fica?

3681 Words
O quarto estava vazio quando Robin acordou, mas ainda havia o cheiro masculino e e*****o que Adam deixara na cama e no ar. Ela espreguiçou-se e lembrou da sensação dos braços dele, do calor de sua pele, da maciez de seu corpo. Ele fora embora em algum momento da noite, mas sem dúvida bateria à porta do quarto de hóspedes para avisá-la que o café estava pronto. Não poderia mais mostrar-se fechado com ela após a i********e daquela noite. Robin sentou-se e sentiu a cabeça latejar. Automaticamente, levou a mão à testa. Ai! gemeu, ao tocar o local dolorido sob o curativo. Saiu da cama e caminhou descalça até o espelho. O quadrado branco que tapava o corte deveria ser um lembrete amargo de seu acidente, mas ela não conseguia juntar sentimentos de raiva naquela manhã. Sentia-se, em vez disso, cheia de alegria e otimismo, como se o sol sempre fosse brilhar em um céu sem nuvens e nunca mais houvesse um pingo de chuva para estragar um dia perfeito. Claro que fora Adam que fizera aquilo com ela. Havia sido necessário uma sacudida brutal para acordá-lo. Um acidente era algo sério, mas Robin estava sorrindo. Que homem mutável ele era. De repente, como por milagre, ele abrira a porta para seu mundo particular. Robin sentia-se feliz e, agora sabia com certeza, apaixonada. Onde estava Adam? Provavelmente dormindo. Estiveram acordados até tarde na noite anterior. Ela o imaginava adormecido, seu rosto relaxado, o corpo estendido, as longas coxas musculosas, o peito largo e cor de cobre. Nunca conhecera alguém como ele. Adam era discreto quanto a seus sentimentos, mas quando decidia o que queria era gentil e carinhoso. Seria um amante apaixonado e atencioso. Eles iriam conversar muito. Ah, quantas coisas tinham a dizer um para o outro! Quanto poderiam aprender juntos! Robin tomou um banho, com cuidado para não molhar o curativo, e vestiu as mesmas roupas da véspera: a saia rodada e a blusa turquesa seca e manchada. Mas não tinha outra escolha. Olhou-se outra vez no espelho, decidiu que o curativo branco era muito f**o e arrancou-o. Aproximando o rosto do espelho, examinou o corte. Quatro pontos bem-feitos. Ajeitou a franja de modo a cobrir a ferida e sorriu. Ficara muito melhor. Por sorte, tinha alguma maquiagem na bolsa. Estava muito pálida. Eram quase nove horas. Adam ainda estaria dormindo? Adoraria entrar no quarto dele e acordá-lo, mas Christina não aprovaria muito a atitude. Morria de v*****e de vê-lo outra vez, de ouvi-lo dizer seu nome. Será que ele lhe daria um beijo de bom dia? Talvez, se seus pais não estivessem por perto. Ele era antiquado; com certeza se importaria com o que a mãe pensasse. Talvez já houvesse sofrido alguma desilusão na vida. Mas Robin descobriria qual era o problema de Adam e o amaria tanto que curaria as feridas e o faria feliz todo o tempo. Não importava o passado, não importava seus mundos serem diferentes. Agora que descobrira que Adam se interessava por ela, Robin moveria céus e terras para que ficassem juntos. Christina encontrava-se na cozinha, lendo a seção de artes do jornal de Santa Fé. Bom dia, Robin. Como está se sentindo? Estou bem. Adam já... Deixe-me ver o corte. Adam contou o que aconteceu. Christina levantou-se e afastou a franja de Robin para examiná-la. Ah, não é tão r**m. Ninguém vai perceber. Adam disse que você vai ficar aqui conosco e eu acho mesmo que é melhor assim. Ele já levantou? Ah, sim. Já foi para Chaco cuidar do conserto de seu carro. Disse para você esperar aqui. Ah. Ele já havia partido. Robin sentia-se terrivelmente desapontada. Ele