Milana Sartori.
Assim que cheguei em casa, entrei e coloquei minha mochila em um canto, sentando-me no sofá em seguida.
Em poucos minutos, ouvi meu celular tocar, o peguei e atendi.
— Oi pai.
— Oi querida, como você está?
— Estou bem e como estão as coisas por aí?
— No momento está tranquilo e espero continuar assim, e está tudo bem por aí?
— Aham, aqui também está tranquilo.
— A sua avó passará aí amanhã.
— Tudo bem.
— Enfim, preciso desligar, até amanhã.
— Até amanhã pai.
Assim que desliguei a chamada, ouvi a campainha tocar. Coloquei meu celular na mesa de centro e segui até a porta, a abrindo em seguida.
— Matteo? — perguntei surpresa. — Posso ajudá-lo?
— Preciso falar com você.
Matteo se esquivou de mim e entrou na casa, caminhando até a sala.
— O que houve? — indaguei.
Matteo olhou ao redor da casa e em seguida prosseguiu.
— Está sozinha?
— Sim.
— Onde está o seu pai?
— Em Venezia.
— Por que ele está lá?
— Está a trabalho. O que você quer Matteo? Acho que você não veio aqui para falar do meu pai!
— Sim, eu não vim... Na festa da Anna, quando eu a vi chorando, havia acontecido algo? Por que estava chorando?
— E por que a pergunta? Se para você tanto faz eu estar bem ou não!
— Não é bem assim Milana! Eu sei que não parece, mas eu ainda me importo.
O olhei frustrada e caminhei em direção à porta. A abri e em seguida prossegui.
— Você nunca se importou e não é agora que as coisas iriam mudar! Por favor, vá embora.
— É sério isso?
O olhei irritada, olhando para a porta em seguida, confirmando com com o olhar.
— Tudo bem, eu tentei...
— Você tentou? Ah, me poupe do seu vitimismo e falsidade!
Matteo revirou os olhos e se retirou frustrado da minha casa.
Fechei a porta batendo-a e voltei a me sentar no sofá.
Confesso que me surpreendeu ter visto que Matteo ainda se importava comigo, era estranho de certa forma, mas uma pequena parte de mim havia ficado feliz.
Algum tempo depois, ouvi novamente a campainha tocar. Levantei-me do sofá e fui atender.
— Oi vó — a abracei com um leve sorriso.
— Oi querida, como está?
— Estou bem e a senhora?
— Eu também... e como passou a noite? Se sentiu um pouco sozinha?
— Um pouco, mas estou passando bem.
— Fico feliz que esteja bem. Irei preparar uma sopa.
Nos retiramos da sala e seguimos até a cozinha. Sentei-me na mesa e minha avó deu-me uma faca e uma tábua de madeira para eu fatiar o tomate e a cebola, e enquanto eu os cortava, minha avó cortava as duas batatas em pequenos quadrados.
— E como está indo na escola?
— Está indo bem.
— Você tem conversado com o Matteo?
— Não muito, ele agora tem os seus amigos, não estamos mais na mesma "vibe", por assim dizer.
— Entendo, mas vocês nem ao menos conversam?
— Às vezes, mas não muito.
— Sempre achei que quando vocês estivessem no ensino médio, vocês namorariam.
— O que? — dei risada. — Por que achou isso?
— Ah, vocês eram amigos muito próximos, qualquer um pensaria como eu.
— Mas não aconteceu e fico feliz por isso.
Minha avó olhou-me desconfiada e ao mesmo tempo surpresa pela minha fala.
— Sabe, quando mais nova, eu tive um amigo e nós éramos muito próximos, mas por algum motivo, anos depois, ele acabou se afastando e nos deixando de nos falar.
— E por que ele fez isso?
— Depois que nós estávamos com vite anos, ele veio até mim e me pediu desculpas, contando-me do porque se afastou. Ele sempre gostou de mim, mas sabia que eu não iria querer ter nada com ele, então ele se afastou um pouco para ver se a paixão dele por mim passava.
— E passou?
— Não...
— Então o que houve?
— Voltamos a nos falar, então eu comecei a gostar dele e meses depois começamos a namorar, e um ano mais tarde, nos casamos.
— Então era o vovô?
— Exatamente!
— Nossa, isso é surpreendente!
— Eu vivi um amor muito bonito.
— E viveu.
— E foi por isso que eu enxerguei a amizade de ambos, como a minha e a do seu avô.
