tudo por você

2426 Words
Adam largou o trabalho por um instante, com um estranho pressentimento. Não sabia discernir bem o que era, mas uma sensação sinistra lhe oprimia o peito. Em algum lugar, acontecera algo que o afetava profundamente. Mas o quê? Depois do almoço, quando retornou ao trabalho de restauração da kiva, a mesma sensação ainda o perseguia. Devia ter algo a ver com Robin e os potes falsificados. Ela estava ansiosa para brincar de detetive e, de fato, se conseguissem descobrir quem encomendara os potes a Martinez, o caso estaria resolvido. Porém, não conseguia esquecer o problema semelhante que ocorrera em Albuquerque, a quadrilha de falsificadores e o investigador encontrado morto sob circunstâncias misteriosas. Lembrava-se do carro de Robin fora da estrada e se repreendia por não ter sido mais enérgico em sua intenção de deixar tudo nas mãos de Rod Cordova. Era um absurdo Robin continuar envolvida naquilo. Sr. Farwalker! chamou um dos estudantes. Josh, do centro de visitantes, está a sua procura. Lembrando-se do pressentimento que o acompanhava desde cedo, ele limpou as mãos no jeans e desceu depressa para o acampamento. Adam, eu estava passando por aqui e achei melhor lhe deixar este recado. Parece importante Josh avisou. Obrigado. Adam pegou o papel cor-de-rosa onde a telefonista anotava as mensagens. Até mais. Você vai à festa de despedida de Craig esta noite? Talvez. Ainda não sei Adam respondeu, levantando os olhos do papel. Vou sentir falta dessa garotada quando eles forem embora Josh lamentou, antes de despedir-se e voltar a seu trabalho. Adam leu o recado pela segunda vez. Era de Christina. 'Alguém invadiu o estúdio de Josefina e Martinez está ferido. Telefone assim que puder.'' Ele sentiu um arrepio. Por que não dera mais atenção a seus instintos? Agora, carregara mais gente para aquela confusão. Ocorreu-lhe nesse instante que, se Martinez fora espancado, então ele não havia mentido. Alguém vinha observando ele ou Robin e sabia onde tinham ido. Alguém tinha conhecimento de todos os movimentos deles. E Robin, sozinha em um quarto de hotel! Se estavam tentando assustar Josefina e Martinez, poderiam fazer o mesmo com Robin. Dez minutos depois, encontrava-se no centro de visitantes discando para a loja de Robin, mas ninguém atendia. Adam lutou para controlar o pânico. Lembrou-se de que Ericka Dalton iria voltar para a faculdade e Robin, certamente, tivera de fechar a loja por causa de alguma sessão de fotografias. Em um impulso, ligou para o hotel. Não havia ninguém no apartamento dela também. Esperou mais meia hora e tornou a discar para a loja. O telefone tocava, tocava, sem resposta. A impaciência o consumia. Era uma das reações que aprendera com o homem branco ao longo dos anos. Por fim, resolveu telefonar para a mãe, imaginando se Robin teria decidido ficar lá. Queria também saber mais detalhes sobre o que havia acontecido a Josefina e Martinez. Adam? Você recebeu o recado depressa. Ah, filho, estou inconformada! Martinez está muito ferido? Não sei, Josefina estava tão histérica que só disse que alguém o espancou. Adam, o caso é sério. Acho que você terá de ir à polícia. Rod já está informado sobre tudo o que eu sei e é evidente que Josefina e Martinez não vão querer prestar queixa desse incidente. Mamãe, você tem notícias de Robin? Sim, ela esteve aqui esta manhã, para falar de uma associação de artesãos índios. A que horas ela saiu? Faz umas três horas. Deve estar na loja. Não está. Adam, você não acha que... Não sei. Assim que desligou o telefone, Adam retornou