************ Capítulo 9 *************
************** Salita ***************
— Me chamou sequestrador marciano?
Virou-se devagar, e me olhou de baixo pra cima, parando-se exclusivamente em meu rosto, mais precisamente na coroa que havia deixado na minha cama. Só a coloquei porque a achei graciosa, combinava comigo.
— Sim, sente-se. Precisa se alimentar com substâncias mais sólidas. Desde que chegou aqui só tem se alimentado por líquidos quentes. — Fez cara de ranço.
— Se chama sopa, não existe isso em Marte? Achei que fosse um preparo universal.
Sorriu de lado.
— Claro, mas temos outro pronunciamento, e leva muito mais iguarias da qual não estaria habituada mesmo se vivesse mil anos em nosso distinto planeta.
— Pelo meu azar, já que estou fadada a seguir o marciano raptor.
— Pelo ao contrário, a cada minuto que a conheço estou amarrado a segui-la feito um maldito escravo. — Sua voz rouca mostrava suas verdadeiras intenções.
— Não vai acontecer. — Empinei o queixo, impondo-me diante dessa criatura.
Sentei logo, não ia ficar esperando ele puxar a cadeira.
— Vai, e a princesa sabe disso.
Sentou na outra ponta.
Enquanto as servas serviam, distribuindo os alimentos do meus dois planetas, nós dois trocavamos olhares teimosos.
— Me possuir nesse estágio só vai me fazer odia-lo. Afinal, o meu corpo pede o que o meu coração se n**a a dar-lhe de bom grado.
— Presumo que devo achar o caminho do coração da princesa, conquista-la romanticamente, para depois ser domado por ela.
Travei o maxilar.
Ele sabia os desígnios da minha condição amaldiçoada, a submissa seria eu, não ele. E isso me trazia um rancor terrível. Um desconforto mais forte que a minha vontade de pular desesperadamente no seu colo viril. Por que diabos estava vestido como aqueles nórdicos dos livros de estudo da biblioteca?
— Prefere os lactobacillus vivos, princesa? — Perguntou solicitamente a moça simpática.
— De preferência. — Respondi curtamente.
— Sério? — Questionou o bárbaro.
Logo, fez a absoluta questão que observasse ele comendo um maço de musgo alaranjado, misturado a fiapos de... Carne? De que tipo? Aff! Não se intrometa no estilo rústico de nutrição desse alienígena, Salita. Mas chegava a fazer um barulho irritante ao ser mexido pela sua colher grande de madeira.
— Comem isso e ainda quer criticar os meus bichinhos? Sabia que eles ajudam no PH natural feminino?
— Não. — Disse-me, ainda mastigando aquela coisa grotesca.
Sem dar importância necessária para a saúde de uma fêmea continuou a comer, mesmo que aquilo ficasse grudado em seus dentes afiados. Ele tem uma arcaria dentária semelhante a pontas cortantes. Só percebi agora, ao ve-lo se deliciando com o seu manjar.
— Costuma escovas os dentes?
— Quer me beijar, Salita?
— i****a!
Peguei o leite contendo eles nadando no líquido branquinho...
— Isso é leite de vaca ou c***a?
— E isso importa?
Olhei-o lotada de ódio.
— Responda-me, ou deseja me intoxicar com um alimento errado?
Parou os movimentos de mastigação selvagem, e me olhou profundamente.
— De vaca, princesa. Uns dias atrás, antes do seu rapto, o mestre saqueou um armazém inteiro, trazendo mantimentos para o seu conforto terráqueo, além de visitar sorrateiramente fazendas na redondezas. Fez o mesmo em Saturno, sem os soberanos ficarem sabendo. Mas em sua terra natal ele comprou os grãos. O mestre Cavlask pensou em tudo.
— Satisfeita? — Questionou ele, impaciente.
— Agradecida pela informação serva do marciano pirata.
Ignorei-o propositalmente.
Esse é o seu nome... Diferente. Combina com o tal.
— Oh... — Olhou para o verdinho que por sua vez me fitava emburrado. — Disponha. Eu acho.
Voltei a me alimentar; joguei o sucrilhos de chocolate, amo chocolate! Morangos... Hum... E deixei as comidas de Saturno para atacar depois.
— Isso... Coma princesa... Temos que visitar um amigo, quero conhecer mais a sua maldição. Quem sabe ele pode me dá novas informações para combate-la.
Comendo olhei-o criando esperanças.
— Pode ser possível, que a feiticeira tenha deixado brechas.
Me agarrei a isso com todas as forças do meu ser.
— Gosto de ve-la feliz. — Comentou ao terminar sua refeição esquisita.
************** Naira ***************
Conseguimos conter o povo raivoso, agora eles estavam desacordados, não era pra menos, pois, com a disposição da minha familia era impossível detê-los.
Depois disso, os que viram a luta, temeram a nós, e nenhum marciano desavisado se meteu conosco novamente.
Partimos, entrando em qualquer moradia pela frente, e aí daqueles que tentassem atravessar nosso caminho. Estamos mais dispostos que nunca a achar a minha filha Salita.
— Por aqui nada. — Disse Sean, se juntando ao meu filho para procurar na casa seguinte.
— Vamos naquela catedral Secan.
— Sim minha rainha.
Corremos de mãos dadas, enquanto isso os outros soldados foram passar o olho nas demais casinhas ao redor.
Entramos, e logo de cara encontramos um tipo de cerimônia, na verdade interrompemos ela.
Uma bela jovem de olhos âmbar olhou a nós temerosamente, mas não entendíamos a razão do seu atual temor, já que as demais anciãs cuidavam amorosamente dela. Logo prosseguiram, levando-a para a parte detrás da propriedade.
— Naira, não podemos interferir. Precisamos tomar o rumo do salvamento, antes que seja o fim da nossa filha nas mãos daquele marciano maldito.
Fitei-o concordando amargamente com ele.
— Chega de distrações. — Disse-lhe em pura tristeza.
Demos meia volta saindo daquele ambiente da qual me trouxe inquietude a alma. Espero que fique bem, a moça é muito linda, além de ter um olhar dócil.
************** Cavlask *************
— Ghael!? Amigo! Onde você se encontra?! Trouxe visita.
Adentramos na sua humilde cabana.
— Tem certeza que podemos entrar sem ser convidados? Não gostaria de ser expulsa, ainda mais por um marciano.
Notei-a tocando em uma das mandalas de proteção, penduradas em suas paredes.
— Ghael, não é de Marte, ele é um...
Ela focou a sua direita, e horrorizada se afastou, andando de ré pondo as mãos a frente de sua atraente silhueta.
— Qual o problema?
— Me tira daqui!
— Salita...
— Se não vai me levar embora, eu vou sozinha!
Se virou contudo para a porta de entrada, mas ela se fechou, trancando-a aqui dentro comigo.
— Olha... Não precisa ter medo de mim.
— i*****l! — Atacou-me verbalmente. Começava a entender seus insultos da Terra.
Trouxe seu corpo de maneira frontal, mas sua rivalidade não era despejada na minha direção, só assim olhei para trás, encontrando o meu conhecido desde novo.
— Homem, desculpe ter entrando...
— Vocês estão macumunados, então o sequestrador não é um simples furtador de princesas amaldiçoadas.
Mirei-os, reparando um antigo confronto no ar.
— Epa! Vocês se conhecem?! Como? De onde?
Queria saber, totalmente dominado por uma força de outro mundo. Era mais fundo que o sentimento da raiva.
Salita fez um som arisco, como se quisesse afasta-lo.
— Maldito seja... Escarletiano....
Murmurou a princesa.
Não! Isso era impossível!