O homem olhava horrorizado para Yuri. Ele não desejava entrar numa guerra por algo tão superficial quanto aquilo, mas via nos olhos de Yuri que ele não cederia sobre aquele assunto. Ao olhar para sua filha, seus olhos se escureceram ao perceber que a razão de tudo aquilo era justamente o seu comportamento incorrigível.
Ele se afastou dela e, olhando nos seus olhos, desferiu um tapa no seu rosto, derrubando-a no chão. Ela o encarava, chocada, como se não acreditasse que ele realmente tivesse feito aquilo. Não o seu pai.
— Como se atreve a insultar a senhorita Algustine e o senhor Yvanov! — esbravejou ele.
— Mas, pai... — começou ela, mas outro tapa do homem a calou novamente.
— Cala a boca! Você não está em posição de falar. Agora peça desculpas a eles — disse ele, esperando que ela entendesse que, se não o fizesse, jamais escapariam das mãos de Ricardo. Conhecia a fama do homem e a sua influência, e ele não queria ser um nome na sua agenda.
Letícia não acreditava no que estava acontecendo. Ela estava sendo humilhada na frente de todos. Os seus olhos se arregalaram, e, ao olhar para Sofia, a sua raiva aumentou ainda mais.
— Isso é tudo culpa sua! Se tivesse me dado as joias, nada disso teria acontecido! — gritou, deixando todos chocados.
— Já que insiste em continuar com esse comportamento, eu não vejo outra escolha a não ser resolver isso com Ricardo — disse Yuri, com a sobrancelha arqueada.
— Não! Por favor, Dom, eu vou discipliná-la por isso — disse o homem antes de se voltar novamente para Letícia e lhe dar vários tapas no rosto. — Peça desculpas, ou vou cortar todos os seus cartões, Letícia. Vou te deixar na miséria!
Sofia olhava chocada para aquela cena. Ela não queria ver aquilo. Não imaginava que um ser humano pudesse ser tão mesquinho e egoísta quanto a mulher à sua frente era.
— Não pode fazer isso comigo, papai! — disse ela, chorando aos seus pés.
— Cansei disso — disse Yuri, com os olhos escuros. — Dimitri, leve-os. Depois resolvo isso.
— Espere, Dom, posso resolver isso! — pediu o homem, desesperado ao ver o olhar sombrio de Yuri.
— Sua oportunidade já passou. Não tenho saco para lidar com uma pirralha mimada e egoísta — disse ele, com os dentes trincados.
Dimitri sabia bem o que aquilo queria dizer. Apenas agarrou o homem pelo braço, arrastando-o para fora. Outro soldado pegou Letícia e fez o mesmo. Quando eles saíram, Yuri olhou para Sofia, aliviado. Ela riu da sua expressão.
— Do que está rindo? — perguntou ele, curioso.
— Você parece aliviado — disse ela.
— E estou. Odeio lidar com essas coisas — a suas palavras fizeram o riso morrer nos lábios de Sofia.
— Lamento que tenha que fazer isso, Yuri. Não queria chateá-lo — aquilo chamou a atenção de Yuri, e ele percebeu que Sofia havia entendido m*l as suas palavras.
— Não é o que pensa, Sofia. Por você, faria qualquer coisa. Mas o fato dela ser mulher me deixa em desvantagem para lidar com ela. Mas vou resolver isso — Sofia não acreditava no que ele havia dito. Antes que ela perguntasse, ele já a puxava para a mesa onde várias joias estavam espalhadas. — De qual você gostou?
— Elas são lindas. É difícil escolher uma, mas espero que saiba que só vou aceitá-la se o meu irmão permitir — disse, olhando para ele. Yuri sorriu com aquilo. Sofia nunca abaixava a guarda perto dele.
— Sou seu noivo. Posso te dar uma joia — disse ele.
— Olha, Yuri...
— Apenas aceite desta vez. Me entendo com Ricardo depois — insistiu ele.
Sofia olhou para Yuri e viu que ele não mudaria de ideia, então resolveu aceitar o seu presente. Sempre poderia devolvê-lo se o seu irmão não gostasse.
— Tudo bem — disse, por fim.
— Ótimo — disse Yuri, animado. Ele olhou as várias joias sobre a mesa até que os seus olhos pararam numa corrente de prata com um pingente de diamante em formato de gota d’água. A corrente era simples, assim como os brincos e o pingente, e ele achou que Sofia gostaria daquele. — Que tal esse?
Sofia olhou o conjunto de joias encantada com a sua delicadeza. Era simples, como ela gostava, mas, mesmo assim, belo.
— Ele é maravilhoso — disse ela, sorrindo.
— Então será esse. Pode embrulhar, que vou levar — disse ele à vendedora.
Rapidamente, ela arrumou tudo, entregando uma sacola a Sofia com as joias. Yuri pegou a sacola da sua mão enquanto a acompanhava para fora do shopping.
— Te pego mais tarde, às sete, está bem? — disse ele, virando as costas e saindo. — Ah, não se esqueça de fazer as malas.
— Estarei pronta — disse Sofia, entrando no carro. Ela olhava a sacola com as joias ao seu lado com carinho enquanto o carro partia.
Sofia m*l havia entrado em casa quando o seu telefone tocou, e não era nenhuma surpresa ver o nome de Ricardo piscando na tela. Com um sorriso, ela atendeu.
— Oi, irmão. Antes que pire, estou bem. Não foi nada — disse ela.
— Como não foi nada, Sofia?! Alguém teve a audácia de desrespeitar você por algo que era seu, e você diz que não foi nada?! — era como se Sofia visse Ricardo passando a mão pelos cabelos, desesperado.
— Yuri já resolveu tudo — disse ela, tranquila, sem saber como o seu irmão interpretaria aquilo.
— Acho bom mesmo. Nunca peço nada a ele. O mínimo que ele tem que fazer é cuidar de você — aquilo surpreendeu Sofia.
— Irmão, ele anda estranho comigo. Aconteceu algo que eu ainda não sei? — as palavras de Yuri ainda não saíam da sua cabeça. Ele a tratava como se o que tinham fosse real, e, até onde ela sabia, não era.
— Temos muito o que conversar, Sofia. Quando chegar aqui, te explico tudo — disse ele com uma voz mais séria.
Os olhos de Sofia se escureceram. Ela conhecia Ricardo e sabia que tinha algo errado. No outro dia, ela descobriria o que eles estavam lhe escondendo.