•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°• | Sophia Downson
Levantei em um pulo, olhando para os lados, com a respiração entrecortada e o coração acelerado.
Assustada, olhei para todos os cantos do quarto em que dormia — percebendo que, em anos, eu não estava acordando em um convento.
Eu já não tinha mais a responsabilidade de acordar cedo. Eu não acordaria cedo durante muito tempo, não tinha necessidade.
Por isso, me joguei para trás, encarando o teto branco e sem vida acima de mim.
As persianas estavam fechadas, por isso, fechei os olhos para voltar a descansar um pouco, aproveitando a paz que eu não tive durante anos.
Não durou muito, logo a minha porta foi aberta com força, fazendo o vento bater contra o meu rosto destampado.
— Acorda, Bela adormecida! — Ouvi a voz de Megan no ambiente e me levantei.
Franzi a testa, não entendendo ao certo o que a minha amiga de convento estava fazendo ali.
— Megan? — Disse, com a voz rouca de sono ainda.
— Surpresa, amiga? — ela perguntou, enquanto abria as persianas.
A luz iluminou todo o quarto, me fazendo fechar os olhos rapidamente.
— O que você está fazendo aqui? — Perguntei, sem entender nada.
— Eu sou a irmã do Peter. — Ela disse, se jogando na cama.— Não é legal?
— Você é a irmã do meu noivo? — Franzi a testa. — Quer dizer que você sabia de tudo? E nunca me contou?
— Desculpa, Soph. — Ela disse, se deitando de bruços e me encarando. — Eu não podia, eles não deixaram.
— Não importa, eu pensei que fossemos amigas. — Falei, me levantando e me afastando dela.
Eu ainda estava com a roupa de ontem, havia tirado as sandálias em algum momento da madrugada.
Me olhei no espelho, vendo o meu rosto inchado pelo choro de ontem a noite. Eu ainda estava magoada, eu ainda me sentia uma intrusa. Eu sabia que todos estavam mentindo para mim o tempo todo, mas Megan...
Megan era a minha melhor amiga, a minha irmã do peito, ela era a única pessoa no mundo que eu confiava, mesmo que eu achasse que nunca mais nos veríamos.
Doía que todos soubessem das coisas quem estavam bem embaixo do meu nariz. Doía saber que todos sabiam do rumo da minha vida, menos eu.
— Por favor, eu preciso ficar sozinha. — Falei, depois de algum tempo.
— Soph.. — Ela tentou dizer.
— Não, eu preciso digerir tudo isso. — Falei.
— Sophia, eu estou aqui por ordens do meu irmão. — Ela se levantou, parando ao meu lado. — Querendo ou não, você precisa ir escolher o vestido logo, eu vou esperar você acabar com o seu show de infantilidade e ir até a sala. — Ela abriu a porta da sala. — esteja pronta.
Engoli o bolo que se formou na minha garganta, secando as lágrimas e respirando. Eu me sentia usada, eu me sentia traída.
Me encarei no espelho, vendo a pele do meu rosto rosada. Eu não era feita, odiava pensar sobre isso, mas eu era uma mulher bonita e formada. Mesmo chorando, eu ainda era bonita.
Parei de me olhar no espelho, sabendo que eu teria de me arrumar hoje e já sentindo a culpa me invadir. A vaidade era um pecado — e essa é uma regra que eu deveria esquecer.
No mundo onde vivo agora, eu preciso me encaixar para manter o legado que a minha mãe levantou.
Me pergunto qual é o maldito legado que ela construiu, para que eu — a bastarda rejeitada, tivesse que manter me casando e deixando o convento para trás.
Tranquei a porta do quarto e abri o guarda-roupas, procurando um vestido comportado entre a infinidade de vestidos. Não era acostumada a ter tantas roupas e com tantas variedades assim.
Eu nunca havia escolhido roupas, pelo menos, não roupas chiques assim. Eu tinha adorado todas.
Aparentemente, minha madrasta deveria saber do meu gosto péssimo para roupas, por isso, separou conjuntos prontos em cabides.
Peguei um deles, cujo qual, a cor me chamou atenção.
Era um conjunto simples de saia colada da cor nude, blusa branca e um blazer da mesma cor por cima. Ao lado, uma bolsa branca de mãos e uma bota em um couro branco com saltos grossos.
Eu nunca havia andado de saltos, por isso, experimentei-os primeiro, tentando andar pelo quarto por alguns segundos. Não era tão difícil quanto imaginei.
Deixei tudo sobre a cama e entrei no banheiro, lavando todo o meu corpo embaixo do chuveiro. Ainda estava deslumbrada com a beleza do lugar, tudo aqui emanava poder.
