Tantas coisas acontecendo

690 Words
Enquanto Felipe estava empolgado com os resultados aparentemente bem satisfatório de suas novas ideias, Lúcia andava de um lado para o outro tentando encontrar alguma coisa para fazer - ou ao menos alguma ideia que lhe fizesse usar um pouco do seu tempo livre. - Qual é o problema, irmãzinha? - ele questiona. - O ócio - ela suspira - o ócio me mata... Sabe que eu não consigo ficar em casa sem ter o que fazer, sabe que eu preciso trabalhar, que eu detesto não ter uma coisa para fazer, um foco, um objetivo... - ela encara o irmão - eu simplesmente não sei o que fazer. - Ninguém sabe, Lúcia - ele tenta confortar a irmã - no fim das contas, acho que nos cabe ser pacientes e esperar por melhores notícias, entende? - E até lá? - ela pergunta - Acha que eu vou conseguir ficar aqui em casa... - Pensa pelo lado positivo: temos uma casa grande, com quintal, com verdade, espaço... Imagina as pessoas que vivem em apartamentos no centro, em cidades grandes... Pessoas que m*l vão poder abrir as suas janelas em paz, Lúcia. Nós ainda somos privilegiados - ele tenta mostrar o lado bom à sua irmã - nós temos uns aos outros, espaço... O que fazer? Isso nós vamos acabar arranjando com o tempo, tenha paciência. - Uhmmm - ela resmunga, ainda sem estar muito convencida - e a mamãe? - O que é que tem a mamãe, Lúcia? - ele pergunta. - Sabe que ela está nervosa, preocupada - ela suspira. - Todos nós estamos - Felipe constata - mas as coisas vão se esclarecer, vão melhorar... Lúcia desiste: o otimismo do irmão era uma coisa que às vezes, a incomodava bastante e ela não estava com paciência para atuar aquilo. Felipe revirava os websites, pesquisando, lendo, tentando entender tudo o que estava acontecendo: desde os riscos reais à aqueles que eram apenas um exagero das pessoas. As coisas estavam ficando sérias, haviam pessoas morrendo, muitas e muitas pessoas morrendo. Gente jovem e velha. Crianças. Em vários lugares pelo mundo, tinha gente adoecendo, piorando e morrendo. Países estavam fechando as suas fronteiras, pessoas estavam começando a ficar presas em suas casas. Supermercados começavam a demonstrar sinais de desabastecimento, pessoas disseminavam notícias falsas dos mais variados tipos: alguns aumentavam o problema enquanto os outros, o diminuíam, sempre visando os seus próprios interesses. O professor sabia que em breve, o Governo precisaria começar a tomar medidas em relação à educação: as crianças não podiam simplesmente parar e não ter aulas, principalmente sabendo ele que aquele tempo não poderia ser facilmente recuperado tempos depois. Felipe acreditava que alguma coisa – provavelmente usando meios tecnológicos – seria feita em alguns dias visando amenizar o impacto daquilo que estavam chamando de Pandemia tanto para o ensino fundamental quanto para o ensino médio. Claro que ele concordava que a saúde e a integridade dos pequenos era o mais importante, mas manter todos em casa sem atividades não parecia bom. Os seus alunos, especificamente, já eram grandes. Haviam grupos de w******p onde eles trocavam mensagens o tempo todo. Felipe sabia que poderia continuar “dando aulas” de forma adaptada à aquele recurso, caso não houvesse outra alternativa mas, o distanciamento das atividades sociais era sim um problema que também precisava ser levado em consideração: a humanização do processo, a conversa e a troca eram parte da educação como um todo, e tirar isso dos alunos, significava, em muitos casos, isolar eles de todo e qualquer tipo de convívio social, o que poderia acarretar outros problemas como depressão, ansiedade e outros males. Ele estava focado em fazer a sua parte: Felipe sabia que precisava do apoio da escola para algumas coisas mas, ao menos o convívio social dos seus alunos estava garantido: ele procuraria por materiais para a discussão do grupo, como livros, filmes e documentários que estivessem disponíveis de forma gratuíta e acessível à todos. Ele incentivaria a discussão dos materiais, elencaria tópicos para construção de resenhas críticas pelos alunos e rezaria para que tudo isso fosse suficiente, para que eles pudessem tirar algum proveito desse empenho.

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