— Bem, mas isso não acontecerá comigo e com o Matteo.
— Bom... não podemos prever o futuro — sorriu.
— Vó... — dei risada.
Minha avó pegou a cebola e o tomate, ambos cortados e as batatas, colocando-as na panela e preparando a sopa.
— Seu pai te ligou hoje?
— Sim, ele sempre liga.
— Que bom, também fico feliz que ele esteja se saindo bem em seu trabalho.
— Sim, ele parece animado com isso.
— Também percebi e isso é ótimo!
— Verdade.
Algum tempo mais tarde, me despedi da minha avó e subi para o meu quarto. Entrei e me deitei entediada.
A Alessa estava um pouco afastada, mesmo que fosse apenas dois dias, mas nem as minhas mensagens ela respondia.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para o Lorenzo. Eu estava me sentindo só e era entediante não ter nada para fazer, então resolvi chamar o Lorenzo para dar uma volta.
Alguns pequenos minutos depois, Lorenzo havia me respondido, pedindo para que eu o encontrasse na praça perto da escola.
Caminhei até meu armário e peguei um conjunto de roupas, vestindo-as. Havia colocado uma calça jeans, com um cinto preto grosso. Uma blusa regata branca e calçado um tênis branco.
Peguei o meu celular e desci as escadas, caminhando até a porta e saindo de casa.
Matteo Rossi.
Estava debruçado na janela do meu quarto, observando a casa da Milana, quando eu a vi saindo. Desci rapidamente as escadas e saí de casa, a seguindo sutilmente.
Estava intrigado para onde a Milana poderia estar indo.
Algum tempo depois, chegamos em uma praça perto do colégio.
Assim que avistei Milana caminhando até o Lorenzo, confesso que fiquei um pouco irritado.
Milana Sartori.
Assim que cheguei na praça, caminhei até Lorenzo.
— Oi — sorri.
— Oi — sorriu levemente. — Então, quer fazer o que?
— Que tal irmos comer uma pizza e sei lá... ficarmos de boa e conversarmos?
— Gostei, melhor do que ficar sem fazer nada.
Nos retiramos da praça e seguimos em direção à pizzaria. Ao chegarmos, entramos e nos sentamos em uma mesa.
— Então, você tem irmãos? — indaguei.
— Tenho uma irmã mais velha, ela tem vinte e três anos, e você?
— Não, é apenas eu.
— Você deve se sentir sozinha.
— Sim, eu me sinto muito às vezes.
— É uma m***a se sentir assim.
— Nem me fala... então, você mora com os seus pais?
— Moro com a minha mãe, os meus pais são separados, então meu pai mora na Espanha e você?
— Moro com o meu pai, minha mãe faleceu há um tempo de câncer.
— Eu sinto muito.
— Obrigada — sorri levemente.
— Deve ser muito difícil para você lidar com isso ainda.
— Um pouco, ainda não superei cem por cento a morte dela e eu sinto falta todos os dias dela.
— Entendo, mas de qualquer modo, espero que você possa superar a perda e que cada dia melhore mais.
— Obrigada Lorenzo — sorri.
Algum tempo mais tarde, enquanto Lorenzo e eu comíamos, Matteo e Dylan aproximaram-se de nós, com um sorriso cínico em seus lábios.
— Olha se não é a Milana e seu novo namorado — falou Matteo.
— O que estão fazendo aqui? — perguntei.
— Estávamos passando por aqui e vimos vocês — respondeu Dylan.
— Exato! Mas então pensamos, que tal nos unirmos com os pombinhos? Creio que eles não achariam r**m — disse Matteo pegando uma cadeira e sentando ao meu lado.
— Então isso virou um jantar de casais? — indagou Lorenzo.
— Como? — perguntou Matteo.
— Você e o Dylan, vocês são um casal, não são?
Assim que ouvi Lorenzo falar sobre ambos serem um casal, coloquei minha mãos sobre a minha boca e dei risada.
— Não somos um casal! — respondeu Dylan enojado.
— Ele sabe, só está tirando uma com a nossa cara — disse Matteo.
— Me desculpem, eu não quis ofender
— falou Lorenzo sarcástico.
Matteo revirou os olhos e voltou a olhar para Lorenzo irritado.
— Então, qual é a de vocês? — indagou Matteo.
— Do que está falando? — perguntei.
— Estão namorando ou estão saindo apenas como amigos?
— Nós já falamos, somos namorados! — respondi.
