— Ual, como esse banheiro está cheiroso. — constatou olhando para Rose, que enfiou seu tricot e sua linha em algum lugar buscando sua vassoura.
— Agradeça a Rose! — Pisquei e ela tratou de sair sem dar ao menos um tchau.
— E aí, soube que você foi no velório do arquiteto que faleceu? Soube que a morte foi muito feia. — Ela só queria puxar assunto.
Edward não era um cara r**m por natureza, mas o seu egocentrismo exagerado e sua fome desesperadora por mulheres, o transformaram em um cara de péssima companhia e também naquele cara que as pessoas não conseguem manter um diálogo normal, porque ele sempre conseguia levar a conversa por um lado atipicamente estranho de amor próprio exagerado.
— Uma fatalidade. — Eu me virei, disfarçando e lavando minha mão.
— Achei que os tecnicos de segurança do trabalho tinham que estar durante as visitas externas também!
— Como assim? — Desliguei a torneira.
— William deveria estar lá, não?
Edward, o homem não só era capaz de falar palavras como também merdas.
— Está ensinuando que foi culpa de William? de onde tirou isso, Edward? Ele nem mesmo era responsavel por aquele projeto. Will trabalha comigo.
— Ah, achei que trabalhasse. — ele franziu o nariz, parando na torneira do meu lado, me olhando através do espelho. — É assim que se refere aos seus funcionários?
— Meus funcionários?
Que p***a esse cara estava falando?
— É, William Smith não trabalha pra você?
— Will trabalha pra Valentines, e no meu projeto ele é o responsável pela segurança dos homens que também trabalham lá. Ninguém é melhor que ninguém.
— Porque é tão humilde, Gerry?
— Pra você é Gerard, Edward?
— Cara, não precisa jogar tão na defensiva.
Eu cruzei os braços na frente do babaca que tinha um sorriso sacana na boca como se eu fosse uma mulher e ele achasse uma gracinha me fazer ficar puto a ponto de querer enfiar sua cabeça tão fundo no vaso que ele encontraria a caixa de esgoto mais rápido do que entrou neste banheiro.
— Consegue se ouvir falando?
— Claro, aprendi isso no perfil do conselheiro amoroso. — ele deu uma pausa dramática — “...nunca esqueça de sempre olhar as palavras que usa…” — se enfiou em uma posição precária estufando o peito tentando imitar um grande homem mas só parecia um grande i*****l mesmo.
Fala sério, eu não acredito que o cara acessava os meus conteúdos anônimos como @Donjuan_Demarco na gossip.com.
Levantei as sobrancelhas esperando que ele descesse os ombros que quase chegaram na altura de sua orelha.
— O que? — Foi a única coisa que eu fui capaz de responder.
Zero condições de Edward estar aprendendo a ser um merda comigo.
Não é isso que eu ensino.
E se realmente fosse eu me jogaria de uma ponte e venderia meus órgãos para indenizar todas as mulheres que já saíram com esse merda por minha culpa.
Não é possível.
— É, as dicas dele são incríveis, sabia? — Ele assoou o nariz no papel higiênico depositando no lixo. — Sabe, a um tempo atrás, quando eu ainda trabalhava na filial da Valentine's de Greenford, eu era doida pra sair com uma das funcionárias de lá, ela nunca me dava bola, até que eu encontrei o perfil do @Donjuan_Demarco e comecei a seguir as dicas e…porra, foi certeiro. — Seu sorriso prepotente mirou no teto. — Eu botei em prática e nós saímos, cara, eu nunca deixei uma mulher tão cansada como eu deixei ela naquela noite, eu queria continuar, mais tive que mudar de filial.
Ou talvez ela tivesse dado graças a deus pela troca de filial.
— Que bom pra você. — Que vontade de criar palavrões para xingá-lo.
— Posso te passar o perfil dele caso você precise. — Ele disse eu não me segurei, gargalhei tão alto que provavelmente se eu quisesse que o térreo inteiro ouvisse, era só continuar, porque de microfone com certeza não precisava. — Não entendi qual foi a piada.
