A ligação

2242 Words
A reunião vai ter início Julien Cordova anunciou, exatamente às sete horas, e os murmúrios e agitação na sala de conferência do Hotel La Fonda cessaram. Peço desculpas por ter marcado esta assembleia em um domingo, mas sei que após a feira indígena e o final do verão muitos de vocês deixarão a cidade, e eu queria organizar a associação antes disso. Agora, como primeiro item da pauta, pedirei à secretária que leia a ata da última reunião. Robin cruzou as pernas e tomou um gole de seu café, na esperança de que a cafeína a mantivesse acordada. Sentia-se cansada e sonolenta, com v*****e de cair na cama e esquecer as últimas vinte e quatro horas. Não sei se é aconselhável gastar dez mil dólares em p********a de página inteira na revista Travel and Leisure Chuck Dalton opinou. Todo mundo sabe da existência de Santa Fé. Robin suspirou. A discussão havia começado e, provavelmente, iria se prolongar por horas. Thad Mencimer, um rapaz loiro e troncudo, levantou-se com o rosto vermelho de indignação. Isso é muita presunção! Há milhares de pessoas que não sabem o que Santa Fé tem a oferecer. Precisamos atingir um mercado mais amplo. Os números do mês passado mostram uma queda nas vendas. Um por cento interrompeu Chuck. E isso porque tivemos uma semana de tempo r**m. Outro homem levantou-se e esticou o dedo para Chuck. Um por cento significa uma queda em minha receita e não vou ignorar isso. Todos sempre culpam o tempo. Alguém já considerou a ideia de um anúncio de meia página? Chuck sugeriu. Ridículo! revidou Thad, e Robin percebeu que a mulher dele, Lorraine, puxava-o pela manga. Jovem e grávida, ela estava evidentemente constrangida pela exaltação do marido. Robin agitou-se na cadeira dura, pensando onde Adam estaria. Em Chaco Canyon? Imaginou-o abaixando-se para entrar em uma pequena barraca. Como ele viveria ali? Em um trailer? Uma cabine? Teria encontrado o ceramista em San Lucas? Tivemos uma boa feira indígena este ano Julien dizia. Dada a conjuntura econômica, acho que todos faturarmos bem. Não o suficiente! protestou Thad Mencimer. Um anúncio de página inteira é absolutamente necessário. Tenho estatísticas aqui mostrando quantas pessoas um anúncio como esse iria atingir. Temos negligenciado o mercado exterior alguém mais disse. Japão, Alemanha. É lá que os dólares estão. Que tal a seção de viagens do New York Times? outro m****o sugeriu. Estamos fugindo do assunto alertou Thad. Peço que votemos a questão agora mesmo. Robin terminou seu café já quase frio. Seria uma longa noite. Após alguns minutos de discussão, o item foi colocado em votação e aprovou-se o anúncio de página inteira na Travel and Leisure. Julien convencera a todos de que a associação possuía dinheiro suficiente para cobrir a despesa e Chuck Dalton não se opôs à decisão. Enquanto isso, Robin tentava decidir se continuava sentada ou se ia até o banheiro jogar água fria no rosto. Nesse momento, Shelly Dalton levantou-se, avisando que tinha um pronunciamento importante a fazer. Vocês sabem o que aconteceu ontem com a loja de Robin Hayle, pessoal? ela perguntou, provocando murmúrios de todo o g***o. Bem, acho que Robin deve nos contar toda a história para que nós pensemos muito bem no caso. Robin, suba até aqui e conte os fatos à associação Julien chamou. Eu ia mesmo colocar esse assunto em pauta. Obrigada, Lhes, Robin pensou, encaminhando-se para a frente da sala. Tentou ser rápida e clara em sua narração E foi isso que aconteceu ela concluiu. Ainda não posso afirmar com certeza quem ou por que entraram em minha loja. O irmão de Julien, Rod Cordova, sugeriu que poderia ser obra de adolescentes arruaceiros, mas eu não penso assim. Foi muita coincidência, tudo isso acontecendo no mesmo dia em que investigamos o caso do pote. De qualquer forma, estou pensando em instalar um sistema de segurança, como algumas das galerias possuem. É uma desgraça! exclamou um proprietário de galeria. Não estamos seguros em lugar nenhum. Para que pagamos a polícia, afinal? protestou outro. Se há mesmo uma pessoa ou um g***o fabricando cerâmicas valiosas e vendendo para colecionadores, todos os comerciantes de arte de Santa Fé estão comprometidos lembrou Thad Mencimer. Nenhum grande colecionador confiará em nós. Temos de fazer alguma coisa! E seu irmão, Julien? Ele pode nos ajudar? perguntou alguém. Nada de polícia! opinou uma mulher. Se a polícia se envolver nisso, haverá publicidade e a história se espalhará por todo o mundo da