Depois do banho, me enrolei na toalha, voltando para o quarto. Abri uma das gavetas e procurei um conjunto de lingeries para usar.
Queria algo confortável, o conjunto escolhido ontem por Melanie era fino e desconfortável. Acabei optando por uma branca de renda, que tinha a calcinha maior e mais confortável.
Me vesti com calma, tentando não deixar a roupa torta no meu corpo.
O pouco que vi — em Melanie e em Soraya, eram mulheres bonitas, elegantes e poderosas e, aparentemente, era isso que meu noivo esperava que eu fosse. Era isso que eu deveria ser.
Terminei de me ajeitar, colocando o colar dourado no pescoço e fazendo uma pequena reza ajoelhada sobre a ponta da cama, pedindo perdão aos céus.
Depois, encarei a bolsa sobre a cama, chegando a conclusão de que eu não carregaria nada, ou seja, não teria muita utilidade. Optei por deixa-la ali mesmo.
Não passei nada no rosto, não sabia me maquiar e nem usar os inúmeros produtos disponíveis, por isso, apenas penteei meus cabelos antes de sair do quarto.
Atravessei o corredor, tomando cuidado para não tropeçar nos meus próprios pés, até chegar a escada de madeira.
— Pensei que eu teria que buscar você. — Megan disse, me encarando.
Soraya estava ao seu lado, bebendo uma xícara de café e me encarou de cima a baixo.
— Me desculpe a demora. — Pedi, ainda que magoada, não conseguia tratar os outros com desprezo.
— Tudo bem, cunhadinha. — Ela colocou a sua xícara de café sobre a mesa e se levantou.
— Quem escolheu suas roupas? — Soraya perguntou.
Sério, sequer um "bom dia"? Ou um, "dormiu bem?".
— Eu mesma, sua mãe deixou todas separadas, eu só tive de selecionar. — Expliquei. — Gostou?
— Não, na verdade, achei horrível. — Soraya fez uma careta.
Megan torceu o nariz, encarando a morena sentada sobre o sofá.
— Bom, eu adorei. — Interrompeu a minha meia irmã. — E aposto que Peter, seu noivo.. — Ela deu ênfase em seu. — irá adorar também.
— Eu não vou me encontrar com Peter hoje. — Falei, não me lembrando de termos marcado algo.
— Vamos sim, temos um almoço marcado. — Avisou, se aproximando. — Agora, vamos logo, querida
Apenas assenti, não queria contestar sobre nada. Quanto mais rápido eu fosse, mais rápido eu voltaria e mais rápido eu poderia me afundar na minha mágoa.
Megan saiu na frente, rebolando dentro da calça social preta que usava. Ela era totalmente diferente do orfanato.
Megan tinha cabelos negros e longos, pele alva, era um pouco mais baixa que eu e mais comunicativa. Os anos no convento acabaram me transformando em uma pessoa retraída.
— Até depois, Soraya. — Falei calma, saindo atrás de Megan.
Não gostava da energia que Soraya me passava, ela parecia ser uma pessoa r**m. Não que eu conhecesse muitas pessoas ruins, mas, ela me passava uma aura negativa.
Saímos do apartamento em silêncio, descendo até o carro que ficava em uma garagem subterrânea. Eu nunca ia me cansar de olhar para todo o poder que me rodeava, era tudo deslumbrante e o tempo todo.
O motorista abriu a porta para nós, Megan entrou, seguida de mim e a porta ao meu lado foi batida, fazendo-me pular um pouco no lugar. Eu não era acostumada a andar de carro, não era nescessário no convento.
— Iremos a uma loja de noivas caríssima. — Ela explicou, me entregando uma revista. — Não precisa escolher nada muito chamativo, será uma reunião para cinquenta pessoas.
— Uau. — Murmurei. — E, eu posso chamar as freiras?
— Isso, você e Peter devem conversar. — Ela explicou.
Apenas assenti, sem vontade de prolongar o assunto. Aparentemente, Megan não poderia me ajudar mesmo.
Depois de alguns segundos admirando a cidade pela janela, paramos na frente de uma enorme loja de roupas.
O chofer abriu a porta para que pudéssemos sair e me ajudou a descer do carro, segurando a minha mão.
Olhei em volta, vendo as pessoas passarem apressadas, não parando um minuto sequer para admirar a vista e tudo que lhes rodeava.
— Ei! vamos. — Megan disse, animada.
Entramos na loja, e eu aproveitei para admirar os vestidos, enquanto Megan conversava com uma atendente da loja.
— Vamos, senhorita Downson? — A mulher disse, sorrindo para mim.
— Ah, claro.. vamos sim! — Eu disse, saindo do transe.
Como era uma reunião para poucas pessoas, aproveitei para escolher algo mais simples e simbólico.