— Obrigado pela dica, Edward. Mas não preciso, a não ser que esse conselheiro amoroso ensina como afastar mulheres, porque para as deixar caídas de amores eu já sei como.
Ele afagou seu cabelo loiro piscando algumas vezes pra mim, experimentando do egocentrismo que eu devolvia na mesma dimensão.
— Engraçado, não vi você com nenhuma mulher.
— E nem vai precisar me ver. — Eu atravessei o banheiro, me aproximando da porta. — Existe um ditado que diz: Quem come quieto, come melhor. E de repente se você não falasse tanto e fizesse tanto barulho, poderia ter companhia melhores.
— Mas eu tenho…
Eu o ignorei.
— Experimente sair para bons lugares.
Ele tossiu.
— Não conheço muito os lugares por aqui, mas…meu irmão está para se juntar ao quadro de funcionários da Valentines e ele conhece o lugar com a palma da mão.
Edward tinha um irmão?
— Seu irmão? — Me virei novamente em sua direção, dando um pouco mais de atenção à notícia. — Ele vai estagiar junto com você?
— Muito engraçadinho, Gerard. — Brincou — Ele é engenheiro.
Há uma semana atrás havia saído uma enorme lista de nomes aprovados para engenheiros e arquitetos de médio e pequeno porte, ou seja, os iniciantes que pegariam projetos de curto tempo e que tivessem a baixa porcentagem de explodir tudo, porque acontece, sabe?! Quando a gente começa não tem aquele peso na consciência que um erro de cálculo pode fazer tudo vir abaixo.
Eu era o engenheiro sênior, responsável pelos maiores projetos da Valentines e agora que estávamos envolvidos em tantos projetos comerciais de empresas famosas, era natural que a demanda aumentasse, fazendo com que a Valentine 's notasse a necessidade de ter um quadro maior de profissionais.
Eu não era amiga de Edward, tão pouco um colega, mas também não era inimigo, e pela falta de i********e, eu achava que ele era filho único. Ele não falava sobre a família.
— Ah, ele vai entrar no quadro de funcionários. É, acho que eu tô sabendo.
— Claro que está sabendo, é você quem vai recebê-los.
— É, a gente se vê por ai — Falei antes que ele terminasse sua frase.
Eu saí do banheiro rezando para que o irmão de Edward não fosse tão babaca como ele.
(...)
Sentado na minha mesa quando eu deveria estar em casa com Will, eu estava procurando uma pasta com todas as ações que eu tinha comprado na última semana. Minha sala era uma bagunça, e eu nunca deixava ninguém arrumar a não ser Rose, em quem eu confiava a minha vida, mas infelizmente no dia de hoje, não havia acontecido pelo simples fato de eu ter elevado meu nível de inteligência e levado a chave da minha sala para o velório, impedindo que Rose pudesse deixar minha sala em um lugar apto para o trabalho humano.
A porta da minha sala bateu e eu já não gostei, porque se ela havia batido, era porque alguém havia entrado, e se não bateram antes de entrar já havia começado completamente errado.
— Oi Gerard…— a voz de Elise Price é sempre inconfundível.
— Saia. — Eu disse.
Elise é uma mulher bonita, morena, pernas esbeltas, corpo magro e também é bem gostosa, e o tipo errado de mulher com quem se envolver no trabalho, justamente porque mesmo que você avise antes: ”...vai ser só uma vez…” ela acha que vai ser sempre, e ainda que eu tenha enfatizado mais uma vez, ela sempre surge do nada como uma gata com o r**o entre as pernas, esperando a oportunidade de dar o bote, mesmo que fora desse contexto ela só costumasse ser apenas educada.
Mas… ela procurava sempre uma brecha pra se enfiar ou de repente ela queria abrir uma brecha pra que eu mesmo me enfiasse nela, eu precisava ser ríspido antes que ela achasse que tinha qualquer chance. E sabe qual o pior? Amanhã ele faz tudo de novo, como se fosse automatizado, até o dia em que nós dormimos de novo porque eu não aguento mais ser encurralado por ela com assuntos aleatórios que não tem nada haver com o momento atual.
