Benno
Benno nunca foi homem de muitas palavras, sempre foi o melhor em tudo que fazia, ao menos era isso que ele mesmo dizia para sí e para os outros. Sempre implacável nunca deixou nenhum rastro dos seus trabalhos, costumava dizer que seu melhor amigo era o fogo. O fogo para Benno é a mais pura purificação de todos os pecados. O homem carregava tatuado em seu peito um urso repleto de chamas, para Benno esse urso representava Hefesto, o Deus grego do fogo, não que Hefesto fosse descrito como um urso, mas o animal representava seu clã. Benno nunca acreditou realmente em divindades e muito menos em deuses, mas nas chamas ele acreditava. Nas chamas e na beleza do queimar.
Ao longo de sua vida foi julgado pelos seus colegas de equipe e da máfia, muitos o chamavam de louco e outros de incendiário, na língua dos mais atrevidos Benno era tachado como o demonio do fogo, o louco. O único homem que Benno considerava quase como que irmão era aquele para quem devia respeito e cumplicidade. Seu capo Markus nunca se importou ou julgou as decisões de Benno, sempre tentou colocar juízo na cabeça desmiolada dele explicando que não era somente sair tirando vidas e ateando fogo naquilo que um dia foram seus corpos. Markus sempre se certificou que seu fiel amigo não caísse na mais profunda escuridão. Para um homem vindo de família quase que ''perfeita'' Benno era apenas mais um soldado fácil de se perder, mas para Markus não, para ele Benno era um irmão e fiel aliado. Lutaram guerras um ao lado do outro, de perto o grande Capo Alemão pode ver o monstro que se criara em baixo de suas enormes garras, para Benno foi apenas mais uma missão na qual não sabia se sobreviveria, tudo muito simples e prático.
Depois de uma missão quase que impossível Markus decidiu deixa-lo descansar. Benno merecia afinal já eram anos em missões. Claro que ele não quis, brigou e até mesmo socou seu chefe, mas no final acabaram fumando um charuto e bebendo uma cerveja juntos. Benno já se sentia e stressado e irritado com a calmaria. Ele queria mais, queria a adrenalina de entrar de rompante nos lugares atirando para todos o lados e dando seu show mortal, queria sentir de perto o perigo de enfrentar um inimigo corpo a corpo, queria sentir o calor do sangue que manchava suas roupas. Benno era um enorme urso pardo, para ele sua risada era como um rugido informando aos desavisados que suas vidas chegavam ao fim. Apesar de toda picuinha ele não se sentia um louco, ele apenas demonstrava a satisfação dele de outra maneira.
Ao contrário dos outros homens ele não sentia satisfação em contar quantas mulheres havia levado para a cama nas ultimas semanas, ele sentia satisfação em contar quantos inimigos havia derrubado, quantas vidas inocentes havia salvo, sim, ele também ajudava pessoas e não somente lhes retirava a vida. Na cabeça dele todos aqueles homens que ele purificava poderiam causar conflitos maiores e desta forma mais vidas se perderiam. Ele era seu próprio herói, apenas não usava uma capa pois achava brega de mais.
Sempre foi vaidoso, gostava de andar bem arrumado e quem o visse em um dia qualquer andando na rua não diria quem ele realmente é. O ditado de ''quem vê cara não vê coração'' se aplicava muito bem a ele.
Sua família era uma típica família da máfia, a mãe ficava somente em casa e seu pai tinha seus negócios e amantes na rua. Benno sentia-se infeliz naquela casa repleta de falsa felicidade. As paredes coloridas e bem arquitetadas não supriam o que realmente ele queria e precisava, amor. Depois de um tempo ele decidiu não se questionar mais o motivo da mãe ser tão relapsa com ele, a velha Marieta nem sequer preocupou-se em saber se ele estava vivo ou não durante o treinamento de iniciação e quando ele voltou nem sequer um abraço lhe deu. Foi ai então que ele percebeu que o excesso de dinheiro e falsidade pode tornar aquilo que era para ser um lar em uma prisão com grades de ouro.