não precisava fazer isso. Adam não quis acordá-la. Estará de volta no fim da tarde. Agora, não se preocupe. Sente-se e coma. Você é tão magrinha. Robin fez um esforço para sorrir e pegou a xícara de café que Christina lhe entregava. Obrigada. Na verdade, estou faminta. Eu sabia. Havia ovos, tortilhas, bolo e café forte. Que delícia! Robin exclamou. Vou recomendar este restaurante a meus amigos. Ray gosta de ter um desjejum reforçado. Vocês são muitos gentis, Christina, mas eu preciso voltar para minha loja. Hoje é sexta-feira, tenho coisas a acertar no banco e Ericka só chegará à tarde. Adam disse para você esperar aqui até ele chegar com seu carro. Meu carro? Mas como ele vai fazer com o carro dele, se vier dirigindo o meu? Não sei, mas ele dará um jeito. Talvez peça a um dos alunos para trazê-lo. Não se preocupe com isso. Ele disse também que ia procurar Rod Cordova e que não queria você andando por aí sozinha até ele falar com a polícia. Que loucura! Não posso acreditar que isso esteja acontecendo. Ela olhou para a tortilha em seu prato e sacudiu a cabeça. Talvez seja um sonho. Ou talvez não passe de uma estranha coincidência de acidentes. Adam não pensa assim. Bem, de qualquer forma, tenho de voltar à cidade. Marquei com um cliente para esta tarde. Meu filho vai ficar bravo conosco se a deixarmos sair sozinha Christina observou, franzindo levemente a testa. Ah, eu me sinto péssima dando todo esse trabalho. Vou chamar um táxi e... Não, espere até Ray chegar. Ele vai pensar em alguma solução. Christina apoiou o cotovelo na mesa de pinho. Que fantasia esse seu cliente tem? Ele quer ser fotografado como soldado sobre um cavalo. Oh, meu Deus, ainda não arrumei a roupa! Adoro suas histórias! Ray vai levar você até a loja para esse compromisso. Ah, eu não poderia... Nem pense nisso. Agora trate de arranjar o uniforme do homem. O que mais Robin poderia fazer? Ela telefonou à agência de aluguel de roupas para o uniforme, depois conseguiu um cavalo com sela da cavalaria para as cinco horas. Durante todo o tempo, Christina andava pela cozinha, arrumando as coisas. A mãe de Adam. O que Christina pensaria dela, uma estranha que seu filho tinha de ficar salvando como se fosse um cavaleiro andante? Ray chegou do trabalho e sentou-se diante de um pãozinho e uma xícara de café. Então, mais aventuras, hein? ele comentou com Robin. Meu filho parece ter virado sua vida de cabeça para baixo. Ah, se ele soubesse, Robin pensou. Ray, Robin tem de ir para a cidade, mas não acho que deva ir sozinha. Você a levará, não é? Claro. Só preciso resolver algumas coisas por aqui. Iremos daqui a uma hora. Sr. Farwalker, não seria mais fácil me emprestar um carro? E se acontecer alguma coisa? Ele sacudiu a cabeça, sério. Ah, meu Deus. Eu odeio ser um peso. Querida, não fique preocupada. Famílias servem para isso Christina garantiu. Que família?, Robin pensou. A família de Adam? Posso usar o telefone e falar com Ericka? Ficarei mais tranquila se ela puder abrir a loja. Claro, à v*****e. Foi Shelly quem atendeu. Você está onde? E me disse que ele não estava interessado, hein? Shel, os pais dele estão sendo muito bons comigo. O sr. Farwalker vai me levar à cidade mais tarde. Ah, já entendi. Mamãe e papai estão aí. Não vou dizer mais nada. Ouça, diga a Chuck que eu sinto muito por ter perdido a reunião da comissão ontem à noite. Tive de ir a Chaco Canyon e me atrasei. Chaco Canyon? Para quê? Ahn, fotografias. Tirei umas ótimas ela mentiu. Ericka está aí? Ainda não acordou. Você precisa dela na loja? Preciso. Não estou