chegando no final

2576 Words
Robin cruzou os braços sobre o peito, apertou os lábios e fixou o olhar na estrada, através da janela do carro. Ouça, eu não quis acusar seus amigos justificou-se Adam. Talvez eles sejam mesmo boas pessoas. Mas acho que você vai ter de encarar os fatos. Martinez nos falou dessa caminhonete, que é exatamente igual à dos Dalton. Então Martinez está mentindo. Só tentou jogar a culpa em alguém. Você n******e ter certeza disso. Sei que Shelly e Chuck são honestos. Não sou tão r**m para julgar o caráter das pessoas. Meu Deus, eles têm até netos! E isso os torna inocentes? Ele a estava deixando louca! Primeiro vinha com aquela história de amigos no canyon, e agora tentava convencê-la de que os Dalton eram os chefes de uma quadrilha de falsificadores! Robin, você quer me escutar um minuto? Não estou querendo começar uma discussão. Eu diria que nós já estamos discutindo. Vamos encarar os fatos. Não há outra caminhonete aqui como a deles. Foi feita por encomenda. Até eu a vi naquela noite da reunião da comissão. E daí? Isso significa apenas que todo mundo já viu a caminhonete, inclusive John Martinez. Eu digo que ele está mentindo. Foi ele quem me tirou da estrada. Ela cruzou as pernas, sentindo-se como se fosse explodir. Além do mais, Martinez é índio e seus próprios alunos viram um índio perto daquela kiva. E ele tem uma caminhonete velha. Sei de tudo isso. Adam soltou um longo suspiro. Acho que devemos falar com Cordova e deixar que ele interrogue... Os Dalton? De jeito nenhum, Adam. Por favor. Você n******e envolvê-los assim. Isso é h******l! Não vou deixá-lo fazer isso. Ele só iria fazer algumas perguntas. Tenho certeza de que seus amigos compreenderiam. Compreenderiam o quê? Que eu os apontei como suspeitos de tentarem me m***r? Não posso. Eles são meus amigos. Ericka é praticamente minha protegida. Ela cobriu o rosto com as mãos por um momento, depois respirou fundo e tornou a olhar para Adam. Só sei de uma coisa. Alguém tentou me m***r, e, não importa o que você queira acreditar a respeito dos Dalton, não foram eles. Nem Shelly nem Chuck seriam capazes disso. Adam ficou em silêncio, pensativo. Estaria acreditando nela? De qualquer forma, Robin não poderia deixá-lo ir à polícia com base apenas na palavra de Martinez. Agitou-se no banco, nervosa, sabendo que teria de ir fechar a loja e enfrentar Ericka. Mais terrível ainda, havia combinado que iria jantar na casa dos Dalton... Eram quase seis horas quando Adam estacionou diante da loja. Robin tinha poucos minutos para convencê-lo a não ir ainda falar com Rod. Desesperada, tentou pensar em um bom argumento, e então lembrou-se. O número de telefone que John Martinez nos deu! Temos de experimentar. Talvez a companhia telefônica possa nos dar o endereço. Certo, mas duvido que consigamos alguma coisa. No minuto em que começamos a fazer perguntas em San Lucas na semana passada, tenho certeza de que os falsificadores deram um jeito de cobrir as pistas. Então acha que o número vai estar desligado? Robin estava desapontada. Provavelmente. E o endereço deve estar sob nome falso. Talvez eles mudem até a maneira de recolher os potes. Vão ser muito mais cuidadosos agora. A menos que estejam ganhando muito dinheiro com essa história. Ou a menos que achem que nos assustaram o suficiente. Robin ficou quieta, pensando. Se esses homens voltassem naquele mês para pegar as falsificações com Martinez. Adam, nós poderíamos estar lá quando os homens forem buscar os potes. Poderíamos vigiar a casa de John e ver se aparece alguém. Não sei. É muito perigoso. Talvez não. Nós só temos de ficar observando. Quando virmos quem aparecer, ou se alguém aparecer, então chamaremos Rod. Pelo menos desse jeito teremos certeza de quem são os verdadeiros criminosos. Robin... Ouça, é a única