Capítulo VI

3258 Words
O rei despertou e apesar das recomendações do médico real, ele insistia em se levantar, felizmente o príncipe chegou a tempo e o convenceu a se sentar na cama, recostado na cabeceira, aconchegado nos travesseiros. - O médico disse que fui envenenado, sei que faz apenas algumas horas, mas você já tem alguma pista do criminoso? - Perguntou rei Alfred. - Eu já descobri quem foi. - Respondeu. - Como esperado do meu filho.- Disse orgulhoso. - Não sinta orgulho, eu cometi algo irreversível no processo. - Cofessou. A expressão do rei foi perdendo seu brilho aos poucos. - O que você fez de tão grave para rejeitar os louros de uma conquista tão grandiosa? - Questionou o rei. - Quando eu te vi estirado no chão, pai, eu fiquei desesperado, achei que fosse morrer. - Eu também achei. - O rei sorriu. - Ordenei aos guardas que fossem procurar alguma pista ou evidência, e após apenas uma hora e meia retornaram com o frasco do veneno em mãos. - Relatou Yohan. - Antes que eles dissessem onde encontraram eu segui o protocolo, o culpado não estaria longe. - Você foi bem rápido. - Só não esperava que em tão pouco tempo ela tivesse se adiantado quanto a isso. Eu tomei a decisão mais racional no momento, mas se eu soubesse que sairia tão caro, eu teria apostado nos riscos. - Comentou o príncipe. - A evidência apontava para Ávelyn. - Isso é absurdo, ela jamais faria uma coisa dessas. - O rei se alterou. - Eu sei e por saber isso, no instante em que disseram que o frasco do veneno tinha sido encontrado no escritório da Consorte real eu sabia quem tinha tentado incrimina-la, tudo que eu precisava fazer era fingir que caí na armadilha e sair para investigar o verdadeiro cupado sob a sua guarda baixa. Nessa investigação eu encontraria evidências irrefutáveis de que Ávelyn era inocente e ninguém questionaria sua absolvição dizendo que ela foi favorecida. Além disso a verdadeira culpada não escaparia mesmo se quisesse. - Falou. - Então foi por isso que agiu daquela forma. - Comentou uma voz atrás de Yohan. Ele não se virou, não queria encara-la, não achava que tinha o direito de encara-la. - Porque não me olha? No seu lugar eu tomaria a mesma decisão, afinal, garantiria que o culpado não tentasse encobrir seus rastros deixando tudo mais difícil de resolver. - Falou Ávelyn escorada na porta. - Você não tinha provas para prendê-la naquele momento, fez o que estava ao seu alcance. - Olha o seu estado, olha bem para o seu estado e me diga que fiz o melhor. - O príncipe fitava o chão, nem para o seu pai conseguia olhar mais. - Ele te usou de isca para manter o culpado quieto? - Perguntou o rei enraivecido. - O que Yohan fez com você? - Eu ordenei que a jogassem no calabouço. - Confessou o príncipe ainda sem olhar a face de seu pai. O rei estava angustiado, preocupado e irritado, ele sabia o que a cela significava para Ávelyn, ainda que o príncipe não soubesse, ele sabia como ela ficava se a colocassem em um cômodo fechado e em uma cela era pior ainda. Ele olhou com pesar para a garota, m*l sabia ele que as coisas poderiam ter ficado ainda piores. - Eu estou bem, tio All. - Ávelyn respondeu a expressão facial do rei. - Mentirosa. - Murmurou o príncipe em lamento, ele sentia culpa. - Eu saí para encontrar a fonte do veneno, encontrar o boticário era o mesmo que encontrar uma testemunha vital, procurei o mais depreça que consegui, mas não fui rápido o bastante. - O princípio sentado em uma cadeira a beira da cama do rei não mantinha sua postura de sempre. - Quando retornei... - Você não precisa falar sobre isso. - Sugeriu Ávelyn. - Não, eu direi. - Respondeu resoluto. - Em minha ausência alguém foi ao calabouço e usou meu nome para dizer ao carrasco que punisse Ávelyn com quinze golpes com varas de bambú. - Disse o príncipe erguendo o rosto para finalmente fitar o rosto do rei, porém m*l ele ergeu o rosto e logo recebeu um t**a na face que produziu um estalo que reverberou pelo quarto. Ele viu o t**a chegando, mas não se esquivou. O rei havia se levantado outra vez e após o golpe perdeu as forças e caiu sentado na cama outra vez. - Quinze golpes? Deixou que dessem quinze golpes? Você ficou louco? O que Jonathan diria se pudesse falar? O que ele faria conosco se estivesse aqui? - Berrava o rei. Para ele Ávelyn era como uma filha, era alguém que ele prometeu sobre o tumulo de seu bom amigo, que faria o melhor para protegê-la, sim, para protegê-la ele abriu mão de dar ao seu filho um casamento