Me levantei no outro dia não querendo muito me levantar, mas quando um pensamento percorreu o meu cérebro sentir o meu corpo acordar feito um foguete aos céus. Era o dia, eu iria até a redação do jornal, confrontaria todo mundo e essa era a p***a da minha deixa. Eu estava mesmo precisando de alguma coisa que me tirasse do quadrado de sangue habitual, e infernizar a vida de alguma velha senhoria era o meu sonho de consumo naquele momento.
Me vesti com pressa, e nem tomei café da manhã. Precisava chegar e rápido para falar com o cuzão filho do cuzão que era o dono. Eu m*l podia esperar para ver a cara daquele maldito filho da p**a tremendo de medo diante de mim.
Eu estacionei o meu carro, e subi os elevadores com meia dúzia de gatos pingados que cochichavam pelos cantos toda vez que colocavam os olhos em mim. Tudo bem, eram mulheres. E eu não era do tipo de se jogar fora, pelo menos nunca me imaginei assim. Ignorei é claro, eu estava ali com um objetivo claro, eu nem estava mais bravo com nada, eu só queria mesmo causar em algum sentido na vida de alguém que não seja do meu ciclo social.
Sabe, fazer a matéria havia sido um problema, as atenções hora ou outra se voltam para as favelas, por que é quando algum grandão se dá conta de que nós traficante e fornecedores de droga fazemos um trabalho muito melhor do que eles em proteger o morro. E isso enfurece muita gente, mas eu já estava acostumado. Essa Laura no entanto, quem ela era para disparar esse monte de abobrinha na p***a de um jornal de circulação considerável?
Certo, eu estou mentindo... O que me irritou não foi denunciar as mortes no morro, mas me chamar de assassino sanguinário sim, foi a única coisa que Rosa sempre me implorou para não virar. Alguém como o meu padrasto, até como a minha mãe e pai, alguém como o pai dela e tudo o que nos cercava naqueles momentos de tensão e mudanças.
Esperei uma vida dentro da sala, e ela fedia demais, cheiro de p**a barata e bebida r**m, fiquei com raiva só de estar ali esperando um cara que deveria ao menos ter me recebido no horário já que fez a cagada de deixar uma merda daquelas sair na publicação. Finalmente o que parecia ser o responsável entrou na sala, e o cheiro de p**a e bebida barata exalou ainda mais forte.
O cara e ele tremia feito vara verde, dava tão pouca atenção ao i*****l que nem me lembrava o nome dele, e só fui lembrar quando ouvi a secretária anunciar algo como "Amaral" torci para ser apenas o sobrenome, pelo bem dele.
Permaneci com minha expressão característica de poucos amigos, que ninguém conseguia desmanchar do meu rosto, me sentei sem ser convidado por que sabia que tinha esse poder. Eu podia colocar até o bico do meu sapato dentro do cu daquele cara que ele deixaria,só pelo medo que ele estava de mim.
- Sr. Grecco... Bem vindo ao jornal... - Ele disse com uma voz baixa que soava a desespero, era um rato sem dúvidas, nenhum homem com culhões suficientes iria de fato agir dessa forma tão deprimente, não na frente de alguém que acabou de ver a cara pela primeira vez. Pensa comigo, eu nem falei o assunto, por que ele estava quase chorando? E nada me irrita mais do que homem b***a mole!
- Vim aqui por um motivo reto, não tenho intenção de beber café ou sei lá o que você vai me oferecer, fiz um acordo com o seu pai que não foi cumprido, me fala que p***a é essa publicada aqui? O dinheiro que eu envio todo mês não é o suficiente para fazer as pessoas aqui ficarem de fato caladas? - Eu falei com meu tom arrogante de sempre, o olhar firme que eu lancei para ele deixava claro o meu recado, eu era assim, eu era direto... Havia aprendido a duras penas a falar logo de uma vez. Joguei o jornal sobre a mesa e ele pegou no mesmo momento. Fechou os olhos reprovando o título da matéria, deve ter feito associação com as fotos.
- Me desculpa, eu nem sabia que essa matéria ia sair no dia de ontem... A realidade é que eu só me atentei a isso hoje quando recebi um aviso da produção. Mas isso pode ser retratado... Eu prometo a você que...
Eu o interrompi, que papo furado do c*****o! - Essa jornalista, quem é? Eu quero ela fora! Hoje!
- Ela é uma ótima jornalista, e ótima pessoa também... Sabe, ela cometeu um erro... Nada tão grave assim Sr. - Ele disse parecendo realmente se importar com a senhora, deve estar perto de se aposentar ou sei lá o que.
- Eu fui claro com você, eu quero ela fora! Você manda essa filha da p**a embora e eu não atiro na sua cabeça nem na do seu pai, você entendeu como funcionam as coisas comigo? - Eu usei uma ameaça tão fraca que me dava ódio de ver o olho esbugalhado do sujeito, Jesus... Quem atira em alguém assim do nada sem motivos, eu não era i****a! Mas ele tremia, tremia tanto que eu pensei que varias vezes fosse infartar na sala, o que deixava as coisas mais divertidas para mim. Mas me mantive com o cenho franzido em reprovação, permaneci encarando o sujeito com ódio no olhar, queria mesmo era um belo show com direito a mijada na calça e os caralhos.
