ANDREY NIKOLAI
Olho atentamente em volta e me surpreendo pelo fato de o apartamento ser bem simples, pequeno e em um bairro não tão rico.
— Pode parar com essa pinta de segurança por um segundo? — Olho na direção da voz e vejo Violetta entrar na pequena sala vestida apenas com uma blusa longa, que vai até metade de suas coxas, cabelo preso em um coque malfeito e completamente sem maquiagem.
Sim, ela mudou demais.
— É meu trabalho protegê-la — murmuro desviando o olhar para qualquer coisa que não seja ela.
— Não há perigo aqui, escolhi esse bairro justamente por ser seguro e longe da civilização rica da Rússia. — Ela anda até o balcão que separa a cozinha da sala e novamente abre a boca. — Está com fome? Posso fazer algo para comer. — Ela sabe cozinhar?
— Não, obrigado, senhorita.
— Pode se sentar, Andrey, não precisa ficar em pé feito uma estátua — diz pegando uma uva em uma bandeja cheia de outras frutas.
Sento a uma certa distância do balcão, ela me observa por alguns segundos.
Por que tudo que esse garota faz agora me deixa tão nervoso? Já tive diversos clientes, inclusive muitas mulheres lindas e extremamente atraentes. Por que ela em especial me deixa assim?
— Seus pais não vão gostar de saber sobre o apartamento, e muito menos onde ele se encontra. — Os pais de Violetta são um tanto mesquinhos em relação a pessoas com um nível social inferior; só tratavam bem a mim, meus seguranças e seus funcionários da casa e da empresa porque servem a eles.
— Sou uma mulher e sinceramente não me importo com o que digam, comprei esse apartamento com o dinheiro que ganhei no estágio que fiz em Paris sem eles saberem. Se eu tivesse usado o dinheiro deles já saberiam do apartamento e, de alguma forma, quero ter algo que conquistei sozinha — conclui com orgulho.
— A sensação é boa, ver os frutos do nosso trabalho e esforço — murmuro, ela se aproxima e se senta no sofá para três pessoas com as pernas esticadas, enquanto eu me mantenho na poltrona.
— Sei que você é meu segurança, mas acho que se formos amigos isso vai ser bem melhor.
— Senhorita Petrov, isso...
— Por favor, Andrey. Todos os amigos que tenho tem os mesmos pensamentos que os meus pais, já com você eu posso ser eu mesma e isso é muito bom. Quer dizer... Eu acho que posso ser. — Respiro fundo, me dando por vencido.
— Posso perder meu emprego assim.
— Na frente deles podemos agir diferente, ok? Por exemplo, agora que estamos sozinhos pode me chamar de Violetta.
— Tudo bem.
— Tenho uma dúvida.
— Sim — digo, um pouco apreensivo com o que ela vá perguntar.
— Não é casado, parece viver com esse terno e gravata... Você não vive?
— Sou um homem reservado, não sou mulherengo e não, não sou casado e nunca pensei nisso. Não porque eu não queira e sim porque nunca namorei ou encontrei alguém que me fizesse por tais pensamentos em minha cabeça. E não, não vivo de terno e gravata.
— Sua vida realmente parece ser extremamente chata, e olha que você tem a liberdade de fazer o que bem entender, sem ter pessoas ao seu redor esperando o seu melhor o tempo todo.
— Sou um homem de trinta e sete anos, não um adolescente. — Ela ri.
— Curtir a vida não tem nada a ver com adolescência, e eu aposto que até na sua adolescência você era uma pessoa chata.
— Se assim diz ser. — Dou de ombros não querendo entrar em muitos detalhes.
— Não me deixaria surpresa se dissesse que nunca transou com nenhuma mulher. — Sim, essas perguntas estão vindo dela, o que antes achava impossível, já que ela m*l abria a boca perto de mim.
— É estranho ver você tão falante comigo, você não era assim. — E pela primeira vez desde que ela voltou, suas bochechas ficaram rosadas e... merda! Ela ficou tão bonita assim.