vantajoso com a filha de outro reino, em nome da amizade e do amor fraternal que sentia por Jonathan ele firmou um contrato, ainda que soubesse quão terriveis seriam as consequencias se descobrissem que estava casando seu precioso principe herdeiro com uma sobrevivente daquele povo, ele tinha conciência de que uma guerra poderia estourar e ainda assim aceitou colocar seu reino em risco. O príncipe herdeiro levantou-se da cadeira, caminhou até Ávelyn e se pôs de joelhos. - O que está fazendo? Levante-se! - Pediu ela, mas ele não obedeceu. O príncipe se curvou, encostado sua testa no chão. - Me perdoe por não protegê-la, me perdoe por não ser o marido que você merece e me perdoe por não poder lhe dar justiça imediata. - Implorou. As ultimas palavras deixaram em seuslábios um sabor amargo. - Levante daí antes que eu te chute daqui até a Terra Morta. - Ela estava ficando irritada. - Já lhe disse que eu teria feito o mesmo, mas se precisa de perdão você o tem. - Falou. - Prefiro quando você é insuportável do que quando você fica todo humilde, é mais fácil de lidar. Escute, só te mantive ao meu lado quando eramos mais novos, porque você era inteligente o suficiente para me acompanhar, diferente da maioria, você seguia meu raciocínio sem esforço, já que somos da mesma espécie. - Ela falava daquilo que chamam de gênios. - Eu criei o sistema de irrigação aos sete anos e você já havia criado coisas não tão grandiosas, mas uma vez que soube que alguém o havia superado, inventou o sistema de gemas e estraindo energia delas levou luz para todo o reino, deu uso e monetizou um trabalho que não era bem visto pelas pessoas. - Lembrou. - Não estrague o bom rei que vejo em você colocando emoções acima da razão. Continue dando uma de fracote e eu tomarei o seu trono. - Ameaçou. - Pode tentar. - Provocou ainda curvado, fez por força do hábito. - Sua provocação se torna uma piada se estiver com a testa no chão. - Rebateu Ávelyn e o príncipe levantou. - Ainda estou toda acabada, assuma responsabilidade e me leve para junto do rei. - Ela ainda estava escorada na porta. Yohan pegou a garota no colo e a colocou junto do rei na cama, em algum momento ele tocou as costas dela por acidente, mas a garota não parecia se incomodar e apesar de estar curioso achou que não era o momento de perguntar sobre isso, m*l sabia ele que ela já estava curada e o fez carregá-la apenas para fazê-lo de servo, uma vingança pessoal. - Diga ao rei quem tentou me incriminar, imagino que ele entenderá o "me perdoe por não poder lhe dar justiça imediata". - Disse a Consorte. - Foi a Celicite. - Respondeu o príncipe. - O boticário vai depor como testemunha, mandei alguns guardas para protegê-lo, não tenho provas, mas desconfio que Celicite possa ter tido ajuda de alguém ou se valido da influência de alguém. - Sempre soube que aquela mulher seria um problema, mas porque ela tentaria me m***r conhecendo os riscos? - Questionou o rei. - Talvez por ciúmes. - Respondeu o príncipe. - Superficial demais querido amigo. - Respondeu Ávelyn. - Então você já tinha investigado ela. - Comentou o príncipe. - Como se eu fosse manter uma serpente por perto sem o antídoto para seu veneno. - respondeu. - Então nos ilumine com o real motivo. - Pediu o rei. - A algum tempo atrás perguntei a Celicite onde ela tinha nascido e ela me disse que nasceu em Borba, eu estava entrertida e cometi um equívoco quando comentei que o lugar ficava lindo quando nevava. - Relatou. - E ela concordou, até disse que brincava na neve. - Uma mentira desse nível... - Comentou o príncipe. - Tem que ser muito burro pra soltar uma dessas na sua frente. Ela me disse que nasceu em Borba, mas eu nunca perguntei nada sobre o lugar em que ela passou sua infância. - Que belo namorado é você. - Alfinetou Ávelyn. - Já lhe disse que eramos apenas amigos e o resto você já sabe também. - Apresentou. - Se eram apenas amigos como ela acabou grávida? - Questionou a princesa, mas o príncipe não revidou como faria habitualmente. Ela estranhou, mas aquilo só reforçava o tal boato. - A não ser que o boato seja verdadeiro. - Ela debochou. - Ele não respondeu, parecia envergonhado. Estava confirmado, a fofoca de que ele tinha sido drogado era verdadeiro. - Devia ter me contado... deixa pra lá. O ponto é que eu pedi a Máine que investigasse a origem de Celicite, alguém quer chutar de onde ela veio? - Não me arrisco. - Disso o rei. - Também não, mas a julgar pela sua empolgação ela não deve nem ser desse