Eu deveria contar?

959 Words
Camila: Após virar de um lado para outro na cama e não conseguir pregar o olho, peguei um casaco, meu celular, meus fones e desci para a piscina. Me deitei em uma das espreguiçadeiras, pus os fones no ouvido e fechei os olhos. Estava tão destraída com a música que bem percebi que alguém se aproximou de mim. Abri os olhos e me sentei num pulo na espreguiçadeira ao sentir tirarem um dos fones do meu ouvido. —O quê faz aqui fora a essa hora?—era ele, o professor Miller—Não era para estar dormindo?Sairemos cedo amanhã! —Eu perdi o sono!—falei. —Algo te preocupando?—ele questionou se sentando ao meu lado. —Não, é coisa minha!—menti Na verdade era coisa dele. Do belo par de chifres que a namorada estava pondo nele. —Sobre hoje na piscina!—ele disse—Quer falar sobre isso? —Não, tá tudo bem!—neguei. —Pode confiar em mim, sou seu professor!—ele olhou firme para mim—Pode confiar! —Minha mãe foi quem me inspirou a fazer paisagismo!—falei—Ela amava flores, e eu amava ela, muito. Ele me escutava com atenção. —Ela morreu de câncer!—falei—Eu tinha dez anos, eu estava no quarto de hospital na hora, eles me tiraram para fora quando tudo começou, eu queria ir até ela e tentar ajudá-la de alguma forma, mas um enfermeiro me segurou forte e impediu que eu fosse até ela!—falei com o coração doendo—Desde então eu passei a odiar que me tocassem, só me sinto confortável com pessoas muito íntimas como minha tia Ciara e minha melhor amiga Karen! —Entendo!—ele disse—Mas você sabe que pode procurar ajuda não é? –Eu decidi começar a fazer isso!—falei—Karen sempre me pediu para tentar me abrir mais, vou fazer o que ela pediu. —Eu fico feliz!—ele sorriu—Agora, por que não retorna ao seu quarto e tenta dormir? —Ok!—sorri para ele.—Só vou ficar mais um pouquinho e já vou. —Então vou te fazer companhia até você ir!—ele disse sorrindo—Também estou sem sono. Passamos um bom tempo falando sobre coisas idiotas. Ele era uma companhia incrivél. Enquanto conversávamos eu me perguntava se deveria contar a ele sobre a traição da namorada dele. Ele foi tão legal me ouvindo falar sobre minha mãe, não seria um erro da minha parte saber esse segredo e não contar a ele? Sem contar que eu não sofreria mais vendo ele com ela. Sim, eu deveria mesmo contar a ele, e eu ia fazer isso. —Bom, acho que já vou!—ele disse se levantando. —Professor!—chamei —Sim?—ele se virou para mim. —É que...—olhei para ele, eu não conseguiria fazer aquilo, eu não poderia contar a ele, mesmo sendo o certo a fazer—Obrigada por se importar! —Por nada!—ele sorriu—Boa noite. —Boa noite! Sorrindo ele voltou para o quarto. Por mais que a namorada dele estivesse errada, eu não era r**m, eu não conseguiria me aproveitar disso para me aproximar dele. Assim, apenas suspirei resignada e retornei para meu quarto. Curtinas brancas transparentes balançavam pelo corredor, o sol graciosamente penetrava o ambiente. Segui lentamente pelo corredor. A silhueta de alguém se projetava ao fim do corredor. Ele me olhou sorrindo e estendeu a mão. Segurei firme a mão que ele me estendia. Seu toque era macio e cálido. Ele me guiou para outro lugar, eu não enxergava nada além daquele homem. Seus dedos tocaram meu rosto numa suave carícia. Seus lábios roçaram minha pele e sua voz sussurrou em meu ouvido. —Você será minha está noite?—ele perguntou. Senti seu hálito quente contra minha pele. Meus pelos se eriçaram. Instintivamente, balancei a cabeça em afirmativa. —Ajoelha! Acordei dando um pequeno salto sobre a cama. Meu corpo estava suado e minha respiração descompassado, meu coração batia tão rápido que tive medo dele saltar fora do peito. —O quê foi isso?—me questionei. Olhei as horas no celular e ainda eram 04:00 da manhã. Me deitei novamente e tentei dormir, mas foi uma tentativa falha. Então, me levantei e após tomar um banho arrumei minha mala e trabalhei mais um pouco no trabalho da faculdade. A volta para casa foi até bem tranquila, mas eu ainda estava me martirizando por não ter sido capaz de revelar ao professor sobre a traição de sua namorada. Então, como eu não conseguia dizer, restava-me apenas esperar e torcer para que a consciência dela pesasse. A volta para a faculdade foi bem agitada, mas o professor Bruce sempre estava lá para tirar nossas dúvidas e nos auxiliar no trabalho. —Lembrando que, o melhor trabalho vai ganhar uma viagem para conhecer projetos arquitetônicos, a arquitetura é o paisagismo da França!—ele disse—Se esforcem! Com esse incentivo, todos trabalhamos duro em nossos trabalhos, para obter bons resultados. Eu não estava muito interessada na viagem, queria fazer um bom trabalho porque era o jardim dos sonhos da minha mãe, era nosso sonho juntas. Então, eu pus minha alma naquele projeto, para que dê onde ela estivesse, se orgulhasse de mim. Também resolvi procurar ajuda para superar meu trauma em relação às pessoas me tocarem. Procurei ajuda psicológica, e recebi ótimos conselhos. Aos poucos fui me aproximando das pessoas. Um passo de cada vez. Paciência e perseverança, como minha mãe me ensinou. "Você se sentiria orgulhosa de mim mamãe!" Sorri feliz ao me preparar para a apresentação do trabalho.
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