Dia do passeio

1287 Words
Nick Adorava chegar em casa e ver o sorriso das minhas filhas, Natália e Natali eram as minhas preciosidades. Apesar de serem gêmeas idênticas, elas não pareciam ter nascido da mesma gestação, por causa da personalidade de cada uma. Natália era centrada, organizada com as suas coisas, pretendia estudar psicologia e gostava de ficar em casa e fazer programas caseiros, com toda a família. Natali ainda buscava a sua identidade, uma hora queria ser bailarina, outra jogadora de vôlei, outra ocasião nadadora. Toda semana era uma surpresa, mas uma coisa ela tinha convicção, não queria ser confundida com a irmã, coisa que acontecia sempre . Ao contrário da irmã, Natali era mais festeira, adorava uma balada, sair com os amigos e fazer programas em família ao ar livre, como piquenique, cinema, parque de diversão... Tinha que me desdobrar para atender as gêmeas, elas nunca entravam em acordo, por isso, uma semana fazia o que uma queria, na semana seguinte era a vez da outra. Assim, equilibrava a rotina das duas e não me afastava delas. Aos finais de semanas, as minhas filhas liberavam-me para que eu saísse com quem quisesse, e elas ficavam com a avô, que me ajudou a cuida-las desde que me divorciei da mãe delas. — Para onde vamos? Era a semana da Natali. — Pensei em ir ao cinema, depois almoçar em um restaurante e depois... Vocês decidem — falei colocando a minha bolsa no balcão da cozinha e sentando entre as duas. — Legal, podemos ir ao pub? Por favor, por favor, por favor. — O Pub não é lugar para adolescentes lindas como vocês. — Eu avisei para ela que o senhor não iria concordar — disse Natália, sem tirar os olhos do seu livro. — Elas estavam ansiosas pela sua chegada, até fiquei admirada porque a Natália queria sair dessa vez — disse Damiana, minha ex-sogra avô das gêmeas. Ela terminava de enxugar a louça e guarda-las. — É mesmo? Fico feliz em ouvir isso. — Dei um beijo na testa dela. — E que no cinema vai estrear Thor Amor e trovão, adoro as histórias de mitologia nórdica. — Nerd — zombou Natali. Na verdade, ela acompanhou todos os filmes da Marvel, até tentou estudar sobre física quântica, mas desistiu por achar complicado demais. — Eu quero assistir, porque no filme o ator do Thor fica pelado — completou Natali. — Epa! Que história era essa? — Passou em um dos trailers, você não viu? — perguntou Damiana, enquanto preparava o lanche da tarde. — Não tive tempo de ver os trailers, estive ocupado com o último artigo e procurando um departamento de polícia que aceitasse os meus serviços. — Eles te dispensaram? Balancei a cabeça positivamente. — Bem no momento que tinha começado a investigar um escândalo político. — E que escândalo era? — O de sempre, lavagem de dinheiro, desvio de verba e essas coisas. Fui vago. Preferia não envolve-las nesse assunto. — Mas o senhor solucionou todos os casos que estava investigando? — perguntou Natália, desviando sua atenção do livro. — Sim. Pascoali está ansioso para sermos uma imprensa livre, sem censura. — Acho que eles não querem que o senhor mexa com os políticos. — Isso é certeza, ouvi uma conversar do assessor do prefeito com o delegado, dizendo que era para me dispensar. — Devia ter muito podre por trás, para que ele não permitisse uma investigação — falou Damiana. — Contou para alguém sobre o caso? — Para o capitão Tavares. — Qual foi a reação dele quando disse o que pretendia fazer? — questionou Natália, agora com o livro fechado. — Hum... Normal, eu acho. Percebi um cochicho dele com tenente, mas não dei muita atenção nisso, logo em seguida fui dispensado. — Aí tem coisa. Será? Ainda bem que ninguém descobriu que eu era jornalista, senão estaria ferrado. — Esse papo de mistério está bom, mas eu quero ver o Thor peladão — comentou Natali. — Acho que vou precisar ver a faixa etária desse filme. — É para maiores de doze anos — disse Natália, rapidamente. — Não acho que é pela mitologia nórdica que a senhorita quer ver esse filme. Ela sorriu inocente. — Também me interesso pela biologia humana. O que? — Acho melhor vermos outro filme. — Ah, não, pai — as duas falaram ao mesmo tempo. — Tem um homem pelado no filme. — Um homem muito sarado — incrementou Damiana. — Obrigado, pelo esse estímulo visual e pornográfico para minhas filhas. — Ah, elas têm dezesseis anos, não são tão inocentes como você pensa. Os hormônios delas estão nas alturas, além do mais terá um adulto com elas, apesar de não precisar. Se elas não forem com você, irão com as amigas e quem sabe com mais quem. — Está bem, está bem. Vocês convenceram-me. — Levantei as mãos em sinal de rendição. — Eba! — elas comemoraram. — Mas na hora da cena do peladão, vocês vão tampar os olhos. — Ah, vai sonhando — disse Natália e todos olhamos espantados para ela. — Quero dizer, claro, paizinho querido do meu coração. — Só depois de se alimentarem muito bem — argumentou Damiana. — Mas a gente vai comer fora, não precisamos comer agora — Natali estava empolgada para sair, assim como todas as vezes da semana dela. — Não iremos comer logo, vamos ao cinema primeiro, não sei quanto tempo de filme é e quanto tempo o Thor ficará pelado. — Aquilo estava me incomodando. — E é por isso que não sairão sem comer os deliciosos cookies que preparei. Foi a melhor ideia que já tive, deixar Damiana morar conosco, até porque, a própria filha a expulsou de casa. Além de ajudar-me com as meninas, ela cozinhava bem pra caramba. — Você vem conosco, Damiana? Também adorava a companhia dela, a tinha como mãe e ela me tratava melhor do que tratava a própria filha. — Não, dessa vez eu passo, tenho uma festa para ir. — Hum, vai encontrar alguém em especial? — perguntou Natali. — Vou ao aniversário de uma velha amiga, mas não descarto conhecer pessoas novas. Até porque só pareceram trastes na minha vida. Ela já nos contou diversas vezes a sua história com o seu ex-marido violento, era bom que as meninas soubessem que não existia príncipe encantado e aprendessem escolher os seus futuros namorados. Apesar de não querer que isso acontecesse tão cedo. Era por isso que Damiana me tratava melhor do que a sua filha, eu era o genro que toda sogra queria. Empanturramo-nos com os cookies e o chocolate quente, preparado com tanto carinho pela avó das minhas filhas. As namoradas que tive, depois da minha separação, nunca entenderam o porquê abrigava a minha ex-sogra. Não podia virar as costas para ela depois de toda a sua ajuda, seria ingratidão. Fui no meu quarto, tomar banho e trocar-me. Aproveitei para ler o último artigo que Natália revisou para ser publicado, enquanto esperava as minhas filhas se arrumarem, já que mulher demorava muito quando o assunto era escolher o que vestir e, nesse caso, eram duas mulheres, mas no final, sempre valeria a pena, pois, elas ficavam deslumbrantes. Esperei na sala pelas minhas garotas e... esperei, esperei, esperei. Já estava sentado no sofá, jogando futebol no meu celular quando elas apareceram, como disse antes, deslumbrantes. Essa era as minhas meninas. — Uau...! — Foi a única coisa que consegui dizer. Até levei um gol no jogo de celular, por estar distraído. Logo em seguida o meu celular apitou com uma mensagem de texto de um número desconhecido. “Código 633: Esta é uma linha segura, encontre-me nesse endereço, amanhã.” Era um amigo do exército.
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