Capítulo 3: Segredos

1222 Words
Os primeiros raios de luz atravessavam as densas nuvens que cobriam Eldoria, mas as sombras ainda se agarravam aos corredores do castelo. No rescaldo do encontro com Lyria, as três irmãs se reuniram na biblioteca do castelo, um lugar repleto de conhecimento antigo e segredos esquecidos. Era o refúgio de Isolde, onde ela passava horas a fio procurando qualquer pista que pudesse ajudá-las a fortalecer sua posição contra as ameaças que se formavam como tempestades no horizonte. Audra estava inquieta, andando de um lado para o outro entre as estantes de livros. "Precisamos fortalecer nossas defesas. Não podemos depender apenas de informações. Lyria é útil, mas seus segredos têm um preço que ainda desconhecemos." Elara, com seu olhar calculista, folheava um tratado de alianças antigas. "Lyria nos deu nomes, e com eles, podemos começar a tecer nossas próprias redes. Alguns desses nobres têm mais a perder do que outros. Podemos usar isso a nosso favor." Isolde, por sua vez, estava absorta em um mapa detalhado do reino, marcando pontos que indicavam os territórios dos nobres mencionados por Lyria. "Esses são os pontos de pressão. Se conseguirmos garantir alianças com os nobres das fronteiras, podemos isolar os que se opõem a nós." A discussão foi interrompida pela chegada de um mensageiro, que entrou na biblioteca com uma urgência palpável. Ele trazia um convite selado com o emblema de uma família nobre influente, os Vanthor, conhecidos tanto por sua riqueza quanto por sua influência política. O convite era para um baile que prometia reunir a elite de Eldoria, uma oportunidade perfeita para as irmãs solidificarem alianças e avaliarem seus inimigos. Audra pegou o convite, franzindo o cenho. "Um baile? Em tempos como estes?" Elara sorriu, vendo uma oportunidade. "É perfeito. Todo mundo estará lá, sob o mesmo teto, com as guardas abaixadas. Podemos usar isso para nossa vantagem." Isolde concordou com relutância. "É arriscado, mas necessário. Devemos ser vistas, mostrar que estamos unidas e fortes. Além disso, podemos usar a ocasião para sondar as verdadeiras intenções dos nossos supostos aliados." Com o plano em mente, as irmãs começaram os preparativos para o baile. Enquanto Audra e Elara discutiam estratégias de segurança e diplomacia, Isolde se retirou para a torre mais alta do castelo, um lugar onde costumava ir para pensar. Lá, ela podia ver todo o reino, suas terras estendendo-se sob o céu carregado. Mas naquele dia, sua mente estava em outro lugar, perdida nos olhos escuros de Lyria. Ela sabia que a informante também estaria no baile, uma presença tanto reconfortante quanto perigosa. O dia do baile chegou rapidamente, e o grande salão dos Vanthor estava deslumbrante, iluminado por centenas de velas e enfeitado com tapeçarias que contavam a história de Eldoria. As irmãs chegaram juntas, magníficas em seus vestidos que combinavam elegância e poder. Enquanto circulavam pelo salão, eram observadas por todos, suas imagens refletidas nos olhares curiosos e, às vezes, hostis dos outros convidados. Elara tomou a frente, conversando com diplomacia e charme, enquanto Audra mantinha uma postura vigilante, observando qualquer sinal de traição. Isolde, contudo, buscava uma figura específica na multidão, seu coração batendo mais forte ao avistar Lyria no outro extremo do salão. Elas trocaram olhares, uma comunicação silenciosa que falava de promessas e perigos. Conforme a noite avançava, as irmãs conseguiram arrancar promessas e garantir apoios, mas também perceberam que os fios de traição eram mais intricados do que esperavam. Alguns sorrisos escondiam facas prontas para serem cravadas em suas costas, e cada conversa era um jogo de xadrez que exigia cuidado e astúcia. No final do baile, enquanto os convidados