Inferno!
— Eu mudei, Andrey, sou uma mulher e acho que me impor é algo essencial.
— E por que não faz isso com seus pais? — Novamente ela fica vermelha, o que me faz abrir um sorriso discreto.
— Eu não os quero decepcionar; sempre foram pais maravilhosos comigo, preocupados e fizeram de tudo para me ver feliz. Dizer a eles tudo que penso e, principalmente a meu pai, que não quero assumir sua empresa e sim seguir os meus sonhos, seria como dar uma facada em cada um. Sei que são mesquinhos e tratam diferente as pessoas com um nível inferior, mas em relação a mim, não tenho o que reclamar, a não ser o fato de ser pressionada a assumir aquela empresa. — Abro a minha boca para falar, mas decido fechá-la novamente.
Acho que já falei demais, não quero ser prejudicado por aconselhá-la a tacar o f**a-se e seguir seus sonhos, assim como eu fiz.
— Olha, tem um quarto de hóspedes em frente ao meu, ambos os quartos aqui são pequenos, mas confortáveis. O seu fica na esquerda e se quiser comer algo, fica à vontade. — Ela levanta do sofá com expressão bem triste, e isso me fez pensar se é porque não disse nada depois dela desabafar tudo aquilo.
É claro, seu i*****l.
Penso em reverter a situação, mas ela já havia sumido, entrando no pequeno corredor e depois em seu quarto. Decido fazer o mesmo; perdi totalmente o pouco de fome que eu tinha.
Ao entrar no quarto percebo que Violetta tinha razão, o quarto é pequeno; uma janela grande com cortinas brancas e teto branco, mas há uma cama box com lençóis, cobertores e travesseiros brancos. Para falar a verdade, a única coisa que dá uma certa cor ao ambiente são os móveis de madeira rústica, o piso de madeira e as portas de madeira escura.
É melhor eu dormir.
****
Abro os olhos lentamente, estranhando o ambiente que me encontro, olho em volta e logo recordo-me que estou no apartamento de Violetta. Pego meu celular e me assusto ao ver mais de dez ligações perdidas da minha mãe, um medo muito grande me toma. Rapidamente me levanto da cama, vestindo somente uma cueca boxer. Pego a minha roupa e me visto rapidamente, vou no banheiro tentar dar um jeito na minha aparência de merda.
Ao sair do quarto, digito o número da minha mãe e ela atende no segundo toque.
— Nikolai, filho?
— Mãe, aconteceu alguma coisa com meu pai? Ele piorou? Ele…
— Calma meu filho, seu pai não obteve melhoras, mas também não pirou, está estável. — Solto a respiração que nem sabia que estava prendendo.
— Que susto, vi tantas ligações perdidas e pensei que havia acontecido algo.
— Ainda não é hora do seu pai ir, mas filho, sabe que vamos ter que ser muito fortes, o câncer do seu pai está avançado e mesmo com o tratamento, a morte dele é inevitável.
— Eu sei, o tratamento só serve para prolongar um pouco a vida dele, mas a ideia de perde-lo é tão… dolorosa. — Fecho os olhos e sacudo a cabeça, não querendo aceitar isso.
— Me dói ver o homem que amo assim, meu filho, mas essa é a vida, todos nós vamos morrer um dia, e seu pai sente necessidade de se despedir de todos antes de ir.
— Como assim?
— Filho, seu pai quer reunir a família toda para passar um tempo na antiga fazenda dos seus avós. Ele quer se despedir na casa onde foi criado e viveu muito feliz com os pais dele.
— Mãe, mas e o tratamento? Ele não pode sair da Rússia para voltar ao Mississippi.
— Nós já estamos indo hoje mesmo e toda a família também, quero muito que você vá. Você é nosso único filho e seu pai quer muito que vá para a fazenda.
— Mãe, eu tenho muito...
