MARIANA NARRADO
Eu não vou mais ficar atrapalhando a vida dele.
— Não é nada, apenas estou sem fome, e já vou me deitar, acredito eu que amanhã será um longo dia. — Eu falo e ele fica calado, mais quando ele abri a boca pra responder eu interrompo.
— Amanhã eu irei embora padre, pararei de lhe dar problemas, talvez volte para a minha cidade e siga meu destino. — Afirmo com sinceridade já que realmente lá é o único lugar que eu possa ir, eu não tenho mais a quem recorrer.
— O que? Não, você não pode ir! — Ele rebate, com o tom um pouco alterado.
— Por que você está se importando? Você deixou bem claro que não se importa que eu vá ou que eu fique. — Ele me olhou tentando entender o que estava falando.
— Acho que estava ouvindo minha conversa com a minha mãe, não estava? — Será que mesmo com raiva era pecado mentir? Ainda mais dentro da igreja.
— Eu não quero mais conversar, vou ir dormir. — Falo me levantando dali e ele me segura pelo pulso, por que ele fica fazendo isso?
— Não, vamos terminar esse assunto. — Eu olho pra sua mão me segurando e soltando um suspiro.
— Eu só disse aquilo pra poder ganhar mais tempo, talvez você ficasse um tempo no hotel mesmo, mas até... — Ele deu uma pausa.
— Até o que? Você decidir se quer ou não largar a batina, até se decidir se meu amor e o não o suficiente para sacrificar sua vida de padre? Até você decidir se enfrenta sua mãe ou não, olha pra mim tudo isso é covardia.
— Talvez eu tenha um pouco de receio sim, porque afinal se tem algo que você me mostrou e que sou humano e sei que não sou perfeito longe disso, mas para pra pensar Mari, que vida eu poderia lhe oferecer? Eu não sei ser outra coisa que não padre, todos iriam contra nos, minha família, sua família.
Aquelas palavras dele era como agulhadas no meu peito, eu não queria chorar, não queria.
— Maria me disse que você canta. — Mudo de assunto pra poder quebrar aquele clima que tinha sido criando no ambiente.
— Olha pra mim Mariana, você acha mesmo que eu tenho cara de cantor? — Eu olho pro chão, eu não consigo encarar, na verdade o que eu queria mesmo era abraçá-lo e beijá-lo.
— Quer saber, nada disso importa mais afinal amanhã já não estarei mais aqui e você não terá que escolher e nem sacrificar nada que se refira a mim, continuara sendo o filho sacerdote para a sua querida mãe. E o mais importante o padre correto para a cidade, eu seria a pecadora a tentação, e então será o fim.
Dito isso sem deixar que ele fale mais alguma coisa eu me afasto dele e vou para o meu quarto, eu precisava chorar, sozinha.
Quando eu não aguentava mais chorar, pude sentir os meus olhos inchados, acabei adormecendo.
Abro os olhos de relance, não sei o quanto eu dormi, mais tenho a sensação de que dormi por uns cinco dias em seguidos, quando finalmente minha vista desembaraçou eu o vi ali, parado em frente a cama me olhando.
— Eu estou sonhando? — Pergunto esfregando de leve os olhos.
— Sim, eu não sou real, vira para lá. — Ele aponta para o outro lado e é o que eu faço, mas antes de apagar de novo, eu sinto um calor me aquecendo me fazendo me sentir confortável, sinto suas mão afagar meus cabelos.
— Não quero que você vá, não me deixe Mariana... Por favor...
Escuto sua voz longe, como se estivesse sussurrando, acabo apagando totalmente.