Capítulo 12

2227 Words
O médico que havia chegado era um homem por volta dos trinta anos, tinha os cabelos escuros e um par de óculos com armação redonda. Enquanto examinava o senhor Bailey, e anotava as prescrições em sua prancheta, conversava fazendo perguntas sobre os sintomas. Benjamin era o único que contava ao médico sobre a queda do pai, além de aproveitar questionar sobre os remédios. Com a ajuda dos filhos, o médico conseguira virar Senhor Bailey o suficiente para ver a região de baque, o hematoma se prolongava pela cintura do idoso. Fazendo o exame que conseguia, o médico lera suas anotações para então se direcionar aos três filhos. ― Acredito que seja melhor o uso de almofada e uma cadeira de rodas ― O médico virou-se para o senhor Bailey ― Dessa vez faça o favor de obedecer ao seu médico. ― Ele irá ― Lucius assentia olhando para o pai, que sorria brincalhão. ― Para quando ficou agendado o exame de raio x então? ― Podem ir na segunda mesmo, já que é urgente e ele tem mais de sessenta anos. O médico juntava seu material dentro de uma maleta e se retirava do quarto. Benjamin acompanhava-o até o carro, tendo a dúvida em sua mente. ― Então não existe a possibilidade de ele não fazer uso de toda aquela medicação? O homem se virou para o filho mais velho que parecia preocupado com o pai. Conhecia o senhor Bailey faziam alguns anos e nunca teria visto alguém lhe acompanhar além do filho caçula. Não saberia o que poderia ter ocorrido naquela família para que o mais velho demonstrasse algum sinal de compaixão com o pai. Mesmo assim seria sincero. ― Não pode, já que eles ajudam no tratamento do Alzheimer. ― Alzheimer? – Benjamin arregalava os olhos ― Ele me parece bem lúcido. ― Parece? Acredito que o seu irmão deva saber mais detalhes, já que foi ele quem suspeitou da doença logo em seu início e trouxe seu pai a mim. Com apenas um aceno o médico adentrava em seu automóvel e saía pela rodovia deixando um Benjamin espantado. Virando-se para olhar a casa, ficou imaginando o que mais estava sendo omitido de si. Héctor saía de casa com a carteira e a chave do carro, apenas entrou no automóvel preto e se retirou com certa pressa. Soltando um suspiro Benjamin adentrou na casa de madeira vendo que as mulheres já preparavam o almoço. ― Onde Héctor foi? ― Comprar uma cadeira rodas e a almofada ― Cristal sorria para o cunhado enquanto cortava cebola. Agradecendo pela informação e seguindo para o quarto do pai, via Lucius acariciar os cabelos do idoso enquanto sorria gentilmente. Dizia palavras bonitas ao pai enquanto cuidava de si. Uma pequena ponta de inveja crescia no peito de Benjamin, que observava a cena parado na porta. Soltando um pigarro baixo, chamou a atenção do irmão. Balançando a cabeça para o lado, os dois irmãos seguiam para um cômodo vazio. ― Alzheimer? ― Benjamin perguntava a Lucius, que demonstrava certa surpresa pelo irmão ter descoberto. ― É coisa séria, por que raios não nos contou? ― E isso mudaria alguma coisa? ― Lucius suspirava ― Enquanto morei aqui, quantas vezes eu liguei para você e para Héctor desesperado por nosso pai não saber de pequenas coisas? ― Nunca ligou para falar disso. ― Liguei sim! Mas toda vez que eu dizia ser sobre o papai, vocês dois fingiam estarem ocupados demais para se preocuparem, e apenas diziam que eu conseguiria lidar com isso. O silêncio cresceu entre os dois irmãos. Lucius passava a mão em seu cabelo tentando controlar suas emoções. O relacionamento entre os irmãos nunca fora r**m, sempre se deram bem. Benjamin fazia seu papel de mais velho e protegia os mais novos quando viam os pais brigarem. Pela primeira vez via o caçula esconder algo de si, algo que era importante em demasia. Por mais que tivesse suspeitado da dosagem dos remédios, não esperava que fosse alguma doença tão séria quanto aquela. Abraçando o irmão ficaram a se confortar, sabendo que não poderiam preocupar em demasia já que se encontravam em uma situação delicada. ― Vai ficar bem, ele vai ficar bem. Ao saírem do quarto, mais calmos, retornaram aos aposentos de senhor Bailey que brincava com os netos com alguns bonecos. Não demorou para que Héctor chegar com a almofada e a cadeira de rodas. ― Acho que essa dá, foi a única que eu encontrei nesse fim de mundo. O filho do meio ajudara o pai a se levantar e se sentar na cadeira, ajeitando a