podendo ir para lá agora. Certo, eu vou acordá-la. Obrigada. Diga-lhe que pode tirar a tarde de folga. Está bem. E é melhor você conversar com Chuck sobre a reunião. Ele chegou em casa espumando por causa de Thad Mencimer. Parece que houve uma discussão. Ah, que ótimo. Ray a levou para a cidade em sua espaçosa caminhonete com ar condicionado. O rádio estava ligado em uma estação que transmitia os comerciais em inglês e as notícias em navaho. O senhor entende navaho? ela perguntou. O suficiente. Aposto que a maioria das pessoas nem sabe que há uma estação que transmite em navaho. Ray Farwalker levou seu papel a sério. Acompanhou-a até a casa dela, inspecionando os aposentos antes de deixá-la entrar. Robin trocou sua roupa por um conjunto de jeans. Depois Ray foi com ela ao banco, à loja de aluguel de roupas e ao supermercado para comprar pão e carne para os sanduíches que Robin preparou para eles e para Ericka. O pai de Adam falava pouco, mas era agradável e alegre. Apareceu pouca gente na loja à tarde. Ericka foi para casa, Ray sentou-se em um canto lendo revistas e Robin aproveitou para colocar a contabilidade em dia. Ray Farwalker insistira em ficar lá para levá-la de volta à fazenda quando ela fechasse a loja. Robin não conseguiu convencê-lo do contrário. A porta se abriu de repente e ela levantou os olhos, esperando ver um cliente. Era Adam. Ele parecia cansado e impaciente. Robin aproximou-se, aborrecida por todo o trabalho que ele tivera por sua causa. Adam... começou, mas algo na expressão dele a deteve. Meu pai está aí? ele perguntou, ríspido, fazendo-a gelar por dentro. Robin apenas indicou o fundo da loja com um movimento de cabeça. O que teria acontecido? Seu humor alterou-se de repente de alegria por ansiedade. Momentos depois, os dois homens reapareceram. Tinham as cabeças baixas e falavam em apache. Robin respirou fundo, recusando-se entrar em paranoia. Por fim, Adam olhou para ela. Conversei com Rod Cordova esta manhã. Eu preferia que você não tivesse feito isso. Prometi àquela mulher que... Você prometeu a ela antes de quase ter sido morta Adam interrompeu. Então... então você contou a Rod sobre John Martinez? Tive de contar. Sinto muito sobre a promessa que você fez a sua amiga índia, Robin, mas fazer você jurar que ficaria quieta foi muito... infantil da parte dela. Ela não estava sendo infantil Robin protestou, irritada. Apenas sentia medo. Desculpe. Adam passou a mão pelos cabelos. Foi um longo dia. Eu compreendo. O que Rod disse? Ele ficou preocupado com seu acidente e, enquanto eu ia para Chaco Canyon, ele foi a San Lucas. Encontrou John Martinez? Sim. Acabei de conversar com Rod outra vez. Parece que Martinez não ajudou muito. Disse que nunca ouviu falar de você ou dos potes ou de uma mulher com brincos de borboleta. Rod até investigou onde Martinez esteve ontem à noite. Todos no povoado afirmaram que ele se encontrava em casa. Mas é claro que diriam isso, fosse verdade ou não. Adam, não me diga que você está pensando que John Martinez esteve em Chaco Canyon ontem e... Ele tem uma caminhonete velha. Como a maioria dos índios e vários rancheiros brancos interveio Ray. Eu sei. Isso tinha de ser verificado, mas não levou a nada. d***a! Adam, agora que você está aqui, não acha que seu pai deveria ir para casa? Ele levantou a mão e massageou a nuca, cansado. Há um pequeno problema. Papai, preciso que você me leve de volta a Chaco Canyon. Hoje? Robin indagou, desapontada. Tenho de estar na escavação amanhã cedo. E meu carro está lá. Tudo bem Ray respondeu. Podemos deixar Robin na