Preso

1545 Words
Uma semana.   Já fazia uma semana que Kurama havia desaparecido.    Sukuna estava estranho, não entendia motivo de ficar tão incomodado com aquilo, afinal, era o que mais havia desejado durante toda a semana: que ele sumisse e parasse de lhe encher a paciência.   Nos dois primeiros dias, ficou completamente tranquilo sem a presença do alfa, sentia até um certo alívio por não precisar escutar os comentários do mesmo, entretanto, aos poucos, começou a sentir um sentimento de vazio, como se seu dia não estivesse mais sendo o mesmo.   Ainda assim, mesmo que fizesse diversas coisas durando o dia, ainda sentia como se faltasse algo, que o seu dia não estava completo. Mesmo que derrotasse quantas alfas seu corpo conseguisse aguentar, não era o suficiente para fazer aquele sentimento sumir, e isso irritava o garoto a ponto de xingar Oshiro por ter sumido.   Agora fazia uma semana e Shinkai queria caça-lo apenas para lhe xingar por ter sumido. Mas... Ele tinha direito para fazer tal coisa? Não era ele que sempre xingava e pedia para que o mais velho sumisse? Como podia achar aquele sumiço r**m? Era normal que o outro se cansasse de si depois de inúmeros xingamentos e gritos mandando ele ir embora.   Se sentia patético.   Humilhado.    Nunca imaginara que sentiria isto algum dia. Machucava dizer, e ainda mais aceitar, mas sim, ele sentia saudade de ter Kurama por perto. Não era a mesma coisa sem o mesmo ali para lhe provocar e iniciar uma discussão, contudo não podia fazer nada. Não tinha direito de ir atrás do garoto. Era muito orgulhoso e jamais iria admitir que estava com saudade de um alfa.   Sua mãe havia lhe dito que quando chegasse naquela idade, seria normal o corpo sofrer algumas alterações, e que também era normal que ômegas ficassem mais sensíveis e com certa dependência de alfas próximo de si. Era completamente normal esse tipo de coisa com ômegas quando eles se aproximavam do cio.   Mas isso, para Sukuna, era uma coisa totalmente ridícula e sem nexo. Havia lutado tanto contra isso para que agora seu corpo lhe traísse? E todo o seu esforço que teve ao longo dos anos para se tornar um ômega independente, que não necessitava de nenhum alfa ao seu lado? Iria todo para o lixo? Se sentia inútil por não conseguir lutar contra os próprios extintos.   Se recusava a aceitar aquilo. Não poderia acabar daquele jeito. Acabou notando que não se importava com nenhum alfa, sendo na rua ou na escola, nenhum parecia mexer com ele. Nem tudo estava perdido, certo? Então, por que tinha que ser diferente com Oshiro? Realmente não conseguia entender o motivo daquilo.   — Mas que merda, até quando aquele maldito não tá por perto, ele me irrita! – falou entre os dentes, irritado, chutando uma lata em seu caminho. — Alfa babaca.   Precisava tirar logo aquilo da cabeça, seguir em frente e ignora todo aquele sentimento horrível que estava sentindo. Ele era um ômega forte que podia derrotar qualquer alfa que passasse pelo seu caminho. Não seria seus hormônios que estragariam tudo aquilo que ele havia lutado tanto para conquistar.   Soltou um suspiro longo e balançou a cabeça como se isso fosse fazer seus sentimentos e pensamentos sumirem. Estava decidido a não se questionar mais pelo sumiço do alfa. Voltaria a viver como sempre viveu antes de conhecer o rapaz.   Andava tão distraído que não notou que estava sendo seguido. Quando reparou, a última coisa que sentiu foi algo lhe bater na cabeça com força, fazendo com que desmaiasse. [•••]   Acordou recebendo um soco no rosto, especificamente perto da boca, fazendo com que um pouco de sangue escorresse. Abriu os olhos com certa dificuldade; seu corpo latejava, parecia que tinha sofrido uma queda. Olhou em volta, vendo inúmeros alfas lhe encarando mortalmente.    Estava amarrado perto da parede; tentou mexer seus braços, mas as cordas eram muito grossas e dificultava o movimento. Aquilo estava incomodando sua pele, que já começava a ficar vermelha por conta das amarras. Tentava se manter calmo, mesmo que a situação não estivesse ao seu favor.   Procurar uma rota de fuga, contudo havia muitos alfas e a grande maioria estava segurando barras de ferro e até mesmo facas, aquilo era patético. Até que ponto eles chegaram? Tudo isso era só por terem apanhado de um ômega, chegava a ser cômico se não fosse tão perigoso.   Mesmo que estivesse com uma expressão séria, estava tremendo. Pela primeira vez, Sukuna teve medo, medo de não conseguir sair daquele lugar.   