reino. - Respondeu o príncipe. - Bingo. Celicite é... Pasmem, do Reino Quireu. Rei e príncipe ficaram chocados, eles conheciam os perigos por trás daquele nome. - Você trouxe uma espiã dum reuno inimigo para o Palácio, Yohan? - Reclamou o rei as murmúrios. - Eu não sabia. - Defendeu-se o príncipe. - Nem tinha como, levaram meses para rastrear. Fizeram um trabalho sublime, tive que movimentar alguns "amiguinhos". - Respondeu. - De todo modo, Yohan e eu fomos enganados. - Até imagino do que você esta falando. - Comentou o príncipe. - Não era a mim, nem a minha p******o que ela queria naquele nosso acordo. - Que acordo? - Perguntou o rei. - Isso não importa agora. - Acudiu Ávelyn para manter o acordo escondido do rei, a final ela também não sairia impune uma vez que foi conivente. - Agora sabemos que o alvo dela é o trono, só com isso posso imaginar que ela não é uma mera espiã e sim uma peça para conquistar o coração do futuro rei e a coroa da rainha. - Que audácia. - Comentou o rei. - Ela falhou em conseguir o coração do príncipe. - Comentou Yohan. - Ao perceber isso decidiu apostar em uma maneira arriscada de se livrar da consorte para usurpar o lugar de Ávelyn. - E aí está o homem que acompanha meu raciocínio sem dificuldade. - Falou a garota, o príncipe sorriu desconcertado. - Mas agora que sabemos que foi ela e graças ao príncipe temos uma testemunha, temos outra coisa que nos impede de prosseguir com a pena máxima para o crime dela. Imagino que o rei saiba bem o que é. - A lei. - Respondeu o rei, derrotado. - A nossa lei diz que se uma mulher estiver grávida de uma criança com sangue real, ela não pode receber pena de morte antes que a criança nasça. Essa lei está diretamente ligada a lei que diz que alguém que fere ou mata um m****o da família real é acusado de alta traição e deve pagar com a vida. - Disse o rei. - Mas ainda que a lei não existisse, mesmo que ela tenha tentado me m***r, eu não seria capaz de ordenar que decapitem uma mulher grávida. - Concluiu o rei. - Nós sabemos disso. - Falou a garota. - Eu também fui severamente prejudicada e queria muito devolver a ela o favor, mas não planejo derramar sangue que julgo inocente. Então proponho que esperaremos a criança nascer antes de aplicar a pena e o julgamento, nesse período toda a autoridade dada a concubina será revogada, sua presença em eventos sera vetada sob a desculpa de que ela está indisposta, para não levantar suspeitas, não sabemos se tem outro espião por aí. Além disso sua entrada em algumas áreas do Palácio será restrita, ela terá acesso apenas ao que for necessário para que a criança nasça saudável. - O príncipe acentiu - Justo. - Concordou o rei. - Irei agora mesmo escrever o decreto para tornar conhecido aos membros internos do Palácio e trarei para o rei aprovar com o carimbo real. - Disse o príncipe fazendo uma reverência para o rei, saindo em seguida. - Ele é um bom príncipe, pega leve com ele. - Ávelyn disse ao rei uma vez que o príncipe não estava mais ouvindo. - As coisas mudaram, lembro que você corria para mim quando era criança e me pedia para castigar Yohan por incontáveis motivos. - O rei sorriu. - Nunca imaginei que viveria para vê-la defender ele daquela forma, por acaso ele é o rei que você escolheu? - Não, ainda não o escolhi. Ele ainda precisa me mostrar mais de suas habilidades para governar, não posso entregar meu juramento a alguém que machucará meu amado povo. Meu pai disse que terei plena certeza quando realmente tiver decidido se ele é o meu rei ou não. - Respondeu. - Disse que o olharia e diria com toda certeza " Aquele é o meu rei, esse sem duvidas é o rei que escolhi". O "rei" pode ser qualquer coisa, não saberei quem ou o que será meu "rei" até que eu o encontre. - Entendo. - Disse o rei. - Sinceramente, eu espero que vocês possam ficar juntos. Seria bom para este reino ter a união dos cérebros de vocês. - Sei bem sobre os seus desejos, mas... - A cabeça de Ávelyn se tornou mais pesada derrepente. Sua visão escureceu e por um momento ela pensou que talvez a cela e a surra tenham a atigindo mais do que ela pensara, a voz do rei a chamando estava distante, seu corpo foi atigindo por uma sensação de desmaio, ela sentia que tinha sido drogada com uma substância alucinógena. Um ponto luminoso apareceu em meio a escuridão, ele se expandiu rápidamente, mais rápido do que a excelente visão de Ávelyn poderia se acostumar, sua cabeça latejou como se tivesse levado uma pancada e isso a fez