Kate
O suspeito estava sentado no fundo do bar, bebendo e rindo com a família que, com certeza, nem imagina o que ele fez. A mulher, que estava sentada ao seu lado, olhava o relógio de vez em quando, e sempre que havia uma movimentação na entrada do bar, ela olhava como se estivesse procurando por alguém. Não, querida, ela não virá. Não até prendermos o seu marido.
Quando um homem agredia ou violava o corpo de uma mulher, ele roubava-lhe a dignidade, moldava a sua personalidade e destruía a sua autoestima. O cara sempre saía como o macho alfa, o que aumentava a minha cede por justiça. Eles não sairão por cima, pelo menos, enquanto eu for a delegada dessa cidade.
Duas viaturas pararam em frente ao bar, a minha equipe saiu de uma delas e verificou as placas dos carros, com certeza, eles deviam ter puxado a ficha do cara. No mínimo, ele teria algumas infrações, porque a aparência era de uma pessoa comum.
Os agressores e e**********s sempre tinham aparência comum, apesar de já ter prendido homens asquerosos. A maioria deles são alegres e divertidos na frente dos outros, mas por trás, quando não tinha ninguém os observando, mostravam a sua verdadeira face. O pior era que muitos deles são próximos a nós.
Na segunda viatura, estava a recruta e... Merda! Coronel Gomes veio pessoalmente prender o filho da p**a, ele não irá gostar de ver-me aqui. A parte r**m desse local, era que não tinha uma porta de saída, tinha comprado apenas um refrigerante para disfarçar a minha ida naquele lugar, enquanto os policiais não chegavam, e nem abri a latinha ainda.
O coronel e a minha equipe entraram no bar, eu virei para outro lado para que não me vissem e eu pudesse passar despercebida, dando de cara com um sujeito m*l-encarado, que parecia não ter tido um dia bom.
— Vai querer mais uma coisa, moça? — perguntou a balconista do bar, secando um copo atrás do balcão.
— Não, estou satisfeita, obrigada.
— A senhora nem abriu a latinha. Quer um copo descartável?
Isso poluiria o meio ambiente.
— Não, obrigada. Já estou de saída.
Paguei pelo refrigerante de marca famosa e me virei para sair do bar. Foi quando esbarrei no coronel.
— Não sei o porquê, mas eu não estou surpreso de vê-la aqui.
— Puft! Por que estaria surpreso? Tenho dois dias de folga, estava no meu lazer, bebendo um refrigerante.
— Ela nem abriu a latinha ainda — intrometeu-se a balconista.
Encarei-a seriamente e ela fingiu que não era consigo.
— Eu deveria leva-la presa ao invés dele, só assim para você entender o significado de “tirar uma folga.”
— Aff, uma mulher não pode mais frequentar um bar?
— Onde, coincidentemente, o suspeito frequenta?
— Não tenho culpa se frequentamos o mesmo local.
— É a primeira vez que a vejo por aqui, Senhor. — Olhei para a balconista, com vontade de dar-lhe um tiro.
— Será que dava para você nos dar um pouco de privacidade? — Ele deu de ombros e foi atender o cliente m*l-encarado.
— O que faço com você, Kate?
— Não quero ir para casa — confessei derrotada. — Os pesadelos voltaram e cada vez parecem mais reais. Só consigo relaxar quando estou na academia ou na delegacia.
— Kate... — O Coronel respirou fundo e passou a mão no rosto. Eu evitava conta-lhe sobre os meus problemas, não o queria preocupado comigo. — Tem se consultado?
Neguei com a cabeça.
— Faz um tempo que não falo com a psicóloga.
— Por quê? — perguntou indignado.
— Porque será a mesma coisa, que já faz dez anos, que eu deveria que abrir o coração para um novo amor, que só assim superaria o que aconteceu, que eu preciso sair com os amigos para me distrair...
— Já parou para pensar que a psicóloga poderia estar certa?
— Eu nem tenho amigos.
— Porque você não se abre para nenhum tipo de relacionamento.
— A última coisa que quero é homem querendo mandar em mim, ou alguém para tomar conta da minha vida.
Ele bufou, sabia muito bem que eu não mudaria de ideia.
— Enquanto aos sonhos?
