Capítulo 5

3576 Words
Eu suspiro, estudando o entorno da sala de espera vazia. Não há qualquer possibilidade de que a minha péssima noite possa surtir interesse em minha mãe, e falar sobre o fim do casamento apenas dará a chance para que seus xingamentos e ofensas sejam libertados. Então eu desempenho meu papel. — Ele... Hm... Ele está no banho agora, mãe... É algo urgente? — Ah, não... — Seu tom é ainda tão duro que eu duvido muito que ela tenha se convencido. — Eu apenas queria falar com ele sem que você tivesse que repassar a conversa. Algo entre sogra e genro, entende, bebê? Ele não me atendeu o dia inteiro e parece ter desligado o celular agora... Às vezes acho tão estranho você nunca permitir que falemos diretamente com ele, seus primos estiveram aqui mais cedo e concordaram comigo. Se não conhecesse minha própria filha juraria que essa história toda é uma farsa. — Ela suspira com falso desânimo. — Você parece tão abatida, especialmente esta noite, isso me preocupa tanto, querida. Mentira... O que ela quer é saber se ainda precisa gastar o seu precioso tempo falando com a filha que se tornou uma vergonha para a família, justamente por ter tido mais sucesso no âmbito que seus filhos homens fracassaram. Não quer desperdiçar a sua vida planejando um casamento para perdoar os erros passados. Mal sabe ela que não existe mais casamento algum, que sou uma mulher traída e considerada frígida por seu noivo. Que cinco anos foram necessários para que eu acordasse. E eu muito menos tenho coragem para dizer. — Eu não preciso provar nada para os meus primos, mãe. Meu noivo é um homem muito ocupado e quase não usa o número pessoal. Além disso, cinco anos de farsa é muito tempo, não acha? — Sua resposta é um risinho seco. — Mudando de assunto... Como você está? — Estou ótima. Sinto muito ligar tão tarde, mas, eu estive tão ocupada escolhendo a cor do vestido das suas damas de honra, que acabei me esquecendo de avisar que Margaret fará os últimos ajustes na calda do seu vestido e ele ficará idêntico ao de sua avó! Aliás, conseguimos encontrar a tiara de diamantes de sua bisavó dentro de um baú da casa de barcos. Bettynha, você precisa ver como é linda... Não duvido que fique perfeita em contraste com os seus cabelos negros! A menos que você já esteja com os cabelos mais brancos do que seus avós. Para ser sincera, eu não me surpreenderia. Você trabalha tanto que até me impressiono que tenha um homem! Falando nele, espero que o "banho" não seja uma invenção para me fazer desligar... Eu odiaria ter interrompido vocês. Sem serem convidadas, lágrimas ardentes sobem aos meus olhos, e as palavras que se formam em minha boca me ferroam com o peso da mentira. — Não interrompeu... Estávamos conversando sobre os preparativos. Quero dizer, antes dele entrar no banho. É que ele está tão... feliz. Minha mãe dá uma risadinha venenosa, completamente cega a maneira com que as palavras saem engasgadas de minha garganta. — Ao menos dessa vez você não conseguiu nos decepcionar. Estou orgulhosa, Bettynha. Orgulhosa por achar que me casando não terei livre arbítrio, quero gritar, que serei submissa e dedicada apenas ao bem estar do meu e******o marido, como toda "boa" esposa deve ser. — É sempre bom escutar isso de uma mãe, sabia? Ela não percebe a minha ironia, ou faz questão de ignorar, pois, com todo o entusiasmo do mundo, continua tagarelando. Quando nos despedimos com um ressentimento surdo, eu percebo que a sala tem agora um cheiro doce e pesado, e novamente estou tropeçando naquela sensação cortante de culpa. O cansaço tão pouco me permite sossegar nos assentos. Todo o meu corpo reclama de dor e a minha mente não consegue se manter em um único problema por vez. Decido que é hora de procurar por Marjorie. Uma vez longe da recepção, fico zigue-zagueando pelos corredores, observando o fluxo de enfermeiros que aumenta conforme o tempo se arrasta. Marjorie está lutando aos chutes e tapas com uma máquina de venda automática no primeiro andar, e não percebe que estou ao seu lado até dar meia-volta e esbarrar