A primeira facada foi dada, o beta fez questão de demonstrar ao Conselho que eu não tenho controle sobre a equipe e que muito menos faço parte dela. Milhões de coisas se passam por minha cabeça e a primeira dela é: como vou explicar isso? Como vou reverter a situação? Como vou provar que posso mesmo ser uma alfa?
Foi montado um circuito de obstáculos dentro da academia para a equipe demonstrar suas habilidades. Em um deles, tinham alguns robôs que se moviam aleatoriamente, simulando ataques de diversas formas e além disso eles tinham acoplados em suas extremidades, algumas garras que imitavam facas. Dependendo do movimento, podia machucar demais. Em outra etapa, eles tinham que colocar óculos que permitiam a projeção de adversários e lutar com eles. Um a um começou o circuito e como em fila, todos fracassaram. Apesar da situação, a satisfação do beta era quase palpável e eu não sabia aonde enfiar toda a minha vergonha. Estava me sentindo inútil, imprestável, enquanto quem tinha a obrigação de me apoiar e incentivar, estava simplesmente rindo da minha cara. Ao final, Tinha chegado a hora de receber a avaliação.
Conselho: em posição!
Eu fiquei a frente, o beta logo atrás de mim e os ômegas em uma fileira ombro a ombro um passo atrás do beta.
Conselho: nunca vemos uma apresentação tão decepcionante, vocês nem deveriam ser chamados de equipe de elite, foi uma catástrofe - um dos membros simplesmente cuspiu.
Beta: permissão para falar
Conselho: concedida
Beta: acredito que isso seja o resultado do treinamento de nossa alfa e não culpa dos meus homens. Como foi visto aqui, ao invés de nós pularmos para outro nível, regredimos vários. Ela não é tudo isso que dizem, se fosse estaríamos com certeza em outro patamar porque uma equipe sempre é reflexo de seu alfa.
Um silêncio imperou. Nunca tive o costume de ficar retrucando com ninguém e nesse momento, apesar de querer dar um soco nesse i****a, minha vergonha não deixa.
Conselho: primeiro beta, esses não são os seus homens, coloque-se no seu lugar. Todos vocês devem ser subordinados a um alfa, de acordo com suas patentes, e acredito que isso tenha ficado extremamente explícito quando aceitaram seguir com a carreira militar.
Se o silêncio já estava praticamente palpável, agora todos se remexiam em seus lugares diante da situação, mas o comandante via a frente, ele já esperava por isso, só precisava da oportunidade certa e agora, ele tinha encontrado.
Pai: eu gostaria que a Alfa realizasse o circuito. Se ela não conseguir, acho que podemos acreditar no que beta diz, mesmo porque, sem uma experiência positiva, não tem como passar resultado positivo.
Depois de uma pequena deliberação o Conselho concorda em me dar esta oportunidade e eu me preparo para mostrar o porquê sou considerada não apenas uma alfa, mas a alfa.
Os ômegas saíram acabados e machucados do circuito e vendo como eles se saíram, era impossível pensar que qualquer outra pessoa pudesse conseguir sair sem nenhum arranhão, ainda mais sendo "teoricamente" treinados pela alfa, mas eu sabia que conseguiria e foi isso que aconteceu, sem nenhum arranhão. O beta tinha consciência de que acabar perfeitamente aquele circuito era praticamente impossível, só poderia acontecer se eu realmente fosse treinada para aquilo e a melhor porque até ele tinha dificuldade.
Pela primeira vez identifiquei um olhar diferente nele, não foi ódio, não foi desdém, foi arrependimento?
Depois disso, fui levada para a sala do comandante, apenas eu, para que me fosse passada novas orientações.
Pai - pequena, nós ganhamos uma nova chance. Você sabe que isso nunca acontece não é? Eles deveriam ter te punido, essas são as regras. Apesar de ser uma missão boba, era uma missão e você não conseguiu, pela primeira vez.
Vi compaixão em seus olhos e aquilo acabou comigo na mesma proporção em que me deu esperança.
Pai - Você tem mais dois meses pequena, vamos tentar de novo.
Eu: eu tinha certeza que ia conseguir, mas o beta está dificultando tanto, não sei mais o que fazer, ele me odeia Ada e nem sei o que fiz.
Pai: paciência, é a única coisa que te peço, paciência. Vamos tentar de novo e dessa vez, nós vamos conseguir, nós temos que conseguir.
Eu: tem alguma coisa que você não está me contando Ada?
Pai: tem tantas coisas que você não sabe minha pequena, mas com o tempo você vai descobrir. Agora vai descansar, vai curtir a sua vitoria, pelo menos por hoje.
Eu: tá ok Ada.
Faço posição de sentido e me retiro, ainda pensando em tudo o que aconteceu e é apenas de manhã, tenho o dia inteiro para me questionar ainda. Andando pelo corredor, dou de cara com aquele soberbo e SUA equipe. Nem consigo olhar em seus olhos direito e tento passar reto, mas sou barrada por seu corpo. Ergo minha cabeça para olha - lo e como estou bem perto de seu corpo, meu pescoço chega a doer. Ele me dá um olhar intenso, mas sem expressão alguma, só vejo profundidade e mais profundidade. Os ômegas estão com ele e não desferem nenhuma palavra, até perco a noção do tempo que se passa por causa do silêncio que se estende.
Depois de alguns minutos, ele solta aquela voz rouca e grossa
Beta: podemos falar com você?
Não me admira que ele não se dirija a mim de maneira formal, ele não me reconhece mesmo, mas me demoro alguns segundos para responder, não porque tenho dúvidas se vou ou não ceder alguns minutos a eles, mas porque me perco naquele olhar azul.
Ele pende a cabeça um pouco para o lado meio que demonstrando dúvidas sobre a situação, bem na hora que me dou por mim e me preparo para responder.
Eu: claro, vamos para minha sala.
Beta: não, vamos para a academia, gostamos mais de lá e me parece menos formal, a gente quer conversar sem formalidades.
Para falar a verdade, eu estranho o fato de ele não cuspir as palavras simplesmente e até estar em um tom de uma pessoa civilizada, isso realmente me deixa surpresa, tão surpresa que não questiono o fato de ele estar se negando a seguir o que eu falo, de novo.
Não faço nem que sim e nem que não, apenas começo a andar em direção à academia e apesar de tudo estar aparentando para uma reviravolta, ainda tenho medo, muito medo do poder desse beta.
Ainda no caminho, passamos por todos os outros soldados que permanecem em seus treinos inacabados direto para a nossa área reservada. Apesar de estar dentro da academia comum, nosso espaço é totalmente isolado por divisórias.
Paro próximo ao tatame e me viro em direção à equipe. Eles se posicionam ombro a ombro e fazem a única coisa que eu não esperava e ainda, sob o comando daquele ser musculoso, lindo e incompreensível...eles se curvam e me reconhecem como sua alfa.