almofada em sua cintura. Assim que posicionado, deixou uma coberta sobre suas pernas e ajeitou as meias nos pés frios do pai. ― Pronto senhor, agora está melhor. ― Obrigado meu filho. Ouvir aquelas palavras do pai fizera Héctor ter os olhos marejados, mas escondera sua súbita emoção com um sorriso singelo e um balançar de cabeça. Empurrando a cadeira de rodas para a cozinha, onde o almoço estava sendo servido, encontrou toda a família reunida ali para o desjejum. Mesmo que estivessem todos preocupados sobre a saúde de senhor Bailey, queriam distrair a família de toda aquela tensão que residia entre eles. Como se alguém tivesse pedido, mesmo que silenciosamente, Senhor Bailey começava a contar toda a história de como teria conhecido Henry. Benjamin fizera sinal para os demais que não interrompessem sua fala, onde provavelmente ele continuaria de onde parou no dia anterior. ●●● INTERIOR DO INGLATERRA, 27 DE MARÇO DE 1965 O corpo de um adolescente passa por tantas transformações que se torna cada vez mais difícil dele poder se compreender. Franchesco sentia-se estranho enquanto passava a lâmina de barbear sobre o rosto com extremo cuidado. Não haveria muitos pelos em sua face, mas detestava a sensação de passar a mão em seu rosto e sentir algo pinicar. Batidas frenéticas interromperam seu momento de concentração. Franzindo as sobrancelhas ele fora até a porta sem tirar a espuma de seu rosto, tamanha a pressa que sentia daquele que o perturbava. Deixando a toalha em seu pescoço, Franchesco resmungara ao abrir a porta. ― O que foi? Imaginava que seria Adrian ou Vincent, que gostavam de quebrar algumas regras e trazer algumas grades de cerveja. Entretanto a pessoa que estava na sua frente era Henry. Sua camisa esportiva estava suja, os cabelos estavam molhados e esbranquiçados por conta da farinha. Com a respiração ofegante, o garoto olhara em sua volta antes de empurrar o peitoral do mais alto e invadir o quarto. ― O que raios está acontecendo? Deixando-se cair no chão, Henry pousava a mão no rosto suado esperando acalmar sua respiração. Ouvindo o som de pessoas correndo pelo corredor e alguém gritando algo fez Franchesco abrir a porta e olhar quem seria. Havia um grupo de garotas segurando algumas sacolas, entre elas reconhecia a Camille. ― Ei ― O grupo de garotas viraram ao ouvir a voz de Franchesco. Se aproximaram do rapaz, segurando o riso em vê-lo com a espuma branca espalhada no rosto ― O que estão fazendo? ― Procurando uma pessoa, viu o Fontenelle por aí? Olhando para as mãos das garotas reconheceu o pacote de farinha. Arqueando a sobrancelha, cruzou os braços fechando a porta atrás de si com o pé sem que elas pudessem perceber. ― Estão fazendo algum tipo de bolo? ― Camille olhava para as próprias mãos e sorria sem graça ― Façam alguma coisa e terei o prazer de ter uma conversa com o diretor sobre estarem andando na ala masculina. Franchesco voltava para o quarto ignorando qualquer palavra dita por Camille. Olhando para Henry, o segurou pelos braços fazendo-o se levantar do chão. O guiou para o banheiro apontando para o chuveiro. ― Fique a vontade para se lavar, mas acho que seria melhor se passasse a noite aqui. ― Não vou passar a noite com você. ― Então seu cabelo vai receber outra xícara de farinha. Saindo do banheiro, Franchesco fora até o armário onde separou uma troca de roupa deixando sobre a cama. Reparando que ainda estava com a espuma em seu rosto soltou uma arfada baixa. Preferiu não adentrar no banheiro, deixou o rapaz levasse o seu tempo para se lavar. Se perguntou como ele teria encontrado o seu quarto, mesmo assim estava aliviado por isso, afinal serviria como porto seguro para Henry. Passando a toalha sobre o rosto para limpar a espuma, o rapaz arrumou sua cama para que Henry fosse dormir. Olhou em volta do quarto não encontrando muito espaço para que fosse dormir no chão, sequer teria algum sofá. Sorrindo levemente com a situação, adicionou alguns cobertores quando ouvira uma voz baixa soar pelo quarto. ― Ahn... Franchesco eu não tenho roupas. O mais alto virou-se para a porta onde encontrou apenas a cabeça com os cabelos molhados do rapaz. Entregando a muda de roupa que havia separado, esperou alguns minutos antes que Henry saísse do banheiro. A calça teria ficado comprida, a barra cobria parte dos pés de Henry, assim como a