o garoto e apreciando a sua voz enquanto cantarolava.
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