em mim. — Acredita que essa máquina ridícula me roubou cinco dólares? — Ela empurra para trás uma das mechas soltas de seu cabelo, e com a outra mão recupera da bolsa um cantil metálico onde sempre guarda o seu Whisky. — Como posso batizar o meu refrigerante se não tenho um refrigerante? A máquina reproduz um som agudo quando ela a chuta novamente. O painel acende, mas nada cai pela a******a. Bufando, Marjorie joga a cabeça para trás e derrama uma quantidade generosa do líquido em suas mãos. O odor ardente da bebida me deixa tonta de súbito. — Essa parece ser a noite dos problemas. — Resmungo, deitando a cabeça na pilastra ao lado. Marjorie me estuda com um olhar de soslaio e devolve o cantil para a bolsa. — Espera, eu preciso saber de qual dos problemas você se refere... Seria o lance com o Samuel, cara-de-pastel? — Eu aceno e fecho os olhos. — Eu acho que a primeira coisa que você devia fazer é contratar um açougueiro, mandar ele cortar aquela salsicha que o Samuel tem entre as pernas e vender para aquela ordinária, cujo nome você nem sabe e eu não me interesso em descobrir. Eu sorrio. — E o que faço com a minha família? — Você pode mandar eles cuidarem da própria vida. — Depois de fazer com que eles montassem o casamento dos sonhos para mim? Abro os olhos e encontro Marjorie olhando fixamente para a máquina. Uma ruga se forma entre suas sobrancelhas conforme ela se concentra na tarefa de encarar o objeto. Talvez esteja tentando recuperar o dinheiro perdido com a força da mente. — Primeiro, quem montou o seu casamento dos sonhos fui eu. Segundo, sua família não gosta de você. Terceiro, para um casamento acontecer, geralmente se precisa de um noivo. — Na verdade, eu poderia casar comigo mesma. — Não deixa de ser uma boa opção. — Ela não me vê revirando os olhos, está ocupada estapeando o vidro da máquina. — Quer saber? Quem é que precisa de um refrigerante ridículo? Eu não, com certeza. Tomara que essa coisa ridícula exploda na próxima vez que alguém tentar comer um desses salgadinhos ridículos. Maaas... — Forjando tranquilidade com um profundo suspiro, ela gira em seus calcanhares, afasta os cabelos para as costas e me fita com determinação. — Se o casamento é tão importante pra sua família i****a, por que não procura outro homem, pede ele em casamento, e se casa? — Simples, não é? — ironizo. — Como posso encontrar um noivo do nada, Major? O casamento acontece em menos de quatro semanas, e todos os meus parentes já acreditam que nunca houve homem algum. Se ao menos acreditassem que sou lésbica e que inventei essa situação pelo medo do preconceito. Mas, não! Nem isso eles acham que sou capaz, e eu odeio que pensem que não sou capaz de alguma coisa... Eu não consigo mentir por muito tempo e falar a verdade a essa altura do campeonato só vai piorar tudo! — Recupero meu fôlego com um forte arquejo. — Eu não sei o que fazer... — Você vai encontrar uma solução, amiga. — Não vou — choramingo, sentindo-me mais frágil do que nunca. — Dessa vez não tenho nenhuma saída. Quanto mais o tempo passa, pior as coisas ficam. Talvez seja um castigo, sabe? As coisas darem errado desse jeito. É castigo pela minha covardia. — Você está fazendo aquela coisa de novo... — ela aponta, impassível. — Respira fundo, Betty. Ninguém morre por ter sido traída, e com certeza um casamento forçado só terminaria em tragédia. Eu me afasto da pilastra. — Mas a culpa mata! — Não mata, não. E você não está fazendo isso por se sentir culpada. — Estou sim. — Não, não está. Você acabou de dizer que odeia não ser capaz de fazer alguma coisa. O casamento se tornou um jogo para você e uma obrigação para a sua família. E isso é errado, Betty! Casamento é coisa séria, não importa se existe um papel onde vocês podem assinar para quebrar o vínculo. Os votos são para sempre, e eu tenho certeza de que você não suportaria se casar com Samuel porque ele sempre foi um i****a, machista, e no fundo você sabia disso. Uma traição passageira não chega nem perto de uma vida completamente triste. Você não merece isso, amiga. A minha