VM NARRANDO
Na comunidade, a parada é sempre movimentada, sacou? Tipo, quando rola o baile, a vibe é outra, todo mundo tá ligado, tá ligado? Marreco, é vapor que manda na organização, e ele bota tudo nos trilhos, de boa.
A parada é que o baile é o evento mais top do morro, malandro. É onde a comunidade se encontra, troca uma ideia, curte um som e se diverte. Mas, veja bem, a segurança é o lance mais sério, firmeza? Eu mesmo tô sempre de olho nessa fita. Às vezes, rola umas tretas entre as quebradas, então é importante tá ligado em quem tá entrando e saindo, fi.
A gente prepara tudo, sacou? Tem os vapor na entrada, os olheiro lá em cima, na laje, e os vapor que ficam circulando, de boa, mantendo a parada na tranquilidade. É tipo um esquema, uma parceria, todo mundo junto pra garantir que o bagulhø não vá pros ares, entendeu?
Agora, quando o funk começa a rolar, é outra vibe, cüzão. É aquela batida pesada que faz as mina se mexer, dançar até o chão, Rebolar. Mas, mesmo no meio da zoeira, a segurança continua em primeiro lugar, né? A gente mantém os olhos abertos, de boa, curtindo o baile, mas sempre na missão de manter a paz.
É engraçado, porque por mais que a gente viva nesse corre, nessa parada de tráfico e movimento, quando o baile rola, a paz é a lei. É tipo uma trégua, uma parada que une a comunidade, sacou? E é essa energia que a gente curte, malandrø, é isso que faz o baile ser o coração do morro.
Sem contar as "Paty" que vêm curtir um baile, ficam todas ouriçadas quando vê um cintura ignorante. Estou acostumado a fazer Paty sarrar na Glock, fi. Se elas vêm atrás, nos dá com certeza.
Estava no escritório doido para encerrar o dia, vou passar na goma da Joice, quero pegar ela de jeito, esses dias ando muito estressado e vou descontar tudo naquela Cachorr@.
— Chefe, a gente tá com um problema no galpão, as paradas que tem não dá para fazer cota em todas as bocas, vai faltar os bagulhø.
Olhei para o sentinela, depois do Marreco, ele é quem responde por essas parada. Quero saber o que estão fazendo com as drøgas.
— Sentinela, conta aqui para mim. O que vocês estão fazendo com as parada? Estão comendo é porr@ porque não é possível , pedi uma carga caralhø. Suficiente para entupir o cü desses nóia tudo, Marreco fez a conferência, eu e o Samuca fomos lá na encolha na madrugada e conferimos, bateu certinho com o que o Marreco disse. Como é que agora tu tá me dizendo que não tem o suficiente? Que merd@ é essa, meu irmão.
Já me levantando, puxei a minha Glock. Em questão de segundos, estava com ela destravada, mirando para o sentinela. Alguém está me roubando, e eu não aceito esse tipo de comportamento entre os meus.
Então, mano, você quer saber o que rola quando alguém tenta me passar a perna na quebrada, né? Bem, deixa eu te contar, porque isso é tipo mexer num vespeiro. Quando alguém acha que pode me roubar, tá mexendo com o negócio errado. Eu sou firmeza com quem é firmeza comigo, mas se alguém tenta bancar o espertinho, aí a parada fica feia.
Primeiro, é tipo uma ofensa pessoal, sacou? Não é só sobre a grana ou as paradas que tão em jogo, é sobre respeito. E respeito é a moeda mais valiosa no jogo que a gente tá jogando. Então, quando alguém tenta me enganar, tá quebrando uma regra básica do jogo, e aí não tem mais trégua.
O que acontece com esses vacilão? Bem, não é nada bonito, te digo isso. A galera do movimento não é de brincadeira. Aqui não temos tribunal nem polícia pra resolver nossas tretas. Então, a justiça é feita na base do mano a mano, na moral mesmo.