Depois de repassarmos mais de dez opções, acabei encontrando o vestido perfeito para mim.
Ele era longo, tinha alças finas e quase nenhum decote no b***o, sem tecido era inteiro em renda — acompanhado de um tecido branco e liso por baixo. Era lindo, comportado e simples, do jeito que eu amava.
— Eu quero esse. — Falei, virando-me para Megan.
— Esse vestido é incrível. — Ela murmurou, se aproximando. — Peter é tão sortudo por ter uma noiva como você.
Continuei me encarando no espelho, tentando me reconhecer ali, embaixo daquele vestido. Queria me encontrar, sequer nos amávamos.
Eu cresci em um convento, mas já escutei das senhoras do asilo, suas histórias de amor e sobre como elas eram bem cuidadas. Eu queria todo o amor que elas falavam, queria que Peter cuidasse de mim — já que ele ajudou a destruir meu sonho.
— Vocês vão levar? — A moça perguntou, calma.
— Claro, será este. — Falei, passando a mão sobre o tecido braço.
— Pode ir se trocar, eu termino de resolver tudo, Sophia. — Megan disse, indo até o caixa.
Com a ajuda de uma das mulheres, retirei todo o vestido e coloquei a roupa que cheguei, me sentindo um pouco menos sufocada.
O vestido me lembrava do casamento, que me lembrava da responsabilidade e da dívida que eu tinha com a mulher que deu sua vida por mim. Tudo isso, me sufocava.
Era tudo rápido e corrido, eu não tive tempo de digerir tudo isso, de entender as coisas.
— Vamos? — Megan apareceu na minha frente, com uma enorme bolsa entre os dedos.
Apenas assenti, ainda envergonhada.
Voltamos para o carro, só que dessa vez, o trajeto seria completamente diferente.
— Se importa de passar algumas horas sozinha com Peter? — Megan perguntou, assim que paramos na frente do edifício. — Preciso resolver algo, mas volto para buscar você.
— Mas, Megan.. — Tentei argumentar.
— Somente vá, ele não é nenhum monstro, como aparenta ser. — Ela deu uma risada baixa. — Apenas diga que é a noiva do Peter e eles te darão passe livre, pode confiar.
— Ah, tudo bem.. — Mordi a minha bochecha por dentro, respirando fundo. — Não demore.
— Não vou, cunhadinha. — Ela riu. — Aliás, é até bom, sabe? Você pode conhecer melhor o homem com quem vai ter que conviver. Entregarei o vestido depois, agora vai.
Sai do carro rapidamente, engolindo o seco e olhando para a enorme fachada do lugar. Alguns fotógrafos estavam aglomerados na entrada do enorme edifício, olhando atentos para o movimento do carro preto que logo deu partida.
— Com licença. — Pedi, educadamente para uma das mulheres que segurava um microfone. Eram jornalistas.
— Todos nós queremos espaço, novata, podia ter chegado mais cedo. — Ela disse grossa, acertando uma cotovelada dolorida na minha cintura.
Deu um gemido de dor, me afastando da maluca.
— Eu não quero fazer.. seja lá o que você está fazendo aqui. — Eu disse brava. — Eu quero entrar no prédio, com licença.
A mulher revirou os olhos e me ignorou, eles estavam amontoados na entrada e se juntaram ainda mais assim que Peter apareceu, com a sua postura implacável e sua cara dura.
Ele ajeitou o blazer e seus seguranças abriram espaço entre as pessoas. Assim que seus olhos bateram em mim, eu o olhei com certa suplica, querendo correr e me jogar em seus braços.
— O que faz aqui? — Ele perguntou, passando a língua nos lábios.
— D-desculpe, Megan me deixou aqui e eu... — Tentei me explicar.
— Tudo bem, não precisa se explicar, conheço a irmã que tenho. — Ele segurou minha cintura e me abraçou, aproximando a boca do meu ouvido. — Apenas, finja.
Engoli o seco, vendo-o se afastar um pouco, me dando um beijo casto nos lábios. Permaneci estática, vendo-o sorrir para mim e levantar as sombrancelhas sugestivo. Sorri fraco, apertando seu braço.
Peter tinha um dos sorrisos mais lindos do mundo.
— Vamos almoçar, depois, posso te deixar em casa. — Ele disse, cruzando seus dedos nos meus.
Os flashes ficaram ainda mais intensos agora, os fotógrafos, jornalistas e fofoqueiros tentavam uma palavra qualquer com Peter, que apenas os ignorava.
Ele parecia ser muito famoso.
Ele abriu a porta do carro para mim e eu entrei rapidamente, soltando o ar que sequer sabia que segurava.
