Foi um dia de frustrações.
Robin acordou com o sol, cedo demais, ainda cansada, mas incapaz de dormir mais. A ideia de que logo tornaria a ver Adam Farwalker a deixava agitada como se tivesse tomado café em excesso.
Ele era um homem estranho e fascinante. Isso em parte devia-se ao fato de ser índio, mas sem dúvida havia algo poderoso e significante por trás de sua reticência.
Era inútil continuar deitada. Robin levantou-se, tomou um banho e vestiu uma calça branca justa e uma camisa vermelha que descia quase até os joelhos. Depois de limpar a loja, ficaria imunda, mas não podia sentar-se à mesa dos Farwalker de jeans e camiseta.
Caminhou até a casa principal e entrou em silêncio. Dirigiu-se à cozinha, com a esperança de encontrar Adam tomando café, mas o aposento estava vazio. Nem mesmo Christina havia levantado.
A curiosidade impeliu Robin a espiar os aposentos principais da casa. Aquele era o lugar onde Adam nascera, onde correra e brincara quando criança. Mas tornava-se difícil imaginar Adam pequeno e alegre; era como se ele sempre tivesse sido reservado e contido.
Enquanto explorava, experimentava com força a velha sensação de ser uma estranha. Desde a perda de seus pais, Robin sempre sentia-se excluída quando presenciava uma cena familiar, uma casa grande e confortável como aquela, ocupada por pais carinhosos e várias crianças gritando. Aquela fazenda lhe passava a impressão de fortes laços familiares.
Encontrava-se na sala, examinando um lindo cesto de vime colocado ao lado da lareira, quando Christina a encontrou.
Está gostando de nossa casa? ela indagou.
É linda. Tão... aconchegante.
Quer dar uma olhada nela? Ou está com fome?
Já andei espiando Robin admitiu. E estou mesmo com fome.
Christina lhe disse que Adam ainda dormia e Robin forçou-se para conter uma leve decepção. A anfitriã serviu-lhe um prato de huevos rancheros, ovos com milho, temperados com um molho picante de tomate, pimenta e cebola.
Meu filho me contou que você satisfaz as fantasias das pessoas através das fotos Christina comentou.
Ah, ele contou? Robin sentiu-se feliz por saber que Adam falara dela com a mãe. Mais animada, começou a explicar seu trabalho para Christina e narrar seu estoque de histórias engraçadas.
As duas estavam rindo quando Adam entrou na cozinha. Ele hesitou quando viu Robin. Como se houvesse esquecido que ela se encontrava lá e não tivesse gostado da surpresa. Robin não podia negar que aquela atitude a magoava, mas dizia a si mesma que era ridículo ser tão sensível. Além disso, Adam estava tão bonito que ela perdoaria qualquer coisa. Vestia jeans e uma camisa xadrez preta e vermelha com as mangas arregaçadas. Parecia mais jovem, mais descansado, ou talvez mais à v*****e na casa dos pais.
Dormiu bem? ele indagou.
Claro, muito bem.
Christina dominava a conversa. Tinha uma maneira descontraída e carinhosa de tratar o filho, e parecia o tipo de mãe que dava conselhos demais. Mas Adam não se incomodava e deixava que ela pensasse ter o controle da situação.
Por fim, Ray Farwalker juntou-se a eles. Havia levantado cedo e saído com alguns empregados para procurar um bezerro desgarrado. A conversa voltou-se para questões de família e Christina lembrou Adam do aniversário da irmã.
Vou tentar vir, mas a equipe de escavação precisa voltar logo para a faculdade e ainda temos muito trabalho pela frente.
Uma tarde não vai m***r você Christina insistiu. Ele sorriu para a mãe e tomou o resto do café.
Preciso ir. Robin tem de voltar para a loja e eu estou cheio de trabalho.
Christina os acompanhou até a porta.
Robin, telefone, está bem? E pode ficar aqui conosco quando quiser. Quero ouvir mais histórias de seus clientes. Traga-a outras vezes, ouviu, Adam?
Adam não respondeu e a atmosfera tornou-se subitamente tensa. Robin comentou alguma bobagem qualquer, falando demais como sempre, na tentativa de aliviar o ambiente. Depois, seguiu-o até o carro.
Foi uma festa e tanto, não?
Ele demorou para dar uma resposta, olhando fixamente para a estrada.
Minha mãe adora essa reunião. Aproveita para reunir todo mundo que não viu durante o ano.
O amplo vale diante deles estava banhado em brilho de luz do sol da manhã. Logo a cidade foi tomando conta dos espaços, com suas ruas estreitas e prédios antigos. Adam estacionou diante da casa dela.
Deixe suas coisas aí e então iremos arrumar a loja.
Você não precisa ir comigo. Eu e Ericka podemos cuidar disso.
Ele apenas a fitou em silêncio antes de descer do carro e verificar se a casa estava em ordem.