— O que? — Ela se assustou. Eu nem mesmo a olhei, não queria perder tempo para procurar o que nem mesmo deveria ter se perdido.
— Saia da minha sala, Elise.
— Poxa Gerry, você nem me deu um bom dia.
— Estaríamos em um bom dia se você tivesse batido na minha porta, mas como saiu entrando como se a sala fosse sua, se transformou em um dia assustador. — Ela suspirou sentida e ainda que meus olhos estivessem dentro da segunda gaveta no armário, eu sabia que ela tinha sua mão de unhas pintadas no peito, em um tom de “oh meu deus, quanta ignorancia.”
— Nossa, sua sala está completamente bagunçada…se quiser eu posso fazer alguns projetos pra você e…
— Eu quero a minha sala assim, Elise. Toda bagunçada, papéis no chão onde eu não consigo encontrar nada, isso me deixa calmo, a minha bagunça. O que quer?
Encontrei a pasta e me virei para olhar ela, subindo a armação do meu óculos.
— Ah…nada, eu só vim ver como você está. Eu fiquei sabendo que a esposa de Simon Cardigan vai substituir Frederick.
— Eu tô bem, mas estaria melhor se você tivesse batido na porta. E sobre Alexandra Wester, é, eu fiquei sabendo hoje pela manhã. — coloquei a pasta em minha bolsa e então botei. — É só isso?
— Alex é uma pessoa muito difícil de trabalhar, sabia?
— Acho que você é mais, Elise.
Ela balançou a cabeça.
— Ninguém no prédio gosta de Alex, exceto Benjamin.
— E porque?
— Porque ela é uma pessoa arrogante e impossível de trabalhar.
Cerrei os olhos em sua direção, enquanto ela cruzava os braços finos embaixo do peito propositalmente para dar volume.
— E pelo visto você não gosta dela e nem ela de você. — Aticei.
— Foi o que eu falei, ninguém gosta dela.
Soltei o riso passando por Elise que balançava seus cabelos escuros, arrastando-os pelos ombros.
— Talvez eu goste dela já que ela não gosta de você. — Abri a porta, indicando passagem porque eu queria tranca-la. Já a deixei aberta algumas vezes e foi bem desagradavel encontrar a designer de interiores estirada sobre a minha mesa nua.
— Você é tão…insensível. — resmungou.
— Não, Elise. Eu sou um amor, é só você não tentar me atacar toda vez que me vê. Se puder aguentar mais um pouco, vai haver meia dúzia de novos funcionários na empresa pra você escolher a dedo.
— E o que eles são?
— Pra quem quer se satisfazer não acho que importa desde que eles sejam homens, certo?
— Você é péssimo.
— Não, eu sou maravilhoso, talvez seja por isso que você fique tanto no meu pé.
— Trata assim todas as mulheres com quem você sai?
— Na verdade não, mas quando elas insistem tipo você, eu normalmente trato.
— Gerard! — Ele me repreendeu.
— O que foi? Ou é isso, ou eu chamo a polícia pra te prender por assédio, Elise. O que você prefere?
Ela xingou alguma coisa e saiu andando.
E minha tática sempre dava certo, ser doce como um limão.
Dado a seriedade que Benjamin havia me passado, espero que a esposa de Simon Cardigan realmente seja exatamente como ele disse, alguém adulta capaz de lidar que o projeto que será tocado pra frente, pertence a seu marido, que muito provavelmente vai deixar todo o patrimonio para alguma novinha desesperada por um velho rico.
*** Alex Wester ***
— Como é que é? — Minha voz rompeu um pouco mais alto do que eu gostaria, mas logo eu tratei de arranhar a garganta, recompondo a mim mesmo do eminente ataque de fúria que eu estava prestes a dar.
— Se puder abaixar o tom, eu vou ficar imensamente grato. — Ben não era lá um homem que gostava de chamar atenção. — E olha, você é uma profissional, certo?
— Sabe que ele só solicitou que a Valentine 's fosse a responsável pelo projeto por causa de mim, certo?