— Está tudo bem? — Ele perguntou, assim que o carro voltou a se movimentar.
— Sim, claro. — Eu disse, calma. — Eu só... É complicado! Não estou acostumada com toda essa bagunça.
— Me desculpe por eles, estão a semanas tentando descobrir quem era a minha noiva. — Ele deu um sorriso de canto. — Megan entregou você.
— É, acho que ela não deve ter visto que eles estavam aqui. — Defendeu. — E nem que congestionaram a passagem. Uma maluca me acertou uma cotovelada na cintura.
— Machucou você? — Ele tocou minha cintura, fazendo-me sentir um arrepio que correu por toda a minha espinha.
— Não, nada demais. — Mordi o canto dos lábios. — Obrigada por se preocupar.
— Eu só preciso cuidar para que eles não te machuquem. — Ele deu os ombros. — Você é como um esquilo no meio de imensos gaviões, eles te devoram se você permite.
Mordi a parte interna da minha bochecha, encarando a vista que passava rápida.
Alguns segundos depois, chegamos a um restaurante, onde fomos agraciados com mais alguns flashes na entrada, antes de sermos levados a uma ala privativa.
Estava atordoada com toda essa luz e toda essa atenção que eu estava recebendo.
Nós nos sentamos e um garçom trouxe o cardápio, me entregando um e deixando o outro com o meu noivo.
Engoli o seco, nervosa.
Estávamos sozinhos e juntos, em um jantar para... Para que, mesmo?
— O que você quer comer? — perguntou.
— Eu não sei. — Passei os olhos pelos pratos. — É tudo, absurdamente, caro.
— Eu posso escolher? — Ele perguntou.
— Sim. — Dei os ombros, eu não conhecia nada dali.
Mas, os preços. O valor de um daqueles pratos poderia ajudar um bocado de crianças em situação de rua.
— Ótimo, eu vou querer duas das melhores lasanhas a bolonhesa. — Peter disse, entregando o cardápio ao garçom. — E, para beber, o melhor vinho da casa.
— E um suco, por favor. — Pedi. — Pode ser de laranja.
O garçom anotou e saiu, Peter me encarou intrigado.
— Eu não bebo. — Expliquei. — Nunca bebi, na verdade.
— Hoje, você irá experimentar um pouco. — Ele disse. — Você, certamente, gostará.
— É peca... — tentei dizer e fui interrompida.
— Não diga isso, pecado é você não beber uma maravilha dessas. — Ele disse, sorrindo.
— Peter, eu ouvi umas coisas ontem.. — Eu encarei o prato, envergonhada. — Queria perguntar algo, estou curiosa e não sei o significado.
— Vamos lá, eu posso te falar, se eu souber. — Ele me encarava atento.
— O que é f***r?
π Peter Ross π
O que é f***r? É sério, Sophia?
Ela me encarava com os olhos brilhantes e passou a língua nos lábios, nervosamente.
Foder é tudo que eu quero fazer com você desde que te vi. p***a.
— Quem te disse isso? — Perguntei, com a testa franzida.
— Ouvi meu pai ontem. — Ela desviou os olhos. Estava envergonhada. — Ele disse que Soraya podia f***r com você, se ela quisesse, mas que não era para ela tentar acabar com o casamento.
— Ele disse isso? — Perguntei, com a testa franzida. Que tipo de i*****l Marco acha que eu sou? — Que mais você ouviu?
— Que eu era uma tonta e nunca perceberia. — Ela disse baixo.
— Olha, eu não quero acabar com a sua inocência, mas... — Fiz uma pausa. — f***r é um termo chulo para sexo.
— Céus. — Ela disse, tampando a boca. — Eu não acredito que repeti uma palavra promíscua.
— Sim, querida, mas está tudo bem. — Eu disse, acariciando seus dedos. — Erros acontecem, apenas supere isso.
Ela assentiu calma, me encarando. Mordeu os lábios e desviou os olhos.
Eu queria poder joga-la naquela mesa e arrancar toda a roupa que ela usava. Sophia estava com uma roupa extremamente apertada e sexy, me deixando e******o.
Queria poder beija-la, morde-la e chupa-la por todo o corpo. Queria ver ela gemer enquanto a minha boca suga a sua b****a virgem, queria toca-la e deixar suas bochechas rosas como as vi a pouco.
Queria ouvir sua boca gemendo o meu nome.
Sai do transe assim que os pratos chegaram a mesa. Respirei fundo, bebendo um pouco da água que estava na minha taça, tentando abaixar a temperatura do meu corpo.
Tinha que me controlar, ainda tinha algumas horas com a minha inocente — e gostosa — noiva hoje. Precisava me segurar, ou faria uma besteira.