Capítulo 3

1816 Words
CHERRY SAINT Ao passar pela grandes portas duplas de vidro da sala de reunião, com a mão suando, saúdo todos que estão presentes. Vasculho os olhos por toda a mesa gigante num tom mais claro de madeira composta por várias cadeiras pretas de couro ocupadas, e todos os homens que estão ali me notam com atenção, mas a única pessoa que capta minha real atenção e me deixa ainda mais nervosa é o moço bonito do elevador. E só então, após gesticular e mostrar o projeto, torcendo infinitamente para dar certo, que ouço a sua voz, a qual me deixa arrepiada dos pés à cabeça. Voz rouca, firme e em alto bom tom para todos escutarem e não haver dúvida naquela sala, e percebo pela localização em que se encontra e por tomar a frente da situação, que é o novo presidente da companhia. Como eu não sabia quem era o presidente da companhia? Porque simplesmente não me interessava. Ele tinha fama de ser um e******o ogro, muito m*l educado. E acho que presenciei um pouco da sua falta de educação no elevador, quando me deixou falando sozinha. Ele não é obrigado a falar com quem não quer, mas precisava responder apenas com gestos e nada mais? Isso me irritava de uma forma que não acho que dê para medir. E ao lado dele, na fileira do lado esquerdo, tinha um outro homem um pouco mais parecido com ele, que estava bastante interessado, interessado até demais, no que eu tinha para falar. Por um lado é bom, certo? Mas sei, conheço esse tipo de homem, o que lhe interessa não é apenas o que eu tenho em "mente" como ele mesmo citou, e sim o que eu tenho no corpo todo, do qual ele devorava com os olhos, sem disfarçar. Após receber uma salva de palmas pelo projeto ser aceito, vibro por dentro. Não acredito que fui aprovada. Sorrio abertamente após ver todos os empresários assinando o contrato com muito gosto e vindo logo em seguida, me paparicar desejando parabéns pela competência, o que inflou meu ego e com certeza, faria o resto da minha semana melhor. Vejo o tal presidente, que eu não sei nem o nome, assinar e logo em seguida, pedindo licença e indo para a sua sala. Sinto uma pontinha de decepção por não ter ouvido sair da sua boca um "Parabéns pelo trabalho" assim como ouvi da boca de quase todos os investidores, inclusive de um convencido que eu associei ser seu irmão, o mesmo que me devorava com os olhos e que não perdeu tempo para vir em cima de mim quando eu avistei o presidente saindo e sendo seguido pela sua secretária. — Calma, docinho. Meu irmão é assim mesmo. – Ele sorri amarelo. – Saudações, elogios, mimimi no geral, não é muito a praia dele. Mas é a minha. – Ele diz sorrindo arrebatadoramente, achando que terá algum feito sobre mim. Logo eu, que sou camuflada pra homens canalhas? Tadinho! – Muito prazer, me chamo Eros Carrielo e sou o seu vice presidente. – Ele diz pegando na minha mão e beijando o torso da mesma. — Meu vice presidente não, presidente da empresa. – Sorrio sem mostrar os dentes, no puro deboche. – Mas muito prazer, senhor Eros, me chamo Cherry Saint. Agora, se me der licença, tenho muito o que fazer na minha sala. Adeus! – Digo soltando a minha mão dele, reunindo toda minha papelada, pego meu laptop, minha bolsa e saio apressada, deixando o tal vice presidente com cara de tacho. — Acho que encontramos outra mau humorada aqui dentro da empresa. – Saio da sala sem deixar de ouvir seu comentário irreverente, reviro os olhos. Que mania desses homens galinhas de achar que são todas as mulheres que vão cair no papinho sem graça deles. Reviro os olhos e atravesso o corredor para a Ala A do presidente, onde está o elevador. Tento manter meu foco em entrar no elevador, chegar na minha sala e esquecer esse homem que vem perturbando meu pensamento, mas antes mesmo de eu chegar no elevador, já estou com o pescoço estirado para o lado a ponto de tentar ver o presidente. Mas, as portas duplas de madeira estão fechadas, o que me deixa frustrada porque queria ver seu rosto bonito por pelo menos uma última vez. A secretária dele me olha e acena. É uma senhora, bastante experiente, por sinal. Conheci ela quando fui contratada pelo senhor Eduardo Carrielo, o fundador da empresa. Aceno de volta e jogo beijo. Assim que entro no elevador, suspiro fundo, como se tivesse prendendo o ar todo esse tempo. Saio no quinto andar e vou caminhando pra minha sala, apressadamente, querendo dar a notícia para os meus colegas de trabalho. E assim que chego, observo os dois de papinho. Rio. — Adivinhem? – Pergunto colocando minhas coisas na minha mesa e dando pulinhos de alegria enquanto bato palmas. — Conseguiu? – Os dois levantam vindo até mim e eu concordo, quase chorando de tanta alegria. Abraço os dois eufóricos. — Eles me aceitaram! O Projeto foi aceito! Estamos dentro! – Digo encarando-os, eles me abraçam novamente me desejando os parabéns, mais uma injeção de bom humor para essa semana. Sento na minha cadeira contatando os Árabes pelo e-mail com a decisão do presidente e investidores. Assim que mando o e-mail, recebo outro da mesma empresa dos Árabes informando um coquetel que terá aqui no Rio de Janeiro