Gostaria que você ficasse na fazenda, Robin. Seria mais seguro.
Obrigada, mas não creio que haja necessidade.
Você é quem sabe ele respondeu, visivelmente contrariado.
Robin deixou sua sacola no quarto e pegou as poucas ferramentas que possuía, um martelo e duas chaves de f***a. Na loja, começou a varrer o chão, separando artigos estragados dos ainda aproveitáveis, enquanto Adam procurava tábuas velhas na rua para pregar na janela quebrada. Robin olhou em volta, avaliou o estrago e concluiu que, pelo menos, aquilo trouxera algo de bom. Poderia passar mais algumas horas com Adam.
Relutante, colocou um aviso na porta, dizendo que abriria só ao meio-dia. Era domingo, último dia da feira indígena, e a rua fervilhava de turistas, ávidos para fazer compras.
Adam voltou dos fundos da loja e pôs-se a ajudá-la na arrumação. Robin decidiu pressioná-lo para ver se ele se abria um pouco e satisfazia sua curiosidade.
Fale de suas irmãs pediu.
Elas são mais novas do que eu. Casadas. Felice tem dois filhos e Amanda tem três.
Ah, então você é titio. Que delícia! Eu adoraria...
Alguém batia insistentemente na porta. Irritada, Robin foi ver quem era.
Sra. Hartmann, bom dia.
As provas já ficaram prontas?
Eu disse segunda-feira, sra. Hartmann.
Segunda? Mas... Ei, o que aconteceu aqui?
Um assalto Robin disse depressa, para não esticar a conversa.
Que pena! Bem, eu volto amanhã.
Robin trancou a porta de novo e virou-se para Adam. Começou a fazer outra pergunta sobre as irmãs dele, mas outra pessoa começou a bater.
Moça, preciso de filme um homem gritou da calçada. Você abriu para aquela outra mulher.
Tentando ser educada, Robin foi atendê-lo.
A loja só vai abrir ao meio-dia. Estou sem filmes. O senhor poderia voltar...
Querido! A mulher do cliente passou por Robin e entrou na loja. Veja esta fotografia! Quanto é?
Era um retrato de colinas rochosas contra um arco-íris. Robin também gostava daquela foto, mas ela se encontrava no chão, com o vidro quebrado. Mesmo assim, a mulher a admirava com entusiasmo.
Quanto é? o homem perguntou.
Cinquenta e nove dólares e noventa e cinco centavos com a moldura. Mas o vidro está quebrado...
Quanto é sem o vidro?
Bem... cinquenta.
Vou levar. O que houve por aqui?
Um assalto Robin respondeu.
Que bagunça, hein? Ei, aqui está um filme como eu preciso ele disse, apontando para o chão.
Robin pegou a fotografia e o filme e dirigiu-se ao balcão. Começou a remover os cacos de vidro que permaneciam na moldura, mas... Na pressa para se livrar logo dos clientes, distraiu-se e cortou o dedo.
Ai, d***a! ela exclamou.
Adam aproximou-se imediatamente.
O que foi?
Cortei o dedo. Como sou desajeitada! Agora não posso pegar o retrato ou o sangue vai estragá-lo.
Deixe que eu cuido disso. É só você me orientar.
Vocês são casados? o homem perguntou. Bela loja a de vocês. Eu tenho um açougue em Pittsburgh.
Adam enrolava um lenço no dedo ferido de Robin e manteve a cabeça baixa. Ela sentiu o rosto enrubescer. Como aquilo podia estar acontecendo?
Não somos casados disse depressa.
Ah, esses jovens de hoje. Não precisa dizer mais nada. Ouçam, vocês sabem que a carne...
Robin sentia-se realmente frustrada. Seu dedo doía, o homem discursava sobre os benefícios da carne, a mulher remexia as fotografias e câmeras no chão. Enquanto isso, Adam encarregou-se perfeitamente da venda. Embrulhou a fotografia, cobrou, agradeceu aos clientes com um sorriso e os colocou para fora da Robin's Nest.
Não sei se a venda valeu o corte ela murmurou.
Deixe eu dar uma olhada nisso.
Era estranho ver Adam examinando seu dedo como se ela fosse uma criança. Mas, quando ele foi até os fundos buscar um curativo, Robin teve uma súbita sensação de aconchego.
Fazia muito tempo que um homem não tomava conta dela. Perdera o pai ainda pequena e o tio, com quem morara, era um vendedor que nunca parava em casa. Robin fora f*****a a manter sua independência, a contar consigo mesma.
Que mulher não gostaria de ter um homem forte tomando conta dela de vez em quando?
Adam voltou com o curativo na mão, sério e compenetrado. No entanto, havia uma energia nele que parecia encher a pequena loja. Seria a origem apache? Por isso ela se sentia tão misteriosamente atraída por aquele homem?
