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887 Words
Anos atrás A pequena Sophia chorava a morte da mãe, vítima de um câncer que lhe roubou alguns anos ao lado da sua família. Foram ardo três anos, tentando se livrar de um m*l que só a consumia com o tempo. A pequena Sophia passou todo aquele tempo ao lado da mãe, sem entender por que Margareth, sempre tão irritada com as pessoas ao redor, mantinha distância dela, mesmo quando estavam próximas. A menina ansiava pelo dia em que a mãe finalmente corresse com ela pelos gramados do jardim do palácio, uma cena que imaginava com frequência, mas que raramente se concretizava. Quando Margareth saía de seus aposentos, fazia-o apenas para observar Sophia de longe, sem jamais se unir a ela nas brincadeiras. O fim chegou de forma fria e abrupta, e foi o irmão de Margareth, o Duque, quem assumiu a responsabilidade de criar a menina. No entanto, o que o Duque ignorava era que sua irmã, a rainha, já havia traçado um plano para a filha, tratando-a como uma mercadoria nas mãos de outro homem. Claro, ela não entregaria Sophia aos 10 anos de idade, mas, no futuro, a rainha sabia que o destino da garota não seria uma questão de escolha. Naquele dia, ao colocar a mão no ombro de Sophia, Margareth sentiu a fragilidade e pureza que a filha transmitia. A menina, de pele pálida, cabelos escuros e olhos verdes, lembrava uma boneca de porcelana, frágil e moldável. Margareth abaixou-se, aproximando-se do rosto da garota, e observou o olhar doce que reluzia. Nele, viu um potencial que poderia ser lapidado a seu gosto. - Não se preocupe, criança – A mulher usou seu tom mais doce, mesmo que esse não fosse seu estilo. A rainha aprendeu a ser dura, mesmo com sua família. Coração era o que lhe faltava. Tudo o que a rainha via eram negócios. – Vou cuidar de você. - Ela nunca mais vai voltar. – Murmurou a menina, limpando as agrimas do rosto. – Isso não é justo. Mesmo sentindo certa pena, Margareth não se deixou abalar com a cena. A menina acabará de perder a mãe, isso deveria atingir a mulher em cheio, já que tem filhos, contudo, o gelo no peito da rainha não lhe permitia sentir nada além de pena. - A morte não tem volta, deve aprender isso agora. – Margareth se levantou, forçando Sophia a olhar para cima. – Limpe o rosto – Exigiu, deixando de lado a sua falsa doçura. – Sentimentos assim nos tornam fracas. - Mas eu não sou forte. – Argumentou a menina, chorosa. - Se tornará – Estendeu a mão para que ela a pegasse. – Vou cuidar de você e do seu futuro. Margareth, implacável, trancou Sophia em seu castelo, garantindo que a garota tivesse tudo de luxo que uma criança pudesse imaginar: um quarto grandioso, roupas de grife, joias valiosas, e uma educação particular com os melhores tutores. Mas esses eram apenas adornos para mascarar sua verdadeira prisão. Sophia não era livre; era uma mercadoria cuidadosamente guardada, preparada para obedecer cegamente. Margareth, sem qualquer afeto ou flexibilidade, afastava qualquer possibilidade de infância. Aos dez anos, Sophia deixou de ser uma menina para se tornar um objeto da realeza, lapidado para servir aos interesses de sua tia. Cada dia era preenchido com estudos rigorosos. Sophia aprendeu sobre a história de Galles, da linhagem dos Nikolai, e de todos os detalhes que, segundo Margareth, eram essenciais para conquistar um rei. Ela seria o cavalo de Troia da rainha, treinado e moldado em todas as artes da nobreza. Mas a princesa não tinha amigos; suas únicas companhias eram as criadas, e mesmo elas estavam proibidas de brincar ou arrancar um sorriso dela. A cada nova habilidade — tocar piano, cantar, dançar, se portar com elegância diante dos rígidos cortesãos — Sophia construía uma casca dura, uma p******o contra o vazio emocional e a ausência de afeto. Os piores momentos, no entanto, vinham quando ela cometia algum erro. Desde cedo, Sophia buscava uma fuga, uma forma de se distrair, mesmo que por breves momentos, na vastidão de sua prisão dourada. Mas Margareth, sempre vigilante, não perdoava. As punições eram severas: desde um dia sem comida até trancá-la no quarto, às vezes recorrendo a castigos físicos. Contudo, a rainha tinha o cuidado de nunca deixar marcas permanentes. Uma mercadoria, afinal, deveria permanecer intacta. Esse regime impiedoso fez Sophia nutrir um ressentimento profundo por Margareth, misturado a um respeito forçado e um medo constante. Ela odiava a mulher e, ao mesmo tempo, torcia para nunca mais ter que cruzar seu caminho. Quinze anos depois, Sophia se encontrava novamente sob os olhos de Margareth, prestes a ser apresentada como a futura noiva de Nikolai, agora rei de Galles. Ela sempre pensou que se casaria com o príncipe, que o tempo a favor seria longo até que ele assumisse o trono. Mas a doença do rei acelerou o processo, e agora Nikolai teria o poder de aceitar ou recusar a aliança. Um "não" significaria a ruína de Sophia e um imenso golpe para Margareth. A rejeição da pupila pela realeza seria uma ofensa imperdoável para a rainha. Sophia caminhava numa linha tênue, dividida entre a aversão pela ideia de seduzir o rei e o desespero de não retornar para casa sem se tornar sua esposa.
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