Ah-Ri observava, após concluir o exame toxicológico e examinar o corpo, a médica legista ainda não acreditava no que seus olhos estavam vendo. ChaYung acabara de chegar e esperava pelos resultados, dentro dela havia uma tempestade dizendo que aquilo era só o início.
— E aí, o que temos?
— Nunca vi nada igual. Ela foi coberta por cera. – Ah-Ri suspirou.
— Cera?
— Sim, todo centímetro de seu corpo foi coberta por cera – a médica se aproximou do corpo recém lavado – seus órgãos foram extraídos; encontrei formol, usado para a conservação de órgãos e tecidos corporais. Tetraborato de sódio, o bórax é utilizado para fazer a secagem e fixação da pele dos animais taxidermizados. Alúmen de potássio e cloreto de sódio, produtos indicados para compor a solução química a ser utilizada no curtimento da pele, antes de fazer o seu enchimento.
— Em tese, ela foi entalhada. – a detetive ChaYung se aproximou da mesa de autópsia examinando o corpo tão surpresa quanto imaginou ficar. Em toda a sua carreira, jamais imaginou presenciar algo assim.
— Sim, só que normalmente os caçadores taxidermiza os animais e a deixa entalhados para sempre. Nesse caso é diferente, ela foi entalhada com cera, porém com os mesmos compostos químicos que utilizam nos animais por dentro, foi muito difícil abaixar os braços e a perna direita dela, parece que ela ficou muito tempo assim.
— Conseguiu alguma coisa?
— Tudo foi muito difícil, ela é bem delicada e mesmo utilizando água morna para ajudar a amolecê-la, não foi fácil mantê-la inteira, o que consegui foi através dos ossos, o antebraço está quebrado, ela deve ter sofrido muito antes de morrer, o agressor a agrediu ferozmente, pois o crânio está trincado em três lugares diferentes, além do mais a rádio e a ulna do braço esquerdo estão quebrados numa distância de cinco milímetros um do outro – ela levantou o braço da jovem mostrando uma grande cicatriz avermelhada na grande extensão da pele – Algo muito forte atingiu seu braço e pelo fato dela ser entalhada com cera fez com que a cicatrização se retardasse.
— Já sabe à hora da morte?
— Apesar de sabermos que ela estava entalhada há muito tempo, o corpo foi desovado por volta da meia noite, dá para saber por causa da decomposição da cera, ela ainda estava intacta e nem tinha começado a derreter.
ChaYung observou os pés da menina, vendo as pontas dos dedos meio gastos, por conta de ter sido lavada e o cera ter saído um pouco, notou que o tornozelo tinha um leve tom avermelhada.
— Viu o tornozelo dela?
— Sim, pelos dedos dá para saber que ela dançava balé e que a forma como foi deixada mostrava que o assassino sabia disso. Depois que a matou, deixou da forma que ela mais amava.
Elas trocaram olhares enigmáticos.
— Viu se tinha lesões nos pés dela?
— Não, tudo intacto.
Ah-Ri deixou a mesa de autópsia e seguiu até uma bandeja na mesa oposta e apanhou um pequeno saquinho de provas.
— Consegui isso, o lacinho que prendia seu cabelo. – entregou para a detetive – A roupa e a sapatilha foram entregues para o Baek examinar, em algumas horas o resultado ficará pronto.
— Qualquer outro detalhe me avise. – ChaYung deixou a sala de autópsia examinando o saquinho, tentando imaginar quais foram as últimas palavras da jovem antes de morrer.
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— Conseguiram alguma coisa no teatro? – ChaYung se sentou em sua cadeira giratória com um copo de café, ainda era nove da manhã e seus neurônios estavam à flor da pele.
— Nada, conversamos com os donos das lojas ao lado e da frente, ninguém viu ou ouviu, procurar pistas através das pessoas e supostas testemunhas não nos levará em nada. – Soe Joon suspirou frustrado – Vamos optar por câmeras das lojas naquele quarteirão e procurar por alguma vã ou trailer que tenha passado na noite anterior. Seria difícil carregar a menina num carro comum no estado em que ela estava.