ao acampamento, deu algumas instruções aos alunos, jogou uma sacola de roupas no carro e tomou a direção de Santa Fé, acelerando o máximo que seu carro aguentava naquela estrada cheia de curvas. No meio da tarde, parou em San Ysidro e ligou novamente para a loja. Ninguém atendeu. Por que não ficara com ela? Os Dalton. Teriam descoberto que eram suspeitos? Se fossem realmente culpados, poderiam ter atraído Robin para uma armadilha. Ou Martinez. Seria fácil para ele entrar em contato com Robin e dizer que tinha novas informações, atraindo-a, assim, para San Lucas. Mas ela também podia estar consolando Josefina. Claro, poderia estar em qualquer lugar. Ele estacionou diante da Robin's Nest. O aviso na porta dizia: Estarei de volta às cinco horas. Só que já passava das seis. Ele sentiu um aperto no coração. Havia acontecido alguma coisa com Robin. Não podia mais enganar-se dizendo a si próprio que ela estava trabalhando. Já era muito tarde. Adam tentou acalmar-se e pensar nas opções. Poderia sair à procura dela, perguntar aos amigos, verificar todos os hotéis da cidade, simplesmente esperar ou chamar Rod Cordova. Foi até os fundos da loja e espiou através das persianas da janela. O estúdio encontrava-se vazio. Decidiu ir até a galeria dos Dalton. Eles mentiriam sobre o paradeiro de Robin se estivessem envolvidos no caso dos potes, mas tinha de tentar. Chuck Dalton estava fechando a loja. Oi, Adam. Estou ficando até tarde para um período de pouco movimento, não é? Ele riu, a própria imagem da inocência. Chuck, você sabe onde está Robin? Acabei de chegar de Chaco e há um aviso na porta da loja dela dizendo que estaria de volta às cinco horas. Chuck olhou para o relógio de pulso. E são quase seis e meia. Não sei, Adam. Acha que Shelly pode saber? Espere aí, ela está em casa. Vou dar uma ligada. Ele foi até o telefone e discou o número. Eu achei que você seria a pessoa mais indicada para saber onde Robin estaria ele brincou com Adam. Oi, Shel. Adam Farwalker está aqui procurando por Robin. Você sabe onde ela está? Não, não está na loja. Deixou um aviso dizendo que chegaria às cinco. Ah, é? Tudo bem, até mais. Ele desligou e virou-se para Adam. Ela não sabe. Você está preocupado? Acha que pode ser alguma coisa relacionada às falsificações? Não sei Adam respondeu, evasivo. Tentou ir ao hotel onde ela se hospedou? Acho que é o Governor's Inn. Eu já estive lá. Ei, calma. Ela vai aparecer. Se soubermos de alguma coisa, onde poderemos encontrar você? Deixe recado com meus pais. Você se importaria se eu usasse seu telefone para ligar ao hotel outra vez? Fique à v*****e. Mas ninguém atendia no quarto 223. Chuck fechou a loja e foi embora em sua caminhonete verde. Adam ficou pensando, analisando as reações de Chuck. Seu sexto sentido lhe dizia que ele estava falando a verdade, mas não podia confiar em intuição naquele momento. Os Dalton já estariam alertas caso fossem mesmo culpados no caso das falsificações. Adam caminhou de volta até a Robin's Nest. Talvez ela estivesse na casa de algum outro amigo. Poderia tentar entrar em contato com Julien, ou com Madeline Lassiter, ou... quem mais? Poderia prestar queixa do desaparecimento dela a Rod Cordova. Mas ela estaria mesmo desaparecida? A noite começava a cair e ele continuava diante da loja, ansioso e sem saber o que fazer. Um carro vinha aproximando-se pela rua tranquila. Era branco, como o de Robin, mas os últimos raios do sol incidiam sobre o para-brisa, impedindo que ele visse o motorista. O veículo veio em sua direção, encostou na guia e parou. Era