arte em questão de semanas. Imaginem as manchetes: Santa Fé inundada de falsificações. Nossos negócios iriam à falência! Madeline tem razão concordou Shelly Dalton. Já posso ver nosso anúncio na Travel and Leisure um homem comentou: Vá para Santa Fé e seja roubado!. É melhor não meter a polícia nisso. Certo, nada de polícia decidiu Julien. Mais alguma sugestão? Mas Rod já sabe de tudo Robin lembrou. Vou conversar com Rod para que seja discreto Julien garantiu. Ele vai compreender. Mas acho que devemos discutir métodos para lidar com esse problema. Afinal, não podemos ignorar a possibilidade de você ter sido vítima de uma quadrilha de falsificadores. A discussão esquentou. As sugestões incluíam desde a criação de um comitê de vigilância até um sistema de registro confiável para cada peça artística. Julien ouvia pacientemente, esclarecendo propostas e dirigindo o debate. Por fim, levantou-se e pediu silêncio. Muito bem, vejo que o ponto básico que surgiu aqui é a necessidade de mais informações. Não podemos decidir nada enquanto não tivermos todos os fatos. Proponho que formemos uma comissão de, digamos, cinco ou seis pessoas, para estudar o assunto. A moção foi aprovada e, antes que Robin entendesse o que estava acontecendo, viu-se indicada como m****o da comissão, junto com Chuck Dalton, Thad Mencimer, Madeline Lassiter e Ben Chavez. Julien também compareceria às reuniões para cooperar. Robin lembrou-se de que havia prometido a Adam não se meter mais nessa história da falsificação. No entanto, lá estava ela, envolvida outra vez. Profundamente envolvida. Bem disse Julien. Acho que fizemos grandes progressos. A comissão irá se encontrar três vezes por semana. Que tal na biblioteca do palácio? As conclusões serão relatadas à associação na próxima reunião. É só, por hoje. Robin fez uma careta. Três vezes por semana. Bem, talvez conseguissem alguns resultados úteis. Ainda havia muitas perguntas sem resposta. Ela retornou à loja, com Chuck e Shelly. Puxa, estou cansada disse, bocejando. Imagino. Por que não trouxe seu amigo Adam à reunião? Ele está envolvido no caso, não é? Ah, Shel, ele tem de trabalhar. É uma longa viagem até Chaco Canyon, Além disso, não acho que ele esteja interessado em mim. Por que não? Sei lá. Eu m*l o conheço. Mas e se ele procurar você outra vez? Robin deu de ombros. Não estou em compasso de espera. Que homem, não? Alto, bonito... É, sem dúvida. Ah, se eu fosse jovem, solteira e sexy outra vez... Shelly suspirou. O único desses adjetivos que se aplica a mim é solteira Robin comentou, com alguma amargura. Diante da loja, o casal entrou na caminhonete verde. Da janela, Shelly acenou para a amiga. Boa noite. Hasta manana. Robin dirigiu-se a seu próprio carro, um modelo esporte branco importado, e ligou o motor. Quando acendeu os faróis, viu uma sombra movendo-se sob uma árvore. Sentiu o coração dar um pulo, mas era apenas um gato cinzento que patrulhava calmamente seu território. Robin, você é uma i****a murmurou para si mesma. Então pôs o carro em movimento e foi assobiando enquanto percorria as ruas vazias. Era duro admitir, mas estava um pouco nervosa ao subir a escada escura até sua porta. Hesitou no primeiro degrau, virando a chave entre os dedos. Ouvia uma televisão ligada em um dos vizinhos. Se quisesse, poderia ir até lá, pedir para usar o telefone e ligar para Christina Farwalker. Estaria segura na fazenda. Não. Aquilo era absurdo. Não poderia passar a vida com medo de cada sombra, de cada ruído. Respirou fundo e subiu os degraus. A porta estava intocada, fechada, como sempre. Até o bilhete que ela pregara com fita adesiva continuava no lugar. Trêmula, desejando que Adam estivesse a seu lado, experimentou a maçaneta. Continuava trancada, como ela deixara. Com um suspiro de alívio, abriu a porta e acendeu as luzes. Tudo se encontrava em perfeita ordem. Ninguém estivera lá, ninguém estragara nada. Fora tola por ficar tão nervosa. Jogou a bolsa sobre uma mesa, tirou os sapatos e respirou fundo para relaxar. De repete, percebeu que estava com fome. Comeria alguma coisa e depois iria dormir. No armário da cozinha, encontrou um pacote de biscoito de chocolate. Enfiou um na boca e dirigiu-se à geladeira para pegar um copo de leite. Antes de abrir a porta, porém, algo a fez imobilizar-se. Do ângulo onde se encontrava, podia ver a quina do sofá e a mesinha de café. Havia alguma coisa sobre a mesa baixa de tampo de vidro, como se fosse uma pilha de peças irregulares. Devagar, Robin