Mesmo não se conhecendo, eles tinham uma cumplicidade particular. Sophia sabia que o rei era rude e estressado, e ele, sabia que ela não baixava a cabeça nem para ninguém, muito menos para ele.
Aquele encontro foi bem revelador. Nikolai conheceu seu lado provocador, desafiador. A língua solta. Não o desagradava totalmente. Era bom ter alguém que não se jogaria aos seus pés.
— Vamos os deixar se conhecerem. – Disse a rainha mãe, que pegou no braço do duque, se afastando do casal.
Lado a lado, Soph sorriu, encarando o rei. Existia uma mensagem subliminar que só ele entendia. Ela gostou do jogo de palavras, então, ousou fazer de novo, sussurrando.
— Não se preocupe. Não vou entrar na sua frente novamente, majestade. — Debochou.
Niko mordeu o maxilar, pensando que teria dor de cabeça com a menina de língua solta. Contudo, aquela ansiedade sumiu. Talvez fosse porque já tinha a visto antes. Bem, ele não sabia o que era, mas ficar perto dela diminuía a pressão nas suas costas.
— Já conheci muitas princesas, mas nenhuma delas era tão indelicada. – Jogou as palavras que a fizerem rir, pondo a mão na boca. – Você me trata como um qualquer.
— Perdão, Majestade – Ele reconheceu a ironia. – Mesmo sendo o rei soberano deste país, não lhe dá o direito de me tratar da forma como me tratou.
Niko ficou em silencio, pensando. Ela tinha razão. Sua raiva e rancor, não era da mulher, mas sim, do acordo. Ao respirar fundo, ele disse:
— Perdoe-me por isso. — Ele disse. Foi sincero. Odiava ser rude com as pessoas, contudo, as vezes saia sem que pudesse. Nikolai sabia que o raiva que tinha pela figura da sua noiva, contava para que o rei fosse tão duro. — Eu não devo tratá-la dessa forma.
— Pelo menos reconhece. — Ela disse, o encarando. — Perdoe-me a indelicadeza. Mas sobre isso: geralmente acontece sem que eu perceba. Não leve a sério. Só espere respostas a altura das suas grosseiras, caso volte a acontecer.
Nikolai encarou por alguns segundos. Ele via os detalhes do rosto, que antes, por conta da raiva, não notou. Ela tinha belos cabelos escuros, olhos verdes como esmeraldas, uma simetria quase perfeita. Lábios rosados, carnudos, pele pálida e macia, sem falar no perfume que refletia sua personalidade.
— Não pode me responder de forma tão irônica, na frente das pessoas. — reclamou.
— Não se preocupe, fui criada para ser uma lady, na presença de pessoas importantes. — respondeu. — Contudo, o senhor, mesmo sendo o soberano, se me tratar com arrogância, receberá o mesmo, então, lhe aconselho a não usa-la comigo. Quanto aos demais, serei uma pluma, estando ao seu lado.
Novamente ele se mordeu. Niko sentia uma mistura de emoções novas. Não podia dizer que odiava totalmente.
— Quer a verdade? – Virou-se para ela, que confirmou com a cabeça. – Esse acordo, ele é fadado ao fim.
— Tenho em mente que o senhor e eu, não escolhemos e que sim, podemos não gostar um do outro, agora.
— Não, Sophia – Era a primeira vez que ela o ouvia dizer seu nome. – É sincera e eu devo ser também. – O coração dela, deu uma acelerada. Ela sabia o que estava por vir. Sabia, também, que se voltasse para seu pais, sem um acordo selado, causaria um burburinho negativo. Os dois países votariam a se odiar. Brigas, sanções, pois sua tia, a rainha, não permitirá tão humilhação. – Sei das consequências, mas não tenho intensão alguma de casar com você.
Mesmo esperando essa reação, ouvir da boca dele, no primeiro dia em Galles, era difícil. Ser rejeitada dessa forma era uma humilhação imensa. Ela cresceu sabendo que seria a rainha daquele pais. Sua tia, nem lhe permitia estudar fora dos muros do castelo, ela não podia ter amigos, tinha que falar fluente a língua, ser a esposa perfeita, par agora, ser rejeitada dessa forma.