Revirei os olhos, ele também não desistiria.
— Eu já marquei uma consulta, pelo menos, nessa parte a psicóloga conseguia me ajuda.
Assentiu com a cabeça satisfeito, não o tanto que ele queria, mas era melhor que nada.
— Quer fazer as honras?
Mostrou-me as algemas para que eu efetuasse a prisão. Sorri satisfeita. Peguei-as das suas mãos e mostrei para a balconista e também a língua, para debochar da sua cara, ela revirou os olhos para mim. Franzi a testa e segui em direção ao suspeito.
Ao nos ver se aproximando, ele logo se levantou e fez menção de seguir para o banheiro. Se ele achava que isso me impediria de exercer a minha função, não me conhecia nenhum pouco.
— Caio Vasconcelos? — Ele parou de caminhar e virou-se para mim.
— Pois, não?
— Pode nos acompanhar até a delegacia, por favor?
— Você é policial?
Mostrei o meu distintivo, mesmo à paisana o levava para onde quer que eu fosse.
— Delegada Thompson, da delegacia da mulher.
Ele arregalou os olhos sabendo do que se tratava.
— O que está acontecendo? — disse a sua companheira, posicionando-se ao seu lado.
Caio ficou agitado, com medo de ser desmascarado. Já conhecia esse tipo de reação, era sempre a mesma coisa. Quando a bomba estourava, eles se faziam de coitadinhos, alegando inocência acusando a mulher de tê-lo seduzido.
— Não foi nada, amor. Eles só estão querendo que os acompanhe para a delegacia.
— Mas por quê? Aconteceu alguma coisa?
— Deve ser apenas algumas multas de trânsito.
— Eu não diria isso — provoquei.
— Qual é a acusação? — a mulher ousou em perguntar.
Olhei para o cretino e dei um sorriso m*****o.
— Quer mesmo expor isso aqui, ou prefere nos acompanhar até a delegacia? — direcionei-me a ele.
Veja bem, não estava preocupada com a integridade dele, por mim, colocaria em uma prisão cheio de e**********s e ele que se virasse. Mas estava preocupada com a integridade da garota que, com certeza, seria atacada de todas as formas ainda. Ela não precisava de passar por uma humilhação pública.
— Aconteceu alguma coisa com a minha filha? Ela iria nos encontrar aqui, mas até agora não apareceu.
Olhei para aquela mãe preocupada, nem imaginava o que esse monstro fez com a filha dela. Contudo, não demorou muito para ela captar a mensagem e olhou para o marido horrorizada.
— Não, você não fez o que estou pensando?
— Eu não fiz nada, eu juro.
As outras pessoas que estavam à mesa, não entendiam o que acontecia. Segurei o braço do acusado e o conduzi para a saída do local. Porém, dando uma de macho alfa, soltou-se das minhas mãos e tentou atingir-me com um soco.
Como eu era bem treinada para essas ocasiões, desviei, puxei o seu braço e o torci nas costas, pressionando o seu corpo no balcão do bar. A balconista arregalou os olhos e eu sorri vitoriosa.
— Isso, resiste a prisão, adoro prender pedófilos como você.
O i****a riu, como se estivesse debochado da minha cara.
— Ela é maior de idade.
— Ah, então, temos uma confissão. Ouviu isso coronel?
— Claro e em bom tom.
E nem precisei pegar pesado com ele.
— O que? — Ele ficou confuso, mas achava que ele só estava fingindo.
— Diz que ele não fez isso com a minha filha, por favor?
Olhei para aquela mulher desesperada e compadeci-me.
— Nos encontre na delegacia da mulher, que tudo será esclarecido.
— Meu Deus! — Ela olhou para o marido enojada. — Era por isso que insistiu tanto para morarmos juntos, seu canalha?
— Eu não fiz nada, foi ela quem me seduziu.
Eu não disse? Era sempre a mesma coisa, tudo era culpa da mulher.
— Não é isso que os hematomas no corpo dela dizem, seu vagabundo.
Coloquei as algemas nele e o coronel conduzi-o para a viatura. A mulher saiu do restaurante e entrou no carro dos amigos sendo consolada. Porém, esse pesadelo estava longe de acabar para ela.