fungada dramática ecoa vergonhosamente. — Não quero ser um fracasso. — Você não é! — Marjorie segura em meus antebraços, me chacoalhando de leve. — Tem a mania de se meter em problemas, mas eu costumo ser o problema na vida das pessoas, então nossa amizade é complementar. Só que, Betty, nós duas sabemos que você viveu dentro de uma caixa durante todo esse tempo. Nunca teve uma vida de verdade, e se você se casasse com Samuel, perderia toda a oportunidade de ser feliz. Não pelo casamento privar alguém do que deseje fazer, mas simplesmente por ele não ser o cara certo. E graças aos céus por ele ter traído você essa noite e provado que era um retardado. Você pode querer se casar para recuperar os laços com a sua família, mas não se esqueça do que o casamento é pra você! Meu sorriso é genuíno, mas tão logo some do meu rosto. — Eu sei disso. A questão é que eu ainda sou uma noiva tendo a pior noite da sua vida e sem qualquer chance de se livrar dessa bagunça. — Eu desisto de tentar colocar juízo na sua cabeça. — Marjorie se afasta com um sorriso ébrio brincando em seus lábios. — Se você pretende levar essa história de casamento falso adiante, ao menos precisa encontrar alguém que não te limite, mas que também não seja um cubo de gelo humano. Por que não tenta contratar um modelo? Dinheiro não é problema pra você. — E onde vou encontrar um modelo que aceite interpretar o papel de noivo perfeito? Lembrando que o pacote inclui uma dúzia de pombas brancas, uma família muito exigente, e uma noiva com sérios problemas de ansiedade. — Você não precisa se apaixonar pelo modelo, e nem ele por você, Betty... Só ofereça o dinheiro, deixe suas intenções bastante claras, e pronto. Casamento perfeito. Família satisfeita. Relacionamento aberto e saudável. Apesar de um pouco insano, é até mais viável do que a relação esquisita que você e o Samuel tinham. Considero suas palavras com atenção, ciente de um pequeno arrepio que beija minha coluna. — Acha que pode funcionar? — Nos filmes funciona. — Ela encolhe os ombros. — Pensando pelo lado bom, ao menos o problema atual está quase resolvido. Tudo o que temos que fazer é... esperar, tá legal? Vou pensar em algo melhor mais tarde, prometo. A medida que as horas passam e o alvorecer divide o mundo em tons degradê, tento desesperadamente manter a sensação de angústia o mais distante possível do meu peito, contudo, o sobretudo macio que permaneço carregando em meus braços parece zombar de minha ingenuidade com todo o sangue do desconhecido secando-se em manchas escuras. Meus olhos ardem pelo sono e meu corpo aquece pelas dores em meus músculos, mesmo tendo feito uma cama improvisada com os assentos da sala de espera, ainda estou exausta. Nas horas seguintes, passo meu tempo revezando entre olhar para o limite do horizonte através da extensa janela da sala de espera, e manter a atenção no horário. São seis e quarenta e cinco quando decido retornar até a recepção para saber se Marjorie tem alguma notícia. Explorando às cegas os corredores por onde passo, acabo de deixar um recado por mensagem de texto para minha secretária sobre a reunião dos acionistas que deverá ocorrer em menos de dois dias, alertando-a sobre eventuais imprevistos quanto aos documentos que precisam chegar em minhas mãos antes que a reunião aconteça. Apesar do esgotamento físico, não me permito o luxo de deixar todo o trabalho nas mãos da minha inexperiente secretária temporária, pois ainda que o meu sábado esteja reservado para analisar contratos e relatórios, ter uma funcionária em treinamento exige toda a minha paciência. Ter uma pausa em meu caos pessoal para focar alguns minutos em meu trabalho me prepara para encarar a recepção outra vez, onde o vazio é preenchido por enfermeiros, policiais e médicos que circulam apressadamente. Meu coração acelera, e o nervosismo me faz pensar que é muita coincidência que os homens da lei estejam justamente neste hospital, quando Marjorie me garantiu de que se fossem levar as vítimas do atentado para algum lugar, nem mesmo se lembrariam do