— É coisa da sua cabeça, Alex. — Ele insistiu.
— Não, não é Benjamin. Eu conheço Simon, conheço-o na palma da minha mão, se acha que eu estou sendo infantil, você não sabe as coisas que ela é capaz de fazer.
— Olha, eu entendo que é o seu ex-marido e se você não se sentir confortável, eu realmente vou entender e relocar outro arquiteto no seu lugar. Eu realmente achei que não haveria problema.
— Eu não tenho problema com ele, só não quero…fazer parte dos joguinhos do Simon.
— Simon não tinha como saber que você iria substituir Frederick, Alex. Acredite em mim, não há joguinhos.
Me apaixonei por Simon pela experiência de vida e a sabedoria e beleza na forma de contar até as mais trágicas das histórias. Meus olhos brilharam e meu peito suspirava quando ele tornava a falar.
Ele era bom com as palavras.
Melhor do que qualquer homem que já conheci.
E era capaz de te fazer admitir coisas que nem verídicas eram.
Mas faz parte, entende?
Eu li uma vez em um jornal, que um homem tornou seu corpo imune a veneno de cobra depois de tomar pequenas doses diárias de veneno, e foi exatamente isso que Simon fez comigo.
Ele me ensinou dia após dia o que um homem é capaz de fazer, e terminado nosso casamento eu me tornei imune a qualquer tipo de homem mais velho ou novo que tentasse chegar a quilômetros da linha de limite que eu estabeleci para mim mesmo.
Chega de salivar por homens bons de lábia ou se desmanchar por cavalheirismo.
Eu aprendi a entender que o cavalheirismo era só uma arma no jogo da conquista, e nem todo homem usa a conquista para benefícios mútuos, apenas para próprios.
— Ele vai estar presente sempre?
— Se nem você que é a arquiteta que está assinando tudo vai ficar lá sempre, porque ele ficaria? — A caneta escorregou em sua mão. — Obviamente ele deve vir esporadicamente para ver o andamento, como está ficando, mais nada mais do que isso, Alex. Simon tem dinheiro demais e compromisso demais pra ficar enfurnado no meio de areia, cimento, poeira e o monte de servente e ajudante de obra.
Ben era um homem bonito, provavelmente deveria ter a minha idade, um rosto bonito, olhos claros, cabelos curtos e um olhar sedutor natural, que era sua marca registrada. Foi meu chefe nessa mesma filial em que estávamos agora quando eu precisei de estágios após o mestrado, e pasmem, depois da empresa inteira me odiar, ele foi o único capaz de ser condescendente e criar carinho por mim.
— Tá bem, sendo assim eu acho que fico. — Suspirei quase fazendo Yoga em frente a sua mesa.
— Tem certeza? — Ele preferiu confirmar.
— Fica tranquilo, Ben! Eu já fui muito atingida pelo divorcio e só não quero mais estresse.
Ele puxou a pasta com o projeto que eu havia colocado sobre sua mesa, pegando o pen drive.
— Está tudo aqui?
— Tudo e mais um pouco.
— Não esperava menos de você.
O ponteiro se apressou rodando o relógio enquanto ele se sentava e olhava página por página, para depois conferir o pen drive com todos os arquivos e o Sketchup.
— Nossa, Alex…— Dei um passo, espalmando minha mãos na mesa e jogando o tronco pra frente. — Cassete, ficou muito bom!
Um alívio percorreu meu corpo.
Não que eu fosse insegura.
Mas gosto é uma coisa muito divergente.
Eu posso adorar maçã, mas o João pode odiar.
— Jura?
Continuou rolando o mouse sem olhar pra mim.
— Olha, dei um prazo de 2 meses pra outros arquitetos entregarem projetos menores e o prazo era hoje. — Ben desligou o notebook. — E ninguém até agora deu sinal de vida, e eu não pretendo ir atrás de ninguém.
Eu sou uma profissional incrivel.
Sei disso pelo simples fato de amar o que eu faço, e ainda que seja extremamente cansativo, sei que no final do projeto um potinho de ouro cheio de gratificações me espera.