Robin. Adam! O que está fazendo aqui? Adam sentiu-se reviver. Caminhou até ela e a abraçou, profundamente aliviado. Lá estava Robin, alta e graciosa, saudável, vibrante, perfumada. Apertou-a junto a seu peito e depois segurou-a diante de si, enlevado com sua beleza que tivera tanto medo de perder. Adam? O que foi? Por onde você andou? Estava trabalhando. Até esta hora? Fui tirar fotografias. Será que eu tenho de avisar cada vez que saio? Você está atrasada. Ele apontou para o aviso na porta. É, estou. Mamãe me contou sobre Josefina e Martinez. Fiquei preocupado. Desculpe. Não imaginei que você viria me procurar. Robin... ele começou, mas não pôde continuar. Um longo momento de silêncio instalou-se entre eles, frágil e tenso como um fio finíssimo de vidro. Você vai ficar na cidade esta noite? ela indagou. Ainda não pensei nisso. Eu só estava imaginando... Bem, é só uma ideia. Eu adoraria passar uma noite em minha própria casa. Enjoei de comer fora. Já que você está aqui... Ela riu, embaraçada. Bem, talvez possa passar a noite comigo... Com todo prazer ele respondeu, antes que a razão o fizesse recusar a proposta. Ah, ótimo! Vou guardar minha câmera e então podemos passar pela mercearia. Vou fazer um... Eu a levo para jantar fora. De jeito nenhum. Não aguento mais comida de restaurante. Estou com v*****e de cozinhar. Ela preparou hambúrgueres caseiros e uma grande salada. Tomaram sorvete de café com cobertura quente de chocolate como sobremesa. Robin estava feliz por ter podido voltar a sua casa. Deixou os pratos na pia e sentou-se no sofá ao lado de Adam, com os pés sobre a mesinha de café. Ah, belo jantar! Ei, quase ia esquecendo de lhe contar. O quê? Ontem, na reunião da associação, ouvi Thad Mencimer agradecer a Chuck Dalton por ter lhe emprestado a caminhonete. Quer dizer que Thad usou a caminhonete de Chuck? Sim. Então eu imaginei que pode ter sido Thad quem pegou os potes com Martinez. Não temos nenhuma prova. Eu sei. Ainda temos de contar com nosso plano. Ela levantou e pôs-se a caminhar pela sala. Tanto pode ter sido Thad como qualquer outra pessoa. Você já pensou que, se John Martinez realmente foi espancado, pode estar com tanto medo que nunca irá nos contar quando irão buscar os potes? Se Martinez foi espancado? Você acha que... Eu não o vi. Não sei se Josefina o viu. Ele pode estar armando uma cena. Ou podem ter ordenado que ele dissesse isso. Mas, se for verdade, então ele é inocente, certo? Não há uma maneira de descobrirmos? Não há como convencê-lo a nos dizer quando os homens voltarão? Bem, se ele for mesmo inocente, terá medo de falar até mesmo com Josefina. Por outro lado, seu orgulho pode fazer com que ele queira se vingar. E se ele não for inocente? Neste caso, eu diria que ele tem duas escolhas. Ou pode nos ignorar ou passar uma informação falsa. Será que deveríamos... Ela hesitou. O quê? Falar com Rod Cordova? Mas acho que é bobagem. Para quê? O que ele fez até agora além de praticamente nos chamar de loucos? Ele que vá para o inferno! Adam sorriu. Ela era uma mulher e tanto. Merecia alguém especial para lhe dar amor, p******o e segurança. Mas não podia ser ele. Adam, você tem de ir embora logo para a fazenda? ela indagou, após um momento de reflexão. Ele sabia aonde Robin queria chegar e um calor súbito aqueceu-lhe o corpo. Poderia ficar com ela. Robin o estava convidando e ele a desejava com uma força que até o surpreendia. Adam levantou e caminhou até a janela. Como poderia rejeitar o amor e a beleza dela? Ao mesmo tempo, como poderia aceitar? Adam? ela