Contudo, Sophia não baixou a cabeça.
— Quando achar uma saída, me avise. – Desviou sua atenção dele, passando a observar as outras pessoas, no enorme salão. – Quem sabe eu não o ajude a convencer a minha tia.
— Deseja o mesmo que eu? – Nikolai se surpreendeu.
Soph se mordeu por dentro. Um sentimento r**m em seu peito. As consequências para ela seriam terríveis, mas o que poderia fazer? O forçar a casar-se?
Ela não tinha esse poder, e não se sujeitaria a planejar algo para o seduzir.
— Você é um adulto, não posso o forçar a nada. Já no meu caso, fui criada para ser sua esposa. Aprendi tudo, até mesmo a história da conquista de Galles – Ela lembrava dos detalhes, das noites que tinha que estudar e no outro dia, deveria descrever, com detalhes, o que aprendeu, para a rainha. – Não tive escolhas, mas quem sabe, com algo bem convincente, nós dois possamos ser livres. – Niko tinha que concordar estar surpreso. – Mas, por enquanto, devemos nos tratar com cordialidade e fingi que isso pode realmente acontecer.
— Concordo com a ideia. – Niko até pareceu mais feliz. – Foi um prazer, conhece-la, princesa. – Ele, novamente tomou a sua mão, a beijando, ao se curvar.
Os olhos se encontraram. Soph sentiu seu coração quase parar no peito com o gesto, que dessa vez foi verdadeiro. Ela deu um sorriso tímido, o vendo solta-la, saindo dali.
O rei queria ignorar a sua presença ali, mas não podia. Ela era a sua noiva, a mulher que estava em seu caminho e que podia destruir sua segurança. O acordo não era tão flexível, não era bobo. Caso dissesse não, ofenderia a rainha Margareth e isso seria um erro imperdoável para os parlamentares e todos que o respeitava.
Entretanto, assim como havia dito, tentaria achar uma saída, e era bom saber que tinha a aprovação de Sophia.
— Desculpe — A dama de honra se aproximou, com cautela e esperando que ninguém a ouvisse. — Mas ele não parece estar receptivo.
Sophia encontrou a figura do noivo, que, depois daquela conversa, ficou menos chateado com a sua presença ali, mais calmo e paciente. Era bobo achar que, de alguma forma, os dois se dariam bem e que ele esqueceria essa história de “Achar uma saída”?
Para Nikolai seria mais fácil. Ele não tinha uma tia, que, literalmente, a mataria, caso voltasse para casa sem o acordo firmado. Margareth não aceitaria. Até poderia deixar de lado o casamento, se Niko lhe desse uma saída e vantagens que fossem boas para Interfell, mas por dentro, ela se sentiria humilhada e rejeitada. E toda a culpa recairia nos ombros de Sophia.
— Não está. — ela respondeu, pensativa. — Também não estou feliz com isso. Sou a única que carrega esse sacrifício. Ele é o rei, o todo poderoso. Mas se voltar para casa, sabe o que ela fara.
— Não! – A dama tocou em seu ombro, fazendo com que Soph a encarasse. – Ela não pode machucar você.
A mulher estava temerosa.
— Se Nikolai encontrar uma forma de quebrar nosso acordo, preciso da sua ajuda.
Pegou nas mãos dela.
— Ajuda para que? – Franziu o cenho.
— Desaparecer do mapa.
— Sophia – Repreendeu Anna, a olhando f**o. As duas conversavam quase sussurrando, para que ninguém soubesse o teor da conversa. – Isso não será preciso.
— Nikolai disse com todas as leras que não pretende se casar comigo. E se eu soltar sem uma aliança no dedo, ela me apagará da história.
— Peça para que fique – Deu a ideia. – Ele pode dar p******o.
— Seria humilhante, além disso, aposto que a nova rainha não vai gostar da ideia. Eu era a noiva do rei, acredita que amada dele irá aceitar tal coisa.
— O que pensa em fazer? – Franziu o cenho.
— Não sei ainda – Pensou. – Mas por enquanto, vamos nos concentrar no presente.