— Deixei a maioria das coisas de lado pra terminar, caso contrário…eu estaria fazendo par com os arquitetos que ainda não apareceram.
Benjamin riu docemente.
— Bom, vamos começar na próxima semana. — Cruzou os braços de um jeitinho despojado — Olha, Gerard é um ótimo profissional, e costuma ser bem rápido para levantar o alicerce do projeto junto com os ajudantes.
— Desculpa, Gerard?
— O engenheiro.
— Ah, tudo bem. — Depositei meu cabelo atrás da orelha, sem querer ser arrogante, mas com aquela promessa máscara de morte ainda presente nas palavras. — Ben, eu sei que tem alguns engenheiros que gostam de simplesmente alterar algumas coisas no projeto.
— É…normalmente eles melhoram.
— Entendo, mas trabalho dia e noite no planejamento para que ele não tenha a oportunidade de encontrar alguma falha, mas de qualquer forma, eu não quero que mexam no meu projeto, por favor. Qualquer dúvida ele pode me contatar e eu venho pra analisar e encontrar um caminho melhor.
— Gerard é o engenheiro sênior da Valentines, Alex.
— Então ele deve ser bem experiente.
— Mais ou menos.
Eu soltei uma risada.
— Como assim?
— Gerard é novo, não chegou aos 26 ainda.
Não era comum, na verdade nunca vi alguém tão novo ocupando um cargo de extrema responsabilidade, mas era muito comum estagiários ocuparam o posto de ajudante do engenheiro para acompanhar de perto todo processo desde o planejamento, preparação e execução de cada um dos passos, e normalmente esses tipos de ajudantes, tinha um pouco menos de idade do que Gerard tinha.
— Tão novo. — Incitei — É seguro?
Ben acenou positivamente.
— Por incrível que pareça, é o melhor engenheiro que eu tenho. Formou uma boa equipe e sem dúvidas, de longe se destacam com a rapidez, atenção e sem falar no…acabamento.
— Eu fiz um projeto incrível de acabamento e…
— Elise Price vai te ajudar com isso, Alex.
— Elise? A designer?
O dono da Valentines sequer pode me olhar.
Elise era a pessoa que talvez mais me odiava no período em que fiquei aqui pelo simples fato de querer se meter nos meus projetos sem que ela fosse convidada e até mesmo tentar fazer a cabeça de Benjamin para que me retirasse de alguns planos em que eu sempre era cotada para fazer.
Então um belo dia eu descobri, e o teto só não desabou sobre a cabeça dela porque eu gostava da Valentine’s, e o que eu não queria era ser demitida porque parti a cabeça de uma das funcionários ao meio.
Paciência era uma virtude que eu estava aprendendo a ter nas aulas de Yoga.
— Alex. — Ele ergueu as sobrancelhas esperando uma cordialidade melhor de mim, para enfiar a raiva que eu sentia por Elise em algum lugar que não ficasse amostra dentro da empresa.
— Tudo bem, Elise vai finalizar o projeto junto comigo. — Eu recitei como um mantra, respirando pela boca e soltando pelo nariz.
— É por isso que eu te adoro, você sempre me ouve. — Ele recitou.
— Nós vemos em alguns dias?
— Até, Alex.
A sala de Ben tinha paredes de vidro temperado transparente, e eu não duvido que tudo tenha sido ideia de sua esposa alucinada que tinha a terrível mania de se sentar na recepção para esperar as reuniões de Benjamin com as acionistas. Seu medo não era perder o marido, seu medo era perder o dinheiro que o marido tinha, afinal, ele sempre deu o mundo a ela e isso não era segredo de ninguém.
Quando entrei no corredor que daria ao elevador, passei por uma sala de porta aberta, que pude reconhecer com plena consciência o homem que estava sentado em sua mesa.
— Edward? — Eu sabia que era ele, mais queria que ele me ouvisse para saber a exata reação que seu rosto jovial teria ao me ver.
— Alex? — Ele jogou o cabelo pra trás em uma tentativa ridícula de ser alguém elegante quando eu só o enxergava como uma criança, e me amaldiçoava por dentro por não ter enxergado dessa forma antes. Teria me poupado do tamanho estresse e trauma.