- A Laura é jovem e promissora, ela é nossa melhor jornalista... E....
Espera, não era então uma velha preconceituosa e malcomida? Era então uma moça nova e promissora cheia de ideias românticas sobre acabar com criminosos e também era triste e malcomida? Isso sim foi um belo baque para mim, pensei que para ser jornalista as pessoas tinham que ter o mínimo de conhecimento sobre como as coisas funcionam. Você fala bem de quem paga mais, você fala m*l de quem não paga e assim por diante. Ela era tão audaciosa assim ao ponto de entrar na p***a da minha favela e sair por aí falando com alguém? Questionando mortes? Ou ela era terrivelmente teimosa ou absurdamente estúpida.
- Eu dei uma ordem... qual seu nome mesmo? - Perguntei com desdém.
- Amaral Jr. - Ele disse engolindo a saliva rápido demais fazendo a voz ficar até um pouco mais embargada que o normal. Sujeito imundo!
- Certo Amaral, se livra da garota agora! Isso não foi um pedido como eu já tinha dito antes, eu vou embora agora.
Me levantei ainda glacial e deixei a mão dele levantada falando sozinha esperando um aperto de mão, como ela pode se livrar da garota assim tão fácil? Era um animal, eu não o respeitava por que ele não era homem. Deixei os corredores olhando para cima como sempre, eu não queria encarar as expressões curiosas para mim.
Desviei o meu olhar para dentro de um cubículo especifico, não sei por que algo me chamou a atenção no mesmo instante, eu teria parado na droga do corredor só para olhar para ela! Eu consegui então ver os olhos castanhos mais lindos do mundo, eram confusos e tristes mas ainda sim passavam uma segurança que nunca havia visto. Os cabelos longos eram mais bonitos ainda e emolduravam o rosto dela. Eu não sou um romântico, mas também nunca havia visto um rosto tão bonito. Eu juro que eu colocaria um quadro do rosto dela em cada canto da minha casa só para olhar para ela.
Ela me olhou também, e mordeu aquela boca linda, eu sei que ela me viu, que ela me notou no mesmo momento. Percebi que ela abriu a boca respirando fundo, eu havia causado algum efeito também. Será que ela sabia quem eu era? Será que era medo? Eu precisava descobrir!
Eu senti o mundo parar por alguns segundos diante daqueles olhos lindos, e o que pareceu ser um congelamento do tempo chegou ao fim finalmente com o fim do cubículo dela.
Nem sei como consegui perceber tantos detalhes em apenas alguns segundos, eu juro, parecia ser algo cronometrado para dar certo.
Me peguei pensamento na probabilidade de eu olhar logo para aquela direção, conseguir ver os olhos dela e ela conseguir olhar para os meus. Eu acreditava em destino, eu acreditava que eu poderia ter tudo o que eu quisesse, sempre tive! E não iria ser diferente, ela despertou em mim sentimentos que eu nem sabia que eu tinha. Só me olhando, como era possível?
Cheguei na porta de entrada e recebi um aceno de cabeça do segurança do lugar, eu tinha que perguntar, algo naquele momento, ela ainda bagunçava a minha minha mente que era sempre organizada.
- Ei meu chapa, a moça ali dentro...
- Poxa patrão, tem que ser específico... Aí te falo de quem você está falando.
- Uma moça de cabelo castanho e olhos castanhos, cabelos longos...
- Ah e a b***a linda? quinta sala antes de chegar no Amaral? - Ele disse sorrindo, mas eu não achei a menor graça.
- Eu não vi a b***a dela, estava sentada, quem é? - Eu torci para que fosse ela na quinta sala antes de chegar na p***a do Amaral. Mas eu precisava de um nome apenas.
- Aquela é a Laura, é a chata do jornal. Apesar de ser uma gostosinha se acha mais inteligente que todo mundo. Mulherada odeia ela, e os homens ou não a conhecem direito, ou a odeiam por que ela dá bota em todo mundo. Se acha demais!
- Laura... Laura Bernessi?
- Patrão, não sei o nome da bichinha não. Só sei que chama Laura por que comentam dela no refeitório vez ou outra. Mas o sobrenome mesmo eu nunca pesquei.
- Isso já basta, obrigada! - Ofereci a ele uma nota de cem, que ele aceitou no mesmo momento - Nenhuma palavra sobre o que eu perguntei a ninguém, eu fui claro?
- Sim senhor! Nenhuma palavra!
Saí pela porta ainda conseguindo me absorver dos olhos castanhos e cabelos compridos, se eu fechasse os olhos acho que conseguiria sentir a mesma sensação que eu senti quando a vi. Eu havia acabado de acabar com o emprego da moça, e p***a eu nem me senti m*l por isso. Em grande parte por que eu poderia conseguir outro, mas não sem antes lhe dar um recado decente.
E vê-la outra vez, é claro.