Benno - O Possessivo

Celular

Tereza estava quente, os pés que costumavam estar sempre gelados pela manhã pareciam aquecidos. A manhã de domingo era chuvosa e Tereza podia ouvir os barulhos de pingos nas calhas do prédio antigo.

Ela custou um pouco a acordar, sabia que estava na casa ao lado e não em seu apartamento. Mesmo um pouco constrangida, ela ficou aliviada por apenas ter dormido, se algo a mais tivesse acontecido seria um problema.

_ Bom dia dorminhoca.

Ouviu a voz rouca de sono de Chris e sorriu.

_ Bom dia, finalmente achei alguém que dorme tanto quanto eu.

Disse ela brincando.

_ Já acordei a um tempo, não quis levantar. Você parecia com frio.

Tereza se virou, passou a noite de costas para Chris na tentativa de se aquecer mais. Sempre sentiu muito frio.

_ Estou sempre com frio.

Disse ela enquanto olhava para a cara amassada de sono dele.

_ Você fala enquanto dorme..

Christian falou em um tom sério. Tereza não se recordava com o que havia sonhado.

_ Eu disse algo …?

_ Falou o nome dele, imaginei que fosse um pesadelo então abracei você mais forte. Aí você ficou mais calma.

Disse ele enquanto tirava uma mecha de cabelo dos olhos dela.

_ Bom.. não me lembro do sonho.

_ Tudo bem. Fique aí, vou fazer um café pra nós.

_ Melhor eu ir, já aluguei você tempo suficiente.

Disse ela um pouco sem graça. O relógio apontava quase onze da manhã.

_ Faço questão!

Christian levantou e foi para a cozinha. Um tempo depois o cheiro de café tomou conta do apartamento. Tereza se enrolou nas cobertas, o cheiro do vizinho não era r**m, passava conforto e ela gostava disso. Não era aqueles cheiros estranhos de quando se dormia na casa de um estranho. Apenas parecia estranhamente familiar, talvez fosse pelo fato do cheiro dos apartamentos ser quase igual.

_ Pronto, cuidado para não queimar a língua.

Disse ele enquanto alcançava o copo de café.

Logo depois ele trouxe torradas e Tereza comeu como se não comesse a muito tempo.

_ Vou pedir sushi para o almoço, ta afim?

Perguntou ele enquanto observava a pequena enrolada em suas cobertas.

_ Sim, amo sushi!

_ Ótimo.

Os dois ficaram ali. Chris ligou a TV e enquanto terminava a xícara de café Tereza começou a mexer um pouco no celular. Um número estranho havia lhe mandado duas mensagens, uma delas estava apagada e a outra dizia:

“ Ele é seu namorado?”

Tereza sentiu um calafrio subir à espinha. Nos últimos meses havia mudado de número duas vezes devido ao assédio incessante do ex, será que ele havia descoberto novamente seu número? Ela suspirou cansada e respondeu a mensagem:

“ Quem é você ? “

No fundo ela desconfiava quem era mas precisava ter certeza.

_ Está tudo bem ?

Perguntou Chris olhando para ela.

_ Sim.. já achou algum sushi bom ai ?

Perguntou ela na tentativa de desviar o assunto.

_ Ainda não.

Disse ele voltando a olhar o celular.

O telefone dela vibrou, logo a resposta veio.

“ O homem de ontem.”

Tereza ficou chocada. Como ele havia conseguido seu número? Provavelmente Laura ou seu marido haviam passado, não teria outra forma dele saber algo particular assim.

“ Como descobriu meu número? Eu nem sei seu nome..”

Tereza estava verdadeiramente incomodada com a situação e Christian percebeu a inquietação dela.

_ Tereza, o que ta acontecendo ?

_ Um número estranho está me mandando mensagens..

Disse ela sem se importar muito.

_ Posso ver ?

_ Pode..

Chris pegou o celular dela e leu, uma carranca se formou no rosto dele e o celular vibrou novamente. Ela olhou de relance a mensagem recebida.

“ Falo com você quando estiver sozinha!”

Os dois se olharam. Como o número sabia que eles estavam juntos? Chris olhou pela janela mas não viu ninguém.

_ Não saia mais sozinha, entendeu ?

No fundo ela estava com um misto de medo e curiosidade para saber o que o homem queria. No fim das contas teria que perguntar a Laura quem era o homem estranho e como ele sabia seu número.

_ Sim ..

Ela respondeu baixo, meio aérea e ele a puxou de volta para a realidade.

_ Olha pra mim ..

Christian estava a cada segundo mais perto. Os lábios femininos pareciam bem tentadores e o espírito de proteção gritava em seu peito.

_ … não saia sozinha! É uma ordem!

Os olhares se cruzaram durante um instante. Foi o suficiente para que um beijo ardente e carente se fizesse presente. Não houve toques mais íntimos, mas ainda sim ambos sentiam-se aquecidos pelo carinho que um sentia pelo outro. Era amizade, nisso não havia dúvidas, mas mesmo assim foi reconfortante para os dois saber que poderiam contar um com o outro.

Christian voltou a sua missão, achar um bom sushi para os dois. Tereza tentou se concentrar na TV, era quase impossível prestar a atenção no que passava na tela, sua cabeça viajava entre o homem do perfume, entre o beijo que acabara de acontecer e o que aconteceria quando Thiago soubesse que ela estava sendo cortejada por homens.

Enquanto isso na pensão, Benno ardia em raiva. Sua respiração parecia fogo e seus músculos se contraiam. Ele sabia que não poderia quebrar todo o quarto, a proprietária o expulsaria e ele precisava das informações que aquele lugar poderia lhe proporcionar.

Na tela do computador estava ligada a câmera do celular de Tereza. Benno era bom no que fazia, era um hacker exímio e ter acesso ao celular dela foi fácil. Difícil mesmo foi ver aquele homem durante a noite toda tocando o corpo que era dele, e pior ainda foi vê-lo beijando os lábios que ele sonhava em beijar.

Respirou fundo, apesar da raiva precisava ter calma. A única maneira de sentir algum alívio seria procurar alguma missão clandestina, matar alguém parecia tentador naquele momento. E foi isso que ele fez, pesquisou no banco de informações policiais alguém sujo o suficiente para ser purificado. Passou o dia ali, procurando suas vítimas e na outra tela vendo Tereza, sorrindo e comendo juntamente com aquele estranho. Seu coração por um momento doeu quando ela aproximou o celular do rosto e olhou pra câmera, os olhos perdidos dela indicavam que não estava feliz, mas se dependesse de Benno ele a faria mudar de vida pois cada dia que passava ele tinha a certeza de que ela precisava dele mais que ele precisava dela. Um terrível engano.