hospital mais distante do centro da cidade. Coincidência demais... A recepcionista já não está mais sozinha, e não se importa em dar uma resposta concreta para minhas perguntas. As suas palavras são sempre evasivas e curtas, e isso, além de todo o sigilo quanto a não-menção ao paciente desconhecido, me irrita. Meu café da manhã é tão improvisado quanto o meu cochilo, já que me encho de salgadinhos e sucos da máquina de venda automática, deliberadamente evitando ter que me afastar dos arredores da recepção para procurar pela lanchonete. Minha frustração perdura por mais duas longas e infinitas horas, e Marjorie surge de um dos longos corredores iluminados por luzes fortes, esvoaçando seu vestido rosado e os cabelos cor de mel. Sua bolsa pende ao lado de sua cintura, desenhando o contorno do cantil em seu interior, porém, Marjorie ainda parece bastante sóbria com seus passos suaves. Um sorriso discreto repuxa os cantos de seus lábios antes dela me alcançar, envolver o braço em torno dos meus ombros, e me puxar para a saída. — Eu estava conversando com o ex-namorado da minha mãe e descobri algumas coisas sobre o seu Deus Grego — ela fala com suavidade. — A bala foi extraída. Mesmo que o disparo tenha atingido o abdômen, foi superficial e não deixou fragmentos. Por sorte não perfurou o esôfago ou os grandes vasos torácicos, caso contrário, ele teria morrido antes que você oferecesse ajuda. O mais complicado foi a cirurgia do joelho para reparar os ligamentos rompidos, ele não vai conseguir andar perfeitamente por um bom tempo. Além de quebrar um dos ossos da perna esquerda e o nariz, fraturar duas costelas e a transfusão de sangue que o manterá em observação. Um estranho alívio me preenche. — Ao menos ele não está morto. Marjorie parece prender o riso. — Quase me esqueço da boca dele... Ele perdeu dois dentes sisos com a surra e quase teve uma hemorragia, por isso cuspia tanto sangue... Enquanto isso, aos dezesseis anos paguei caro por uma cirurgia na boca, sem saber que se levasse uma surra economizaria uma grana e ainda me livrava dos dentes que não precisava! — Major! — eu a repreendo com um olhar cortante, mas isso só a faz soltar o riso preso. — Pelo menos os médicos conseguiram alguma informação dele? As portas duplas se abrem quando um par de enfermeiros aparece empurrando uma maca com um homem desacordado. — Ah, não... Ele ficou consciente após a cirurgia, mas não quis falar com ninguém. — Marjorie levanta a mão para cobrir os olhos do sol nascente que nos recebe do lado de fora. O estacionamento está cheio e somos obrigadas a serpentear em torno dos carros para passar. Estou com tanto sono e distraída que acabo esbarrando dolorosamente em cada retrovisor ao meu alcance. Em um desses encontrões, Marjorie se vira para mim como se acabasse de pensar em algo importante, mas... — Olha! Tem uma bandeira grudada naquele mastro. — Marjorie está apontando para o alto das minhas costas. Assim que me viro para averiguar, ela aciona o alarme do seu Ford azul e o destranca. — Por que diabos colocaram uma bandeira feita de um avental hospitalar bem ali em cima? Já não é bastante óbvio onde estamos? O que aos olhos de minha amiga é uma bandeira, aos meus nada mais é do que uma camisola plástica que fora rasgada em torno do cano de metal, posicionado ao lado de uma das janelas do segundo andar do prédio. Trata-se do andar em que os pacientes são internados. Abaixo das janelas, um canteiro de arbustos e flores se ergue em uma terra escura e de aparência úmida. Ao longo do pavimento, pegadas enlameadas decoram o asfalto brilhante. Um arrepio cresce em minha espinha e eu giro ao redor, buscando uma resposta para o alerta que pisca em minha mente. — Moça bonita... — o sussurro engrolado desvanece pelo meu sobressalto. Marjorie começa a rir, e eu grito, vislumbrando o homem desconhecido apoiando-se de modo cambaleante em uma bengala pequena demais para o seu tamanho. Seu rosto ainda está inchado e com manchas que se tornam esverdeadas nas laterais das lesões, destacando o curativo em seu nariz