camiseta cobria até a coxa. ― Melhor? O garoto assentia envergonhado, tinha as bochechas rosadas por conta da timidez. Franchesco sorria satisfeito. Deixando Henry à vontade, Franchesco voltara ao banheiro para terminar de se barbear, passando a espuma na região que ainda faltava. Aproximando a lâmina do maxilar, sentia a dificuldade em enxergar. Os resmungos de Franchesco chamara a atenção do garoto, que estaria dobrando suas roupas. Ao se aproximar da porta do banheiro presenciou a cena do rapaz de cabelos brancos se contorcer em frente do espelho. ― Precisa de ajuda? Olhando pelo reflexo do espelho, apenas rira mexendo no cabelo. ― Sabe mexer com barba? ― Sei fazer a minha quando necessário. Entrando no banheiro, Henry guiou para que o mais alto ficasse sentado sobre a tampa da patente. Com um pedido tímido de licença, entreabriu as pernas do mais alto para poder se posicionar. Segurando delicadamente o queixo do maior, começara a deslizar a lâmina com suavidade sobre sua pele. Franchesco ficava observando aquele garoto na sua frente todo concentrado no que fazia. Estavam tão perto um do outro que conseguia sentir a respiração bater em sua pele. A sua missão era evitar de agir inconscientemente, suas mãos seguraram com firmeza os próprios joelhos para não o tocar. Seus lábios se contorciam na medida que deslizava a lâmina retirando os fios, os olhos piscavam poucas vezes para manter o foco. “é bonito todo concentrado”. Henry percebia o olhar que recebia, sorrindo gentilmente enquanto finalizava passando a toalha sobre o rosto do maior. ― Pronto, acho que está apresentável. ― Obrigado. Os sinos da escola soavam as doze badaladas enquanto a chuva caía em grandes pancadas. Os dois rapazes foram para a cama, mesmo Henry dizendo que dormiria no chão, por ser pequeno e magro conseguiria arranjar um espaço para si. Franchesco fizera questão que dormisse ao seu lado na cama. ― Está frio,deita aí e durma. ― Franchesco não deveria fazer isso... O coração do garoto batia acelerado em apenas pensar dividir a cama com o rapaz mais alto. Não saberia como agir, sua mente já se confundia com tantos pensamentos. Seu pulso fora segurado pelo maior que o fizera se deitar na cama jogando a coberta sobre Henry, para poder se deitar ao seu lado. ― Franchesco realmente não acho que deveríamos estar dividindo a cama. ― Estamos sozinhos aqui, não tem porque sentir medo. Henry estava de costas para o mais alto, encolhia-se o máximo que poderia para não tomar o espaço de Franchesco. As mãos pousadas sobre o peito sentiam aquele músculo cardíaco bater freneticamente. A chuva batia violentamente contra a janela, Franchesco observava as luzes do lado de fora sem sentir sono. Estava animado demais para dormir, principalmente ao lado da fonte de seu nervosismo. Mesmo que Henry tivesse tomado banho com o seu sabonete, parecia que aquele aroma combinava com ele. Percebendo que olhava aquele garoto dormir de costas para si, ajeitou-se na cama ouvindo os trovões soarem no lado de fora do dormitório. Suas mãos queriam puxar aquele corpo para ficar próximo a si. Surpreendera-se quando Henry se movia ficando em frente ao maior, percebendo que ambos estavam acordados. Nenhum deles conseguiria dormir, estando tão próximos daquela forma. ― Eu disse que era uma má ideia. Franchesco não respondeu o garoto, apenas queria experimentar as sensações que tanto imaginava. Seus dedos gélidos acariciaram as bochechas rosadas e quentes de Henry. ― O país das maravilhas realmente existe? A perguntava de Franchesco pegara Henry de surpresa. O garoto negava com a cabeça, imaginando o que viria em seguida. O toque que sentia em seu rosto fazia com que ficasse mais corado, mesmo sem desviar dos olhos castanhos do mais alto. ― Então pense que acabamos de criar o nosso país das maravilhas. Antes que Henry questionasse, via o rosto do maior se aproximar lentamente de si e seus lábios sentirem pressão dos semelhantes. Os olhos se fecharam ao receber o selar, os dedos de Franchesco pareciam se entrelaçar com os fios de cabelos do menor. Mesmo ignorando as trovoadas e a chuva, o mundo daqueles garotos era silencioso cheio de sensações. ━━━━━━ ◦ ❖ ◦ ━━━━━━ Eu ainda me lembrarei daquelas memórias Mas estão borradas, é uma pena Promise― Exo ━━━━━━ ◦ ❖ ◦ ━━━━━━
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