maneira que temos de saber se Martinez está dizendo a verdade. Seria muito mais seguro se a polícia ficasse esperando. Ah, claro ela interrompeu depressa. Exceto por uma coisa. Não há como contarmos a história a Rod e deixarmos os Dalton de fora. Se não mencionarmos a caminhonete então nós estaremos mentindo. Você não entende, Adam? Robin fez uma pausa, mas ele apenas a fitou, evidentemente cético. Que m*l poderia haver se nós nos escondêssemos e ficássemos vigiando a casa de Martinez? Nós só temos de anotar a placa do carro que aparecer e entregá-la a Rod. Precisaríamos saber exatamente quando esse carro vai aparecer. Esse é o único problema. John talvez não queira nos dizer. Se ele estiver envolvido, é claro que não contará nada. Mas se ele for inocente... Josefina talvez o convença a nos ajudar Adam completou. Ela faria isso? Ela gostou de você, Robin. Talvez faça por sua causa. Adam refletiu por um segundo. Vou falar com ela. Se conseguir essa informação de John, ela pode avisar você. Se! Posso tentar. Adam hesitou. E se forem mesmo os Dalton? Você os entregaria, Robin? Ela demorou para responder. Sim, se eu tivesse de fazer isso, se houvesse provas. Mas não agora. Prometa que não vai contar nada a Rod pelo menos até tentarmos pôr em prática essa ideia. Não sei. Talvez eu mesmo possa ir à casa de Martinez... Não. Eu vou também. Ele sorriu e sacudiu a cabeça. Voltaremos a isso outra hora. Certo. Vamos dispensar Ericka e depois tentar aquele número de telefone. Como Adam suspeitava, o número fora desativado. Ligou para a companhia telefônica, mas não conseguiu nada, porque o número não constava da lista. Só poderiam obter o endereço com uma ordem judicial. Droga! Robin resmungou. Eles são mesmo espertos. Estavam de pé lado a lado no escritório, os ombros quase se tocando. Robin deu um passo para trás. Bem, tenho de ir para o jantar... Eu deixo você na casa dos Dalton. A casa ficava a poucos quilômetros a sudoeste da cidade. Como todas as residências naquela área exclusiva, era uma estrutura térrea com jardins naturais de cactos e flores silvestres atrás dos muros baixos. Bela casa Adam comentou, e Robin sabia exatamente o que ele estava pensando: era preciso ter muito dinheiro para possuir uma propriedade daquelas. Só esperava que ele não reparasse na piscina. Para piorar, Chuck encontrava-se na garagem tirando alguma coisa da caminhonete. A caminhonete verde, feita, a pedido, com a cena de deserto pintada em um dos lados. Robin sentiu uma onda de náusea. Eles têm uma galeria de arte muito bem-sucedida murmurou, consciente de que o comentário era ridículo e de que seria difícil controlar o nervosismo durante o jantar. Acredito Adam disse apenas. Oi! exclamou Chuck, vindo cumprimentá-los no carro. Entre, os outros já vão chegar. Como vai, Adam? Espero que possa ficar para jantar conosco. Eu não... Ah, venha, Adam. Shelly é uma grande cozinheira. Pelo menos tome um aperitivo e prove alguns dos tira-gostos dela. Ele acabou concordando e entraram juntos na residência. Robin já imaginara que seria embaraçoso estar ali com seus amigos naquela situação, mas não estava preparada para as dúvidas que não a abandonavam. Lembrava-se todo o tempo de como ficara chocada quando Martinez falara da caminhonete e das coisas que lhe haviam passado pela mente. Quanto dinheiro eles ganhavam na galeria? O suficiente para manter aquela casa e para mandar dois filhos, e agora uma filha, para faculdades caras em outros Estados? Oi! gritou Shelly, que arrumava as mesas no pátio ensolarado, auxiliada por sua empregada. Sua empregada, Robin pensou, olhando disfarçadamente para Adam para ver se ele tinha percebido. Venham pegar um drinque. Se forem esperar que Chuck os sirva, vão morrer de sede. Oi, Shelly. Está tudo lindo. Robin sentia o coração