fazenda primeiro. Espere aí Robin interrompeu. Não suportava mais ver as pessoas tendo tanto trabalho por sua causa. Isso está ficando muito complicado. Adam, eu levarei você até Chaco. É o mínimo que posso fazer. Robin, é uma viagem longa e sua cabeça... Minha cabeça está ótima. Pergunte a seu pai. Não desmaiei nem uma vez hoje. Não sei se é uma boa ideia. Por que não? Ouça, eu passarei a noite em algum hotel ou pousada perto de Chaco e voltarei amanhã bem cedo. Ei, já sou uma mulher crescida. Ela olhou de um para o outro. Ray parecia neutro, mas Adam franzia a testa. Meu carro está consertado, não está? O único problema é que tenho um cliente às cinco horas. Você pode esperar? Filho, acho melhor você concordar Ray opinou, decidindo a questão. Depois despediu-se e deixou os dois sozinhos. Tenho uma grande ideia disse Robin. Você parece estar precisando de um drinque. Vou fechar a loja e nós podemos ir até o La Fonda enquanto meu cliente não chega. Eu aceito. O bar era agradável, decorado em estilo mexicano e com um atendimento primoroso. Adam tomou um longo gole de seu margarita gelado e sorriu. É, foi mesmo uma boa ideia. Você deve estar exausto. Sua mãe disse que você saiu muito cedo esta manhã. Robin procurava ser cuidadosa e falava apenas de assuntos impessoais. O homem sentado a sua frente não era o mesmo que a abraçara com carinho na noite anterior. Não imaginava o que teria feito por causa daquela mudança drástica. Esperava que fosse apenas o cansaço. Nesse instante, Julien entrou no bar, acompanhado de Madeline Lassiter. Ele viu Robin, acenou, e os dois se aproximaram. Buenas tardes, amigos Julien cumprimentou. Robin, você não apareceu na reunião ontem à noite. É, desculpe. Eu não pude. Houve uma briga e tanto Madeline comentou, olhando para Adam. Sr. Farwalker, que prazer tornar a vê-lo. Sabe, eu queria lhe perguntar sobre um vaso hopi que tenho. O comerciante me garantiu que era do século dezesseis, mas suspeito que seja mais novo. O laboratório da universidade terá prazer em ajudá-la, srta. … Lassiter. Madeline Lassiter ela respondeu, sorrindo. É a mesma briga de que Chuck falou, Madeline? Robin interrompeu, incomodada com a clara intenção de flerte. Puxa, a coisa ficou pesada lá na biblioteca. Nós estávamos discutindo seu plano de organizar os artistas índios. Então Thad, você sabe como ele é, fez um comentário depreciativo sobre os índios. Ela olhou para Adam. Peço desculpas por ele, sr. Farwalker. Bem, o fato é que Ben Chavez levantou-se furioso. O avô dele era navaho, você sabe. Foi uma discussão f**a. Com isso, acabamos não resolvendo nada. Thad é precipitado e um pouco ríspido Julien acrescentou. Mas não é má pessoa. Ah, não? comentou Robin. Ele vai cair em si. Não acha que a comissão funcionaria melhor sem Thad? Robin indagou. Nós não podemos simplesmente expulsá-lo do g***o. Não seria justo. Nós o convenceremos. Espero que sim murmurou Madeline, fitando Adam outra vez. O que acha de Thad, sr. Farwalker? Não me sinto qualificado para fazer um julgamento, srta. Lassiter. Adam, talvez sua mãe pudesse ajudar Robin sugeriu. Isso você terá de perguntar a ela. Você sabe que a comunidade indígena é muito fechada. Sua ideia é sensata, mas organizar os artesãos índios pode não ser tão fácil. Mas vale uma tentativa, não é? interveio Julien. Claro. Bem, eu posso consultar sua mãe. O pior que ela poderá dizer é não. Uma ideia esplêndida entusiasmou-se Julien. Bem, vamos ter de deixá-los. Eu e Madeline marcamos um encontro com um comerciante de arte. Boa tarde, sr. Farwalker. Ou posso