Às vezes, a gente dá umas lições nos cüzão, só pra marcar território, tá ligado? Uns tapas na cara, madeirada, com a madeira molhada, umas ameaça bem direta, mostrar quem manda ali. Mas tem uns casos mais pesados, onde o bagulhø vai pra outro nível.
— Você Já viu o que acontece com os maluco que tentaram passar a perna em mim, mano,tu sabe que o destino deles não foi bonito.
Pode crer, a violência rola solta nesse mundo, e quem brinca com fogo acaba se queimando. Não é questão de ser sanguinárïo, é questão de sobrevivência nesse mundo cäo.
— Qualé, VM? Eu não tô de caô, pô. Só vim te passar o que vi com meus próprios olhos. Se tem alguém te roubando, esse alguém não sou eu. Você tá ligado que eu jamais faria uma coisa dessas.
— Isso é o que vamos ver.
Empurrei o sentinela, que caiu sentado em uma cadeira de plástico. Eles não sabem, mas no meu galpão tem câmeras por todo lado, dentro das lâmpadas e dos refletores. Só quem sabe somos eu, Samuca, os meus pais e os meus tios. Nunca falei nem para o Marreco, que é de confiança.
Sentei novamente na minha cadeira e acessei as câmeras, enquanto o sentinela perguntava o que eu iria fazer.
— Com todo respeito, chefe, o tempo tá passando e o senhor tá aí mexendo nesse computador. Não vai tomar nenhuma atitude?
— Fica pianinho, sentinela. Eu sei o que eu tô fazendo, porr@.
Essa merd@ toda só tá atrasando meu lado. Puxei as câmeras do dia que a carga chegou e no terceiro dia já pude ver os ratos que estavam fazendo a festa com os meus bagulhø. Não foi tirado de uma vez. Eles foram bem malandros tirando aos poucos.
— Tu tem uma missão, sentinela. Vai me trazer aqui o Vampeta e o Gibi.
O sentinela ficou me olhando. Fiz o sinal para a porta. Ele se levantou e foi embora, sem olhar nem para trás. Passei o rádio para o Samuca, convocando ele no QG.
— Fala, irmão. Eu estava lá resolvendo aquela parada que tu mandou. Mas pela tua cara, a coisa não tá boa por aqui.
— Vampeta e Gibi estão nos roubando.
— Filhos da püta, e como é que tu soube?
Virei a tela do computador e mostrei para ele. Samuca tem mais paciência do que eu, por isso ele lida com a comunidade, mas nesses casos ele fica tão possesso quanto o demônïo que habita em mim.
— A minha missão foi descobrir e a sua vai ser executar. Quero os dois virando churrasco. Pode mandar preparar os pneus, é para queimar vivo, sem nenhum arranhão. Morte lenta e dolorosa. Agora, eu tenho compromisso, uma Bücetïnha me chama.
Samuca ficou rindo. Fiz o toque com o meu parceiro, montei na minha moto e fui direto para casa. Tomei um banho, me arrumei trajadão nos kit. E assim que eu ia saindo de casa, os meus pais estavam chegando da pista. Tem um tal de Juíz Belo que tem ódio da minha mãe e dos meus tios, a troco de quê ninguém sabe. O maluco vive perseguindo a minha mãe.
— Vitor vai sair, meu filho?
— Só vou ali, mãe. Não se preocupe, não vou sair do Morro.
Conversei um pouco com a minha mãe, mais ligada no relógio, ela está preocupada com a segurança da Vitória. Minha irmã parece a realeza de tanto segurança que ela tem, a garota não pode dar um passo que tem trinta homens na cola dela, e a minha mãe ainda tá achando pouco.
— Outra hora a gente conversa sobre isso, mãe. Agora, eu tenho compromisso.
Dei um beijo no rosto da Minha Coroa, a mulher mais linda desse mundo, e fui para o barraco da Joice. Assim que cheguei, a vadïa já estava do jeito que eu gosto, e como sempre, é só meter, gøzar no plástico e vazar.