começavam a se dispersar, Isolde conseguiu se afastar para um corredor escuro, onde Lyria a esperava. A tensão entre elas era palpável, uma mistura de desejo e medo. "Você jogou bem hoje," Lyria sussurrou, seus dedos tocando levemente o braço de Isolde. Isolde olhou para ela, seu coração dividido. "E você, jogou contra nós ou a nosso favor esta noite?" Lyria sorriu, seu rosto uma máscara de segredos. "Por enquanto, meu jogo é com você, princesa. Mas lembre-se, em jogos de poder, tudo pode mudar com um simples sussurro." Com essas palavras enigmáticas, Lyria se afastou, deixando Isolde sozinha no corredor, sua mente girando com as possibilidades do que estava por vir. As peças estavam se movendo rapidamente no tabuleiro de Eldoria, e cada irmã teria que jogar com precisão se quisessem sobreviver ao jogo de tronos em que haviam sido forçadas a entrar. Enquanto Elara estava circulando entre os nobres e Isolde se recuperava do breve encontro com Lyria, Audra mantinha-se à margem, vigilante e sempre atenta. Porém, mesmo em sua postura de guerreira, uma figura conseguiu chamar sua atenção e suavizar sua expressão normalmente dura. Seu nome era Caius, um comandante das terras do norte de Eldoria, conhecido por sua bravura e estratégia militar. Com cabelos escuros como a noite sem lua e olhos de um azul profundo, Caius tinha a reputação de ser um líder justo, mas implacável com seus inimigos. Ele se aproximou de Audra com uma confiança que poucos ousavam mostrar diante da princesa guerreira. "Audra," ele começou, inclinando-se ligeiramente em uma reverência respeitosa, mas sem submissão. "É uma honra vê-la fora dos campos de batalha. Parece que ambos preferimos a lâmina ao baile." Audra, surpresa com a abordagem direta de Caius, permitiu-se um pequeno sorriso. "A lâmina é mais honesta que muitos dos presentes aqui esta noite," ela respondeu, seus olhos avaliando Caius não apenas como guerreiro, mas como homem. "A honestidade em tempos de guerra é uma espada de dois gumes, princesa. Mas vejo em seus olhos a mesma resolução que guia minha mão em batalha," disse Caius, sua voz baixa para que apenas Audra pudesse ouvir. O comentário acendeu um fogo em Audra que ela não esperava sentir naquela noite. Ela e Caius passaram a conversar mais sobre estratégias e alianças, mas com cada palavra, uma conexão se formava, uma que ia além da política e tocava algo mais profundo e pessoal. Conforme a noite avançava, eles se afastaram dos olhares curiosos, buscando um balcão isolado que dava para os jardins do palácio. Ali, sob o céu estrelado, a conversa entre eles fluía livremente, mais sobre suas vidas e menos sobre suas obrigações. "Caius," Audra começou, hesitante, "em outra vida, você acha que poderíamos ser... algo mais do que aliados?" Ele olhou para ela, seus olhos refletindo as estrelas acima. "Em outra vida, não seríamos definidos pelas coroas ou pelas espadas. Mas nesta vida, Audra, todo momento com você é uma aliança que eu escolho não apenas por estratégia, mas por desejo." As palavras de Caius ressoaram com Audra, dando-lhe uma nova perspectiva sobre o que significava liderar e amar. "Eu devo voltar para a festa." Audra sussurrou então, e a luz desapareceu brevemente do olhar de Caius, fazendo o coração da princesa se entristecer. Mas ela ergueu o queixo, e ele se curvou, ambos se separando e fingindo que suas vidas não eram impactadas por estes breves segundos de contato. Eles sabiam que o jogo político os aguardava, mas ambos se sentiam mais fortes por terem encontrado um no outro não apenas um aliado, mas um reflexo de suas próprias almas guerreiras. Um pacto não dito foi selado entre eles, um pacto de respeito e uma promessa de apoio mútuo, não importa os desafios que viessem a enfrentar.
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