chamá-lo de Adam? Esteja à v*****e. Galante, Adam levantou-se e apertou a mão de Madeline. Bem, parece que você arrumou uma nova fã Robin comentou, depois que os dois foram embora. Mas Adam apenas terminou seu drinque, deliberadamente não engolindo a isca. Apesar de seu silêncio, ele era uma companhia agradável e todas as mulheres no bar o notavam. Robin gostava de estar com um homem tão atraente. Podia fingir que eram um casal, que pertencia a ele e a Santa Fé, que havia um lugar para ela... São quase cinco horas Adam avisou. Ah, é? Ela terminou sua margarita. De volta ao trabalho. O cliente era Ted Butler, um texano tímido e magro de Houston, com um forte sotaque sulino. Trocou-se nos fundos da loja e saiu como um perfeito confederado da Guerra Civil, com túnica cinza, botas altas, chapéu e o emblema da Confederação dos Estados sulistas na frente. Adam os levou até um local a vinte quilômetros de Santa Fé onde, segundo a placa, havia acontecido uma das batalhas. Era um lugar bonito, com colinas verdes e amplos espaços abertos. O cavalo já havia chegado e um rapaz com ar de preguiça fumava um cigarro de palha, encostado ao trailer com o animal. Pode tirar o cavalo do trailer, por favor? Robin pediu. Ah, não, dona. Esse bicho está meio bravo. Eu disse pro chefe... Ah, que bom! exclamou Robin, soltando um suspiro. E agora? Ted perguntou, ansioso. Não sou muito bom na montaria. Deixe comigo Adam ofereceu-se. Já lidei com cavalos bravos antes. Sob o olhar encantado de Robin, ele montou o animal facilmente, parecendo não temer a maneira furiosa como o cavalo batia os cascos no chão. Falava-lhe com voz suave em sua língua nativa e acariciava-lhe o pescoço, enquanto o fazia andar lentamente. Em poucos minutos, o animal se aquietou. Pode montar agora, sr. Butler. Ele só estava e******o. Desajeitado, Ted Butler subiu à sela enquanto Adam segurava as rédeas. O sol baixava sobre as colinas a oeste, lançando sombras interessantes no rosto comum de Ted. Robin armou o tripé, escolhendo o melhor ângulo, de forma a que ele parecesse mais velho, forte e autoritário. Coloque a mão direita na bainha da espada, Ted. Isso mesmo. Endireite o corpo. Ótimo, ótimo. Agora um pouquinho mais para a esquerda. Levante um pouco o queixo. Aí. Perfeito. Depois de vinte minutos, a voz de Robin estava ficando rouca de gritar instruções, mas a sessão correra muito bem. Levaram Ted de volta à loja, depois pararam um pouco na casa de Robin para que ela pegasse alguns objetos pessoais e puseram-se a caminho de Chaco Canyon, com um suprimento de sanduíches e milk-shakes, às seis e meia. Você foi maravilhoso com o cavalo Robin comentou, mastigando um hambúrguer enquanto Adam dirigia. É a experiência. O animal percebe. Dizem que os apaches sempre foram bons com cavalos. Talvez esteja em meus genes. Robin fingia-se interessada nas batatas fritas, mas não conseguia tirar os olhos das mãos de Adam no volante, aquelas mesmas mãos que haviam amansado o animal como por mágica. O que você falou para o cavalo? Ah, coisas comuns, como calma, relaxe. Mas em apache as palavras parecem alcançar melhor os animais. É difícil traduzir. É lindo ter esse tipo de poder sobre os animais. Você vai ensinar seus filhos a fazerem isso? É muito difícil? Ele ficou tão quieto que Robin o fitou, imaginando se a teria ouvido. O perfil dele era rígido, os lábios fechados com firmeza. Ultrapassou um caminhão, pisando fundo no acelerador do carro de Robin. Adam? Ahn? Ah, desculpe, eu estava concentrado na estrada. O que você perguntou? Robin baixou os olhos e