O dia havia passado em uma velocidade impressionante. Era sempre assim quando estavam se divertindo: tudo ficava mais leve e agradável, o que era algo bom para esquecer os dias de trabalho intensos. Sofia observava o seu irmão, que mantinha uma mão protetora sobre o ventre de Estela. Em breve, o seu novo sobrinho chegaria, e ela já percebia a transformação de Ricardo com aquela espera. Ele era um pai incrível e um marido ainda melhor.
Sofia olhava para Ricardo com orgulho. O seu irmão poderia ter seguido um caminho sombrio, mas escolheu a fidelidade como companheira para a vida. E, por mais que os seus negócios fossem obscuros, ele era honrado e leal. Ao ver o carinho com que ele tratava Estela, um sorriso se abriu no seu rosto. Parecia que o menino que não havia recebido amor era o que mais sabia doá-lo.
Ricardo sentiu um olhar sobre ele e, ao procurar pela origem, encontrou os olhos de Sofia. A surpresa tomou o seu rosto ao perceber tanto amor no seu olhar. Ele suspirou, sabendo que não podia mais adiar a conversa com a sua irmã. Era hora de colocar tudo em pratos limpos.
Estela acompanhou o olhar de Ricardo e entendeu o que se passava na sua mente. Aquela conversa não seria fácil, mas era necessária para ambos.
— Apenas seja sincero e tenha paciência com ela — disse Estela, dando-lhe um beijo nos lábios antes de se levantar do seu colo. Ricardo sorriu; Estela podia ser calma, mas era extremamente observadora.
— Obrigado, querida — respondeu ele antes de caminhar até onde Sofia estava. — Vamos, Sofia. Está na hora de uma conversa.
Sofia o encarou por um instante antes de seguir atrás do irmão. Os outros observavam em silêncio, pois sabiam bem sobre o que seria aquela conversa. Em um canto, Yuri acompanhava Sofia caminhando ao lado de Ricardo calmamente, com o coração apertado diante do que estava por vir. Muitas perguntas surgiam na sua mente: será que ela o aceitaria? Ficaria brava? E, principalmente, a que mais o incomodava todos os dias: algum dia ela o amaria?
Ricardo manteve a porta do escritório aberta e, assim que Sofia entrou, fechou-a, sentando-se à frente dela.
— Para me chamar aqui, acho que já sei do que se trata — disse ela, com um sorriso triste nos lábios. Aquilo partia o coração de Ricardo. Ver a sua irmã tão conformada com o destino que ele decidisse para sua vida não era o que ele desejava.
— Eu tentei, Sofia. Tentei mesmo prolongar a sua liberdade. Queria tanto que você realizasse todos os seus sonhos — disse Ricardo, suavemente, encarando os olhos castanhos da irmã, iguais aos seus.
— Sempre soube que esse dia chegaria, irmão. Não o culpo. Você tem feito tanto por mim que seria muita ingratidão da minha parte não reconhecer isso — respondeu ela, deixando Ricardo ainda mais angustiado. Sofia agia como um cordeiro indo para o abate. Nenhuma palavra de contrariedade saía dos seus lábios, quando tudo o que Ricardo queria era que ela tirasse aquela máscara, chorasse e protestasse como qualquer pessoa faria. Mas sua irmã não era assim. Ela era uma dama, e, mesmo que não concordasse, agiria como tal.
— Pare! — exclamou ele, assustando-a. Sofia não entendia o que havia dito de errado. — Não quero ouvir isso, Sofia. Só quero que você aja como qualquer pessoa normal. Que grite, brigue comigo e diga que estou sendo injusto com você!
Sofia arregalou os olhos, encarando o irmão, que passava as mãos pelos cabelos, como se fosse arrancá-los da cabeça. Ele estava bravo. Mais do que isso, aquilo a destruía por dentro, pois sabia que, de certa forma, era sua culpa, mesmo que Ricardo não visse dessa maneira.
— Não sou uma criança, irmão. Sei como as coisas funcionam e não vou lamentar o meu destino como uma menina mimada — disse ela, firme, com os olhos cheios da mesma determinação de Ricardo. Ele sabia que seria inútil lutar contra ela. Sofia era muito parecida com ele, e ele jamais venceria aquela disputa.
— Tudo bem, Sofia — respondeu ele, suspirando. — Você sabe que tenho recebido muitos pedidos de casamento para você. Tenho lidado com isso da melhor forma possível.
— Sei disso. Yuri me contou que tinha um acordo com você para me proteger dessas propostas — respondeu ela.
— Sim, fizemos isso para ganhar tempo, e funcionou. Mas agora não dá mais para adiar — disse ele.
— Irmão, me tire uma dúvida: não sou mais a herdeira da máfia Algustini. Então, o que essas outras organizações veem em mim? — perguntou ela, tranquila.
— Você é minha irmã, e todos sabem que a minha família é sagrada para mim. Não há nada que eu não faria por você, querida — respondeu ele, com um sorriso triste. Sofia compreendeu aquilo. No mundo deles, tudo girava em torno de poder, e qualquer um que se casasse com ela teria o apoio de Ricardo, por causa do laço de sangue entre eles.
— Eu entendo isso.
— Queria que fosse diferente, Sofia. Queria que você, como a Mel, encontrasse alguém que amasse. Eu não costumo rezar, mas, nos últimos meses, tenho rezado para que isso aconteça. Assim, eu poderia te casar com alguém que você realmente desejasse, e não por conveniência. — As palavras de Ricardo eram doces aos ouvidos de Sofia. Ele sabia como emocioná-la, mesmo sem querer. E ela já havia decidido: não importava com quem fosse, faria aquilo pela sua família. Desde que os tivesse ao seu lado, ficaria tudo bem.
— Quem sabe, irmão? Talvez eu acabe me apaixonando por ele — disse ela, rindo tranquilamente. — Tudo o que importa para mim é ter vocês ao meu lado. O resto pode se ajeitar com o tempo.
Uma centelha de esperança acendeu no coração de Ricardo. Talvez nem tudo estivesse perdido. Talvez ainda houvesse esperança de que aquilo desse certo.
— Fizemos um acordo, Sofia. A pessoa que aceitei para você concordou que você continuaria estudando e vivendo a sua vida, sem interferências. E ele jamais te tocaria sem a sua permissão — explicou ele.
Aquilo chamou a atenção de Sofia. Ela se sentiu grata pelo cuidado do seu irmão.
— Quem é ele, irmão? Quem é o meu noivo?