Yuri não conseguia tirar os olhos de Sofia. Ela conversava animada com as outras, e ele podia ver o quanto ela estava precisando daquilo: sentir-se em casa. Lentamente, os homens da casa começaram a sair, subindo para o terraço. Ali era o seu lugar de paz e confissões, onde todos se sentiam à vontade para falar sobre qualquer coisa.
— Sabe do que estou me lembrando? — pergunta Aurélio a eles com um sorriso no rosto. Os outros olham para ele com curiosidade, e, vendo a sua animação, sabiam que aquilo não poderia ser bom.
— Diga logo, Aurélio. Não faça suspense — diz Hideo.
— Chato — responde ele a Hideo, antes de se voltar para os outros. — Você aceitou uma luta no tatame com o Ricardo, Yuri.
Todos encararam Yuri sorrindo. Aquilo era verdade, mas fazia tanto tempo que eles haviam se esquecido daquela luta. Ao que parecia, Aurélio estava decidido a trazer aquilo à tona. Na Fênix, eles tinham uma forma diferente de lidar com os seus problemas, e "sair no braço" era uma das soluções.
— Verdade, obrigado por me lembrar, Aurélio — diz Ricardo, com um sorriso que fez o corpo de Yuri se arrepiar.
— Não pode estar falando sério — diz Yuri, passando a mão pelos cabelos.
— Estou. E, até onde me lembro, você tinha aceitado. Ou vai dar para trás agora, russo? — provoca Ricardo, com a sobrancelha arqueada.
— Não mesmo. Não vou fugir, Ricardo — responde ele, apesar de saber que provavelmente se arrependeria daquela decisão. Mas Yuri estava decidido a provar a Ricardo que era capaz de cuidar de Sofia.
— Agora sim, isso está ficando interessante — diz Aurélio, animado. — Vamos às apostas, galera!
— Isso vai ser muito interessante — diz Xavier, sorrindo.
— Eu aposto um milhão no chefe. Yuri não tem chance nessa — diz Nico, animado. Ele tinha lutado algumas vezes com Ricardo e sabia o quanto seu chefe era insano.
— Eu vou com o Nico. Você não leva essa, Yuri. Um milhão no chefe — diz Charles, sorrindo.
— Infelizmente, eu vou com os meninos. Gosto muito de você, russo, mas o chefe tem acumulado raiva de você há um tempo. Ele leva essa — diz Klaus, enquanto os outros caíam na risada com as suas palavras.
— Fala sério, vocês duvidam tanto assim da minha capacidade? — diz Yuri, emburrado.
— Não, mas com a raiva que ele tem de você, ele ganha — diz Nico, trocando um aperto de mão com Charles.
— Vou apostar em você, russo — diz Vito, entrando no terraço. — Sei que vou perder o meu dinheiro, mas vou te dar esse apoio.
Os outros começam a rir com aquilo. Até mesmo Yuri não aguenta e começa a rir com eles. Os seus amigos jamais perdiam uma boa piada, ainda mais quando era com outra pessoa que não eles. Mas Yuri levaria aquilo a sério. Para ele, enfrentar Ricardo de igual para igual era uma questão de honra.
— Beleza, podem depositar na minha conta, galera. Vou preparar o tatame enquanto isso — diz Aurélio, com um sorriso de orelha a orelha. Ele gostava de irritar Yuri, e aquilo era perfeito para tirar sarro dele por muito tempo.
As mulheres conversavam, alheias ao que eles aprontavam. Apenas quando perceberam a movimentação resolveram segui-los em direção ao centro de treinamento. Ao chegarem lá, encontraram Ricardo e Yuri no tatame e os outros sentados em volta, com petiscos e cerveja.
— O que está acontecendo? — pergunta Estela, preocupada. Rapidamente, Klaus traz uma cadeira para que ela se sente.
— Eles vão resolver as suas diferenças, senhora — diz Klaus, sorrindo.
— Isso tem cara de outra aposta — diz Síria, pegando uma cerveja da caixa.
— Sim, apostamos, Sí, mas isso vai ser divertido — responde Aurélio, sorrindo.
— Por que não chamaram a gente? — pergunta Alícia, brava com Nico.
— Nos empolgamos, amor — diz ele, puxando-a para seu colo. — Vamos aproveitar o show.
— Eles brigaram? — pergunta Sofia, sem entender por que estavam no tatame, prontos para uma luta.
— Longa história, Sofia. O chefe te conta depois — diz Síria, tranquila.
Ricardo olhava para Yuri querendo o seu sangue. Ele queria, ao menos, arrancar alguns dentes do russo no soco para descontar a raiva que sentia. Sabia que, no fim, não teria outro jeito a não ser entregar Sofia a ele. Mesmo assim, sentia-se protetor em relação a ela. Sofia era sua irmãzinha, e ele nem gostava de pensar no russo perto dela.
— Essa luta é entre vocês dois, sem máfias ou organizações — diz Vito, que seria o juiz. — Isso é entre Ricardo e Yuri apenas. Esperamos que, depois disso, vocês se comportem e deixem de brigar por coisas pequenas.
Todos estavam atentos ao que aconteceria. Ricardo e Yuri usavam apenas calções de luta e faixas enroladas nas mãos. O objetivo daquela luta era gerar dor, então haviam descartado as luvas. Aquela era a oportunidade que eles tinham de extravasar toda a raiva acumulada nos últimos meses.
Yuri encarava Ricardo, olhando nos olhos cheios de raiva. Ele não nutria nenhum sentimento negativo em relação a ele. Ricardo era um bom amigo e um aliado ainda melhor, mas ele não abaixaria a sua guarda. Para Yuri, aquela era a oportunidade de provar ao amigo que, não importa o que ele fizesse, ele jamais desistiria de Sofia.
— Tem certeza que não quer desistir, russo? — pergunta Ricardo, com um sorriso de canto.
— Nunca. Não me importo com o que aconteça hoje, Ricardo. Ela é minha.
Os outros estavam alheios àquela conversa; apenas Vito ouvia tudo, com um sorriso no rosto, admirado com a coragem de Yuri ao enfrentar Ricardo.
— Lembrem-se: nada de jogo sujo. Quero uma luta limpa e sem trapaças — diz Vito, olhando para os dois. Ambos assentem, concordando com ele. — Ótimo. Prontos?
— Sim — respondem juntos.
— Comecem! — diz Vito, afastando-se.