mexeu no anel de pérolas que usava havia pelo menos dez anos. Nada, não era importante. Ela terminou seu milk-shake, depois juntou canudos, copos e guardanapos em um saco de papel e virou-se para colocá-lo no banco de trás. Viu uma bonita sacola de uma loja de roupas em Santa Fé e, curiosa, esticou o braço para pegá-la. O que é isto? Ah, eu tinha esquecido. É para você. Para mim? Ansiosa, ela abriu a sacola e tirou uma linda blusa azul-escura de seda pura. Espero que você goste da cor. Não tinham nada em turquesa, como a blusa que você perdeu, mas... Adam, eu não acredito! Ela não sabia o que dizer. Seu abundante repertório não a ajudou naquele momento. Mas sabia que era melhor não ser muito efusiva, ou Adam ficaria embaraçado. Passou os dedos pelo tecido brilhante, pelos botões cobertos. A cor azul combinava com seus olhos. De repente, imaginou se ele teria pensado nisso. Obrigada, é linda Robin agradeceu, tornando a guardá-la na sacola. Deixavam para trás as colinas e o vasto platô ressecado estendia-se à frente. Iam na direção do pôr-do-sol, como se fossem penetrar no espetáculo rosa e púrpura que coloria o céu do deserto. Quer que eu guie? ela perguntou. Dormi bem mais que você. Não é preciso. Se você ficar cansado... Claro. Ela cruzou as pernas no carro apertado, incapaz de relaxar com Adam tão próximo de si. Acho que John Martinez mentiu para Rod? Acho. E como alguém poderá descobrir alguma coisa? Mais cedo ou mais tarde Martinez terá de admitir o que fez ou alguém cometerá algum erro e o entregará. E se isso não acontecer? Não posso ficar morando na sua casa pelo resto da vida. É, eu sei. Bem, se as autoridades apertarem o cerco sobre os falsificadores, a quadrilha desistirá ou se mudará para outro lugar. Sua ideia de uma associação indígena é boa nesse sentido também, porque os bandidos se sentirão pressionados pelos dois lados. Acabarão sendo pegos. Havia poucos carros na estrada. Adam parou em um posto dê gasolina para abastecer e, então, entregou as chaves a Robin. Sua vez. Ela dirigia mais depressa do que ele. A lua ainda não surgira e a escuridão era total lá fora, exceto pela luz dos faróis. Adam reclinou o banco e, momentos depois, adormeceu. Robin ouvia-lhe a respiração lenta e cadenciada, sorrindo. Ele merecia aquele descanso. Adam acordou ao passarem por Pueblo Pintado. Esfregou os olhos e verificou o relógio. Ei, você está dirigindo ou voando baixo? Sente-se melhor agora? Espere até eu acordar direito. Você está bem? A cabeça não a incomoda? Ela tocou o corte com um dedo. Ainda estava dolorido. Eu quase esqueci disso. Mas eu não. Passava de dez horas quando chegaram ao centro de visitantes. Pare aqui um segundo, Robin. Quer dirigir? ela indagou, entrando no acostamento. Não. Ouça, Robin. Ele hesitou. Era evidente que pretendia dizer algo difícil. Já é tarde e não há nenhum hotel aqui perto. Não quero você guiando por aí sozinha. O coração dela se acelerou, antecipando intuitivamente o que estava por vir. O que você sugere, então? Ele não a fitava diretamente, mas além dela, na direção das paredes escarpadas do canyon. Fique aqui comigo. Robin não tinha certeza se ouvira direito. Ele a convidava para ficar. Seria possível? Adam esticou o braço e tocou-lhe o ombro. Fique comigo repetiu, baixinho. Eu... O coração dela batia tão forte que parecia querer pular do peito. Você percebe o que eu estou pedindo? ele disse, com uma incrível ternura, acariciando-lhe o ombro, o pescoço, a orelha. Sim ela murmurou, esquecendo-se do mundo.
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