apertado. Por que deixara que a história da caminhonete a abalasse tanto? Adam foi até a mesa do outro lado da piscina e preparou dois gim-tônica. Outros convidados estavam chegando, cerca de dez ou doze pessoas. Julien apareceu de braço dado com Madeline Lassiter. O namorado de Ericka também se encontrava lá. Robin observou o belo casal de jovens que, isolados em um canto da piscina, conversavam sem parar, tão entretidos um com o outro que o resto do mundo parecia não existir para eles. E se Chuck estivesse envolvido com a quadrilha? O que seria de sua linda filha se o pai fosse para a prisão? Você está bem? perguntou Adam, ao lhe entregar o drinque. Adam, eu não vou poder mais ficar aqui. Então fique na fazenda com meus pais. n******e dormir sozinha na sua casa até que tudo fique esclarecido. Não dá, Adam. Vou para um hotel na cidade. E o que vai dizer aos Dalton? Não sei. Vou inventar alguma coisa. É muito desagradável ter de encará-los nesta situação. Quer que eu a leve para a cidade? Robin o fitou, intrigada. Por que ele estaria se preocupando tanto? Seria seu senso de dever ou ele ainda sentia alguma coisa por ela... algo mais do que amizade? O que saíra errado? Talvez nada. Talvez ele simplesmente já tivesse conseguido o que queria dela. Naquele momento, Robin o odiou. Quer que eu a leve? ele perguntou outra vez. Não. Mais tarde eu pego uma carona com Julien ou alguma outra pessoa. Tem certeza? Tenho ela respondeu, com firmeza. Adam ficou por lá mais alguns minutos, e parecia tão pouco à v*****e quanto ela, mas Robin não sabia se era por sua causa ou pelos Dalton. E não podia perguntar. Que blusa bonita Madeline comentou no ouvido de Robin. Onde você a comprou? Não sei. Não me lembro. Robin sempre está linda, não é? Julien a elogiou, inclinando-se para beijar-lhe a mão. Fico feliz em ver que você está bem. Que acidente terrível você sofreu. Mas como... Ah, meu irmão me telefonou para contar. Todos já sabem que seu carro foi jogado para fora da estrada. Os membros da associação não param de ligar para pedir notícias. Ficamos muito preocupados. É verdade Madeline reforçou, olhando para os pontos que apareciam sob a testa de Robin. E aposto que não foi acidente nenhum. Tem de estar ligado ao caso das falsificações, não acha? Coisas como essa não acontecem assim por acaso. Bem, nós achamos... É difícil dizer Adam interrompeu. Era evidente que ele não queria discutir o que sabiam, embora Robin não compreendesse por quê. É uma situação assustadora Julien comentou. Chuck me disse que você está dormindo aqui, por questões de segurança. Ainda bem. Foi uma atitude inteligente concordou Madeline. Shelly juntou-se a eles, carregando uma bandeja de prata com salgadinhos. Oi, todos já pegaram um drinque? O g***o continuou a conversar sobre a situação de Robin e Julien prometeu falar com o irmão. Rod tem de entender o perigo que nossa Robin está correndo. Não importa se não há provas. Robin precisa de p******o vinte e quatro horas por dia. Claro reforçou Madeline, sorrindo para Adam. Afinal, é para isso que pagamos a polícia, não é? Eu acho que Robin está perfeitamente bem aqui conosco opinou Shelly, provocando um súbito pensamento em Robin: poderia Shelly ter algum motivo oculto para querer que ela ficasse lá? Seria para observar suas atividades? Ah, não, ela pensou, envergonhada. Lá estava ela acreditando que os Dalton eram culpados! A semente da dúvida fora plantada e, por mais que tentasse, não conseguia escapar das suposições. E eu acho que Robin não está com aparência nada boa Madeline reparou. Está tão abatida. É a tensão. Eu sei como é isso. Quando eu tive aquela temporada r**m em minha loja, dois verões atrás, fiquei com uma doença atrás da outra. Robin, se eu fosse você, largaria essa história das falsificações. Ela vai largar