fechar os olhos. Ao abrir os olhos a garota vislumbrou a figura de uma entidade, ela parecia ser uma mulher e dada sua aparência Ávelyn julgou que era um ser divino. A divindade tinha cabelos de fogo e dos seus olhos saia luz branca, seu corpo de pele n***a estava coberto por um vestido feito com folhas de árvore, mas eram de ouro, seus pés estavam descalços e não tocavam o chão. O ambiente branco não tinha nada além dela e da divindade a sua frente, ele não tinha paredes nem teto, não tinha borda, parecia ter sido construído no infinito. - Eu sou Nefir, deusa dos mensageiros, porta-voz dos demais deuses e esta é a mensagem que me foi confiada para entregar à ti, ó Santa: - Disse a deusa. Sua voz era doce, mas repleta de autoridade. - Os deuses viram das maiores alturas o que foi feito a sua Santa, eles a viram sangrar e a viram padecer. Por muito tempo ficaram quietos e fingiram não ver diante deles a humilhação, para que não se acendesse sua ira e não descessem seu justo martelo sobre o povo desta terra, esterminando-os até o último deles. "Acaso fazem pouco da sacerdotisa que escolhemos para você, ó povo infiel? Por quanto tempo continuarão a esbofetear a face dos deuses? Até quando perseguirão nosso povo escolhido?", disseram os deuses. "Pelo sacrilégio que cometeram Eloen os abandonará, ela irá para outras terras do continente e não retornará até que seu coração partido seja curado, Mabek se retirará para o solo para que vocês penem em sede e vejam suas crianças morrerem de fome. Quanto aos outros deuses, nenhum de nós agirá em favor de vocês. Seus antepassados escolheram para si um rei, desejaram ser governados por alguém que pudessem ver, um igual, o rei representa o povo e como tal, o povo pagará pelas ações de seu rei e daqueles com o seu sangue. Os deuses viram seu príncipe agir em fraqueza, nós o vimos erguer seu punho contra nossa ecolhida, ele foi julgado, medido e pesado, foi considerado culpado e vocês pagarão." - Falou Nefir. - Essa foi a mensagem dos deuses e essa é a sentença para este povo. Ireia deseja vida longa e boa saúde para a sacerdotisa dos deuses. Em um piscar de olhos Nefir sumiu de diante dos olhos de Ávelyn e quando ela pensou que aquela experiência bizarra tinha acabado, imagens inundaram sua mente em velocidade acelerada, choro e lamúrias vieram aos seus ouvidos fazendo-a ir a beira da loucura. Ela viu de crianças a idosos lamentarem e rangerem os dentes, os campos que deveriam estar prontos para a colheita, se encontravam secos e o solo estava rachado, o povo lutava entre si pela menor quantidade de água. Um clarão surgiu do nada e todas as imagens e sons desapareceram subitamente. Aos poucos a visão do quarto voltou e a voz do rei chegou aos seus ouvidos. Para Ávelyn haviam se passado minutos, mas para o rei foram poucos segundos. - Lyn? - Chamou o rei novamente. - Tem certeza de que está tudo bem com você? - Tio All, o senhor sabe que minha mãe era uma sarcedotisa, meu pai me disse que contaram pra você. - Disse Ávelyn, após se recuperar da visão. - Eu não sei o quanto o senhor sabe sobre isso, mas acabei de receber uma mensagem dos deuses. Pode parecer inacreditável, eu sei, mas eu vi e ouvi algumas coisas. Essa é a primeira vez que são tão... invasivos comigo. O rei estava perturbado, memórias do dia em que encontrou Ávelyn de pé, segurando uma espada em meio a tantos corpos quando ela era criança, invadiram sua mente com força. Ele sabia mais sobre esse assunto do que a Consorte real poderia imaginar, o rei acreditava que Ávelyn era alguém escolhido pelos deuses. - O que você viu? - Perguntou rei Alfred. - Eu não tenho certeza, preciso analisar as informações para ter algo mais concreto. - Falou. - Quando tiver certeza do que vi lhe contarei. - Vou tentar conter minha ansiedade. - Disse o rei. - Vou me retirar agora, tente descançar. - Fez uma reverência e saiu. O príncipe ficou até tarde da noite escrevendo o decreto interno e na manhã seguinte o levou para que o rei sancionasse com seu carimbo real. Celicite não ficou nada feliz com as condições em que teve que viver, infernizava todos os servos responsáveis por auxiliá-la e ninguém queria ser o guarda responsável por vigiá-la, ela continuava a dizer que se tornaria a rainha quase como uma louca. Perdia mais e mais a postura e cada vez mais ficava evidente de que ela não se ergueu ao nível que se encontrava sozinha, teve ajuda, mas de quem?
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