Acordo no mesmo horário e logo vou ao banheiro começar o meu dia com um belo banho frio. Perco alguns momentos para pensar, analisar e me motivar para enfrentar a equipe ou pelo menos tentar uma outra abordagem.
Acabo de me arrumar e sigo para a academia. Como nunca tem ninguém consigo montar um circuito com obstáculos no solo e nas alturas. Tenho que me adaptar a qualquer situação e quando acompanhava outras equipes, percebi que se achasse pontos estratégicos nas alturas eu sempre tinha vantagem.
Minha concentração é tamanha que nem percebo que a equipe já chegou e começou seu treinamento. Paro e os observo. Eles seguem atentamente aos comandos do beta, mas como no dia anterior, vejo várias falhas nos combates corpo a corpo que eles fazem.
Me posiciono perto da equipe e tento chamar a atenção deles. Até subo no tatame para tentar ser ouvida, mas além de não mudar nenhuma tática, fazem questão de mostrar que o único que pode dar as ordens é o beta e ele me olha com a postura mais superior que eu já vi na vida, como se eu não fosse exatamente nada, como se minha posição ou todo meu conhecimento fosse lixo.
Eu sei que sou nova, que sou mulher, que pareço frágil, mas eu dou conta. Já lutei com cada bruta montes. Sei que no que fazemos, o que vale, é a tática e não a força e é isso também que vai nos salvar. Cada um depende do outro em nossas missões e pelo o que eu estou vendo agora, se eu sair com eles, se lhes confiar a minha vida, já posso me considerar uma pessoa morta. Capaz até de eles darem risada na hora da minha agonia.
Eu chego perto do beta e tento conversar com ele que, novamente, me olha com desdém. Faz questão de demonstrar que não está nem aí para o que eu penso ou falo.
Caramba, eu sou a alfa, como isso pode estar acontecendo? E só é o segundo dia, eu preciso achar um jeito desse retardado me escutar e confiar em mim.
Eu não vou desistir, nem quando eu passei a situação mais terrível e nojenta da minha vida eu desisti e não é essa pequena coisinha que vai fazer isso.
Vou tentar de novo amanhã e depois e depois, até conseguir.
Saio da academia visivelmente chateada. Percebo que eles estão me olhando afastar, mas não me viro. Não quero dar esse gostinho a eles, ainda tenho minha dignidade. Caminho em direção ao meu dormitório e tenho que admitir que estou completamente perdida. Sempre tive pessoas que me apoiaram ao meu lado, me deram força, incentivaram e até desejaram que eu fosse sua comandante, mas esta equipe, ah, esta não. Eles me querem longe, o mais possível.
Chego no meu quarto e vou direto para o banheiro, quero um outro banho, quero me sentir renovada, quero me sentir leve e limpar minha mente para pensar com clareza. Quando termino sigo para o quarto me vestir, vejo de relance que a mesa do café da manhã já está posta. É tudo muito simples, mas é assim que eu gosto. Café preto, pão com manteiga e algumas frutas. Não sei o porquê, mas não gosto muito de suco logo pela manhã, prefiro café pretinho.
Olho para a bancada e percebo que já tem várias pastas com documentos a serem analisados, como minha função é treinar apenas a equipe alfa, acabo tendo muito tempo relativamente ocioso, então o restante dia, consigo calmamente analisar os documentos e ler livros do meu gosto, só paro mesmo para comer e andar um pouco pela parte externa do quarto, no gramado.
Os dias vão passando e a situação só vai piorando. Agora, além de o beta e os ômegas não me escutarem, discutem comigo sempre que tento me impor. Os outros soldados, aqueles que fazem parte do quadro geral do Distrito 10, já começaram a me olhar diferente. No começo eles estranharam a ousadia, mas agora me olham com dúvida também. Minha reputação está indo ladeira abaixo por causa da porcaria dessa equipe. Eu tenho que dar um jeito de arrumar essa situação. Até meu Ada já me sugeriu que eu marcasse uma reunião com o Conselho para me transferir para outro Distrito, ele tem certeza que eu me daria melhor em qualquer outro lugar. Na verdade ele está sentindo meu desapontamento e acaba por ficar triste também, não sabe o que fazer e tem medo que eu fique tão destruída que acabe no fundo do poço.
Eu me n**o a fazer isso, tenho que mostrar que sou capaz e não uma inútil qualquer.
Amanhã completam dois meses que estou aqui e a equipe tem que fazer uma demonstração para o Conselho com o objetivo de externar sua evolução com a minha chegada e já sei que vai ser um verdadeiro fracasso porque não consegui fazer nada com eles, não consegui moldá-los, mas não posso me negar a prosseguir com isso.
Quanto mais os dias passavam, mais o beta se sentia satisfeito com tudo o que fazia, dava para perceber isso sempre que olhava e desferia sorrisinhos tortos, os mais sínicos possíveis. Toda vez que parava e o via fazendo isso, me perguntava como ele conseguia se aguentar. Até a beleza dele tinha diminuído aos meus olhos. Me lembro de até contar os gominhos do seu tanquinho quando tudo isso começou. Apesar de nunca ter visto seu corpo nu, o uniforme sem o colete marcava perfeitamente aquele corpo escultural e quando acabava o treino, seu suor o marcava ainda mais. Estou tão brava com tudo isso que até estou achando que sua beleza diminuiu e ele está cada dia mais feio.
Quase não dormi essa noite e para piorar, parece que as horas simplesmente voaram e agora estou eu aqui, indo ao encontro da minha maior humilhação. Queria um pouco mais de tempo, só mais um pouquinho, não por eles, mas por mim. O Conselho vai se fazer presente através de uma vídeo chamada, mas como os nossos equipamentos são de última geração, vão ter uma bela visão da situação.
Me apresento e ordeno que a equipe fique em posição para começar o combate e para variar, eles não me obedecem fazendo com que todos os membros percebam isso.
Droga, não acredito que isso está acontecendo, aperto meus olhos com força com esse pensamento.
Apenas com um sinal tímido do beta e todos se posicionam da maneira desejada. Já eu, eu me preparo para minha punição.