Ao final do treinamento Benno comprou um pequeno imóvel no centro da cidade, era um apartamento pequeno e aconchegante mas a vida na cidade o deixava com claustrofobia. A adrenalina não era a mesma que seu trabalho proporcionava, foi ai então que ele decidiu vagar como um nomade, já que ele era uma peça indecifrável nada melhor que conhecer cada canto que lhe desse na telha.
Em um certo dia, hackeando um sistema corrupto e expondo todas as fraudes Benno acabou se deparando com um contrato de uma propriedade um pouco mais afastado da cidade, ao pé de uma montanha. Ao lado havia um lago e a região era um pouco mais fria que o normal mas a vegetação o passou tranquilidade. Ele foi ágil e logo a pequena propriedade já estava sob seu poder.
Nem isso foi capaz de tirar dele o tédio que tomava conta, foi encarregado de buscar alguns documentos na Itália, o capo de lá havia tornado-se seu aliado e juntos construiram uma enorme e forte aliança.
Benno colocou seu melhor terno, não sabia quando poderia ter uma emoção ou não, entrou no tal local de troca e logo avistou Leonardo, o homem mais carrancudo e chato que conhecera, mas o que lhe chamou a atenção foi a jovem parada na receção que o olhou de maneira intrigante. Ela não parecia somente uma mulher, aos olhos dele parecia bem mais interessante. Sua lista de acompanhantes era vasta e ele já havia experimentado cada uma que lhe deu vontade, o dinheiro e a boa aparência permitiam isso, mas aquela não, aquela parecia intocada, os cabelos bagunçados amarrados no topo da cabeça e as olheiras indicavam que ela não dormia bem a dias. Ao contrário das outras ela não parecia ter tantos atrativos, o corpo era pequeno e os lábios não eram tão carnudos quanto os que ele já havia provado. A maneira retraída que ela o olhou parecia um chamado. Era como se a e nina o convidasse para conhece-la e era isso que ele desejava naquele momento. Leonardo pediu que ela indicasse uma sala mais reservada e assim Benno o seguiu,se dependesse dele ele permaneceria ali, a observando sem qualquer constrangimento.
_ Quem é a garota?
O interesse e a curiosidade gritavam em seu interior mais alto que qualquer coisa. Leonardo o olhou desconfiado.
_ Funcionária. Aqui está o arquivo, proteja com sua vida. Matteo vai ficar puto se algo acontecer.
Falou Leonardo tentando desviar o assunto para o que realmente importava.
_ Ta, beleza. Mas qual o nome da garota ?
Insistiu Benno.
_ Pra que esse interesse todo Benno ?
_ Qualé Leonardo, para de bancar o chato cara!
_ É Tereza, mas não é pro seu bico. O Capo Markus vai ficar puto se você se envolver com uma italiana sem nome.
Não era verdade, Markus ficaria aliviado em ve-lo com alguma mulher que pudesse coloca-lo novamente em orbita, mas disso ninguém precisava saber.
_ Ela é linda.
Suspirou Benno, Tereza parecia um nome doce demais para ser dito por sua bocatão suja.
_ Anda Benno, leva isso pra Markus logo. Você é muito velho pra garota!
_ Sabe que idade não tem nada a ver né ? O garotão aqui ainda sobe!
Benno sempre prezou muito seu lado brincalhão, dessa forma ninguém poderia desconfiar de suas verdadeiras intenções.
_ Não quero saber do seu p*u Benno, vai logo!
Ele saiu do consultório quase que arrastado, em nenhum momento ele deixou de olhar e admirar a beleza extraordinária da mulher a sua frente. Tudo bem que ele era mais velho, não tanto quanto Leonardo pensava, nenhum homem realmente sabia muito sobre Benno e se perguntassem para seus progenitores nem eles saberiam responder, os anos de repulsa e relapso pelo filho os impossibilitavam de sequer saberem o dia que seu único filho havia nascido.
Naquela noite Benno voou até a Alemanha, cumpriu sua missão e voou novamente para a Italia no dia seguinte decidido a conhecer mais sobre a garota chamada Tereza, nome que a cada segundo ficava mais doce em seus lábios