Ele levantou a cabeça e flagrou Robin analisando-o. Por um instante, houve uma espécie de comunicação entre os olhares, como se ele quisesse lhe contar alguma coisa.
Alô! chamou uma voz à porta, mexendo na maçaneta. Alô, Robin!
Julien Adam disse. Vamos deixá-lo entrar?
Claro. Enquanto Robin colocava o curativo no dedo, Adam foi abrir a porta.
Mas o que aconteceu aqui? Julien perguntou, franzindo a testa. Dios mio!
Nós não sabemos muito bem Robin respondeu, forçando um sorriso.
Meu irmão me contou uma história maluca, sobre uma ligação com aquele pote falsificado. O que está havendo, Robin?
Ela contou toda a história novamente, imaginando se Julien não iria embora nunca para deixá-los terminar o trabalho. Julien era um homem simpático, afetuoso e agradável, mas será que não percebia que ainda era dia de feira indígena?
Quero ajudar vocês. O que posso fazer?
Nós estamos conseguindo dar conta do serviço Adam respondeu.
É disse Robin, aproveitando a dica. Vamos acabar logo.
Bem, então... Mas esta noite, na reunião da associação, teremos de discutir esse problema.
Claro ela concordou conduzindo-o discretamente para a porta. Até a noite, e obrigada, Julien.
Ao meio-dia, a loja estava suficientemente em ordem para ser aberta aos clientes. Adam encontrava-se nos fundos, recolocando alguns objetos nas prateleiras, mas Robin percebia a ansiedade dele para ir embora. Era h******l pensar nisso. Talvez nunca mais tornasse a vê-lo.
Ele apareceu, limpando o ** das mãos.
Posso lhe pagar um almoço? Robin sugeriu.
Não, obrigado. Tenho de ir. Quero passar por San Lucas outra vez. Talvez descubra mais alguma coisa. Ele hesitou. Ouça, Robin, não estou querendo dirigir a sua vida, mas eu me sentiria melhor se você dormisse na casa de meus pais, pelo menos por algum tempo.
Não se preocupe, Adam, eu ficarei bem. Esses bandidos já deram seu alerta e pronto. Além disso, o investigador Cordova está cuidando do caso agora.
Bem, não posso obrigá-la.
É, n******e.
Mas você promete que entrará em contato com Rod se acontecer alguma coisa fora do normal?
Prometo.
Ele começou a caminhar em direção à porta. Isso é tudo, Robin pensou. Não vou vê-lo nunca mais.
Por um momento, quase lhe perguntou quando ele estaria de volta à cidade, quase lhe disse que gostaria de receber notícias. Mas controlou o impulso. Se ele quisesse vê-la outra vez, teria dito alguma coisa.
Bem, obrigada por ontem à noite e por me ajudar na limpeza hoje. Ela estendeu a mão, sentindo-se estranhamente tímida; Foi um prazer conhecê-lo, Adam.
É. Ele apertou-lhe a mão, desajeitado. Foram vinte e quatro horas interessantes. Bem...
Bem... Talvez a gente se veja por aí.
Robin! Aí está você! Era Shelly Dalton, que vinha correndo pela rua em direção a eles, para consternação de Robin. Oh, meu Deus! Ericka recebeu um telefonema da polícia sobre a sua loja... Ela olhou para Adam. Oh, desculpe, eu não tinha percebido...
Robin suspirou e fez as apresentações. Logo em seguida, Chuck saiu da galeria e também teve de ser apresentado.
É sua mãe quem organiza o leilão todos os anos, não é? ele perguntou a Adam. Uma ideia fantástica.
Você tem de me contar o que aconteceu! Shelly pediu, enfática, enquanto Adam consultava o relógio. Ericka disse que a polícia desconfia de adolescentes arruaceiros ou algo assim.
Só um segundo, Shelly. Eu já conto toda a história. Adam estava evidentemente ansioso para ir embora. Talvez, se Shelly não houvesse aparecido, ela o tivesse pressionado um pouco para saber se pretendia vê-la outra vez.
Tenho mesmo de ir ele disse. Tome cuidado, Robin.
Não se preocupe. Se você descobrir mais alguma coisa, vai me contar, não é?
Claro.
Então, ele se foi. Sua figura alta e morena sumiu na multidão. Shelly e Chuck falavam ao mesmo tempo e Robin imaginava estar dando as respostas certas, mas m*l conseguia se concentrar, pois seus olhos procuravam Adam inutilmente na multidão, como se ele fosse reaparecer. Seu atraente e misterioso índio apache.
E ele ajudou você a limpar a bagunça? Shelly perguntou. Robin, você está ouvindo?
Ela estava e não estava. Parte de sua mente divagava, imaginando se não poderia descobrir mais sobre a cerâmica falsificada. Essa não seria uma excelente desculpa para procurar Adam Farwalker?