aproximou-se, olhando em volta com medo, seu coração apressado novamente. O que seria aquilo? Pareciam pedaços vermelhos e pretos de algo quebrado. Quando chegou mais perto, percebeu que havia fragmentos por todo o chão, sofá e cadeira de balanço. Fragmentos vermelhos e pretos por toda parte, como manchas de sangue originadas de uma explosão. Ao discernir o que era o objeto, seu coração quase parou. Um pote de argila vermelho e preto fora deliberadamente quebrado sobre a mesa, de forma a que os estilhaços se espalhassem. Sim, um bonito pote desenhado em vermelho e preto, um pote indígena, mas que não era dela. Robin não possuía um pote como aquele. Alguém trouxera a peça, entrara em sua casa e a quebrara de propósito sobre a mesa. Outro aviso! Então Adam tinha razão! Afastou-se da mesa, pisou sobre uma lasca pontiaguda e quase nem sentiu. Alguém entrara em sua casa. Como? Correu para o quarto. As janelas estavam fechadas. O terraço! Não, a porta também continuava trancada. Robin sentou-se em um cadeira, trêmula. O que deveria fazer? A pessoa que entrara ali parecia saber tudo sobre ela, onde vivia, quando estava fora de casa. Devia ter escutado Adam. Seria melhor telefonar para os Farwalker e ir para lá? Era tarde demais, e ela m*l os conhecia. Rod Cordova. A associação não queria a polícia envolvida, mas havia alguém atrás dela! Rod Cordova não estava de plantão no domingo à noite e um policial com sotaque mexicano conversou com Robin. Srta. Hayle, poderia me explicar outra vez o crime que foi cometido? Alguém entrou em minha casa e quebrou um pote sobre a mesinha de café. Alguém quebrou um pote que lhe pertencia? Não, não era meu. Mas eles entraram... A porta foi f*****a? Não. Srta. Hayle, para que eu mande alguém aí devo especificar qual foi o crime. Invasão de propriedade? Furto? Destruição de propriedade? Invasão de propriedade, eu acho. Estou com medo. Alguém entrou aqui e eu não sei como. Certo. Já colocarei uma viatura a caminho. Robin ficou andando pela sala, nervosa, até o policial chegar. Está vendo? ela mostrou os fragmentos de cerâmica. Alguém entrou enquanto eu não estava em casa e quebrou isso sobre a mesa. A senhorita tem um gato? Não, e o pote não é meu. Alguém o trouxe para cá. Alguém lhe trouxe um pote e o quebrou? Robin sentiu-se impaciente, mas sabia que a história parecia maluca. Ninguém iria entender. Eu prestei queixa com o investigador Cordova ontem à noite. Entraram em minha loja também. Será que a senhorita teve uma briga com seu... namorado? Eu não tenho namorado! ela exclamou, exasperada. Não sei quem fez isso. Certo, então informarei o investigador Cordova sobre o caso assim que ele chegar amanhã cedo. Obrigada, mas e esta noite? E se a pessoa tentar entrar outra vez? Vou pedir à ronda policial que passe por aqui a cada hora. Mantenha portas e janelas fechadas. Elas estavam fechadas. O policial preparou-se para sair. Antes, olhou novamente para a cerâmica quebrada sobre a mesa e sacudiu a cabeça. Sinto muito pelo seu pote. Era quase engraçado, Robin pensou, enquanto encostava cadeiras nas portas e verificava as janelas. Depois vestiu a camisola, escovou os dentes e foi para a cama, sua rotina usual, exceto que naquela noite ficou de olhos abertos na escuridão. A noite era silenciosa. Robin contava cada carro que passava pela rua. O brilho dos faróis iluminava a parede diante da cama e subia lentamente pelo teto. Então, ficava escuro outra vez por um ou dois minutos. Um cabide para chapéus que se localizava em um dos cantos do quarto projetava uma sombra fantasmagórica na parede cada vez que as luzes o iluminavam. Para completar o quadro, eia deixara a porta do armário aberta; um terror infantil fazia seus pelos se arrepiarem. Após quinze minutos de tentativa fracassada para se acalmar, Robin sentou-se na cama e acendeu o abajur. Decidida, pegou o telefone e discou para informações. Já se sentia melhor. Centro de Visitantes de Chaco Canyon disse com firmeza. Sabia que não estaria aberto àquela hora da noite, mas discou assim mesmo. O telefone tocou cinco vezes, e, então, ela ouviu uma voz gravada. Aqui é o Centro de Visitante de Chaco Canyon. Estamos abertos para o público das nove às cinco, todos os dias. Se necessário, deixe seu recado após o sinal. Obrigado pelo telefonema. Robin esperou impaciente pelo sinal, com o coração apressado. Aqui é Robin Hayle ela começou. Tenho um recado urgente...
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