Mas agora olhando pra sua cara rosada que tentava parecer mascula, eu só podia lembrar do texto i*****l que ele escreveu sobre nossa noite que pra mim, foi o pior dos pesadelos.
Era como se o relato estivesse tatuado em sua cara e tudo que eu podia ver ao olhar para ele, eram as linhas daquele texto depressivo que me fazia querer nunca mais sair de casa.
Meu deus, como um homem consegue ser tão egocêntrico ao ponto de escrever aquilo? Ele não parecia tão decidido agora quando parecia não ter feito aquilo. Aquele ar de orgulho e maioridade havia sumido, porque na minha frente, era apenas o infantil, bebê e jovem Edward Winford.
— Você veio…pra essa filial? — Eu perguntei sem acreditar. De tantos lugares que ele poderia ter sido transferido, era impossível de acreditar que ele estava justamente no único lugar que eu não queria que estivesse.
Sabe aquelas bolas de ferro que os condenados usam no inferno? Pois bem, Edward era a minha, e olhar pra cara dele era ser obrigada a lembrar dele me xingando de nomes estranhos e se mexendo como um louco sobre mim.
Poderia pedir a deus que furasse meus olhos, mas só apagando essa memória já estaria de bom tamanho.
— Nossa, então você veio pra cá?
— É, eu vim. — Infelizmente.
Eu estava dentro de sua sala.
Ele se levantou, e eu apenas o acompanhei com o olhar.
Ele chegou até a maçaneta da porta, encostando-a.
— O que está fazendo? — Meus olhos cerraram e eu queria muito entender o que se passava pela cabeça dele neste momento, não porque sabia o que ele queria, mais porque eu queria ter certeza absoluta que ele não queria o que eu achava que ele queria.
— Olha Alex, me desculpa não ter te ligado depois... — Eu me virei sem acreditar no que ele falava, encarei seu rosto franzino, me afastando à medida que ele dava passos na minha direção.
— O que?
— Eu sei que você deve ter ficado aguardando minha ligação, e eu sinto muito por não ter retornado, foi muito bom pra mim é muito bom pra você.
Parecia até piada
— Eu não aguardei sua ligação, Edward. Na verdade eu nem me lembrava de você. — Ressaltei, cruzando meus braços e evidenciando a minha falta de paciência bem nos olhos e na expressão facial, evidenciando também que cruzei os braços para não pular em seu pescoço e perguntar porque ele foi tão i*****l de ter enfiado tudo naquele site.
— Não precisa agir indiferente, Alex. Pode se abrir pra mim, já passamos dessa fase…— Ele se aproximou um pouco mais.
— Você ficou maluco?
Ele se aproximou mais, e eu dei mais alguns passos pra trás, a mesa me impediu de retroceder mais, e ele continuou avançando.
— Agora que você está aqui, acho que a gente poderia…
Ele não terminou de falar.
Nem uma palavra a mais saiu de sua boca porque enquanto ele tentava falar, uma quantidade exagerada de café entrou em sua boca, olhos, cabelos e tudo mais que tinha exposto nele.
O copo de alumínio e plástico ainda estava em minha mão, agora vazio. Eu o depositei sobre a mesa quando ele deu alguns passos pra trás, sem acreditar que eu realmente havia dado um banho nele.
— Se você se aproximar de mim de novo, eu juro que…eu juro que…
— Tudo bem por aí?
Olhei para a porta e havia um homem alto, de cabelos médios, corpo robusto, olhos furtivos e um bigode abaixo do nariz pequeno, mas ainda sim parecia ser bem novo. Seu óculos sambava no osso nasal no meio de seus olhos, e o terno elegante o envelopava tão bem que era de se apreciar.
— Eu sem querer derramei um pouco de café no rosto dele. — puxei meu vestido pelo cinto que o prendia em minha cintura, vendo os respingos escuros no tecido claro.
O homem na porta não ia acreditar no que eu disse.
Nem um cego acreditaria.
