Capítulo 7

1549 Words
Toco a campainha da casa de Bruno desesperadamente. Eu quero voltar logo para Bolinha. Tento secar as lágrimas, mas não adianta.  Demora um minuto inteiro para que Bruno abra a porta. Um sorriso começa a se formar em seu rosto, mas morre quando percebe que estou chorando  —  O que houve, Mel ? —  A Bolinha... É tudo o que eu consigo dizer. Ele entra na casa, mas deixa a porta aberta.  —  O que ela tem?   Bruno pergunta enquanto se movimenta pela sala. Ele move algumas almofadas de lugar, procurando alguma coisa. — Não sei. Ela está estranha.  Ele concorda com a cabeça. Finalmente encontra as chaves do carro e a carteira. Ele vem atém mim e gentilmente me empurra para fora, até a minha casa. Eu o sigo, porque seja lá o que ele vá fazer, parece bem mais útil do que o que eu estou fazendo, que é basicamente chorar. Ele encontra a Bolinha amúada e se abaixa ao lado dela. —  Tudo bem, garota ? —  Bruno estende a chave do carro para mim. —  Abra o carro, vou levar a Bolinha. Concordo e corro para obedecer. Ele a coloca no banco de trás e faz um leve carinho na sua cabeça, depois abre a porta do carona e faz sinal para que eu entre. De novo, eu sou apenas capaz de obedecer. —  Pesquise no celular onde é o veterinário mais próximo. Pesquiso e adciono o endereço no gps. Espero que ele comece a dirigir,  mas Bruno me olha com a sobrancelha erguida.  — O que? —  Cinto.  Ah, claro. Aceno com a cabeça e coloco. Ele liga o carro e nós partimos. Ele não tenta conversar durante o caminho e eu acho ótimo, não estou afim de falar agora. Quando chegamos ao veterinário, ainda em silêncio,  ele carrega Bolinha para dentro. Nós somos atendidos rapidamente. Não sei dizer se é porque perceberam o quanto minha cadelinha estava m*l ou se foi porque a filha da recepcionista faz parte do fã clube de Bruno. Mas a moça faz Bruno jurar que dará um autógrafo antes de ir embora. Eu e Bruno sentamos para esperar. Pela primeira vez, ele se aproxima de mim.  —  Ela vai ficar bem, Mel. Não precisa chorar. Não respondo. Como ele pode ter certeza que ela vai ficar bem ? Não pode, ele não pode. Bruno puxa meu rosto com as mãos e seca minhas lágrimas gentilmente com os polegares. —  Eu fico nervoso quando você chora, sabe? Eu sei. Ele sempre ficou.  —  Desculpe.  Minha voz sai baixinha, como um sussurro.  — Eu é que peço desculpa, Mel. Eu quero tanto saber o que dizer pra você se sentir melhor. Mas eu nunca sei o que dizer quando você está chorando. O meu coração dói. O meu coração acelera. De repente, sinto vontade de fechar os olhos e me afundar nos braços de Bruno. Eu poderia fazer isso. Ele me abraçaria apertado, como antes, e eu sei que um pouquinho do medo que estou sentindo iria embora. Mas então, eu penso em Thiago. Meu doce e leal Thiago.  Me afasto de Bruno. —  Obrigada, Bruno. Obrigada de verdade.  Ele sorri, mas o sorriso não chega até seus olhos. Eu não sei dizer se é porque está preocupado com Bolinha ou se é porque eu me afastei. De qualquer forma, ele não tenta me tocar outra vez. Uma parte de mim lamenta. Dura uma eternidade até que o veterinário venha falar com a gente.  —  Ela está bem, queridos. Fiquem calmos.   Alívio invade meu corpo —  O que ela tinha? — Uma infecção. Você mudou a ração dela recentemente? Sim. A ração que compro a anos havia acabado no mercado do bairro e eu estava cansada demais para ir a um lugar mais longe. i****a. Eu assinto. —  Não caiu bem. Mas é simples. Irei prescrever um remédio e volte para a ração anterior.  —  Com certeza. O outro saco vai para o lixo hoje mesmo.   O veterinário sorri, satisfeito. É só quando estou menos preocupada que me lembro que a consulta deve ser paga.   —  Hum ... Você pode me dizer quanto vai ficar o valor disso?  Ele começa a responder, mas Bruno interrompe.  —  Vou pagar.  —  De jeito nenhum, Bruno. A Bolinha é minha.  —  Ela é minha também.  —  De certa forma, sei que é sim, mas acontece que ... Ele me interrompe.   — Dá pra você não ser teimosa uma vez na vida? Eu o encaro de modo desafiador e ele rebate da mesma forma. Nossa batalha silenciosa é interrompida pela risada do veterinário.  —  Ai ai —  Ele suspira —  Não há nada como o amor jovem.  —  Não somos namorado —  Eu me apresso em dizer, não sei bem o motivo.  —  Eu não falei a palavra namoro. Eu disse amor. Você pode amar uma pessoa que não é sua Bruno ri. Ele olha diretamente pra mim. Eu desvio o olhar. —  Certo. Espera ai, Mel. Vou resolver a conta.  Bruno se retira sem me dar chance de responder. O doutor sorrir pra mim. —  Ele te passou a perna. Dou de ombros.  —  Acho que sim.   Ele ri. —  Eu não quis ser invasivo antes, foi apenas uma brincadeira.   Suspiro, cansada.  —  Tudo bem. É que as coisas entre nós... são complicadas.  —  Dá para saber apenas pela forma como se olham. —  Como é isso?   —  Ele a olha como se estivesse se afogando e soubesse que só você pode o salvar. Engulo á seco. —  E como eu olho? —  Como se estivesse morrendo de vontade de pular na água, mas ainda não sabe se deve. Eu o encaro. —  Você também é um piscicoologo? Ele ri. —  Acho que eu já vive as minhas próprias histórias, apenas. Eu não tenho tempo de responder porque Bruno me chama.  Saímos em silêncio e eu o observo enquanto caminhamos até o carro. Meu coração se enche de uma enorme gratidão. O que teria feito hoje sem ele? —  Bruno? Ele me olha. —  Sim? — Obrigada. Obrigada de verdade, Bruno. Eu estava tão nervosa. Você me salvou hoje.  —  Eu também amo a Bolinha, Mel. Não se esqueça disso.  —  Obrigada por ter ficado perto de mim quando eu estava chorando. Ele abre a boca para responder e provavelmente dizer que não foi nada, mas eu o abraço antes disso. Demora um segundo para que ele retribua o gesto.  Seus braços apertam meu corpo contra o seu e ouço um suspiro baixo. —  Você sabe que eu sempre vou te ajudar, não é? Em qualquer coisa. Sua voz é abafada contra meu cabelo.  Sinto meus olhos encherem de lágrimas e pisco para afastá-las. Balanço a cabeça, concordando.  Ele beija meus cabelos e me solta. Nós entramos no carro e seguimos em silencio até a nossa rua. —  Então, você e sua mãe vão jantar lá em casa hoje? Ele pergunta enquanto deliga o carro. —  Não sei. Não vi minha mãe, não pudi perguntar.  —  Não viu sua mãe desde segunda? Ele parece surpreso. Imagino que deve ser mesmo estranho. Minha mãe era tão presente antes.  —  Eu e mamãe não estamos muito próximas desde a morte do papai. Acho que talvez ela ainda esteja de luto. Dura mais pra algumas pessoas. Ele me olha atentamente por alguns segundos. Tento mascarar minha tristeza, mas sei que Bruno consegue perceber. Porque é Bruno e ele me conhece toda minha vida. —  Eu sinto muito, Mel.  —  Não tem problema. Acho que a maioria dos adolescentes quer essa liberdade que mamãe tem me dado.  —  Não tente fingir que isso não te incomoda. Você sente falta dela. não sente? —  Bem, ela é minha mãe, claro que ás vezes eu gostaria de conversar com ela. Mas, quer saber? Isso já me deixou m*l antes, mas acho que já acostumei. Sério. Ele continua me encarando, sei que o assunto não acabou. Mas não quero falar disso, não quero falar porque falar me deixa fraca. Eu descobri uma forma de seguir em frente com a minha vida depois que tudo mudou. Depois de papai morrer, Daniel e Bruno irem embora e mamãe deixar de se importar comigo. E a forma que achei de fazer isso é  nunca falar sobre. Nunca pensar. Deixar para lá.  Olho para Bruno, e sei como encerrar o assunto. — Realmente perdi um pouco daquela proximidade que eu tinha com mamãe. Mas tudo bem, agora eu tenho Thiago. Minhas palavras o atingem, como eu já sabia que aconteceria. Ele desvia o olhar. — Claro. Ele sai do carro e bate a porta. Respiro fundo e saio também.  —  Acho que vou entrar agora —  falo, meio incerta. Não quero entrar. Quero que Bruno sorria para mim e faça alguma piada, quero que tudo esteja bem entre a gente, ou pelo menos tão bem quanto tem sido possível. —  Uhum. É... sem sorrisos. —  Tchau, então.  — Tchau, Mel. Ele acena, mas não me olha enquanto segue até a sua casa. Sinto uma pontada de tristeza, não quero magoar Bruno. Mas como posso evitar? O que ele quer, afinal de contas? As nossas vidas nunca mais poderão seguir juntas e é isso. Acho que nós dois só precisamos conviver com essa nova realidade. 
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD