Milana Sartori.
Na manhã seguinte, havia acordado um pouco desanimada, por saber que hoje meu pai partiria para outra cidade e só voltaria mês que vem.
Calcei meus chinelos e segui para o chuveiro. Assim que terminei, vesti uma roupa solta e desci as escadas, caminhando em direção a cozinha.
— Bom dia querida — cumprimentou o meu pai tomando seu café.
— Bom dia — respondi tristonha.
— Não precisa ficar triste, como eu disse antes, esse mês passará rápido e logo mais estarei de volta.
— E como não ficar? Eu ficarei sozinha nessa casa, sabe o quão solitária eu irei me sentir? Será h******l e as imagens da mamãe irão voltar.
— Eu sei que pode parecer assustador e bem r**m, mas pense pelo lado bom, esse emprego será muito bom para o nosso futuro e o salário que eu irei receber será melhor ainda! Eu não quero ter que vê-la assim, muito menos tocando no assunto de sua mãe. Ela está descansando agora e tenho certeza que ela me apoiaria muito. Lembre-se que sua avó virá aqui sempre.
Abaixei o meu olhar, tristonha e envergonhada pelas minhas ações. Eu estava sendo egoísta com o meu pai e a única coisa que eu deveria estar fazendo, eu não estava. Eu precisava apoia-lo.
— Eu sinto muito pai, você tem toda razão! Eu estava sendo egoísta, sei que com esse salário a nossa vida irá melhorar mais, então saiba que eu estarei feliz em vê-lo realizar isso e ficarei bem.
— Está tudo bem querida, eu entendo o quão r**m é para você superar tudo isso, mas estarei te ligando todos os dias.
— Só prometa que você ficará sempre bem.
— Eu prometo — sorriu dando-me um abraço.
— Eu te amo pai.
— Eu te amo filha.
Algum tempo depois, meu pai pegou sua mala e saiu de casa. Assim que ele subiu no táxi, o observei partir, com os olhos cheios d'água. Sequei minhas lágrimas e subi para o meu quarto.
Peguei o meu celular que estava no criado-mudo e liguei para Alessa.
— Oi Milana, o que me conta?
— Meu pai foi viajar a trabalho para Venezia, ficarei mais solitária que nunca agora.
— Poxa, eu sei como pode ser bem desanimador para você, mas não se preocupe, se você quiser eu posso ir dormir com você hoje.
— Se você puder, eu aceito.
— Claro que eu posso! Depois da festa iremos embora juntas e eu já ficarei aí.
— Tudo bem, então até mais tarde.
— Até.
Desliguei a chamada e me deitei. Liguei a televisão e coloquei em uma série, assistindo e esperando o tempo passar.
Algum tempo mais tarde, abri meu armário e peguei um conjunto de roupas, vestindo-as em seguida. Havia colocado uma calça jeans pantalona e um cropped branco, em seguida, calcei o meu tênis.
Em seguida, ouvi a campainha tocar. Peguei meus pertences e desci as escadas, direcionando-me até a porta.
— Oi Alessa.
— Você vai com essa roupa?
— O que tem ela? Eu gostei.
— Pensei que você fosse colocar um vestido, mas não está m*l.
— Prefiro uma calça com uma blusa.
— Enfim, vamos?
— É claro.
Saímos de casa e caminhamos até a casa da Anna.
— Espero que essa festa seja legal — falei.
— Eu também, não quero me arrepender de ter ido — respondeu Alessa com o seu braço apoiado no meu.
— Seria bem r**m mesmo — forcei um sorriso.
— Como está se sentindo? Depois que seu pai foi embora.
— Bom, é bem r**m ter que ficar sozinha, é claro que eu fico preocupada com ele e isso faz as coisas ficarem um pouco pior, mas vou tentar não pensar muito.
— Exato, você precisa parar de pensar muito nas coisas, principalmente deixar de ser preocupar, você sabe como o psicológico ferra a nossa cabeça.
— Eu sei...
Ao chegarmos na casa da Anna, entramos e seguimos em direção a sala. Havia muitas pessoas no local, o som estava alto e tinha muitas luzas coloridas piscando.
— Aqui está muito bonito — exclamou Alessa.
— Verdade — concordei.
— Que tal irmos pegar um ponche?
— Eu aceito.
Nos retiramos da sala e seguimos para a cozinha. Pegamos dois copos descartáveis e os enchemos. Assim que Alessa devolveu a colher de concha novamente para a travessa, Matteo e Dylan se aproximaram.
— Olha quem vieram — disse Matteo.
— Pois é, achei que vocês não viriam — falou Dylan.
— E por que nós não viríamos? — indagou Alessa.
— Não sei, talvez porque nós nunca as vê em festas do colégio — respondeu Matteo.
— Pois então estavam errados! Vamos Milana — Alessa puxou a minha mão e nos retiramos da cozinha.
Retornamos na sala e sentamos em duas poltronas que ficavam no canto do cômodo.
— Olha só, meu gatinho chegou! — disse Alessa fazendo sinais com os seus braços chamando um garoto.
O garoto alto se aproximou e a beijou. Ele era um rapaz bonito, Alessa havia o descrevido muito bem. Alto, cabelos cacheados, olhos da cor do mel, pele amorenada.... muito bonito.
— Milana, eu lhe apresento o meu namorado — Alessa sorriu empolgada. — Mattia, essa é a Milana, a minha melhor amiga.
— Prazer — sorriu educadamente Mattia.
— Prazer em conhecê-lo — sorri levemente.
— Será que eu poderia ter a sua amiga por alguns minutos?
— Claro, fique à v*****e — dei uma pequena risada.
Alessa se levantou da poltrona e se afastou com o Mattia, caminhando em direção ao exterior da casa.
Estava me sentindo solitária, eu tentei me convencer de que tudo estava bem e que eu estava bem, mas não consegui. Eu estava m*l, muito m*l e a cada segundo que passava, mais angustiada eu ficava.
Levantei-me da poltrona e subi as escadas, seguindo em direção até um dos quartos. Entrei em um e sentei-me no chão, encostando-me na cama. Em seguida, deixei as minhas lágrimas caírem.
Desde que a minha mãe havia partido, tudo começou a cair, a desmoronar. Eu sempre tentei provar para o meu pai que eu estava bem e tudo também estava, com sorrisos falsos, mas nada daquilo era verdade e mais depressiva eu ficava.
Mesmo que o meu pai também se apresentava bem e melhor, eu sabia que ele também não estava e sua depressão ainda persistia. No final, nós dois corríamos persistentemente da tristeza.
Agora que meu pai estava longe, mais solitária e preocupada eu ficava e me sentia. Eu tinha medo de que meu pai pudesse se m***r e eu não queria correr o risco de ficar órfã.
Algum tempo depois, a porta do quarto se abriu. Rapidamente me levantei e avistei Matteo e uma garota dando risadas. Matteo olhou para mim e desfez o sorriso de seu rosto.
— Milana... você está bem? — indagou Matteo.
Sequei as minha lágrimas e prossegui.
— Sim, eu estou.
Me esquivei de ambos e desci as escadas, me retirando da casa de Anna e voltando a caminhar de volta para a minha casa. Ao chegar, entrei e tranquei a porta, sentando-me no sofá. Retirei o meu celular da minha pequena bolsa e enviei uma mensagem para Alessa, avisando-a que eu já estava em casa.
Deitei-me no sofá e fechei os meus olhos, adormecendo em seguida.
Na manhã seguinte, acordei com algumas dores nas cotas, devido ao sofá. Levantei-me e peguei meu celular, checando se Alessa havia me respondido, mas infelizmente ela não respondeu.
Subi as escadas e caminhei até o meu armário. Peguei um conjunto de roupas e as vesti. Em seguida calcei o meu tênis. Peguei a minha mochila e desci novamente, seguindo para a cozinha. Peguei uma fruta e a comi, em seguida me retirei de casa.
Assim que estava caminhando até a escola, recebi uma ligação do meu pai. Peguei meu celular e o atendi.
— Oi pai, como o senhor está?
— Oi querida, eu estou bem e a senhorita?
— Estou bem.
— Desculpe-me por não ter ligado antes, eu estava muito ocupado e não tive tempo.
— Está tudo bem, não tem problemas.
— O que está fazendo agora?
— Estou indo para a escola. Infelizmente não tem mais feriado.
— Estudar é bom.
— Claro, com certeza...
— Bom querida, preciso desligar agora, até mais tarde.
— Até pai.
Desliguei a chamada e guardei o celular em minha bolsa.
Assim que cheguei no colégio, fui direto para a classe. Entrei e avistei Lorenzo sentado. Aproximei-me e sentei-me ao seu lado.
— Bom dia, não o vi na festa ontem.
— Bom dia Milana, e sim, eu decidi não ir. Eu não sou muito fã de festas, principalmente as quais teriam drogas, maconhas, bebidas e adolescentes idiotas.
— Um ótimo resumo — ri levemente.
— Não é? — sorriu.
Algum tempo depois, Matteo e Dylan entraram na classe e sentaram-se, aguardando os demais chegarem.