Porque Edward simplesmente parecia ter nadado em uma piscina de café, e já fazia alguns segundos que ele tentava piscar os olhos sem sentir incômodo, estavam vermelhos.
— Não me parece que foi sem querer. — O homem insistiu
— As aparências enganam. — Eu o respondi. Ele encarou meus olhos, e meu vestido justo, eu fiquei dividida se ele estava encarando os pingos na minha roupa ou as marcas do meu corpo através do pano.
— Está tudo bem mesmo?
— Acho que ele vai precisar de ajuda. — Eu atravessei pelo homem de óculos parado — Além do mais, se eu fosse ele, lavaria logo, tudo que cai nos olhos faz efeito mais rápido.
Paciente, essa era sua personalidade. Ele me encarou mais uma vez e eu fiz o mesmo sem me deixar intimidar. Seu olhar não era intimidador, me avaliava como se pudesse me dar uma nota, não sexualmente, mas elegantemente.
— Gerry pode me guiar ao banheiro? — Eu ouvi quando sai e encostei a porta.
Acho que um banho de café seria o suficiente para Edward nunca mais me encher o saco mesmo que eu não fosse estar presente com frequência.
No fim do corredor, com um sorriso venenoso no rosto bronzeado estava Elise, com o típico batom marrom matte que a deixava semelhante a um defunto, o vestido indecente que todos faziam de conta que ela nunca usava mais sempre estava ali, e aquele cheiro de perfume barato que foi misturado com álcool 70% que chega a arder os olhos e o nariz.
— Olha quem está de volta. — Ela soou falsamente alegre.
— Férias são sempre bem vindas. — Recitei, apertando o botão do elevador ao lado das portas de aço.
Ela depositou seus dedos de unhas pintadas na cintura, com um palito fino entre os dentes, enquanto me olhava de forma exagerada para que eu tivesse ciência disso, para me desafiar com aquela falta de educação e vergonha na cara que só ela tinha.
— Então o destino botou você e Simon juntos de novo. Eu fiquei sabendo que vai estar com Gerard no novo projeto dele.
— É. — respira, Alex.
É só a Elise.
Ninguém dá bola pra ela.
Ninguém leva ela a sério.
Então por favor, aguarde até o elevador chegar.
— Trabalho é trabalho, Elise. Não misturo as coisas.
— Hmm…— Ela ronronou, sem dar a mínima depois de ver que não havia me atingido — Sério, olha, espero que possamos ser colegas de trabalho, afinal, vamos trabalhar juntas.
— Para trabalhar juntas não precisamos ser colegas.
— Mas eu insisto. — não insiste não.
— A gente podia tomar um café quando você vier na próxima vez, sabe. Passado é passado, não é?
O elevador estava a 3 andares de nós, e ele parecia estar sendo puxando pelo cabo por uma criança de 3 anos, e nunca chegaria até nós.
— Claro, mas eu juro que estou sem tempo. Intercalo a Valentine 's com o meu projetos autônomos e não tenho tempo para cafés. Provavelmente só vou aparecer aqui nas quinzenas, mas você pode chamar o Edward…— Faltava apenas 1 andar — Eu tenho certeza que ele vai adorar.
— Espera, você conhece o Edward? — Seus olhos tilintavam, e seus dedos desceram da cintura para a lateral reta de seu corpo magro.
— Trabalhamos juntos na sede de Greenford.
— Ah, então vocês são amigos.
— Não é pra tanto.
— Então são colegas?
— Edward e eu somos a mesma coisa que eu e você, Elise.
Ela cerrou os olhos pensativa, e eu juro que se continuasse, sairia fumaça de sua cabeça.
— Então vocês são…
E então as portas de aço se abriram.
— Meu elevador chegou. — Eu entrei e um carteiro saiu, entregando a ela um jornal novinho em folha, capturando a atenção de Elise para as letras garrafais em negrito, em um destaque visível até mesmo pra mim que estava consideravelmente longe.
“Simon Cardigan se apaixonou novamente, e dessa vez sua esposa tem apenas 23 anos e é um poço de jovialidade ao lado do milionário Texano.