No dia seguinte...
Acordei as sete e meia da manhã e por já estar atrasada, me arrumei rapidamente tomando um banho como dizia minha avó, de gato. Depois procurei minha camiseta do uniforme e constatei que as duas estão sujas na lavanderia ainda porque não lavei roupa esses dias.
Opto então por uma camiseta preta discreta e ponho uma jaqueta jeans por cima e a fecho com o zíper, para nenhum inspetor ver que não estou com o uniforme. De uns tempos para cá, nossos diretor, Tony, anda implicando muito com essa coisa de uniforme e até catracas e carteirinhas estamos usando por segundo ele, motivos de segurança.
Faço um r**o de cavalo nos meus cabelos que são longos até quase o meio das costas e castanhos. Em seguida, passo um rímel nos meus olhos para destaca-los e um batonzinho rosa claro. Calço uma sapatilha verde, pego minha mochila, celular, chaves do carro e saio do meu quarto, descendo as escadas correndo até a cozinha.
— Bom dia, pai. - Meus olhos vão direto para a fruteira em cima da mesa e da mesma, pego um cacho de uvas.
— Bom dia, filha. - Will toma um último gole de café e se levanta. - Não me espere para o almoço, nem para o jantar. - Olha ao seu redor e pega sua carteira de couro preta, que estava na pia.
— Por quê? - Ponho uma uva na boca.
— Me ligaram da delegacia e estamos com problemas. Um cara foi encontrado morto na floresta durante a madrugada. - Me conta sério.
— Nossa... Que horror. - Engulo em seco.
— Pois é. - Se aproxima de mim e me encara colocando as mãos sob meus ombros. - Vou passar o dia inteiro fora tentando resolver esse caso.
— Então a casa vai ficar vazia? - Me controlo para não sorrir.
— Não porque você vai estar em casa, né? Mas por favor, tome cuidado e quando escurecer mantenha as portas e janelas fechadas.
— Pode deixar. - Concordo assentindo com a cabeça e ele beija minha testa.
— Ótimo! Tchau filha! - Se despede e sai de casa.
Ponho outra uva na boca, sorrio e animada, vou embora para o colégio também.
Dirigi ao som de Beatles, uma das minhas bandas antigas favoritas e, ao chegar na escola, estacionei meu carro e perguntei para Liza se o professor Hank já está por aqui.
— Sim, acho que ele está na sala dos professores agora. - A loira responde me fazendo sorrir. - Que foi?
— Depois te conto. - Pisco para ela e corro até a sala dos professores, torcendo mentalmente para que só Mathew esteja ali.
Acho que hoje é meu dia de sorte pois ele está sozinho, de costas para mim, olhando para a janela e falando ao telefone.
— Que bom que te deixei satisfeito. - Fala e quando bato a porta se vira para mim, mas não parecendo surpreso como da vez anterior. - Nos falamos depois, até mais. - Desliga o telefone e o põe sobre a enorme mesa de mármore que tinha ali. - Como vai senhorita Peterson? - Põe um cigarro entre os lábios.
Não sabia que Mathew fumava, mas que ele está sexy com o cigarro na boca ah... Isso está.
— Anne. Ninguém se chama de senhorita por aqui. - Ele sorri mordendo levemente o cigarro.
— Como está Anne? - Refaz a pergunta, tirando o cigarro e soltando fumaça entre os lábios.
— Estou bem professor. - Respondo sorrindo de volta. - Vim te pedir uma coisa. - Respiro fundo.
— Que coisa? - Ele apaga o cigarro no cinzeiro e se aproxima de mim.
— Será que o senhor podia me dar aulas particulares de matemática? Eu p**o bem! - Aviso tentando convencê-lo.
— Paga bem como? Não sabia que a filha do delegado tinha dinheiro.
— Como sabe que sou filha do delegado? - Pergunto séria e ele arregala os olhos. - Eu nunca comentei isso com o senhor.
— Eu... Essa cidade é pequena, as pessoas comentam. Acho que algum dos professores me contou, é isso.
— Ah sim. Respondendo sua pergunta, recebo uma mesada da minha mãe todo mês e é com essa grana que vou pagar o senhor, caso aceite minha proposta. - Explico passando a mão nos meus cabelos.
— Está com tantos problemas assim na matéria? - Ele indaga mordendo os lábios.
— Sim e não posso repetir de ano senão, vou me ferrar. Olha, o senhor não parece rico então, ganhar uma graninha extra seria até bom, não? - Mando a real.
— Sim, não sou rico, pelo contrário aliás. - Faz uma careta.
— Seria só por um tempo até eu melhorar em matemática e sou inteligente, sei que aprenderei rápido. - Insisto cruzando os dedos e torcendo para que ele aceite minha proposta. - Então... Topa? - Fecho os olhos pois detesto receber um não.
— Onde seriam as aulas?
— Na minha casa. - Continuo com os olhos fechados.
