Benno - O Possessivo

Primeira vista

Mais um dia de consultas havia se iniciado, durante o final de semana Tereza havia ficado reclusa no apartamento. Durante a noite uma pedra havia sido jogada e acabou quebrando o vidro, os cacos haviam se espalhado pela cama e Tereza não conseguiu dormir mais.

O marido estranho de Laura estava no consultório mais uma vez, ele a vigiava mas Tereza percebeu que entre eles havia muito amor e que provavelmente a amiga havia domado aquele homem terrivelmente assustador. Por mais que tivesse sofrido muito com o amor ela ainda acreditava que amores impossíveis poderiam acontecer, que hora ou outra ela encontraria seu par destinado também, assim como sua amiga.

Um homem entrou pela porta, era ainda mais estranho que Leonardo, marido de Laura. Por alguns instantes Tereza pensou que ele fosse algum executivo ricaço que havia ido fazer algum procedimento ou algo do tipo, mas conforme ele se aproximava Tereza percebeu que estava enganada. As mãos tatuadas e o semblante extremamente pesado exalavam medo, assim como Leonardo.

Os dois homens se cumprimentaram mas nem assim aquele estranho deixou de olhá-la fixamente. Tereza sentiu um calafrio quando o perfume amadeirado dele exalou pela recepção. Ele a olhava como um predador prestes a pular na presa.

_ Caramba, que cara esquisito..

Observou a secretária.

_ Ele comeu você com os olhos Tereza, cuidado ein!

Disse a faxineira, em tom de deboche.

_ Ele deve ter me confundido com alguém, sei lá. Só sei que quero distância !

Disse Tereza enquanto organizava algumas fixas.

_ Quando vai seguir em frente menina ?

Perguntou a secretária.

_ No dia de São Nunca. Vamos trabalhar ?

Disse Tereza irritada. Ela voltou aos seus afazeres.

A todo momento ela se pegava desviando o olhar para a sala onde aquele estranho estava sem ao menos saber quem ele era, sem saber nem sequer o nome, apenas o cheiro marcante dele estava presente no ar.

Quando saíram da sala ele praticamente foi arrastado por Leonardo. Realmente parecia que aquele homem tão imponente demonstrava algum interesse nela. Tereza espantou os pensamentos que começavam a tomar conta e tentou se distrair com as atividades do dia.

Quando a noite chegou, Tereza finalmente chegava em casa, ainda com aquele homem dominando sua mente e por alguns momentos ela chegou a tropeçar na rua de tão longe que aquele olhar dominante a levou.

Ela ouviu uma batida na porta. Todo cuidado era pouco levando em consideração que seu ex estava à espreita.

_ Sou eu..

Ela abriu a porta com a voz conhecida.

_ Oi Chris.

Disse ela sorrindo.

Christian havia ajudado Tereza quando ela recém chegara no pequeno condomínio, tanto com as mudanças quanto com a segurança. Ele passava a maior parte do tempo longe de casa envolvido com suas atividades um pouco ilícitas mas sempre que estava fazia questão de ver como estava o bem estar de Tereza. Ela suspeitava que talvez fosse por isso que Thiago não se aproximava ou invadia logo seu apê, por medo de Chris.

_ Você ta bem ?

_To sim, e você ?

Ele se preparava para responder quando notou o machucado do braço desnudo de Tereza.

_ Foi ele ?

_ Ah .. sim. Mas já tá sarando,vou ficar bem.

Christian aproximou-se mais. Tereza podia sentir o hálito de menta misturado com café.

_ Sabe que se eu pegar ele aqui …

_ Sim, eu sei.

Interrompeu ela. No fundo sabia que Chris não estava brincando quando dizia que daria um fim na vida de Thiago. A dependência emocional e o sentimento de culpa que ela carregava era maior que qualquer outro, até mesmo maior que a raiva. Ela não defendia as atrocidades que Thiago cometia, mas também não o queria morto.

_ Bom, só vim aqui ver como você estava. Se precisar de qualquer coisa tem meu número.

_ Obrigado Chris.

Antes que pudesse reagir ele depositou um beijo casto em sua bochecha, ele não era um cara feio, muito pelo contrário, Christian era considerado um garanhão.

Depois de trancar a porta Tereza foi preparar um lanche, os acontecimentos do dia haviam lhe deixado com pouco apetite e por mais que o toque dos lábios macios de Chris ainda estivessem presentes em seu rosto ela não conseguia deixar de pensar naquele perfume que sentiu mais cedo.

_ Aiai Tereza, vai acabar se metendo em confusão.. você ta carente, só isso!

Disse ela para ela mesma enquanto preparava um sanduíche.

_ Sabe de uma coisa, eu preciso de um gato!

Chegou nessa conclusão e logo se jogou na pequena cama. Ainda que tentasse se conformar com a vida que tinha, ela sabia que um amor verdadeiro e alguém para lhe esquentar os pés a noite fazia muita falta, e definitivamente não seria um bichano que saciaria o desejo que ela sentia.

Quando os sonhos finalmente a dominaram, Teresa não teve sossego. Novamente aquele olhar predatório a olhava fixamente, ela podia até mesmo sentir o cheiro e a sensação de arrepio tomou conta de seu corpo.

No dia seguinte acordou com o corpo suado devido aos sonhos intensos e pecaminosos que havia tido,mas também decidida. Enterraria aquele estranho de vez, nada podia deixá-la assim, nada. Não se permitiria entregar novamente seu coração, já havia sido dilacerado o suficiente e Thiago seria uma eterna pedra em seu sapato.