************ Capítulo 15 ************
************** Salita ***************
Andando de um lado para o outro buscava incansavelmente uma escapatória certeira para o Alien verde, capturado sem piedade pelos reis de Saturno. Mesmo pedindo clemência em nome do Cavlask, fui facilmente cortada por eles, sem direito a contar a minha versão desse sequestro louco. Insano. Simplesmente o julgaram sem se preocupar com os meus sentimentos referente ao acontecimento da minha vida.
Desde que retornei tem sido complicado conseguir uma conferência com os soberanos impiedosos, dois saturnianos cheios de rancor. Sean e Secan não admitem que o desdobramento da minha tragetória havia sido já redigida pelos dedos do próprio destino, nunca estiveram a frente desse propósito. Minha maldição seria sanada de uma maneira ou de outra, jamais poderiam me manter a salvo por uma longa escala de tempo. O marciano se encontrava relativamente certo em usar essas palavras, ao abrandar a conduta errônea, da qual tivera que cometer. Não foi em beneficio próprio, nunca foi por ele, e sim por mim.
Podia ter se passado mil anos terrestres, e de qualquer maneira chegaríamos a essa conclusão. Estou feliz por ter sido desonrada pelo melhor alienígena de Marte.
Meus pais não aceitam ouvir a minha verdade porque temem saber o que estou pensando, querendo, desejando. Até eu tenho medo da única solução plausível, da qual estava sendo forçada a escolher, era tudo ou nada no reinado dos meus reis. Espero que isso seja relevante ao gosto dos soberanos, não sei mais o que fazer. Vai ser isso, ou terei uma morte sobre as minhas costas por todo o resto da minha vida.
Parei a andança, voltando a respiração calma, tentando me controlar. Escrevendo mentalmente uma petição substanciosa, na intenção de ao menos ser ouvida.
- Salita?
Olhei a linda rainha parada na entrada do meu quarto.
- Entre, minha mãe.
Ela passou pela porta, e ficou ali a me observar sem dizer nada, apenas sorriu. Mostrando sua imensa felicidade.
- A festa surpresa organizada pelo povo de Saluti, homenageando o seu retorno foi impressionante.
Espremi o olhar na direção dela, não acreditando no que acabara de ouvir. Logo ela tentou se retratar, ficando rapidamente séria.
- Lógico, tirando a parte que o saqueador aventureiro quase foi linchado pelos moradores do nosso planeta.
- Não pude me alegrar com eles, tudo por culpa dos seus dois maridos. - Ditei brava, expulsando a mágoa, que sentia deles. - Sinceramente, sempre achei que podia controlá-los a sua vontade. O que aconteceu mamãe? Cacvlask também significa um ser tão repugnante ao ponto de desejar a sua morte?
- Está enganada, minha filha. Não desejo a morte do seu salvador. Pelo ao contrário, sou muito grata a ele por ter conseguido trazê-la de volta para o seu lar. O castelo, nossa fortaleza. Sua família se alegra com o seu retorno, viu como seus irmãos a esperavam? Tão ansiosos, és tudo de mais valioso que eles possuem.
Aproximou-se, na intenção de tocar o fio desajeitado da minha franja crescida, mas me recusei, indo para o lado. Sua expressão materna se mostrou chateada.
Inconformada com a minha atitude fria resolveu abaixar o braço, se contentando em somente me analisar.
- Se está grata a ele, demostre.
- Fui ao cativeiro, expressei pessoalmente ao guerreiro minha gratidão.
Aquela confirmação de que esteve com o meu algoz, na visão machista do meu povo, me deixou nervosa. E acabei vertendo, manifestando essa emoção pelos poros, tanto que ela notou detalhadamente essa reação.
- Como conseguiu falar com o prisioneiro? Faz três dias que eu tento mas os guardas especiais m*l deixam sair do meu aposento.
Sorriu de lado.
- Tenho os meus meios. Sou a Rainha, minha autoridade é lei. Principalmente dentro desse reino.
- Então ajude-o.
Solicitei, me segurando para não demonstrar mais do que havia revelado a ela. Estou confusa demais, caso venha me fazer perguntas desnecessárias. O tempo era o meu maior inimigo. Por hora.
- Acabei de fazer isso Salita.
- Como?
- Ganhou minutos para convencer os soberanos a respeito das suas intenções com o prisioneiro. Daqui a pouco a comitiva deles virá aqui para te buscar, porém só consegui essa brecha com uma condição. Sabe muito bem que os habitantes desse mundo são restritamente rigorosos quando um intruso toca na sua fêmea, ainda existe o casamento trisal, todavia dentro do circulo predeterminado pelo mais velho do grupo. O que realmente tenho a dizer, é, os reis não admitem que ele tenha roubado duas vezes; levado a princesa do seu habitat natural, e do fato de lhe ter arrancado a inocência daquela forma. Em meio a uma luta desesperadora, de vida ou morte. Foi difícil pra eles e...
- Isso que chamo de ego masculino ferido, se não fosse o sequestrador Alien, estaria enjaulada, vivendo com aquelas mulheres resignadas. Longe de vocês.
- Iriamos te visitar filha. - Veio me tocar, mas dessa vez permiti o toque.
- Meus irmãos também?
- Creio que não seria possível.
- Então o guerreiro pirata me fez um grande favor.
- Isso. - Concordou ela. - Mas terá que ser determinada. Se apresentará diante dos reis, unicamente como a princesa saturniana, será tratada somente dessa maneira. Sem deixar laços sanguínios influenciar na decisão final. Compreende o que estou dizendo?
- Sim. Acho que sei como levar a minha petição de soltura. Separarei as duas Salitas; A princesa e a única filha e sobrinha. Falarei por ela como sua advogada.
- Como fará? Isso não soa estranho pra você? Na certa esses dois não irão facilitar em nada, espero que se saia bem. A execução em praça publica está prevista no relatório prisional, e será declarada depois da sua... convocação.
Os guardas chegaram, se apresentado.
- Princesa, os soberanos aguardam sua presença real no salão principal. Estamos preparados para levá-la em segurança, não se preocupe.
Naira beijou-me na testa, desejando sorte ao se afastar o suficiente para deixar-me ir ao meu próximo passo do destino. Estava nas minhas mãos salvá-lo, igualmente fizera na minha vida. Agora podia compreender sua motivação, me encontrava na mesmíssima situação. A diferença que o meu resgate iria selar de vez a nossa união, mesmo que tivéssemos escrito o inicio de maneira torta, cheia de sangue e dor.
Caminhei no meio desses homens, capazes de entregar suas vidas pela minha. Mesma finalidade do meu guerreiro, todavia, ele não teve a mesma sorte de fazer essa escolha. Pois o acaso brincou mais uma vez, sarcasticamente. Zombando, como se quisesse desafiar as nossas atuações no meio da multidão.