O momento havia chegado. Não havia mais como adiar aquela resposta, e, mesmo temendo a reação da sua irmã, Ricardo precisaria contar toda a verdade sobre o que havia sido combinado.
— É o Yuri, Sofia. — As palavras de Ricardo foram um mero sussurro no escritório, e, por um segundo, Sofia achou que não havia escutado direito.
— Desculpe, você disse o Yuri? — perguntou ela novamente, fixando o olhar em Ricardo.
— Sim, você não ouviu errado. Aceitei o pedido de casamento do russo, Yuri Ivanov. — Sofia recostou-se na cadeira em choque. Aquilo não era exatamente o que ela esperava ouvir do seu irmão.
Sofia começava a perceber que, agora, alguns comportamentos de Yuri faziam mais sentido: a forma como ele sempre se aproximava dela nos eventos, como afastava qualquer pessoa que tentava se aproximar, e, por último, aquele beijo de boa noite que ele havia lhe dado. Yuri sempre estivera lá, de forma discreta, mas sempre por perto.
— Desde quando vocês têm esse acordo, Ricardo? — perguntou ela, voltando o olhar para ele.
— Fizemos esse acordo alguns meses depois que você veio morar comigo. No começo, fiquei furioso com ele. Ninguém jamais será bom o suficiente para você, querida. Ainda quero matá-lo por isso, mas também preciso ser realista. — Ricardo suspirou, deixando-se cair na cadeira. — Yuri é protetor, leal e um bom amigo. E ele sabe que, se fizer algo que te machuque, eu mesmo darei fim na vida dele.
Sofia encarava o irmão, notando a sombra que cruzava o rosto dele. Ela sabia que ele falava sério. No fundo, Sofia percebia que, se tivesse prestado atenção, teria descoberto isso mais cedo. Os sinais sempre estiveram lá, mas ela estava ocupada demais com outras preocupações para notar. Ainda não sabia bem o que pensar sobre aquilo, mas, ao menos, pensar em Yuri fazia o seu corpo arrepiar. Havia algo nele que a deixava sem ação.
— Estou bem com esse arranjo, irmão — disse ela. As suas palavras não surpreenderam Ricardo; ele já esperava por aquilo, mas ainda o incomodava, para ele Sofia era apenas uma menina aos seus olhos, e dar ela a Yuri fazia ele reconhecer que a sua irmã tinha crescido e se transformado em uma linda mulher.
— Tem algo que você precisa saber, Sofia — disse ele com o rosto sério.
— O que seria? - pergunta com a sobrancelha arqueada.
— É um detalhe do nosso acordo, mas deixarei que ele te conte sobre isso. — Ricardo estava mais tranquilo. Afinal, a sua irmã ainda teria uma escolha. Esse era o acordo: se ela não se apaixonasse por Yuri, ele a deixaria livre.
Ricardo pegou o telefone e mandou uma mensagem para Yuri. Alguns minutos depois, ouviu uma batida na porta. Antes de abrir, virou-se para Sofia.
— Converse com ele, Sofia. Conheça-o antes de tomar qualquer decisão. — Os olhos de Ricardo eram intensos sobre os dela, e ele esperava que ela pudesse enxergar através dele que ela tinha uma escolha.
— Farei isso, irmão — respondeu ela.
Ricardo abriu a porta e encontrou Yuri parado do lado de fora, aguardando. Ao ver o rosto machucado de Yuri, um sorriso de satisfação surgiu nos seus lábios.
— Ao menos disfarça que não gostou de fazer isso — disse Yuri, apontando para o próprio rosto.
— Não mesmo, russo. Adorei cada segundo. — Ricardo afastou-se para que Yuri entrasse.
Yuri viu quando Sofia virou-se um pouco, os seus olhos encontrando os dele. Aqueles olhos castanhos que sempre o encantavam terrivelmente. Não havia choque nem desgosto no rosto dela, apenas conformação com o que estava acontecendo. Era algo que ele já esperava dela, mas que ainda assim o deixava apreensivo.
— Já conversei com Sofia, expliquei os nossos termos, e aquela cláusula especial do acordo você conta a ela quando desejar. Não vou interferir — disse Ricardo com olhos sombrios. Yuri sabia que, se usasse aquela informação de forma errada, Ricardo o despedaçaria. Mas ele jamais faria isso. Amava a mulher à sua frente e não a magoaria.
— Não se preocupe. Cuidarei bem dela — respondeu Yuri.
— Acho bom mesmo. Você não vai querer me ver batendo na sua porta — retrucou Ricardo, sentando-se novamente. — Vou marcar o noivado formal de vocês para a próxima semana, se estiver tudo bem.
Os olhos de Yuri voltaram-se para Sofia, que continuava em silêncio, apenas observando a conversa entre eles.
— Está bem com esse arranjo, Sofia? — perguntou Yuri, com a voz suave.
— Estou bem com isso, Yuri — respondeu ela, olhando diretamente para ele. — Semana que vem está bom, irmão. Já terminei o curso, então terei tempo livre.
Yuri sentia-se como se estivesse numa reunião de negócios e não discutindo a sua vida amorosa.
— Ótimo. Vou preparar tudo até lá — disse Ricardo, levantando-se e olhando para ambos. — Conversem e se acertem. Qualquer coisa, estou aqui, irmã. É só dizer, e eu chuto o traseiro dele.
Ricardo viu, com prazer, um sorriso curvar os lábios da irmã. Ele queria que ela tivesse certeza de que sempre teria a sua proteção, não importava com quem estivesse. Ele saiu, deixando-os a sós. Sabia que precisavam resolver as suas diferenças, e isso não aconteceria com ele por perto.
— Podemos dar uma volta? — perguntou Yuri, levantando-se e estendendo a mão para ela. Sofia hesitou um pouco, mas sabia que não adiantaria fugir do seu destino. Em breve, estaria acordando com Yuri ao seu lado, então um passeio não significaria nada perto disso.
— Tudo bem — disse ela, suspirando, enquanto colocava a mão sobre a dele.
Aquela sensação fez o coração de Yuri disparar. Era bom ter a pele de Sofia em contato com a sua, e ele havia esperado muito tempo para poder simplesmente segurar a sua mão sem medo ou mentiras. Agora era oficial: Sofia era sua. O seu maior desafio, a partir daquele momento, seria fazê-la se apaixonar por ele. E ele estava disposto a tudo para vencer esse desafio.