— Ótimo. Conseguiu alguma coisa com as roupas de balé, detetive Baek?
— Não, nenhuma digital, mas não deve ser difícil encontrar roupas de balé por aqui.
— Sabe quantas lojas de roupas vendem esse tipo de vestido? – ChaYung questionou – ficaríamos meses procurando por algo incerto.
O rapaz torceu o nariz contrariado.
— Não encontrei nenhuma pista de onde ele foi fabricado ou onde foi vendido. É como se fosse feito em casa, pois não havia nenhuma etiqueta ou pedaços que sugeriam ter sido removido. Vou pesquisar por clubes de balés e ver quais deles tem o mesmo vestido. – falou.
— Ótimo.
ChaYung tomou um gole de café e suspirou, tinha que encontrar alguma evidência que pudesse levá-los a algum suspeito. O que tinham em mãos era uma jovem que tinha desaparecida há dois anos, um vestido comum e um laço de cabelo.
Ela tinha que pensar, o assassino não seria tão perfeccionista a ponto de não deixar nada para trás, todos os assassinos deixam pistas, ela só tinha que procurar um pouco mais.
— Encontraram vestígio de sangue no local?
— Não, em parte alguma. – Soe Joon informou – E nenhuma digital, o assassino deve ter entrado com uma luva.
— Temos que saber se alguém fez a cópia da chave do local ou se alguém lá de dentro forneceu. Talvez o assassino tenha um cúmplice.
— Vou ver com os responsáveis do alarme, se em algum momento eles desligaram ou se teve algum pico que tenha desativado.
— Boa Soe Joon, isso seria muito importante. Sobre o laço de cabelo, deve ter alguma pista?
— Sim, pesquisei por várias lojas e encontrei um em especial. Era o único que tinha o mesmo laço. – afirmou ele.
— O que estamos esperando? Vamos ver.
— Temos que esperar os pais da vítima, comunicamos que encontramos um corpo, eles virão para reconhecer.
ChaYung olhou o relógio em seu pulso e terminou o café. Um pequeno reboliço se formou na direção da delegacia que lhe chamou atenção, uma mulher acompanhada por um homem chorava enquanto segurava um lenço, seu nariz estava vermelho como se o tivesse limpado várias vezes aquela manhã.
— Senhora Hoo? – ChaYung se aproximou dispensando o policial que a atendia – sou a detetive ChaYung, venha comigo.
A detetive os levou até a sala de investigação, o investigador os acompanhou.
— Sentem-se. – ofereceu a cadeira assim que entraram na sala.
O casal se sentou e a mulher agarrou a mão do marido tentando conter o nervosismo.
— Senhor e Sra. Hoo, encontramos um corpo e queremos que vocês confirmem a identidade dela – ela estendeu a foto que a médica legista havia tirado após a autópsia – Essa é sua filha?
A mulher puxou a foto para mais perto reconhecendo no mesmo instante, sem segurar mais um segundo permitiu que as lágrimas saíssem e o choro veio à tona, o marido a abraçava enquanto tentava consolá-la.
A detetive trocou olhares com Baek. Eles sempre participavam daquele momento, e em todos eles nunca era igual, sempre era difícil entregar a notícia que um ente querido havia encontrado morto.
Após um tempo para a senhora Hoo se recompor, finalmente puderam conversar.
— Podemos fazer umas perguntas senhora Hoo? – ChaYung soou gentil, respeitando o tempo da senhora.
— Sim – limpou o nariz – Mas, posso ver o corpo da minha filha primeiro? – limpou os olhos com a outra ponta do pano – Por favor, detetive, permita-me vê-la, já faz dois anos.
As lágrimas logo começaram a sair dos olhos inchados da mulher.
— Tudo bem, vamos.