para as duas empresas comemorarem a conquista tão cobiçado por eles. E agora, por nós. Mando uma cópia para o e-mail profissional do presidente, o coquetel será daqui há algumas semanas, e eu poderia levar até 2 pessoas de fora da empresa comigo. Os convites ficaram de chegar até semana que vem. As horas passam rápido inclusive, olho no meu Rolex e percebo que já passam das 19h da noite quando vejo Mirela e Ralph se despedindo para ir embora. A janela aberta e grande que está à frente da minha sala me recepciona com um vento frio daquela noite estrelada, levanto me espreguiçando e sentindo todo o meu corpo estalar por ficar horas sentada resolvendo os meus trabalhos e sentindo minha barriga roncar por comer, apenas, uma barrinha de proteína com um suco de maracujá que o Ralph trouxe do almoço pra mim. Desligo a minha luminária que fica em cima da minha mesa, desligo meu computador e pego minha bolsa segurando a alça pelo ante-braço. Caminho pelo grande corredor até chegar o elevador, e percebo que a maioria dos funcionários da empresa já foram embora, inclusive suas secretarias. Chamo o elevador e abro a minha bolsa procurando meu celular e a chave do meu carro. Assim que o elevador chega no meu andar, entro sem olhar e sinto impacto do meu corpo bater com uma muralha, que me joga pra trás me desequilibrando mas que, instantaneamente, me segura pela cintura. Olho pra cima desconcertada e assustada, e sinto minha face enrubescer por ver que quem me impediu de cair, foi o presidente. O mesmo moço bonito que subiu comigo no elevador quando cheguei. Isso aqui é o que? Pegadinhas do destino? Ele aperta minha cintura ainda encarando minha face assustada em tom de reprovação, me arrepio ao sentir sua pegada e retomo a minha postura. — Desculpe. – Falo, baixo. Me sentindo intimidada como nunca me senti antes. — Preste atenção por onde anda. – Ele diz áspero. Olho incrédula. Que grosso do c****e! — Eu já te pedi desculpa. Aceita se quiser! – Falo num tom mais alto e ríspida, vendo seu rosto se curvar num sorriso. — Está nervosa? – Ele diz levantando a sobrancelha, debochado. E paro para reparar nele que aparenta estar mais cansado do que quando chegou, o cabelo desgrenhado e o paletó apoiado no mesmo braço que carrega a maleta na mão. — Babaca! – Digo assim que o elevador chega no térreo, saindo pisando fundo. Ouvindo apenas o barulho do meu salto batendo no chão. — Não esquece que eu sou seu chefe e que posso te demitir num piscar de olhos. – Ele diz, sério. E eu vacilo no meu passo, olhando pra trás. Preocupada, porém invicta. Jamais demonstrando fraqueza. — Vai me demitir por quê, afinal? – Viro para frente olhando o seu rosto e colocando a mão na cintura, desafiando-o. – Por te agradecer por ter me segurado e você me tratar com estupidez? Faça-me o favor, senhor Carrielo. – Viro novamente e aciono o alarme do meu carro, caminhando até o mesmo. Onde não dou espaço pra ele responder, apenas entro jogando minhas coisas no banco de trás e colocando a chave na ignição. Antes de manobrar o carro para sair, abro a janela vendo ele abrir a porta do carro que está ao lado do meu. — Cuidado para não bater com o carro por aí ou em alguém. Está muito estressada pro meu gosto. E sabe como é, né? Mulher no volante, perigo constante. – Ele pisca e entra no carro fazendo-me abrir a boca perplexa. Saio daquele lugar o quanto antes para não mandá-lo ir a merda. Definitivamente, o encanto acabou. Atravesso as ruas movimentadas do Rio de Janeiro bufando de um em um minuto e assim que chego em casa, olho a Aurora, minha melhor amiga, jogada no enorme sofá-cama da sala comendo brigadeiro e assistindo algum filme, ela me olha chegando e vira o pescoço para me mandar um beijo. Me jogo no sofá fofo que recebe meu corpo num abraço de urso. Oh meu Deus, isso é delicioso! Olho pra minha amiga que me olha assustada e depois me abraça, dizendo que está com saudades. Pego a sua colher e enfio uma colher com brigadeiro de panela na boca. — Amiga, daqui há algumas semanas temos um evento chique da companhia para ir. Não esquece. – Ela vibra, é mais elétrica e animada que eu para ir a esses lugares. — Será que encontro algum gatinho? – Ela diz sorrindo com segundas intenções e eu maneio a cabeça negativamente, rindo. – Depois me diz o horário exato para que eu possa organizar minha agenda. – Ela diz animada e eu concordo. Conversamos sobre algumas coisas e eu decido ir pro meu quarto após comer um macarrão ao molho branco que a Aurora fez para o jantar. Assim que entro no meu mundo aconchegante, tomo um banho relaxante ainda pensando naquele i*****l. Que ódio desse cara! Como pude ter notado aquele s*******o? Definitivamente: Mau humor contagia. Bufo, saindo do boxe e calçando minhas peças confortáveis para dormir. Um blusão e calcinha de vovó, porque não sou obrigada a dormir com um monte de negócio me apertando. Passo meus cremes, seco meu cabelo e saio ligando meu ar condicionado. Ativo meu alarme após desligar a luz e deito na minha cama entrando em um sono profundo.
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