insistiu, aproximando-se. Ele virou-se e a encarou de frente. Os olhos dela eram sinceros e abertos, Robin não tinha nada a esconder. O que há? Adam, por favor... Há algum problema? O coração de Adam deu um pulo e o calor de seu corpo transformou-se em gelo, deixando uma camada de suor frio sobre a pele. Conte-me ela pediu. Seja o que for. Podemos enfrentar juntos. Por favor, deixe-me ajudá-lo. Não tem nada com você, Robin. Não é problema seu. É, sim ela murmurou. Qualquer coisa que o esteja perturbando é problema meu também. Você não vê que está afetando nós dois? n******e me contar? Ela passou a mão pelo rosto dele. Adam segurou-lhe os dedos, sentindo a maciez da pele, a delicadeza dos ossos. Robin, eu não quero machucá-la. Mas... eu não entendo. Talvez seja o fato de sermos muito diferentes. Eu não acredito nisso. Seria melhor acreditar. O coração de Adam batia apressado. Robin estava tão perto que seu perfume parecia impregnar o ar. Levou a mão dela aos lábios, invadido por uma enorme tristeza, uma terrível sensação de perda. Por um breve instante, pensou em contar tudo sem dar importância às consequências. Robin, porém, deixara bem claro o tipo de vida que desejava. E era algo que ele não lhe poderia dar. Qual seria a vantagem de deixá-la saber a verdade? Só para fazê-la sofrer ainda mais? Robin ficou em silêncio por um longo tempo. Por fim, recostou a cabeça no peito dele. Desculpe. Você não tem de dizer nada. Apenas fique aqui comigo, Adam. Ele soube que não conseguiria dizer não. Iria ficar, eles se amariam e, por algumas horas, esqueceriam a tristeza. Baixou a cabeça e a beijou, lembrando-se abruptamente do gosto e da textura daqueles lábios. Robin... A mera presença dela era capaz de incendiá-lo. Minutos depois, encontravam-se na semi-escuridão do quarto, abraçados, deleitando-se na redescoberta de seus corpos. A luz tênue da rua atravessava a cortina e tocava a n***z de Robin, revelando sensualmente a curva dos s***s, o contorno dos quadris, o formato das coxas. Adam a puxou para a cama, ávido para reencontrar cada detalhe que tinha gravado na memória. Beijou-lhe os s***s, desceu os lábios até a barriga, acariciou-lhe os ombros, as costas, ansioso por possuí-la inteira. Os gemidos de Robin aumentavam-lhe o d****o. Robin arqueou o corpo, pronta para recebê-lo. Abandonou-se às sensações cada vez mais intensas, inflamada de paixão, até a tensão caminhar incontrolavelmente para o alívio. Abraçada a Adam, ela deixou que seu grito de prazer ecoasse na noite silenciosa. As primeiras luzes do alvorecer encontraram Adam de pé junto à janela do quarto de Robin. Um suave brilho dourado tocava o campanário da antiga capela e começava a iluminar a praça. Ele virou-se lentamente e fitou a cama desarrumada, onde Robin dormia. Estava virada de lado, com os ombros claros como mármore e os cabelos caídos sobre o rosto. Mesmo durante o sono, tinha a testa franzida, e Adam sabia qual era a causa daquilo. Era a incerteza, o tormento de não poder sentir-se segura ao lado dele. A luz do dia adquiriu um tom perolado, amenizando as sombras no quarto. Robin dormia, tão perfeita, tão íntegra. Fora um egoísmo imperdoável ter feito amor com ela outra vez. Pensou, por um momento, acordá-la e dizer-lhe isso. Mas talvez só fosse complicar a situação. Vestiu-se em silêncio, sem tirar os olhos dela. Ajoelhou-se ao lado da cama e beijou-lhe de leve o rosto. Depois saiu silenciosamente do quarto, calçou as botas e deixou a casa, fechando a porta com cuidado atrás de si.
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