— Não sei... — disse Dylan intrigado. — Essa histórinha de namoro, parece tão falso.
— E porque você acha isso? — indaguei aborrecida.
— Quem namoraria com você? Com estes olhos diferentes... acho que ninguém — respondeu Dylan.
Matteo olhou para Dylan irritado, como se a sua fala tivesse o deixasse aborrecido e desconfortável.
— Eu namoraria, assim como já estamos namorando! — respondeu Lorenzo. — Os olhos da Milana são lindos! Agora vocês deveriam tomar vergonha na cara e parar de destilar ódio nas pessoas, só por causa de suas aparências únicas e incríveis! Vem Milana, não nos juntaremos com essas pessoas desprezíveis! — Lorenzo estendeu uma de suas mãos para mim.
Coloquei minha mão sobre a dele e nos retiramos da pizzaria, caminhando de volta para minha casa.
— Olha, muito obrigada por você ter me defendido, suas palavras foram maravilhosas e destruíram eles.
— Imagina, eles mereceram aquilo! Aqueles dois não passam de moleques imaturos que descontam suas frustrações nos outros.
— Você tem sábias palavras! Eu concordo com você, obviamente. Eles são bem imaturos mesmo.
— Mas Matteo parece gostar de você.
— Como assim?
— Você viu a cara que o Matteo fez quando o Dylan te falou aquelas coisas? Ele pareceu bastante irritado.
— Acho que não, até porque, ele não gosto de mim nem como amiga.
— Bom, pareceu outra coisa.
— Bem... você quer ficar um pouco na minha casa? Tipo, sei lá... podíamos fazer alguma outra coisa, assistir um filme...
— Claro, eu fico sim, sei como é chato ter que ficar sozinha.
— Até demais.
Destranquei a porta e entramos em casa. Nos direcionamos até a sala e nos sentamos no sofá.
— Então, quer fazer o que?
— Tem UNO?
— É claro, irei pegar.
Peguei o UNO e voltei para a sala, sentando no tapete de frente para o Lorenzo.
— Você tem conversado com a Alessa?
— perguntou ele jogando uma carta no centro do tapete.
— Depois da escola não, ela está se distanciando cada vez mais, mesmo que tenha passado apenas alguns dias — respondi jogando outra carta.
— Entendo, provavelmente ela deve estar muito apaixonada pelo garoto.
— Sim.
— Mas mesmo assim, isso não justifica se afastar de amigos.
— Isso já lhe aconteceu?
— Eu sempre tive um pouco de dificuldades em fazer amizades e sempre demorei para me apegar nas pessoas, então quando isso acontecia, eu não me importava.
— Queria poder não me importar muito também, é bem r**m pensar demais.
— Você precisa pensar menos, mesmo que seja difícil.
— Eu sei...
— Mas me conta, o que aconteceu entre você e o Matteo?
— Por que pensa que aconteceu algo?
— Eu sou uma pessoa que observa muito e da para perceber o clima entre vocês.
— O Matteo foi meu melhor amigo no fundamental, nos conhecemos aqui no bairro, ele até ficou do meu lado quando a minha mãe faleceu. Mas depois de um tempo, quando começamos o ensino médio, ele acabou mudando suas atitudes comigo. Ele se afastou de mim e começou a dizer certas coisas que me magoavam, como esse dos "olhos diferentes". Eu tentei conversar com ele, para tentar saber o motivo da sua mudança, mas ele sempre me evitava, então eu parei de tentar e agora estamos assim.
— Provavelmente alguém deve ter contado boatos sobre você, ou ele sempre descontou as frustrações dele em você.
— Foi o que a Alessa disse, sobre os boatos.
— Seja lá o que foi que aconteceu, nada justifica os comportamentos do Matteo, muito menos ele ter decidido mudar as atitudes com você. Então se lembre, se ele vier conversar com você um dia, para tentar se explicar, seja dura e firme, você n******e amolecer e achar que ele está certo por algo infundado!
— Se isso acontecer, irei lembrar das suas palavras... Ganhei.
— Você é boa no jogo, mas se prepara para perder na próxima — sorriu.
— Vai sonhando! — ri levemente.
Algum tempo mais tarde, Lorenzo havia ido embora.
Subi as escadas e entrei no meu quarto, deitando-me na cama.
Lorenzo tinha razão, eu não podia amolecer com o Matteo, caso ele viesse conversar comigo algum dia.