e nas laterais de sua boca larga e ressecada. Com exceção das faixas em seu abdômen, mão direita, perna esquerda e joelho direito em um imobilizador com velcro, ele não usa mais nada. Completamente pelado e com um sorriso débil nos lábios esbranquiçados, ele puxa o último farrapo da camisola plástica e expõe todo o resto de pele tatuada acima da bandagem em sua cintura. Os desenhos gravados em seus braços torneados começam nos músculos peitorais com uma fusão de mensagens em idiomas diferentes, espirais e linhas, fluindo em uma conexão com notas musicais, estrelas e raios por seu ombro direito até o pulso. Do outro lado, a cabeça de um dragão chinês de boca aberta tem a sua calda delineando-se sobre o seu ombro esquerdo. Entre a pigmentação de desenhos, há uma faixa de pele com tímidos cachos negros separando-os. Instintivamente, abro o sobretudo em meus braços e o jogo sobre os ombros do homem, lutando para que meus olhos não desçam através das faixas em sua barriga. Uma vez que ele está coberto, abro a porta traseira do carro e o obrigo a se sentar. Tomando a bengala de suas mãos e arremessando-a com um baque surdo no chão, sinto que estou vermelha da cabeça aos pés. Se por irritação ou vergonha, não sei dizer. — Qual é o seu maldito problema, camarada? — Eu... os policiais... Não posso... — ele geme. — E por que você tanto foge da polícia? Está colocando sua vida em risco, maldição! O homem rosna baixinho e profere uma palavra que não reconheço como nenhum dos idiomas em que sou fluente. Ele a repete no inglês um momento depois. — Ilegal... mente... — Qual o seu nome, cara? — Marjorie pergunta atrás de mim. — Hollis... Oli... — Eu escuto o farfalhar dos tecidos estéris que lhe cobrem a coxa no momento em que ele se move para manter o equilíbrio. A agonia me faz trincar o maxilar. — Oliver. — Oliver... Existe um outro familiar escondido por aqui com quem possamos deixar você? Eu me viro para Marjorie. — Você pretende levá-lo daqui? Ela não se abala com minha incredulidade. — Ele disse que não é um cidadão legal! E se o país dele estiver em guerra e a fuga foi o único jeito de escapar? Ele pode ser um refugiado e nós duas vamos morrer de culpa se ele for pego. — Você disse que a culpa não matava! — Eu a recordo. — Nesse caso, mata sim. O homem inclina a cabeça para trás no que imagino ser uma maneira de conter a dor em suas costelas. Não há qualquer vestígio de uma brisa sobre nós, embora seus longos cabelos castanhos praticamente flutuem acima do casaco que o reveste. Seu olhar de magníficas obsidianas verdes refletem um brilho febril a medida que ele retribui minha atenção. — Sem família... — Sua voz rouca ainda soa meio grogue. Fico preocupada em como ele pode ter descido por um cano se m*l consegue se colocar de pé. Eu me ajoelho diante da porta aberta, apalpando-o em busca de novos hematomas. Ele não demonstra reação. — Sem... ninguém. — Então, ninguém notaria se você sumisse? — Marjorie pondera. Oliver e eu olhamos em sua direção com clara desconfiança. — No seu trabalho, ninguém notaria a sua falta? "O que você está fazendo?" sibilo, e ela me ignora. — Não tenho um emprego fixo... Sou um... acompanhante. — Ele responde, seu peito oscilando e tornando sua voz ofegante. O seu olhar se ergue para fitar a silhueta de Marjorie. — Pessoas me pagam para... Qualquer coisa. Marjorie fica em silêncio por um momento, perdendo o seu olhar no vazio. Então, gradativamente seus lábios se curvam num sorriso esperto. — Essa é a segunda vez que vamos salvar a sua pele, cara. — Declara em voz baixa. — É bom que valha a pena. — Para onde você vai levá-lo? — pergunto, colocando-me de pé. Oliver me segue com os olhos. — Não é perigoso demais? Eu escutei aqueles caras garantirem que não queriam que ele vivesse mais. Marjorie me lança um olhar cúmplice, tranquilizador, e faz o mesmo ao fitar o rosto pálido de Oliver. — Confia em mim, eu sei o que estou fazendo. — Por que tenho a sensação de que vou me arrepender disso? — lamento baixinho.
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