Adam afirmou. Aliás, nós dois vamos. O caso agora é com a polícia. É melhor assim Julien concordou. Acho que encontraremos alguma solução para esse problema em nossa comissão especial. E devemos nos unir. Como um exército. Exatamente declarou Madeline, lançando um sorriso vitorioso para Adam. Passaram-se mais uns dez minutos antes que Robin e Adam ficassem sozinhos outra vez. Ela estava cansada daquela confusão e só queria poder apagar tudo como se fosse giz em quadro-n***o. Desculpe por tê-la interrompido durante a conversa Adam disse. Só acho melhor não comentarmos essa história de Martinez. Quanto menos gente souber, mais chance teremos de descobrir os homens que pegam os potes falsificados. Eu entendo Robin respondeu, sem entusiasmo. Mas não se esqueça de que eu quero participar. Não vá me deixar de lado. Promete? Vamos ver. Bem, tenho de ir. Se você não quer mesmo ficar aqui, gostaria de levá-la até um hotel. Eu não posso ficar. Iria me sentir um traidora. Então eu lhe dou uma carona. Eu vou mais tarde. Ela baixou o olhar para os pés. Em que hotel você vai ficar? Não sei. Ainda não pensei nisso. Talvez o Governor's Inn. Algum lugar perto de minha loja. Está bem. Entrarei em contato logo. E não vá para sua casa sozinha, Robin. Espere até vermos quem aparece na casa de Martinez. Claro. Espero que não demore muito. Ela sabia que estava se mostrando m*l-humorada, mas Adam merecia isso. É claro que gostaria que ele a levasse até o hotel, mas aquela era uma maneira de mostrar-lhe que já não fazia questão. Sentia-se melhor assim. Ele foi embora pouco depois, prometendo manter contato tão frequentemente quanto possível. Robin não teve energia para responder. Nem mesmo disse adeus. Apenas olhou para ele, com a mágoa indisfarçável no rosto e o coração doendo pelo que poderia ter sido. Ah, Robin, não quero nem ouvir Shelly protestou. Você vai ficar aqui mesmo. Obrigada pela preocupação e hospitalidade Robin disse, incapaz de encarar a amiga. Mas eu... acho que preciso ficar sozinha. Você sabe que às vezes eu sou assim. Shelly apoiou as mãos nos quadris e franziu a testa. Você não é nem um pouco assim, Robin. Já sei o que está escondendo, e é um absurdo. Ela fez uma pausa e o coração de Robin quase parou. Shelly sabia sobre Martinez, sobre a caminhonete... É Adam, não é? Ele a incomodou tanto que você nem consegue pensar direito. Robin respirou aliviada e aproveitou a deixa. Tem razão, Shelly. É Adam. Você não precisa sair daqui por causa dele. Fique e nós podemos conversar. Não, é melhor eu ficar sozinha. Vou poder colocar as coisas em ordem na minha cabeça. Preciso de tempo para mim Shel. Bem... Não se preocupe. Vou pegar um quarto... em um hotel ela disse, percebendo que não confiava o suficiente na amiga para contar aonde iria ficar. Então me telefone, certo? Podemos conversar? Claro, vou telefonar. E vejo você amanhã na loja. Aquele rato esbravejou Shelly. Não passa de um conquistador barato. Às nove horas, Robin estava hospedada no Governor's Inn. Sentia-se tão abatida que só queria cair na cama, dormir e esquecer. Tomou um banho, vestiu a camisola e pensou em como havia sido uma traidora com os Dalton. Que bela amiga! Experimentou ligar a televisão. Havia um noticiário no canal local, apenas com notícias ruins. Virou para um filme e não teve paciência de assistir. Tentou um programa humorístico e não achou graça nenhuma nas piadas. Por fim desistiu e deitou-se, cansada e sem forças, no escuro. Como pudera ter sido tão cega? Adam sempre deixara tudo muito claro, mas ela, intrometida como de hábito, se enfiara na vida dele, estupidamente, sem pensar no futuro. Agora teria de tirar da cabeça todos os sonhos tolos e ingênuos, e continuar vivendo como antes. Como fora i****a.
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