— Você trabalha muito, tem funcionários competentes e pode passar um tempo fora sim! Se não vier vou ficar muito triste e seu pai mais ainda. — Escuto a voz do meu pai no fundo, a chamando. — Tenho que desligar, por favor, vá meu filho. Eu te amo. — Logo ela desliga.
Respiro fundo, tentando assimilar tudo que foi dito.
— Andrey. — Me assusto com Violetta, ela está parada na porta do seu quarto com a mesma roupa de ontem e com os cabelos levemente bagunçados.
Isso a deixa bem sexy. Inferno!
— Senhorita Petrov, eu…
— Me chame de Violetta, prometeu isso ontem.
— Sim, me desculpe. — Me viro indo até a pequena sala.
— Eu ouvi sua conversa. Que doença é essa do seu pai? É tão grave assim?
— Ele está com câncer no fígado e está avançado, tem pouco tempo de vida. — Ela parece surpresa e se aproxima um pouco.
— Ele vai voltar para o Mississippi? Eu achava que seu família fosse russa.
— Só a minha mãe, meu pai viveu lá até o dia em que veio para cá trabalhar. Aí ele conheceu minha mãe e não voltou mais, até o meu nascimento. m*l lembro de lá, eu tinha dez anos desde a última vez que fui a essa fazenda. Meus avós morreram logo após eu completar dezoito anos, eles estão enterrados lá e eu não fui ao enterro deles porque estava doente, com uma pneumonia muito forte; só meu pai foi e minha mãe ficou para cuidar de mim, já que eu estava no hospital. Foi difícil para ele. — Nossa, nunca falei disso para ninguém.
— Uau, que história, mas por que ele quer voltar para lá? Ouvi você dizer que ele está em tratamento. — Ela se senta no sofá.
— O tratamento serviu para prolongar um pouco mais a sua vida, mas ele não quer mais fazer e quer se despedir da vida na fazenda; quer todos da família reunidos lá.
— Ué, e o que faz aqui ainda? Vá ver seu pai.
— Prometi a seus pais que te protegeria, não posso ir e te deixar aqui e muito menos passar a sua segurança pessoal a outro porque não sei quanto tempo vou ficar fora do país. A maioria dos meus seguranças já estão ocupados e os novatos ainda estão em fase de treinamento, seria irresponsabilidade minha deixar um deles cuidando da sua segurança pessoal.
— Eu vou ficar bem, pode ir tranquilo, seu pai está acima de tudo.
— Não, tenho que pensar em algo. Vou ligar para seus pais e tentar arrumar um solução.
****
| VIOLETTA PETROV |
Vejo Andrey sair da sala me deixando lá com diversos pensamentos. Nunca pensei que ele poderia ficar ainda mais lindo, e vê-lo preocupado, de alguma forma, me deixou também.
Sempre tive vergonha quando ele estava no mesmo ambiente que eu, acho que o jeito dele reservado me intimidava, mas agora, vendo de outro modo, isso até o torna… atraente. Sei que isso jamais vai rolar porque ele, além de reservado, tem uma política de não se envolver com clientes e meu pai o mataria e faria sua empresa virar pó se isso acontecesse. Me sentiria muito m*l se ele se prejudicasse por minha causa, mas só de imaginar como ele deve ser por baixo do terno e gravata sinto meu corpo todo esquentar.
Por que o proibido é sempre mais atrativo?
Ele volta a sala com uma cara nada boa, o que me deixa apreensiva.
— O que meus pais disseram? — Ele respira fundo e leva a mão à barba, a coçando.
— Eu vou para o Mississippi.
— Isso é bom, mas por que está com cara de poucos amigos? Bom, isso é normal, mas está bem pior. — Ele leva as mãos aos bolsos da calça social escura.
— Isso é algo que quebra o protocolo da minha empresa, mas é caso de vida ou morte.
— Andrey, o que quer dizer com isso?
— Você vai viajar comigo.