— Ta bom, eu topo. - Concorda e abro os olhos feliz.
— Obrigada professor, não sabe o que isso significa para mim. - O abraço impulsivamente.
Não sabe mesmo pois essas aulas particulares vão me ser muito úteis, assim dou em cima dele, ganho a aposta e ainda melhoro minhas notas em exatas. É o plano perfeito.
— De nada. - Termino o abraço e ele se afasta. Sorrio e vou embora da sala dele pois o sinal toca e sei que tenho aula de biologia agora.
[...]
— Que aula mais chata. - Rachel reclama bocejando na aula de química que é dada pela professora Hilary, que já tem uns setenta anos.
— Aula boa é com o professor delícia. - Jéssica provoca se virando para nós.
— Vê se calem a boca, eu gosto de química. - Liza nos dá uma bronca e nós três mostramos a língua para ela que nos dá o troco mostrando o dedo do meio.
— Então é isso pessoal. Para a próxima aula quero que façam a atividade em dupla da página 340. - A professora avisa e pego minha agenda para anotar o que ela disse.
— Quero fazer dupla com a Liza, a Anne é uma negação em química. - Rachel avisa guardando o caderno em sua bolsa.
— Nem vem, não quero fazer dupla com a Anne. - Jéssica retruca ficando de pé.
— Obrigada pela parte que me toca suas vacas. - Xingo e elas riem.
— Depois vou sortear minha dupla. - Liza avisa. - Vou ver meu pai meninas, tchau. - E sai de perto da gente.
— Que horas você marcou para as aulas? - Rachel pergunta toda animada.
— Acho que meio dia e meia. - Respondo guardando meus pertences na minha mochila. - É hoje que vou sair da seca com o professor mais gostoso de Spokane.
[...]
— Vamos no meu carro? - Pergunto já no estacionamento.
— Prefiro ir no meu. - Mathew diz mexendo no celular e resolvo não contraria-lo. Pego minhas chaves e dou para Jéssica e em seguida, volto para ele que caminha comigo até seu carro, que é um utilitário preto.
Utilitários são carros de família, estranho ele ter um, mas gosto não se discute, né? Entro no mesmo no banco de passageiro, ele dá a volta e entra também. Dou as coordenadas do meu endereço enquanto ponho minha mochila no banco de trás e o cinto de segurança. Logo, Mathew dá a partida e vamos até minha casa.
[...]
— O senhor tem família? - Pergunto no caminho.
— Não me chame de senhor, tenho só vinte e oito anos. - Ele diz olhando de relance para mim.
— Er... Okay. Você tem família?
— Claro que tenho, todo mundo tem uma família, mesmo que seja composta só de amigos.
— E a sua é composta assim?
— Não, tenho pai e mãe, mas não os vejo há muito tempo. - Mantém a atenção ao volante.
— Por quê? - Olho para ele.
— Porque a vida quis assim. - Se limita a dizer.
— E você é casado? - Resolvo ser direta novamente.
— Que pergunta mais indiscreta. - Vejo suas bochechas se avermelharem enquanto estaciona em frente minha casa. - É aqui mesmo?
— Sim. - Tiro o cinto de segurança - Você é bem esperto.
— O GPS é mais. - Fala e eu gargalho e saio do carro, enquanto ele pega minha mochila e me entrega.
Subimos os poucos degraus até minha casa e pego minha chave e a giro na porta. Entramos e vejo que a casa está meio bagunçada.
— Desculpe pela bagunça. - Jogo minha mochila no sofá.
— Imagina. - Olha ao seu redor - Estou com sede. - Diz pigarreando.
— Um momento. - O deixo na sala e vou até a cozinha, lavo as mãos, abro a geladeira e pego uma garrafa de água e um copo. Volto para a sala e ele está com a cara na janela. - Aqui, pode se servir. - Me aproximo dele.
— Obrigado. - Pega os objetos da minha mão.
— Vou me trocar, já volto. - E subo as escadas até meu quarto.
Preciso me vestir para matar, então vamos lá.
Procuro um shortinho curto e acho um jeans e em seguida, um top vermelho. Me troco e vou até o banheiro onde escovo os dentes bem e em seguida, me olho no espelho e solto meus cabelos. Passo de novo o batom na boca, fico descalça, respiro fundo e desço até a sala. Mathew está de novo na janela, mas ao ouvir meus passos se vira pra mim e como tinha acabado de beber a água, acaba engasgando.
— Calma. - Seguro o riso, vou até ele e bato levemente em suas costas.
— O... Obrigado. - Se recompõe, mas não me olha. - Anne, acabei de me lembrar que tenho um outro compromisso. - Coloca o copo na mesinha de centro da sala e vai em direção a porta.
— Mas e as minhas aulas? - Pergunto colocando a mão na cintura.
— Deixemos para outro dia. - Responde e praticamente sai correndo dali.
É... Esse aí está no papo já!