Não estava olhando para Matteo, mas sabia que ele estava me olhando e isso me incomodava muito.
— Onde a sua amiga está? — indagou Lorenzo.
— Eu não sei, ela meio que me abandonou ontem na festa para ir com o novo namorado dela.
— Será que ela está bem?
— Eu não sei, mas espero que sim.
Assim que o sinal tocou, Alessa entrou junto com o Mattia. Ela parecia animada e estava muito sorridente. Assim que Alessa me viu, ela se aproximou.
— Milana, eu sinto muito mesmo por não ter ido dormir na sua casa ontem. Depois da festa, o Mattia me convidou para ir até sua casa e como você havia me avisado que já tinha ido embora, então eu não vi problema em ir com ele.
— Nossa... — disse Lorenzo em voz baixa.
— Tudo bem Alessa, não se preocupe.
Alessa sorriu e sentou-se com Mattia em uma carteira.
As palavras de Alessa havia me chateado bastante, era como se ela não tivesse se importado comigo.
Assim que as primeiras aulas terminaram e o sinal tocou, nos retiramos da classe e Lorenzo e eu caminhamos em direção ao campo. Nos sentamos nas arquibancadas e começamos a comer os nossos lanches.
— Comer ao ar livre é uma das melhores coisas, principalmente quando se está na escola — disse Lorenzo.
— Eu também acho, odeio ficar no refeitório com aquela multidão e com aquele falatório — respondi.
— Concordo.
— Lorenzo, o que você quis dizer quando falou "nossa"?
— Bem, eu não quis ser intrometido e nem quero, até porque só faz dois dias que nos conhecemos, mas na minha interpretação, a Alessa nem se importou se você foi embora ou não.
— É... ontem a tarde, o meu pai havia viajado e para eu não ficar sozinha, a Alessa tinha falado que viria para a minha casa depois da festa e que dormiria lá, mas ela não fez e isso acabou me chateando quando a vi hoje com o Mattia.
— Bem... acho que você já sabe o que pensar.
— Talvez eu saiba mesmo.
Algum tempo depois, Matteo e Dylan se aproximaram até nós, ficando em pé em nossa frente.
— Olha só quem nós encontramos aqui — disse Matteo.
— Olhos diferentes e seu novo amigo — falou Dylan.
— Seus olhos são lindos Milana! — Lorenzo sorriu.
— Obrigada — sorri timidamente.
— Então, vocês são um novo casal? — indagou Matteo.
— É, com certeza nós somos — respondi ironicamente.
— Pois é, somos um casal do c*****o! — concordou Lorenzo.
— Com certeza! — dei risada.
— Então Milana, ouvi dizer que o seu pai foi viajar a trabalho — disse Matteo.
— Como sabe disso?
— Um passarinho contou, sabe aquele chamado Alessa?
— Tá e daí?!
— Por que não faz uma festa na sua casa? Ou eu posso fazer por você.
— Porque a casa é minha e eu decido quem entra e quem sai, e eu nunca permitiria que um bando de adolescentes babacas entrasse nela para beber e fumar!
— Ah, é! Você vai convidar seu namoradinho para ir até sua casa hoje, não é? — perguntou Dylan.
— É isso aí! — respondi.
Levantei-me da arquibancada e estendi uma das minhas mãos em direção ao Lorenzo.
— Vem "namoradinho", vamos embora, a não ser que você queira pegar retardo mental desses dois.
Lorenzo olhou para mim e pegou na minha mão. Sorrindo se levantou.
— Nem ferrando que eu quero isso.
Enquanto descíamos as arquibancadas, Matteo exclamou:
— Eu preciso falar com você Milana!
— Mas eu não quero falar com você! — exclamei.
Entramos no colégio e caminhamos em direção à classe.
— Se eles espalharem a mentira que você contou, seremos conhecido como o novo casal mais "rápido" — disse Lorenzo.
— Por que o mais rápido?
— Porque nos conhecemos só dois dias.
— Ah, isso é verdade — sorri. — Mas que se dane, eles são uns imbecis.
— Até demais!
Assim que a aula terminou, pegamos os nossos pertences e nos retiramos, seguindo em direção a saída.
— Milana — exclamou Alessa correndo até mim.
— Oi — respondi indiferente.
— Está indo para casa?
— E para onde mais eu iria?
— Eu sei que nós duas sempre vamos embora juntas, mas eu sairei com o Mattia agora, então nos vemos mais tarde?
— É claro.
— Então até — sorriu.
Assim que Alessa se afastou, voltei a caminhar.
Eu estava tentando entender o lado da Alessa e até mesmo me colocar em seu lugar, mas não consegui, aquilo ainda me chateava muito.