Queria gritar por ajuda, mas duas coisas lhe impediam: seu orgulho maldito que sempre lhe atrapalhava em situações de risco e sua localização. Os alfas não seriam tão burros a ponto de lhe levarem para um lugar perto de civis. Estava sozinho naquele lugar e ninguém podia lhe ajudar.   Uma rápida imagem passou em sua cabeça; deu um sorriso triste. Pensou em Oshiro. Se lembrou do mesmo lhe dizendo para parar de arrumar confusão com os alfas. Talvez se tivesse escutado o maior, ele não estaria naquele lugar. Se não fosse tão i****a, nada disso estaria acontecendo.   Os alfas pareciam animados com aquela situação. Estavam doidos para se vingar do ômega.    Contudo...   Um barulho chamou atenção de todos, até mesmo de Sukuna que encarou a porta. A mesma estava sendo chutada loucamente. Os alfas se entreolharam, se perguntando o que poderia ser. Ninguém tinha conhecimento daquele lugar, então, como alguém poderia estar chutando a porta...?   A porta foi aberta e um rapaz foi jogado para dentro, completamente quebrado; o mesmo estava desacordado e possuía muitos machucados, e então, a tensão pairou no local.    O ar ficou pesado. Parecia que um alfa muito irritado e territorial estava se aproximando. Aquilo fora agonizante para Shinkai. Seu corpo tremia de medo pela presença daquele alfa, achou que só ele estava sendo incomodado, mas ao ver o rosto assustado dos demais viu que a coisa era séria.   — Tsc, que bosta de localização! – falou um rapaz que usava uma calça de moletom e uma regata verde musgo que deixava seus músculos a mostra.   Sukuna encarava aquela figura sem acreditar que era real.    Era Kurama.   O rapaz tinha uma expressão completamente irritada. Jamais pensou que um dia iria aquilo. Sem contar feromônios fortes que o mesmo soltava demonstrando como estava bravo e queria afastar qualquer alfa inferior a ele.   Alguns alfas tentaram ir para cima, mesmo com medo do estranho que ainda estava na porta. O rapaz abriu um sorriso de lado, fazendo com que alguns alfas se afastassem com medo. A pressão que ele possuía deixava todos ali com receio de se aproximar dele.   Os poucos alfas que tentaram rapidamente foram derrotados. Oshiro tinha uma agilidade surpreendente. Ele desvia dos golpes com uma leveza e graciosidade sem igual, pegava os braços dos inimigos e rapidamente os quebrava e os chutava para o chão.   — Vocês têm 1 minuto para saírem daqui, senão não vai ser apenas os braços que eu quebrarei! – rosnou. Logo os outros alfas saíram correndo, carregando consigo os colegas completamente derrotados.   Kurama ainda tinha seus feromônios em ativa, queria afastar qualquer alfa daquele lugar. Notou o ômega no chão, machucado. Aquilo o fez ficar mais irritado do que já estava. Deveria ter acabado com todos aqueles babacas! Com passos lentos, se aproximou do menor e se agachou; retirou um estilete de seu bolso e começou a cortar as cordas em silêncio.   Quando terminou de solta-lo, estava pronto para se levantar e ir embora daquele lugar, mas acabou ficando em choque ao ver o garoto sobre si lhe abraçando forte. Esperava tudo, menos aquilo. Estava preparado para ver o mesmo lhe xingar e dizer como ele poderia lidar com aquela situação sozinho, de como era um ômega forte e independente, mas lá estava Bakugou, com o corpo tremendo, abraçando fortemente o alfa a sua frente.   — Está tudo bem – falou calmamente, passando a mão no cabelo do ômega. Sentiu o corpo menor tremendo abaixo de si.   — Mmmmm... – falou junto de um soluço, fazendo com que o alfa ficasse surpreso novamente. Kurama estava chorando! — Eu senti tanto medo... tanto medo...   — Eu estou aqui, Suki. Ninguém vai te machucar – falou com uma voz suave, tentando acalmar o ômega que parecia tão assustado e indefeso. Mesmo com toda aquela pose de independente, ainda era um ômega. Possuía sim fraquezas.   Kurama ficou ali com Sukuna até que ele se acalmasse. Agradeceu mentalmente por estar no fliperama naquele dia e ter escutado a conversa de um alfa. Nunca fora de escutar conversas alheias, mas ao escutar sobre um ômega encrenqueiro que havia sido capturado, soube que poderia ser apenas uma pessoa e não mediu esforços para localizá-lo logo após interrogar aquele alfa.   — Já passou, já passou – falou sentindo que aos poucos o corpo do ômega se acalmava. — Precisamos cuidar de seu rosto e ver se tem mais algum machucado.   — Mmm... – falou entre um soluço, balançando a cabeça de modo positivo.   Com cuidado, ele o pegou no colo e saiu com o mesmo pela porta. Sentiu as mãos do menor lhe segurarem a roupa enquanto ele apoiava a cabeça em seu peito. Naquele momento, Sukuna percebeu a falta que o mais velho fazia em sua vida.
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