Lágrimas de d****o e frustração vieram aos olhos de Robin. A pergunta voltava a incomodá-la: por quê? Adam a quisera, isso era evidente. Tocara-a quase com desespero e então... então simplesmente fora embora como se tivesse tomado um banho de água fria. Por quê?
Lentamente, caminhou até o quarto. Sentia-se rejeitada. Apagou as luzes e deitou na cama sem tirar as roupas, olhando para o teto escuro. Lágrimas corriam por seu rosto e ela nem tinha energia para enxugá-las.
Por fim, o sono chegou, trazendo algumas horas confortantes de esquecimento.
De manhã, a situação já não parecia tão r**m. O sol entrava pela janela anunciando mais um dia claro e Robin tomou banho assobiando. Estava decidida. A vida iria ser muito mais simples daí por diante. Deixaria de vez essa história da falsificação; não queria mais nem pensar no assunto. Sairia da comissão e eles que arrumassem outra pessoa para substituí-la.
E, acima de tudo, iria esquecer Adam Farwalker, apagá-lo da mente e começar tudo de novo. Sem dúvida devia haver muitos homens interessantes em Santa Fé que apreciariam uma mulher divertida e carinhosa.
Ainda assobiava quando estacionou diante da loja. Tinha um cliente depois do almoço e Ericka chegaria ao meio-dia para ficar no Robin's Nest, já que a fotografia seria um trabalho externo. Continuava cantando enquanto abria a porta e vistoriava o estoque. Sentia-se muito melhor naquela manhã. O segredo era afastar os problemas, levantar a cabeça e ir em frente.
O cliente que Robin marcara para mais tarde era de Nova York e possuía uma casa em Santa Fé. Chamava-se Gary Kahn, um homem pequeno e pálido, de óculos grossos, proprietário de uma confecção.
Ele sempre desejara ser cowboy. Robin já providenciara a roupa: calça de couro, camisa xadrez, botas, corda, chapéu. Gary queria ser fotografado sobre um cavalo, com um laço na mão e um rifle na sela.
Só faltava arrumar a locação e o cavalo, mas era fácil alugar um animal em um dos inúmeros estábulos perto de Santa Fé.
De repente, ela teve uma ideia melhor. Convencida de que isso daria mais autenticidade à foto, pegou o telefone e discou para a fazenda dos Farwalker.
Robin, que surpresa! exclamou Christina. Algum problema?
Não, está tudo bem. Robin explicou sobre o retrato de Gary Kahn. Então eu imaginei se poderia usar um de seus cavalos. Vou pagar, é claro.
Ah, que divertido! Eu posso assistir? Ray vai adorar. Querida, um dia vou lhe pedir para fazer um retrato da família. Pode vir à v*****e, e não precisa pagar nada pelo cavalo. Será um prazer.
Marcaram à uma hora da tarde e Robin desligou com uma ridícula satisfação, como se tivesse conseguido uma vingança contra Adam. Pelo menos a mãe gostava dela!
Gary Kahn chegou cedo, evidentemente entusiasmado. Colocou a roupa de cowboy e olhou-se no espelho, admirado. Parecia outro homem, mais alto, mais enérgico, mais forte.
Fantástico! exclamou. Onde está o cavalo?
O cavalo está em uma fazenda de amigos meus. Vamos indo?
Gary dava mostras de estar adorando o passeio. Cumprimentou Ray Farwalker com efusão, comentou sobre a beleza de Santa Fé e interessou-se pelo churrasco beneficente anual de Christina.
Bem, no próximo ano incluirei o senhor e sua esposa em minha lista, sr. Kahn assegurou Christina. Deixe seu endereço antes de ir e esteja preparado para fazer lances altos no leilão!
Ah, sem dúvida, sra. Farwalker. É para uma causa justa. Robin passou cerca de uma hora fotografando Gary sobre o cavalo. Ray e Christina assistiam e alguns dos empregados orientaram Gary quanto à maneira de segurar o laço. Todos se divertiram e as fotos pareciam ter saído ótimas. Robin prometeu as provas para dali a dois dias e o levou de volta à loja. Quando chegaram, Ericka a esperava com um recado: Robin, uma mulher esteve aqui a sua procura.
A sra. Hartmann outra vez?
Não, uma índia. Muito simpática. Eu disse que você estaria aqui no meio da tarde. Ela não falou o que queria. Mas como foi a sessão de fotos?
Excelente. Até eu estou louca para ver as provas. Gary saiu do estúdio, pequeno, pálido e com os óculos grossos.
Voltarei depois de amanhã. Obrigado, srta. Hayle. Ele apertou a mão de Robin, sorriu e foi embora. Robin baixou os olhos e ficou boquiaberta. Ele lhe deixara uma nota de cem dólares na mão.
Uau! Ericka exclamou.
Vamos dividir. E não discuta!
Ericka foi embora às quatro horas. Robin sentou-se atrás do balcão com seu exemplar de Santa Fe Style, um livro com belas fotografias de sua cidade adotada. De repente, a porta se abriu e alguém entrou na loja.
Ela levantou os olhos com um sorriso solícito, mas logo percebeu não se tratar de um cliente comum.
A mulher parara junto à porta, como se estivesse relutante. Era uma senhora pueblo, vestida da forma tradicional dos índios de sua tribo, com um xale colorido, colares e pulseiras.
Com licença a mulher disse, com uma voz tímida e o rosto preocupado. Estaria perdida?
Pois não.
É a srta. Robin Hayle?
Sim.
A senhora não me conhece, mas eu sei quem a senhora é. Robin largou o livro e levantou-se.
Ah, foi a senhora que veio me procurar no início da tarde? Eu estava em um trabalho externo. A senhora queria encomendar uma fotografia?
Não, não vim aqui por isso. Só quero conversar com a senhora. Ela era uma mulher suave e tímida, mas cheia de dignidade, como de hábito em sua raça. As mãos pequenas e quadradas indicavam uma vida de trabalho.
Pois não. Posso saber o seu nome?
Meu nome não importa agora, mas o que eu tenho a dizer talvez lhe interesse.
Então venha até meu estúdio, por favor. Quer um café? Ou chá?
A mulher a seguiu até o pequeno aposento nos fundos. Robin lhe indicou uma cadeira e colocou água para ferver em uma chaleira.
Bem, estou curiosa.
A senhora esteve em San Lucas procurando um homem.
Ah! A senhora mora lá.
Não, não.
Desculpe, não estou entendendo. Ela entregou a xícara de chá para a mulher e sentou-se.
Vou começar do princípio. Eu também sou ceramista e conheço o homem que a senhora estava procurando ela disse, com uma voz baixa e apreensiva. Conheço-o há muitos anos. É um bom ceramista. Ele está com muito medo agora porque a senhora e um homem andaram perguntando sobre seu pote, aquele que a senhora usou em uma fotografia, e estão dizendo que o trabalho dele é uma cópia de uma peça muito famosa. Mas esse meu amigo é inocente. Ele não sabia que o pote ia ser vendido. Só lhe pediram para fazer uma reprodução. Eu juro. Ele não sabia que estava agindo contra a lei.
Eu acredito na senhora Robin respondeu.
Ele é inocente, mas tem medo de não acreditarem se for à polícia.
Sim, eu compreendo. Mas talvez ele concordasse em falar comigo.
Não sei.
Como é o nome dele? Como eu poderia entrar em contato? A mulher baixou os olhos para as mãos calejadas e sua voz era tão fraca que Robin teve de se esforçar para ouvir.
É John Martinez. Ele lembra da senhora, mas não quer nenhum problema.
A senhora lhe diria que eu não vou fazer m*l algum? Só quero saber quem encomendou aquele pote.
Também quero deter esses homens. Eu disse a John... Essas pessoas nos exploram. Não é justo. Mas temos medo de ir à polícia. Nem sempre nos tratam bem.
Eu sei. Mas se a senhora puder dizer a John Martinez que eu não vou contar a ninguém. Talvez eu possa ajudar. Por favor.
Não sei. Vou falar com ele. É melhor a senhora esperar. Se tentar procurá-lo por conta própria, ele vai desaparecer.
Está bem. Como ele quiser.
Não vai contar a ninguém mesmo?
Não. Prometo. Pode confiar em mim.
A mulher levantou-se, ansiosa para ir embora.
John não sabe que eu vim aqui.
Diga a ele para não se preocupar. Eu só quero ajudar vocês. E obrigada por ter vindo. Vou esperar que a senhora me procure outra vez.
Mas a mulher nem virou para trás. Foi direto até a porta, saiu e desapareceu.
Robin apoiou-se no balcão, entusiasmada. Resolvera o caso, ou pelo menos parte dele.
John Martinez. Lembrava-se bem do artesão. Um homem de meia-idade, magro, não muito alto, com mãos grandes e fortes. Falava com bastante sotaque e parecia orgulhoso de seu trabalho. Tinha de ser inocente. Caso contrário, por que a teria deixado fotografar o pote?
Por outro lado, aquela mulher doce e meiga que acabara de sair não poderia ser alguém tentando acobertá-lo? Isso explicaria seu medo de ir à polícia.
A porta abriu e chamou a atenção de Robin. Era Shelly.
Oi, como está o movimento, Shel? Ela teve v*****e de contar a história à amiga, mas algo a deteve. Precisava pensar melhor antes. Além disso, prometera à mulher não dizer nada.
Fraco. Chuck está lendo revistas e eu estou entediada.
Vá para casa fazer trabalhos domésticos.
Você está louca! Sabe, Robin, Chuck gostou muito da apresentação de seu amigo ontem à noite. Ele verificou todas as cerâmicas que temos em estoque. Ela caminhou pela loja, examinando as fotografias. Chuck disse que você e Adam saíram juntos para jantar.
Shelly, você está sondando!
Estou mesmo.
Não aconteceu nada. Robin desviou o olhar. Eu lhe disse que ele não estava interessado em mim. Agora, quer parar com essa história?
Está bem, desculpe. Shelly a fitou por um instante, depois aproximou-se e colocou a mão em seu braço. Ele a magoou?
Shel, eu m*l o conheço!
Ele não me pareceu um mau-caráter.
Acho que o problema sou eu. Tenho uma tendência a forçar situações Robin disse, tentando mostrar-se despreocupada e indiferente. Os homens correm de medo de minhas atenções.
São uns covardes. Não sabem dar valor a uma boa mulher.
Shelly foi embora momentos depois e deixou Robin em um estado de espírito estranho. Por um lado, a lembrança de Adam trouxera de volta toda a ansiedade. Por outro, sua mente ainda trabalhava na questão de John Martinez.
Às cinco horas, depois de fechar a loja, Robin entrou em seu carro pensando nas opções. Poderia falar com Rod Cordova, mas ele a julgaria maluca, já que John Martinez iria desaparecer e não haveria provas para sua história. Além disso, prometera à mulher. E se contasse o caso à comissão? Mesmo assim, não resolveria muito. Não tinham como encontrar Martinez e obrigá-lo a falar.
Mas precisava fazer alguma coisa. O quê?
A ideia já havia surgido, mas apenas no momento em que estacionava diante de casa Robin admitiu que era o que realmente desejava. Jogaria o problema para a pessoa que se mostrara mais interessada: Adam Farwalker.