Capítulo 04

1118 Words
Sozinha, com Adam a mesa, me sinto instintivamente sufocada. Parece que meu pulmão não funciona, assim como o meu nariz e qualquer outro órgão ou m****o do meu corpo. Eu não o encaro, mas desvio os olhos para a minha taça, engolindo com dificuldade. Passo os olhos por todo o salão, encontrando com Lia. Seus olhos me penetram, indecifráveis. Daria qualquer coisa para estar dentro da sua cabeça. Ela sabe que eu sei. Ela sabe que eu posso ferrar com ela agora. Tenho poder, dinheiro... tenho tudo! Ela está nas minhas mãos, mas... por qual motivo eu não o faço? Me viro para Adam, o analisando também. Meu ódio por ele crescia toda vez que eu me lembrava do meu pequeno, que fora arrancado dos meus braços e criado por outra. Antes de tudo, quero saber se ele compactuou com tudo aqui. Eu sei que Lia é capaz de falsificar um exame de DNA e bem, ela pode ter todos os papéis e exames guardados em seus arquivos. É possível que um pai não seja pai, mas... uma mãe? A mulher que gerou? Porque todos acreditariam em mim? Eu vi as fotos dela em sites e revistas. Uma grávida "linda", como as grandes magazines gostavam de frisar. Eu tinha perdido tudo e tinha que recuperar da maneira certa. Agora, eu estava de volta e ela sabia que eu tinha o poder nas minhas mãos. Lia sabia, melhor do que ninguém, que eu era capaz de tudo. Engulo com dificuldade, fechando meus dedos em punho sobre a mesa, tentando controlar o ódio que crescia em meu interior. — O que foi? — Adam perguntando, me arrancando dos meus devaneios. O encaro por algum tempo, limpando a minha garganta. — O que? — Franzi a testa. — O que foi? Você está... — Ele aponta para os meus dedos, fechados sobre a mesma. — Não foi nada. — Eu digo, grosseira. Mesmo que tentasse ser gentil, eu ainda me lembrava de tudo e me mantinha presa a ideia de que era improvável fugir. — Anna, olha... — Ele começa a dizer. — O que, Adam? — Suspiro, cansada. — Eu... eu quero agradecer por topar participar desse projeto. — Ele dá um sorriso fraco. — Eu nunca entendi o motivo de ter ido embora, de ter fugido de mim, mas agora... eu entendo que só queria seguir seus sonhos e realizar suas metas. — Acha que esse foi o único motivo para que eu fosse embora? — Franzi a testa. A risada sem humor, misturada com o gosto amargo na minha boca me dava ainda mais repulsa do mesmo. Como ele pode ser tão falso? — Anna, olha... eu não sei mesmo qual outro motivo poderia existir para que você tivesse sumido assim, tão drasticamente. — Ele parece sério. — Então, você acha que não tem resquício de culpa sobre o meu desaparecimento repentino? — Eu pergunto, mais uma vez. — Não, mas se fiz alguma coisa que não tenha gostado, por favor, eu preciso saber. — Ele me encara profundamente. — Não, você não tem nada haver com as minhas escolhas. — Debocho na última frase. Não é como se eu tivesse tido alguma escolha. Eu não tive. Me impuseram algo e tive que seguir, não só pelo bem do meu filho, mas pelo meu próprio bem. Eu precisava ser forte para conseguir o meu filho de volta. Precisava lutar pela criança que eu tinha gerado. O telefone de Adam toca em seu bolso e ele puxa, encarando o visor. Ele não me pede licença, na verdade, seus dedos são rápidos ao atender e levar o telefone ao ouvido: — oi? Está tudo bem? Alguém responde alguma coisa do outro lado e seu rosto revira em um careta. — Tudo bem, estaremos aí em breve. _ Ele diz. — Mantenha-o acordado. Ele desliga, enquanto seus olhos varrem todo o salão. — Aconteceu alguma coisa? — Pergunto, meu coração batendo com força em meu peito. — O meu... filho. — Ele passa os olhos pelo meu rosto, dando um sorriso triste. — Espero que não se importe, ele não está se sentindo bem, eu e Lia precisamos ir — Ele... ele está bem? Aconteceu alguma coisa? Posso ajudar? — Pergunto, preocupada. Mesmo que ele não soubesse — ou quisesse me esconder —, eu ainda era a mãe da criança e saber que alguma coisa poderia estar fora dos eixos, ou que ele não estivesse bem de saúde, me deixava muito apreensiva. — Ele... ele nasceu com anemia falciforme. — Ele coça a nuca. — As vezes, ele tem algumas crises, mas nada que seja muito grave, estamos controlando com medicamentos. Eu paro, sentindo algo como se meu mundo fosse parar. — E, essa doença tem cura? — Eu pisco para ele, sentindo algo como se o meu mundo fosse parar. — Sim. — Ele pisca para mim. — Mas, é muito difícil achar doador de medula compatível e nenhum de nós, da família, somos compatíveis. Eu engasgo, o encarando. — Eu... eu sinto muito. — Seguro o ar em meus pulmões. — Se eu puder ajudar em alguma coisa, eu... Ele dá um sorriso fraco, quase que sem humor. — Bom, acho que não há nada que possamos fazer, nesse caso. Estamos esperando um doador compatível. — Ele dá de ombros. Eu não consigo responder, não quando o sangue parece correr para fora do meu rosto. — O que foi? — Lia coloca as mãos na cintura — O nosso filho está em crise. — Ele diz, enfiando os dedos no bolso. — Precisamos ir! — De novo? — Ela bufa. — Eu tenho certeza que é mentira, ele ama fazer isso para chamar a nossa atenção. — Pare de falar bobagens, é por isso que o seu próprio filho não gosta de você. — Ele resmunga. — Ah, cala boca. — Ela rsvira os olhos. — Espere eu me despedir das minhas amigas. — Se for, eu vou deixar voce aí e não vai ter santo que faça o motorista vir buscar você. — Diz entredentes. — Tudo bem, eu fico! — Ela dá de ombros, batendo os saltos em direção ao centro do salão. Ela não tem nenhuma postura de mãe ou de amor pelo menino. Quero chorar ao imaginar o quanto meu filho sofre nas mãos dessa víbora. — Não repare, ela é... difícil! — Ele bagunça os seus próprios cabelos. — Eu... posso ir ajudar? — Pergunto. — Adoro crianças. — E Andyn? — Perguntou. — Ele não liga. — Dou de ombros. — Ele deve querer ir para casa. — Tudo bem então. — Ele dá um sorriso fraco. — Vamos, então?
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